Pedro de Campos
Aqui, vamo-nos ater aos relatos de Edvalson Bispo dos Santos, homem simples das barrancas do Vale do São Francisco, no norte de Minas Gerais, uma pessoa verdadeiramente incomum. E por ser tão incomum, recebeu o codinome de Galinha Tonta. Quanto a nós, ainda temos em mente os resquícios de um estudo anterior, no qual a hipótese psicológica firmou-se como inevitável para interpretar o caso do qual falamos na postagem anterior. As reflexões do psiquiatra suíço, Dr. Carl Gustav Jung (1875–1961), sobre o “inconsciente coletivo”, não podem seu esquecidas nesta experiência vivida por Edvalson, que requer do pesquisador um exame mais detalhado dos antecedentes.
Vale lembrar que o fundador da psicologia analítica teoriza que, ao longo da formação da espécie, a máquina cerebral do homem teria gravado informações e transmitido esse conteúdo de geração a geração, chegando aos dias atuais com a designação de “inconsciente coletivo”. E que em ocasiões marcantes para o ser humano, esse conteúdo psicológico projeta-se do inconsciente para o consciente, preenche os espaços vazios e forma com o estímulo hoje observado uma visagem completa, mas diferente dos fatos reais. Ou seja, o indivíduo vê algo real, impactante, e com o impacto recebido, seu inconsciente deforma a visão e projeta nela as gravações do passado, fazendo-o enxergar outra coisa – ele tem certeza do que vê, mas o que vê é apenas uma ilusão, uma fantasia não correspondente aos fatos. Assim, de modo sintético, Jung explica os relatos extraordinários dados como verdadeiros, mas fora dos padrões psicológicos racionais das pessoas em estado verdadeiramente lúcido.
Os adeptos da hipótese psicológica consideram que o Caso Galinha Tonta enquadra-se nessa teoria de Jung, porque não haveria evidência física referente à concretude dos fatos. E o excelente trabalho literário da professora Maria Generosa Ferreira Souto dá essa interpretação para Os Mergulhos do Galinha Tonta no Imaginário do Velho Chico. Quanto a nós, na sequência, apenas vamos mostrar a narrativa original de Edvalson, o Galinha Tonta. É ele quem conta:
Os mergulhos do Galinha Tonta
Os mergulhos é o seguinte. Eu tinha o costume de ir nadar no rio, né? De mergulhar e tudo. Minha mãe dizia:
– Minino, você não vai nadar no rio que é muito pirigoso.
Então eu mergulhava iscondido, pegava aqueles “carizinhos” e tudo. E depois chegava:
– Ó mãe, o que eu peguei!
– Eu num já falei com você que não mergulhasse no rio? Uma vez cê vai arrepender, que é muito pirigoso!
Aí, certa vez, fui mergulhar nas pedreiras, onde tem a Copasa. Aí eu peguei, mergulhei, dei o primeiro mergulho. Quando eu mergulhei a primeira vez, tinha uma… uma pessoa estranha lá na minha frente, uma moça. E eu falei:
– Meu Deus! Como é que é isso?
Aí ela começou dançar ni meu rumo. Aí eu falei assim:
– É uma moça, e é bunita!
De longe dava pra ver os cabelão, mas num dava pa vê o rosto direito. Aí eu peguei e fui lá em cima, tomei folgo, fui até a superfície para tomar o ar. Tornei mergulhar, aí ela chegou mais perto de mim, cada vez mais perto de mim, dançando, rebolando… aí, minino, quando foi no terceiro mergulho, aproximou bem perto de mim. Aí deu pra mim ver aquele rosto feio. Tinha um só olho no meio da testa e… assim… era careca e dos lados assim era cabeludo… aquele cabelo grande… aí… aí quando eu peguei aquilo, quando ela abriu a boca pra mim e fez assim: “nhááá…” fez assim… E eu vi os dente, aquela presa inorme, eu me assustei, fui duma vez pra superfície. Quando eu falei assim, ne minha cabeça veio: “eu vô imbora, eu vô imbora”. Quando eu fui pra subir, ela ainda tentou pegar meu pé. Levou aquela unha inorme no meu pé, tentou pegar e aí eu iscurreguei e subi. Aí eu peguei, saí na superfície assim, cumo coisa qui eu tava afogano, apavorado. Aí no alto do barranco tinha um senhor, chamado Beneco, né? Um velho aqui da cidade, muito cunhecido meu, me chamava de Nego. Aí quando ele viu que eu saí apavorado, nadando pra fora, pra fora do rio, ele perguntou:
– Nego, o que foi? O que é qui cê saiu cum esse olho desse tamanho, o que foi? Parece que viu uma assombração?
– É, seu Beneco. Realmente. Eu vi uma mulher ali, nadando. Mas quando eu fui vê no terceiro mergulho, num é mulher não, é um bicho. Um trem cabeludo, com uns dente cumprido, um trem mais feio. Tem um oio no meio da testa.
Aí seu Beneco num acreditou, né? Aí ele ficou olhando pra lá e eu falei:
– Foi bem ali.
Quando eu mostrei, aquele negócio saiu, fez uma mareta, vei, deu aquela mareta grande e fez uma zuada no rumo lá. Quando seu Beneco olhou pra lá, aquele bicho mostrou primeiro a cabeça inorme com aquela cabelaça toda e, em seguida, o rabo cumprido, um rabo de peixe. Aí tinha mãos, como mãos de humanos, né? mas o corpo de peixe, assim. E o rabo bateu “pá”, e… e… foi. Aí seu Beneco ficou tão atordoado, tão assim… que ele falou:
– É, Nego, vou pra casa.
Me chamava de Nego, né? Como eu disse. Ele pegou e… Gali… Nego, vou pra casa. Aí ele foi descendo e invés dele ir pra casa dele que é rumo do Peixe-Vivo, uma buate que temos aqui, que era próximo à residência dele, não, ia desceno pro rumo da minha casa, né? Aí eu disse assim:
– Não, seu Beneco, a casa do sinhô é por aqui.
Foi priciso eu pegá na mão dele, né? Peguei na mão e levei até a residência dele. Aí cheguei lá, e Dona Nedina disse:
– Uai, Beneco, que qui cê tem?
– Uai, muié, vi um trem ali… qui num deu pra incará não. Nego viu um trem lá, qui eu num sei o que era aquilo, era uma mistura de gente cum peixe. Eu num acreditei não, mas ele falou cumigo, quando eu oiei, eu vi, mas eu tô assim, sintino mei istranho.
Aí, seu Beneco chegou lá e pediu uma cadeira, sentou todo atordoado. Aí ele começou contar a história lá para o pessoal e eu fiquei. Aí depois eu fui pra casa, cheguei, contei pra minha mãe e ela falou assim:
– O que qui eu falei pra você, que não fosse pro rio?!
Eu gostava de ir no rio. Mas a partir desse momento eu num fui mais merguiá no rio. E mãe:
– Uai, minino, cê parô de ir no rio?
Pois é, é pur isso… até hoje, nessa idade que eu tô, eu num tenho coragem de mergulhá no rio, por conta desse fato. Eu num sei o que eu vi lá, se era Caboclo d’água, se era Mãe d’água, sei lá qui mistura era, mas que realmente eu vi, eu vi! Eu tenho certeza que eu vi. Era isso que eu tinha pra dizê.
Quando lemos isoladamente este relato, não parece haver dúvida em enquadrar Edvalson na hipótese psicológica de Jung. Mas quando nos detemos a examinar os seus antecedentes e as suas realizações, após os encontros de anos que teve com entidades que ele chama de \”meninos\”, o enquadramento inicial ganha outra conotação e toma outros rumos. Vamos observar melhor isto.
Voltando ao passado, vamos encontrar Edvalson na primeira infância vendo-se obrigado a pedir comida na casa dos vizinhos. Pouco depois, aos sete anos, em idade escolar, sua conduta se mostra exagerada, tendo adquirido uma espécie de vício em comer demais para guardar reservas. E a diretora da escola, querendo enquadrá-lo nas boas maneiras, num ato impensado lhe dirige uma humilhação marcante: “O que esse menino está fazendo aí na mesa? Devia comer com os cachorros”.
Edvalson se lembra dos pormenores. Conta que, na hora, sua garganta tampou. Então, instintivamente, largou o prato, e o mundo pareceu escurecer ao redor. Indignado, foi para casa e enfiou-se na cama, debaixo das cobertas. Quando adormeceu, viu-se sentado numa praia, onde lhe apareceram três vultos que pareciam meninos. O primeiro tinha olhos puxados e falava japonês, o segundo, era loiro e conversava em alemão, enquanto o terceiro comunicou-se em inglês. No sonho, a areia da praia era o quadro, e o dedo, o giz das palavras. Não obstante os três vultos falassem outras línguas, ele entendeu tudo e memorizou os ensinamentos.
Ao despertar, falou com a mãe de modo estranho, e ela não entendeu. Preocupada, levou o menino à igreja, pensando que fosse espírito ruim ou que tivesse alguma coisa na língua. Mas o padre era de origem alemã e ficou estupefato: “Ele não tem nenhum problema, está falando alemão”. E explicou: “É uma graça divina, em forma de língua estrangeira”. Dá para imaginar então o que aconteceu depois em sua casa – virou tumulto! O povoado inteiro quis ver o menino falando japonês, alemão e inglês, aos sete anos de idade, antes mesmo de ser alfabetizado em português.
Os vultos enigmáticos voltaram depois e continuaram ensinando os idiomas. Deram também os seus nomes: Toshio, Hanz e Paul. Eram crianças que nenhuma outra havia visto, senão Edvalson. E ficaram voltando ao longo de 15 anos, durante os quais faziam uma espécie de aula, como se Edvalson fosse com eles àqueles países e vivesse naquelas culturas aprendendo tudo. E quem poderia ali contestar esta fantástica realidade? Apenas ele, naquele lugar, sabia falar três línguas além da sua, tendo o padre confirmando o seu alemão. Anos mais tarde, o que se fez foi arrumar um professor de cada uma das línguas para avaliar o seu desempenho. E o resultado foi que se os professores não tivessem visto, jamais acreditariam: Incrível! sua capacidade excedia à dos alunos adiantados das melhores escolas.
Tempos depois, Edvalson teve o impulso de aprender russo sozinho, mas aí lhe apareceu outro vulto de criança – era Natasha, que lhe ensinou mais coisas desse idioma. Sua facilidade em aprender outras línguas com os vultos daquelas crianças enigmáticas alastrou-se de modo extraordinário. Ele adquiriu capacidade de entender outras línguas, como se tivesse \”um tradutor automático na cabeça\”, como ele mesmo define, e de falar com boa pronúncia. Curiosamente, muda de entonação quando fala coreano, japonês, vietnamita, árabe e tailandês.
Interpretações do Caso Galinha Tonta
Para o Galinha Tonta, as palavras de qualquer idioma são muito fáceis de aprender e de ensinar, mas ele tem dificuldade para entender a intenção dos homens. É que muitos que apareceram por ali, para entrevistá-lo, diziam-se dispostos a ajudá-lo na construção da escola de seus sonhos, para ele ensinar os idiomas. Mas após a gravação, ninguém voltava para ajudá-lo. Não obstante isso, sua Escola de Idiomas saiu por conta própria, feita por ele mesmo com muito sacrifício, num cômodo construído em sua casinha empoeirada, na periferia de São Francisco. Ali, ele se sente feliz e vive bem, de modo simples.
Há uns 10 anos, com apenas a quarta série do primário, iniciou o ensino daqueles três idiomas estrangeiros a uma grande quantidade de crianças do bairro da Sagrada Família, todas muito pobres. Hoje, a afluência de alunos e pessoas à sua casa é enorme. E na falta de papel, escreve nas paredes; na falta de estante, improvisa caixas de madeira para os livros. Faz imagens e ideogramas na casa toda, em várias línguas. Há pouco, quando ganhou um computador velho, descobriu a internet. E a Associação Espaço Fala Menino, fundada e dirigida por ele, divulga na mídia eletrônica as suas inúmeras realizações beneficentes.
Hoje, aos 54 anos, está escrevendo o livro de sua vida, e sua intenção é viajar e conhecer o Brasil. Contudo, os acadêmicos são os seus maiores críticos. Numa palestra, um professor de inglês disse que o Galinha Tonta fala tudo errado, mas um americano apresente levantou-se e, arrastando o português, contestou, dizendo que o entendia perfeitamente, melhor que a outros. Por certo, os vultos com aparência humana que lhe ensinaram os idiomas cumpriram bem o seu papel e devem ter uma origem, pois a melhor evidência física da existência deles são as realizações práticas do Galinha.
Dentre as várias hipóteses para explicar o fenômeno Galinha Tonta, detendo-se na de Jung, parece apenas lógico que o enigmático “inconsciente coletivo”, supostamente projetado na mente do Galinha, seria oriundo de vários países, porque ele fala várias línguas que jamais estudara previamente. Como isto seria possível – não se sabe! E diante de tal incerteza, não é incomum se pensar em “experiências espirituais”, a tal “graça divina” de que falara o padre alemão.
Talvez os enigmáticos professores que a ele se apresentam seja ele mesmo, quando encarnado naqueles países em vidas passadas, ao longo de uma extensa fieira reencarnatória. Não se descarta, também, que sejam espíritos ou entidades ultrafísicas ligadas a ele de algum modo, que vieram lhe ensinar os idiomas para chamarem atenção do público sobre o fenômeno. Enfim, as hipóteses são muitas. E a verdade, de modo científico, não se sabe!
Contudo, a mulher estranha de seus mergulhos no São Francisco não poderia ter nascido na Terra, mas num mundo desconhecido. À pequena distância, no fundo das águas turvas do rio, ela lhe dava a impressão de moça bonita, bailando nas águas com aquele cabelão e vindo em sua direção; foi achegando-se como uma Ondina, enquanto ele tomava fôlego na superfície e mergulhava para vê-la no próximo lance; mas no terceiro mergulho, quando a moça chegou perto, qual não foi sua surpresa – a entidade era tremendamente feia. Uma parte da cabeça estava cheia de cabelos, mas dos lados, não havia cabelo; tinha um olho grande no meio da testa e uma presa enorme querendo pegar seu pé. Então ele se assustou, pensando que se afogaria. Aquilo parecia assombração, mas não da Terra, porque na Terra nunca houve uma criatura natural como aquela. E o Galinha Tonta não foi o único a ver a estranha figura, seu Beneco também viu a “mulher de cabeça grande, com um só olho e cabeladura enorme”.
Na Ufologia, não se descarta que civilizações adiantadas possam ter atingido um grau de avanço científico capaz de produzir andróides providos de uma consciência bio-orgânica artificial. Tais seres seriam capazes de viver em outro planeta de modo camuflado e, na Terra, especialmente no meio aquático, onde o homem não tem presença constante. Esses servidores inteligentes na modalidade subaquática poderiam subsistir no fundo dos oceanos, dos rios e dos lagos, de onde repassariam aos seus criadores informações sobre a vida e os elementos naturais desses locais submersos.
De fato, além dos inúmeros testemunhos de OSNIs (UFOs que submergem nas águas), há também informes de pessoas que dizem ter encontrado seres desse tipo. Como exemplo, Guy Tarade [OVNI: Terre, planète sous contrôle. Lefeuvre, 1979] cita o caso do estudante peruano José Alvarez. Em janeiro de 1977, o moço estava na província de Huanaco, em Lima, quando ficou preso num pântano da região amazônica. Apesar de seus esforços para sair do imenso alagado, não conseguia sair do local. Havia perdido a esperança de salvar-se, quando, subitamente, apareceram quatro entidades de pequena estatura. As criaturas estenderam-lhe os ramos da vegetação, nos quais ele se agarrou e foi puxado para a margem, ao mesmo tempo em que os seres davam grunhidos e gesticulavam. Os vultos estranhos tinham um metro de altura, o corpo coberto de escamas verdes e, nas mãos, três dedos com garras enormes. Terminada a operação, submergiram nas águas, assim como a “mulher feia” testemunhada pelo Galinha Tonta.
Pedro de Campos é autor dos livros: Colônia Capella; Universo Profundo; UFO – Fenômeno de Contato; Um Vermelho Encarnado no Céu; Os Escolhidos; Lentulus – Encarnações de Emmanuel, publicados pela Lúmen Editorial. E também dos recém-lançamentos: A Epístola Lentuli e Arquivo Extraterreno. E dos DVDs Os Aliens na Visão Espírita, Parte 1 e Parte 2, lançados pela Revista UFO. Conheça-os!
GT entrega presentes na sala com a pintura da “mulher feia”: