Muita coisa mudou desde que a Santa Inquisição da Igreja Católica condenou o que muitos consideram o pai da astronomia. Naquele tempo, o cientista italiano afirmava que a Terra girava ao redor do Sol e, portanto, não era o centro do Universo. Hoje a Igreja Católica afirma que não tem nenhuma hostilidade para com a ciência como há quatro séculos, quando levou a juízo Galileu Galilei. E por isso, reuniram-se em Roma mais de 200 astrônomos de 26 países para discutir os últimos descobrimentos sobre a formação e evolução das galáxias. Entre eles, estão cientistas e sacerdotes jesuítas que trabalham no próprio observatório astronômico do Vaticano.
Há sete anos, o Vaticano organizou a primeira conferência deste tipo, para tratar e entender a evolução das galáxias e do universo. Desde o ano 2000, tem havido novas observações e descobertas e agora os astrônomos congregados em Roma poderão compartilhar. “Os astrônomos reunidos nesta conferência têm estudado os discos galáticos”, disse o padre Guy Consolmagno, do Observatório Astronômico do Vaticano. “Nós sabemos que as galáxias são as unidades fundamentais do universo e que cada uma contêm algumas milhares de estrelas”, acrescentou o cientista. “E um ‘disco\’ é um dos componentes da galáxia, formado por estrelas, gases e poeira” enfatizou.
O observatório da Santa Sé, onde trabalham 13 astrônomos que também são sacerdotes jesuítas, colaboram com muitas universidades em todo o mundo. Para muitos é surpreendente que o Vaticano financie investigações científicas depois de séculos de disputa e desacordo sobre o papel da ciência e da religião nas origens do universo. Segundo o padre Consolmagno, esta conferência “é para que o mundo saiba que a igreja não teme a ciência. Muita gente não sabe que a teoria do Big Bang (ou grande explosão) foi proposta pela primeira vez por um sacerdote católico belga chamado Georges Lemaitre nos anos 20”, disse o astrônomo. “E desde então o Vaticano tem apoiado a astronomia”, afirmou. Segundo o sacerdote, desde a idade média, uma quarta parte dos observatórios astronômicos do mundo era dirigida por jesuítas. “Na realidade, não há nenhuma razão para pensar que existe um conflito entre a Igreja e a astronomia, porque a fé que tem medo da verdade, não é fé”.
Ainda que a Igreja tenha demorado quatro séculos para admitir finalmente que Galilei estava correto, o fato é que desde então, tem tentado apagar a persistente percepção de hostilidade contra a ciência. O primeiro observatório astronômico do Vaticano foi estabelecido em 1789 em um edifício perto do Palácio Apostólico, chamado de Torre dos Ventos. Um século depois, em 1891, o Papa Leão XIII estabeleceu outro pequeno observatório em uma colina atrás da Basílica de São Pedro. Entretanto, este foi abandonado em 1930 devido a contaminação luminosa em Roma que atrapalhava o estudo das estrelas mais distantes. O novo Observatório do Vaticano com telescópios fabricados na Alemanha foi estabelecido em Castelgandolfo, a 25 quilometros a sudeste de Roma. Mas a expansão da capital italiana obrigou aos astrônomos a mudarem-se novamente. E desde 1993 o Telescópio de Avançada Tecnologia do Vaticano funciona em uma colina próxima da cidade de Tucson, Arizona, nos Estados Unidos. Entre os temas que ocuparão os astrônomos nesta conferência estão abstratas fórmulas matemáticas sobre as origens físicas do universo, e conceitos como a fria matéria escura e os buracos negros.