O lançamento do longa metragem de Arquivo X foi um grande sucesso. A mega produção levou milhões de pessoas aos cinemas do mundo todo, mas para a Ufologia a série é muito mais benéfica que o filme, porque nela os casos enfrentados por Dana Scully e Fox Mulder estão muito mais próximos do trabalho dos ufólogos do que o que aconteceu no cinema.
Há alguns anos – muitos de nós lembram-se bem – filmes e séries de televisão raramente abordavam o Fenômeno UFO com metade do respeito e carisma que encontramos hoje em reportagens, seriados e mesmo longas-metragens. Com exceção de Contatos Imediatos do Terceiro Grau [de 1977], raros foram os filmes que, nos últimos 20 anos, trataram os discos voadores com uma perspectiva mais séria.
Ficando somente no terreno da televisão, as produtoras norte-americanas e européias sempre trataram os UFOs da mesma forma que são tratadas as histórias de bruxas com vassouras e caldeirões mágicos. Dizer na tevê que você havia visto um UFO era o mesmo que dizer que um elefante vermelho estava voando sobre seu quintal, ou que você havia voltado no tempo por meio de uma lâmpada mágica. Todos olhavam com preocupação, especialmente a mídia e os formadores de opinião.
Na década de 80, no entanto, surgiu um raro exemplar de seriado sério sobre discos voadores. Tratava-se do Project Blue Book, traduzido pela Rede Globo como Projeto UFO. O seriado era composto de histórias de oficiais norte-americanos dispostos a descobrir a verdade sobre os contatos ufológicos relatados ao governo dos EUA. Apesar de um começo muito promissor, logo a série mostrou que estava mais interessada em fazer de conta que todos os casos não passavam de balões meteorológicos ou de UFOs forjados, lamentavelmente. Na época, vários ufólogos norte-americanos, incluindo o doutor J. Allen Hynek, acusaram os produtores de estarem a serviço do governo, já que a cada novo episódio ficava mais evidente que UFOs só poderiam ser coisa de louco… Projeto UFO ainda é apresentado em canais a cabo no Brasil.
Filmes de ficção científica sofreram uma explosão de sucesso no fim dos anos 80, tanto no cinema quanto na televisão. Mas foi com a estréia de Arquivo X, cinco anos atrás, que uma drástica mudança começou a tomar conta dos meios de comunicação
Depois disso, pouca coisa de valor ufológico surgiu na telinha, embora filmes de ficção científica tenham sofrido uma explosão de sucesso – tanto no cinema quanto na televisão. Mas foi com a estréia de Arquivo X, cinco anos atrás, que uma drástica mudança começou a tomar conta dos meios de comunicação. No início ninguém levou muito a sério isso. Os norte-americanos já estavam sob a presidência democrática de Bill Clinton e os EUA não já tinham hoje a mesma força ou a mesma cara de pau para pressionar uma série de televisão, como Ronald Reagan fazia.
Por isso, poucos membros do governo se preocuparam quando a Fox (pertencente ao australiano Robert Murdoch) permitiu que Chris Cárter, um ex-surfista que havia trabalhado nos estúdios Disney, iniciasse o desenvolvimento de uma trama onde presidentes e nações do mundo, inclusive os EUA, estariam usando seres humanos como cobaias, negociando com alienígenas e abduzindo – ou deixando aliens abduzirem – milhões de pessoas em todo o mundo. A série teve uma audiência tão baixa no primeiro ano que nem mesmo os atores acharam que teria uma segunda temporada. Além disso a Fox estava empenhada em promover outra série de sua responsabilidade, chamada As Aventuras de Brisco County Jr., e todo o dinheiro de divulgação ia para este western, do qual ninguém hoje se lembra…
A baixa audiência de Arquivo X deve ter deixado qualquer observador do governo norte-americano calmo, já que tudo indicava que a série seria cortada. Mas Chris Cárter não estava com planos comuns nas mãos, e sabia disso. “Eu não acreditava em conspirações ou em UFOs, mas quando começamos a receber cartas de pessoas de todos o país contando-nos de experiências com abduções e a aparente conspiração do governo, vi que tínhamos alguma coisa diferente nas mãos, algo que nunca tinha tido um tratamento adequado na TV”, explicou Cárter.
O estilo da série também era inovador. Luzes e sombras eram usados para criar climas, ao invés da luz chapada normalmente usada em séries de televisão. Os finais de cada episódio – odiados por muita gente nos primeiros números – não explicavam quase nada. Na maioria das vezes, cabia ao público deduzir o que estava acontecendo. Além disso, os dois protagonistas passavam por uma paixão platônica que deixava os fãs loucos. Estes ingredientes acabaram por fazer a série demorar mais do que o normal para simplesmente decolar na audiência – que só começou a explodir a partir do segundo ano de exibição. Por outro lado, isso garantiu um público muito mais fiel do que o normal para uma série de tevê. Foi então que a Ufologia começou a receber os dividendos disso, com uma divulgação sem precedentes do Fenômeno UFO.
O governo dos EUA enroscado – Em seu segundo ano, a série começou a sair do anonimato para a fama. Durante mais de um ano e meio os atores principais, David Duchovny e Gillian Anderson, foram capas de centenas de revistas em todo o mundo. O valor dos anúncios da série foram às alturas e a Fox rapidamente cancelou Brisco County e começou a investir em Arquivo X. Chris Cárter resolveu jogar pesado nas histórias sobre conspiração governamental, fazendo com que setores do governo reagissem e acusassem Cárter de atacá-lo para enriquecer com uma série de TV. Houve algumas reuniões na Fox e a solução foi encontrada: Cárter apareceu na tevê e em revistas de todo o mundo dizendo que Arquivo X tinha dois tipos de episódios: os normais e os mitológicos.
Por normais entendia-se tudo o que não tratasse de UFOs, tais como abduções e conspirações do governo. Já quando aparecem UFOs ou quando o governo está escondendo algo, os episódios recebem oficialmente o título de mitológicos. Assim, toda a vez que um jornalista perguntava para a Fox, ou para Cárter, sobre os episódios envolvendo conspirações e alienígenas, ele respondia dizendo que apenas estava retratando na série
um mito moderno, sobre o qual não era responsável. Mitos são mitos. Fantasias. Ficção.
Cárter, por sua vez, resolveu jogar mais duro contra o governo, e os episódios começaram a ficar cada vez mais pesados e parecidos com o que muitos ufólogos encontram em suas pesquisas. O público pedia cada vez mais. Por segurança, o diretor resolveu aumentar ao máximo sua exposição pessoal junto ao público – como os investigadores do Caso Varginha fizeram, seguindo a regra de que o governo sempre tem problemas em deletar quem está em evidência.
Do segundo para o terceiro ano da série, as tiragens de livros sobre Ufologia dispararam na Europa, embora não tenham crescido na mesma medida nos Estados Unidos. O Instituto Forteano informou que o “…fenômeno representado pelos Arquivos X está trazendo milhares de novas pessoas interessadas em fenômenos inexplicáveis ao nosso encontro”. Em todos os países em que a série foi apresentada, os primeiros fãs eram, ao mesmo tempo, os adolescentes e os formadores de opinião – coisa raríssima. Normalmente os formadores de opinião detestam os programas de tevê que os adolescentes adoram…
A mídia logo passou a respeitar a série, os atores e os produtores. A audiência cresceu e a base de fãs de Arquivo X passou a incorporar milhares de pessoas que nunca haviam dado atenção ao Fenômeno UFO antes. Estranhamente, os casos ufológicos começaram a ser mais divulgados, mais respeitados e mais comentados. Cárter passou a enviar seus “olheiros” a conferências internacionais sobre os assuntos tratados na série e a Fox abriu uma linha direta pela Internet, para que os fãs dessem idéias e sugestões para os próximos episódios – é claro que as idéias passavam a ser propriedade da empresa. Com isso, quando surgisse algum episódio envolvendo o governo, bastava alegar que a idéia veio de algum fã maluco…
Benefícios e problemas – Claro que o crescimento da série e o recente lançamento do longa metragem de Arquivo X não trazem só bons frutos. O lado problemático está em que a série está cada vez mais indo em direção à ficção científica e deixando com isso o terreno da Ufologia. Um ótimo exemplo é o longa metragem, que já rendeu mais de 90 milhões de dólares à Fox. O filme é muito bom como ficção científica, mas não ajudou muito a Ufologia, coisa que a série faz até hoje.
Os alienígenas mostrados no longa metragem estão muito longe dos que são registrados em nossas investigações de campo. Na verdade, parecem mesmo alienígenas “de cinema” – monstros gosmentos e com vários braços cujo objetivo é destroçar o herói. Além disso, a trama da conspiração, do modo como foi mostrada no cinema, acabou fazendo parecer que o governo dos Estados Unidos está de alguma forma correto em esconder a verdade sobre os UFOs da população – algo com o que a grande maioria dos ufólogos jamais concordaria. Mesmo assim os eXcers [nome dado aos fãs do seriado] aprovaram o filme por completo. Em uma pesquisa interativa feita pelo clube Arquivo X Brasil, grande maioria dos fãs disse que o filme superou suas expectativas ou que foi perfeito. Com isso, o longa metragem de Arquivo X continuará a despertar o interesse das novas gerações, como tem feito a série há vários anos, para o fato de que existe um fenômeno extraordinário e não terrestre acontecendo aqui e agora, e que os governos estão omitindo informações a respeito. Arquivo X faz isso de uma maneira subliminar, utilizando-se da ficção científica ao mesmo tempo como uma isca e um escudo. E é exatamente por esse motivo que vem ajudando a Ufologia e a nós, ufólogos, que procuramos a verdade, que está lá fora.