Quem acompanha as imagens do telescópio espacial SOHO (Observatório Solar e Heliosférico) foi surpreendido na terça-feira (10) por um verdadeiro espetáculo, digno dos filmes de ficção científica. Durante várias horas os espectadores puderam assistir a uma verdadeira tragédia anunciada, que mostrou um gigantesco cometa sendo tragado e destruído pelo Sol. Clique aqui para ver a animação.
As imagens foram captadas pelos instrumentos LASCO C2 e LASCO C3, dois coronógrafos a bordo do telescópio europeu SOHO, que monitora o Sol 24 horas por dia. As cenas são impressionantes e mostram as últimas horas de um grande fragmento cometário, atraído e aprisionado pela força gravitacional do Sol.
Na seqüência de imagens mostradas, um objeto da família de cometas rasantes Kreutz avança em direção ao nosso astro, dando a impressão de que vai se chocar contra ele. O cometa parece efetuar uma ligeira curva, ao mesmo tempo em que sua cauda parece crescer e brilhar ainda mais. Em seguida, desaparece atrás do anteparo do coronógrafo. Apesar de parecer um choque iminente, o cometa não atingiu a superfície do Sol.
Formado de gelo e poeira, o objeto sublimou completamente antes que pudesse atingi-lo. Sublimação é o fenômeno que ocorre quando um material passa imediatamente do estado sólido para o estado gasoso. Esse mesmo processo, combinado com a ação dos ventos solares é o responsável pela formação da cauda do cometa.
Operado conjuntamente pelas Agências Espaciais Norte-Americana (NASA) e européia (ESA), o telescópio espacial SOHO foi lançado em dezembro de 1995, com o objetivo de estudar a estrutura interna do Sol, a camada mais externa de sua atmosfera e a origem do vento solar.
Desde seu lançamento, o SOHO havia permitido a observação de alguns novos cometas, mas foi somente a partir do ano 2000, quando as imagens enviadas passaram a ser colocadas na internet, que a nova função de descobridor de cometas veio à tona.
Quem primeiro fez uso dessa nova ferramenta foi o astrônomo amador norte-americano Mike Oates, que em 2000 encontrou mais de cem cometas da família Kreutz. A notícia se espalhou rapidamente entre astrônomos de todo mundo e em 2002 já era contabilizado 500 cometas descobertos. Em agostos de 2005, o astrônomo amador italiano Toni Scarmato descobriu o milésimo cometa da família, cinco minutos depois de descobrir o 999º cometa com auxílio do satélite.
Kreutz
O objeto registrado pelas lentes do telescópio pertence à família cometária Kreutz, composta de uma série de fragmentos de um grande cometa que se partiu há mais de 2.000 anos. Diariamente, diversos desses fragmentos passam próximo ao Sol e se desintegram, mas como a maioria é muito pequena, acabam passando despercebidos. Ocasionalmente, alguns pedaços maiores chamam a atenção e são registrados pelo telescópio e vistos pelos observadores. Os objetos da família Kreutz foram assim batizados após terem sido descobertos, no século 19, por um jovem astrônomo chamado Dirk Peeters Kreutz.