O elevado número de observação de fenômenos nos céus de Mato Grosso do Sul e Paraguai, na noite de 31 de dezembro, pode ser devido a dois fenômenos. Entre as 22h45 e 23h30 daquela noite, segundo muitas testemunhas, objetos não identificados foram vistos no céu de inúmeras localidades. O centro das observações deu-se, a princípio, no município de Dourados e região, no sul de Mato Grosso do Sul. Mas a Revista UFO também recebeu uma espantosa quantidade de relatos provenientes de áreas muitos distantes, como localidades no Mato Grosso, a mais de 1.000 km de Dourados, além de cidades do oeste de São Paulo e leste de Mato Grosso do Sul, situadas entre 450 e 650 km do centro dos fenômenos.
A suspeita da manifestação de dois fatos distintos naquela noite se deve à natureza dos relatos oferecidos pelas testemunhas. Um grupo deles descreve a passagem de um bólido a grande altitude, em trajetória sempre retilínea e com uma imensa cauda. Estas são características da reentrada de satélites na atmosfera, conhecidas há muito tempo dos ufólogos. Nestes casos, os fragmentos, em atrito com o ar, geram a luminosidade por longos períodos, além do que, os corpos descendentes podem se dividir em várias partes, dando a impressão de uma esquadrilha de objetos. Isso foi observado em algumas localidades apontadas. No entanto, tais condições só são possíveis de ser observadas quando as condições do céu estão favoráveis, claras e sem nuvens, pois o lixo espacial reentrando na atmosfera está muito alto no céu.
Ocorre que a situação meteorológica da maioria das cidades em que testemunhas observaram os fatos, tanto no sul Mato Grosso do Sul quanto no Paraguai e as demais regiões, não permitiria tal visão. Boa parte das localidades estavam com céu totalmente encoberto ou chovendo no momento da alegada reentrada, marcando a passagem de ano mais chuvosa dos últimos anos. Levando-se em consideração ainda que em muitas destas áreas as pessoas descreveram objetos abaixo das nuvens, os ufólogos trabalham agora com duas hipóteses: a de que uma parte dos relatos tenha sido devida à reentrada de lixo espacial, no caso, o satélite chinês SJ-4, que teria se precipitado sobre a Terra por volta de 23h45 no horário local do Mato Grosso do Sul. E, a segunda, de que outros fenômenos, talvez de natureza ufológica, também tenham se manifestado na ocasião.
De acordo com o especialista Douglas Bortolanza, do Grupo Próxima Centauri de Observações Astronômicas, foi possível identificar o objeto visto por muitas testemunhas, confirmando que uma parte dos relatos é mesmo devida à reentrada na atmosfera de um foguete chinês lançado em fevereiro de 1994, o Shi Jian 4, o SJ-4, quarto da série LMr, enviado ao espaço em 08 de fevereiro daquele ano. “I artefato iniciou sua ruptura, ao que tudo indica, dividindo-se em pelo menos 5 partes, sendo que a maior delas não deve ter perdido muita massa”, disse Bortolanza. Ele ainda informa que o SJ-4 tinha formato cilíndrico, com 8 m de comprimento e 3 m de diâmetro, e pode não ter sido completamente desintegrado na atmosfera, com alegado inicialmente pela Revista UFO. O satélite fez trajetória do oeste para o leste e seus destroços teriam caído entre as cidades de Taquarussu (MS), Nova Londrina (PR) e Euclides da Cunha Paulista (SP).
No entanto, ainda resta uma grande parcela de relatos a serem esclarecidos, pois não podem ser explicados como a observação da reentrada do lixo espacial. São aqueles de testemunhas que observaram o fenômeno de maneira distinta, com objetos voando a altitudes bem mais baixas que a descrita para a trajetória do SJ-4. Entre eles está Charles Kermaunar, de Fátima do Sul. “Era uma grande bola acompanhada por três menores. Uma do lado direito outra do esquerdo e outra atrás”, relata. Esta é a descrição da maioria das pessoas que viram o UFO na noite de 31 de dezembro de 2006, um objeto arredondado que emitia luz e seguia em alta velocidade num percurso horizontal. A maioria dos depoentes descreveu algo na forma de uma bola grande, ladeada por duas outras de cada lado, muito diferente dos fogos de artifício que explodiram no céu naquele reveillon.
Muita gente descreveu o fenômeno como discóide, multicolorido e “ lindo”, deixando os expectadores atentos a seus movimentos. Os relatos mais claros dão conta de que o fenômeno estava abaixo das nuvens, pois podia ser visto em localidades em que o tempo estava nublado, e em outros locais foi visto muito acima delas. Neste último caso, os ufólogos agora dão como certo tratar-se da precipitação do satélite chinês. Nos demais, resta continuar as pesquisas para se determinar a origem dos fenômenos.
As observações consideradas ufológicas se deram em muitos municípios do sul do Mato Grosso do Sul, incluindo Dourados, Itanhum, Fátima do Sul, Mundo Novo, Amambaí, Caarapó, Jateí, Deodápolis, Ponta Porã, Cristalina, Culturama, Itaporã e Sidrolândia. Distante mais de 400 km do epicentro do fenômeno, no sul do MS, os objetos foram observados claramente também em Três Lagoas, na divisa com São Paulo. Na cidade paraguaia de Pedro Juan Caballero e na capital, Assunção, muitas pessoas também presenciaram o fato. Todos os relatos apontam aproximadamente no mesmo horário, dando indícios de que não apenas um, mas vários objetos estavam envolvidos na observação. Muitas destas localidades estariam bem fora da rota descendente do satélite chinês SJ-4.
A dona de casa Maria Carneiro, que mora no distrito do Itanhum, viu o objeto acompanhada de várias pessoas. Disse que “era uma coisa linda. Fiquei vários minutos observando aquilo”. No conjunto Terra Roxa, em Dourados, algumas pessoas também avistaram o UFO de maneira semelhante a um avião. “Fiquei intrigado com aquilo”, relatou Wanderlei Carneiro, um dos que viram o que se supõe ser uma nave alienígena. O douradense Pablo Reis Fernandes estava na casa do pai em Pedro Juan Caballero, Paraguai, quando um objeto passou. “Foi uma linda visão. Minha família toda viu aquilo. Tinha algo ovalado grande na frente e três ou quatro ao lado. Ligamos em seguida para meu tio Jorge, em Assunção, ele disse que também tinha visto lá”.
Kermaunar também informou à Revista UFO que, “no começo, achamos que eram fogos de artifício, mas depois ao ver que aquilo não perdia força, descartamos a hipótese. Aquilo passava numa altura baixa e sua luz era muito forte”, disse, descartando a possibilidade do satélite neste caso. Edmilson Sacho diz que estava com sua família num rancho na cidade de Três Lagoas, 330 km de Campo Grande e mais de 450 de Dourados, epicentro do fenômeno, quando “em determinado momento antes da passagem do ano, nós avistamos algo no céu. Aquilo continuou na sua trajetória horizontal por muitos quilômetros, até sumir no horizonte”.
Muitas pessoas, porém, não acreditam que o fato registrado tenha sido um UFO, como Celso Mazzei, que explica que o objeto &ldqu
o;era mais rápido do que um jato e mais lento do que um meteoro em contato com a atmosfera”. E afirma: “Não se trata de disco voador, pois não estava parado e sim numa velocidade constante e sempre na mesma direção”. Ele fez uma fotografia do fenômeno, que, analisada preliminarmente, indica o registro da reentrada do SJ-4 na atmosfera. O fazendeiro Jefferson Parra também não crê na versão ufológica. Ele estava em uma fazenda em Ponta Porã e conta que o céu estava limpo. “Foi muito lindo. Mas acho que não é nada de excepcional. Deve ser uma estrela cadente muito maior que as demais. Uma estrela grande que chegou com outras estrelas menores. Veio em nossa direção, contornou em 180 graus e foi embora”.
Robson Diniz, de Caarapó, tem a mesma opinião. Ele e amigos avistaram o fenômeno às 23h00. “Acho que era uma estrela cadente. Ela passou e deixou um rastro atrás”. O engenheiro e agrometeorologista Cláudio Lazarotto, da Embrapa Agropecuária Oeste, foi informado dos relatos pelo jornal O Progresso, de Dourados. Segundo ele, pode ser um meteoro ou até mesmo um balão de São João, mas prefere ficar com a primeira hipótese. “Os meteoros entram na estratosfera, onde a temperatura é altíssima. Em contato com o ar, o meteoro incendeia-se e se esfacela”. Lazarotto diz que isto acontece todos os dias. Cerca de 20 milhões de toneladas de poeira atmosférica entra na Terra por ano, aumentando inclusive o peso do planeta.
A. J. Gevaerd, editor da Revista UFO, descartou a possibilidade de cometa e mesmo de um meteoro, uma vez que cometas ficam aparentemente parados e fixos no céu, sendo visíveis por vários dias. Já meteoros, as chamadas estrelas cadentes, têm trajetória descendente e não voam horizontalmente. “Além do que, meteoros são rapidíssimos e sua queda não dura mais que poucas frações de segundo”. Ele acrescentou que cometas estão tão distantes da Terra que não se pode observar seus movimentos pelos olhos dos humanos.
A Revista UFO começou a receber relatos logo na manhã do dia seguinte, 01 de janeiro, através de e-mail, e seguiram-se muitos telefonemas nos dias seguintes. Todos os depoentes descrevem o que viram na passagem do ano. Mas, ainda que a hipótese de que o fenômeno poderia ser ufológico deva ser considerada, pelas características apresentadas, não se pode descartar qualquer outra possibilidade. “Uma delas, que vem sido aventada também por outros ufólogos, é a de que teria se tratado da reentrada de lixo cósmico na atmosfera, como restos de satélite que volta e meia se precipitam sobre o planeta”, disse Gevaerd em entrevista à Rádio FM Gran Dourados. Essa hipótese agora ganha força como uma das que pode explicar parte dos fenômenos registrados.
Ainda que a reentrada do satélite chinês SJ-4 possa explicar muita coisa, haveria dois problemas para esclarecer totalmente as observações. O primeiro, é o fato de que o SJ-4 tem apenas 400 quilos e se desmancharia em contato com as camadas superiores da atmosfera, onde não estaria visível ainda, restando poucas partes a serem queimadas nas regiões mais baixas do céu, quando então seria visível. “Mas nesta altura, dificilmente a queima de destroços proporcionaria um espetáculo com o tamanho e o formato do objeto descrito pelas testemunhas”. Segundo, como se disse, em várias localidades, o objeto foi visto abaixo das nuvens. O tempo estava encoberto em quase todo o sul do Mato Grosso do Sul, e mesmo assim em diversas localidades o fenômeno foi visto.
Bortolanza não vê problemas com o peso e as características do SJ-4, que, para ele, é responsável pelas observações. “Todo foguete é projetado para resistir a condições extremas. Um foguete projetado na década passada em hipótese alguma é considerado obsoleto”, disse em e-mail à Revista UFO. Ele cita o caso dos foguetes Soyuz TMA de hoje em dia, que são os mesmos modelos da década de 70. “O que muda é o programa do computador”. Ele ainda lembrou que, em novembro de 2006, um tanque de um foguete reentrou na atmosfera e chegou intacto ao solo.
As discussões em torno dos fenômenos observados continua.