A busca por vida inteligente além da Terra deixou de ser mera especulação de ficção científica e se tornou um tema de debate na comunidade científica. Agora, essa tensão intelectual se materializou em um desafio formal: uma aposta de mil dólares entre um representante da ciência acadêmica e um do pensamento crítico.
De um lado, o Dr. Avi Loeb, astrônomo de Harvard e diretor do Projeto Galileu; do outro, o Dr. Michael Shermer, historiador da ciência e editor da revista Skeptic . A questão central: teremos evidências confirmadas de visitas extraterrestres à Terra até o final desta década?
Os termos do desafio
A aposta, oficialmente registrada no programa Long Bets da Long Now Foundation (uma organização que incentiva o pensamento a longo prazo e adiciona um zero ao início de cada data em um calendário de 10.000 anos), estabelece um prazo final claro: 31 de dezembro de 2030.
Shermer apostou contra, enquanto Loeb aceitou o desafio com uma postura afirmativa. Para Loeb vencer a aposta, condições muito específicas precisam ser atendidas. Pelo menos duas das três organizações científicas a seguir devem confirmar a descoberta de inteligência extraterrestre (biológica ou tecnológica):
•NASA.
•A Fundação Nacional de Ciência (NSF).
•A Sociedade Astronômica Americana (AAS).
A descoberta deve se referir a OVNIs, UAPs (Fenômenos Anômalos Não Identificados), tecno assinaturas ou formas de vida biológicas encontradas aqui na Terra.

O argumento do otimista: Avi Loeb
O Dr. Avi Loeb argumenta que a humanidade está apenas começando a verdadeira busca. Ele afirma que a descoberta de objetos interestelares anômalos (como o recente 3I/ATLAS ) e a implantação de novas tecnologias, como o Observatório Rubin e os observatórios do Projeto Galileu, mudam drasticamente o cenário.
“É melhor ser otimista, porque a vida às vezes é uma profecia autorrealizável. É por isso que estou participando da busca, na esperança de que encontremos um parceiro em nosso encontro às cegas com objetos interestelares”, diz Loeb .

Seu raciocínio se baseia em estatísticas: existem bilhões de sistemas estelares na Via Láctea, muitos deles bilhões de anos mais antigos que o nosso. Para Loeb, não buscar evidências tecnológicas seria um erro científico.
O argumento do cético: Michael Shermer
Michael Shermer, fiel à sua trajetória desde a fundação da Sociedade Cética em 1992, baseia sua posição na falta de evidências empíricas após décadas de promessas.
Shermer observa que há mais de 30 anos ouve previsões sobre uma “revelação iminente”, previsões que nunca se concretizam. Ele critica duramente as declarações recentes perante o Congresso dos EUA, em que testemunhas de alto escalão afirmam ter conhecimento de espaçonaves e organismos biológicos, mas sempre se escondem atrás da desculpa de que a informação é “classificada” ou “ultrassecreta” quando solicitadas provas físicas.

“Você está dizendo que teremos uma revelação sobre extraterrestres até o final da década? Ok, vamos apostar nessa previsão. Eu digo que não vai acontecer”, declara Shermer. Seu objetivo é forçar denunciantes e pesquisadores a provarem com ações que justifiquem suas alegações.
Uma longa tradição de apostas científicas
Essa aposta não é um evento isolado, mas parte de uma rica tradição histórica usada para resolver disputas intelectuais:
1870: Alfred Russel Wallace (co descobridor da seleção natural) ganhou uma aposta ao demonstrar a curvatura da Terra a um terraplanista no antigo Canal de Bedford.
•1975: Stephen Hawking apostou contra Kip Thorne sobre se Cygnus X-1 era ou não um buraco negro. Hawking perdeu.
•2017: O astrônomo Martin Rees apostou contra Steven Pinker sobre a ocorrência de um evento bioterrorista ou um erro biológico em larga escala até 2020. Pinker ganhou a aposta — embora muitos acreditem que tenha sido o contrário, dado o que aconteceu em Wuhan…
O que acontecerá com o dinheiro?
Independentemente de quem vencer, o prêmio de US$ 1.000 será doado à Fundação Projeto Galileu.
Se Loeb vencer, estaremos diante da descoberta mais importante da história da humanidade: não estamos sozinhos. Se Shermer vencer, isso não significa que estamos sozinhos no cosmos, mas sim que as afirmações atuais sobre visitas extraterrestres são provavelmente exageradas e que a ciência rigorosa deve continuar buscando a verdade.
No entanto, há um fato inegável que adiciona tensão ao debate: antes de 2017, quando os vídeos de objetos não identificados gravados por pilotos da Marinha foram divulgados, nenhum cético teria ousado apostar que o tema dos OVNIs geraria tantas audiências públicas no Congresso dos EUA. E certamente não imaginavam que uma grande parcela da comunidade científica justamente aquela que tentavam manter afastada finalmente ultrapassaria a barreira do estigma para investigar o assunto seriamente.




