Após quase três semanas em Marte, o trabalho da sonda Phoenix tem feito com que os pesquisadores fiquem “emocionados”. É assim que Nilton Rennó, cientista brasileiro e um dos líderes de pesquisa da missão, descreve o que os técnicos conseguiram fazer até o momento no planeta. “Nunca estivemos tão perto de achar vida em outro lugar, se realmente existir alguma”, afirmou o pesquisador. Segundo ele, isso ocorre em razão de Phoenix estar funcionando perfeitamente e estar supostamente fixada sobre um bloco de gelo, o que facilita a prospecção do solo – não deve ser necessário fazer buracos muito profundos.
A Phoenix está em Marte desde o dia 25 de maio com a missão de investigar as características da água e outros materiais existentes no pólo norte do planeta, procurando por condições propícias para a vida, como compostos orgânicos, ou respostas para questões como a mudança climática. “Não poderia ser melhor. Nosso objetivo era analisar e descemos justamente sobre uma placa de gelo. Depois, começamos a cavar e logo achamos o que parece ser gelo. A sonda está funcionando como um relógio suíço”. Ainda não há dados que confirmem com exatidão que esse material é, de fato, água congelada, mas, segundo Rennó, “não pode ser outra coisa”.
Calor – A Phoenix começou a analisar e verificar as amostras recolhidas do solo do planeta, ligando um dos “fornos” do Tega (sigla em inglês para Analisador de Gás Térmico e Expandido), instrumento responsável por fazer essas análises. A função do Tega é esquentar amostras coletadas pelo braço robótico, transformando os materiais em gases. Com isso, é possível identificar os compostos químicos e analisar sua composição. Hoje, o forno deve ser ligado a uma temperatura de 35 ºC, suficiente para fazer com que a água se torne vapor, já que, em Marte, a água entra em ebulição a uma temperatura de 5ºC. A Phoenix tem detectado temperaturas de -85ºC a -25ºC na superfície de Marte. Agora, os pesquisadores querem analisar a quantidade de hidrogênio e deutério (hidrogênio pesado), com o objetivo de medir a quantidade de água existente no planeta.
Análise – Nos próximos dias, a temperatura do forno será aumentada gradualmente, até chegar a quase 1.000 ºC. Com isso, será possível verificar a existência de outras substâncias, incluindo matéria orgânica, no planeta. “Na próxima semana vamos ter muita coisa importante, não só do ponto de vista do material, mas também análises químicas”, afirma o brasileiro. Formado em engenharia pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Rennó está nos Estados Unidos desde 1986. Ele foi para o país para fazer doutorado no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), na área de ciências atmosféricas. O engenheiro, que é professor da Universidade de Michigan, trabalha no projeto da Phoenix desde 2000. Atualmente, é líder do grupo de pesquisa atmosférica da missão.