Um asteróide pode ter dado cabo dos dinossauros há 65 milhões de anos, mas se não fosse por um outro bombardeio vindo do espaço, 400 milhões de anos antes, é possível que os grandes lagartos, e talvez a humanidade, sequer tivessem surgido. A idéia é sugerida em artigo publicado, neste domingo, na revista especializada Nature Geoscience. Análise geológica realizada por uma equipe de cientistas liderada por Birger Schmitz, da Universidade de Lund, na Suécia, encontrou sinais de um bombardeio intenso do planeta por rochas espaciais numa época que coincide com o chamado Grande Evento de Biodiversificação do período Ordoviciano, há cerca de 470 milhões de anos. Ao descrever a descoberta, o grupo de pesquisadores argumenta que a correlação está longe de ser uma simples coincidência.“Foi no Grande Evento que os níveis modernos de biodiversidade evoluíram em grupos de invertebrados que vivem na Terra até hoje, como crustáceos, lesmas e vermes”, explica Schmitz, em entrevista ao estadao.com.
Seu trabalho apresenta evidências de que, na mesma época, um grande asteróide desintegrava-se no espaço entre Marte e Júpiter. Fragmentos do astro – asteróides menores e meteoritos – teriam caído sobre a Terra numa freqüência muito maior que a das chuvas de meteoros dos dias atuais.“O fluxo de meteoritos era 100 vezes maior que o de hoje”, diz Schmitz, indicando a abundância de minerais vindos do espaço, encontrada em camadas de rocha formadas na época. “Ligamos, com grande precisão, esse evento (a desintegração do grande asteróide) às mesmas camadas em que a biodiversificação começa”, afirma.O cientista acredita que os animais que existiam na época eram mais resistentes, habituados a condições em que criaturas mais complexas, como os dinossauros – e a humanidade – não conseguiriam sobreviver. Se o fluxo de rochas espaciais menores, ou meteoritos, era 100 vezes maior que o atual, o de rochedos gigantes, como o que eliminou os dinossauros, teria sido dez vezes superior – uma taxa de um impacto a cada 10 milhões de anos.“É possível que os impactos tenham estimulado a evolução”, diz ele.
Isso ocorreria com a diversificação de ambientes e a criação de novos nichos ecológicos pelo bombardeio, nichos que foram preenchidos no Grande Evento de Biodiversificação. “Os peixes primitivos, que são ancestrais nossos e dos dinossauros, podem muito bem ter se beneficiado desse impulso”.O novo trabalho aponta para uma ligação bastante íntima entre os rumos da vida na Terra e as andanças dos asteróides pelo espaço: se Schmitz estiver certo, o bombardeio do Ordoviciano estimulou o surgimento de comunidades ecológicas cada vez mais diversificadas até que, 400 milhões de anos depois, outro asteróide veio cortar drasticamente essa mesma diversidade.Se o bombardeio constante foi um tônico para a vida há 470 milhões de anos, mas um único asteróide bastou para acabar com os dinossauros há 65 milhões, como a civilização atual reagiria a um castigo semelhante? “A sociedade moderna entraria em colapso se um único asteróide pequeno caísse nos arredores de Nova York”, acredita o cientista.