Cientistas já descobriram mais de 230 planetas circulando outros astros que não o nosso Sol, mas a maioria desses mundos provou ser gigantescas esferas gasosas semelhantes a Júpiter. Para aqueles dentre nós que vivem em um planeta diferente – uma pequena esfera rochosa rica em água na forma líquida –, é difícil imaginar como poderia ser a vida no escaldante Júpiter. Por isso, engenheiros da cidade de Boulder estão construindo a próxima geração de sistemas de caça a planetas da Nasa: um observatório espacial de US$ 559 milhões que realizará buscas por planetas semelhantes à Terra – lugares capazes de abrigar vida tal qual a entendemos – em mais de 170 mil sistemas solares. “Nós procuraremos planetas habitáveis, nos quais água em forma líquida possa existir em um corpo celeste de tamanho semelhante ao da Terra”, disse Monte Henderson, gerente do projeto da missão Kepler na Ball Aerospace and Technologies, em Boulder.
Segundo o gerente “se não for possível encontrar um planeta desse tipo a hipótese de que talvez estejamos sozinhos no Universo ganharia credibilidade”. Isso não parece provável, disse Chris McKay, astrobiólogo da Nasa e especialista em busca de vida em outros planetas. “Acredito que nós obteremos um número incontável de retornos positivos”, afirmou. Henderson também comandou o projeto Deep Impact, da empresa, uma sonda de perfuração que disparou uma cápsula de cobre contra um cometa para a Nasa, em 2005, revelando o interior do cometa e sua natureza frágil, semelhante a uma nuvem de poeira. O projeto Kepler, que terá por base equipamento semelhante ao usado no Deep Impact, deve ser lançado em novembro de 2008.
Depois de três anos de atraso e uma elevação de US$ 250 milhões no custo do projeto, os engenheiros agora estão montando a espaçonave, de tamanho semelhante a um ônibus, em um sofisticado armazém localizado em Boulder. O estouro dos custos é lamentável, disse William Borucki, o principal encarregado do projeto Kepler na Nasa, “mas, quando se está tentando fazer alguma coisa que nunca foi feita antes, incidentes como esse precisam ser esperados”. O sistema óptico do Kepler depende da maior lente já enviada ao espaço, disse Borucki, um imenso espelho de 55 polegadas diante do qual está montado um corretor feito de safira pura.
O observatório espacial não pode sofrer oscilações ao observar a mesma região do espaço durante quatro anos, disse Borucki. Uma oscilação curta como uma piscada pode fazer com que a sonda perca a minúscula oscilação na luz de um astro causada pela passagem de um planeta de tamanho semelhante à Terra entre a lente e o astro do sistema em observação. O Kepler procurará planetas por meio desse método de trânsito, segundo McKay, da Nasa. Duas outras técnicas que estão em uso são ótimas para localizar planetas de grande porte, segundo McKay, mas não servem para os menores, nos quais vida em forma reconhecível poderia existir.
No começo do mês, cientistas europeus anunciaram ter descoberto um planeta rochoso, pequeno e quente o bastante para ter água. Essa descoberta afortunada, segundo Borucki, foi propiciada por um telescópio de base terrestre apontado para uma única estrela e usando o método oscilatório. Os planetas exercem uma pequena atração gravitacional sobre seus astros, e a oscilação resultante pode dizer um pouco aos cientistas sobre a natureza de um planeta em órbita.