No momento em que a Revista UFO alcançou a expressiva marca de sua centésima edição, em junho de 2004, a entrevista do mês apresentada aos leitores na ocasião também foi com um dos nomes mais importantes do cenário ufológico mundial, o matemático, astrofísico e astrônomo Jacques Vallée, Ph.D. Nascido na França e naturalizado norte-americano, atualmente residindo em San Francisco, o estudioso também é escritor e cientista da computação, área em que se destacou pelo desenvolvimento do primeiro mapeamento computadorizado de Marte para a NASA e por seu trabalho na empresa SRI International, que resultou na criação da Arpanet, precursora da moderna internet.
Abrindo uma brecha na sua reclusão espontânea do meio ufológico, Vallée atendeu com extrema cordialidade o pedido de entrevista formulado pela Equipe UFO e não se esquivou à sabatina a que foi submetido através das perguntas de vários de nossos integrantes e convidados. Suas respostas às nossas indagações, que tanto impacto causaram naquela época, permanecem perfeitamente atuais agora, pois tratam de questões significativas sobre a presença alienígena na Terra. Tanto em 2004 quanto em 2013, os pensamentos do entrevistado merecem ser, mais que lidos, refletidos. Por isso, esta edição traz reformulado o trabalho com o estudioso, resgatando um conteúdo de muita importância.
Imaterialidade dos UFOs
Vallée não é um ufólogo comum, mas alguém que tem uma intimidade sem igual com o Fenômeno UFO, e defende ao mesmo tempo a necessidade da pesquisa científica da hipótese extraterrestre para os UFOs e a adoção do conceito de interdimensionalidade para explicar sua ação em nosso meio. “Quando eu me aproximei da Ufologia, nos anos 60, pensei que a hipótese extraterrestre era a melhor de todas as que havia para explicar o fenômeno, e disse isso em meus dois primeiros livros. Mas fui forçado a mudar de opinião porque os dados que coletei contradizem essa hipótese”, declara o cientista, que hoje considera que a inteligência por trás do Fenômeno UFO é tão complexa que pode ser inalcançável para os seres humanos.
Seu primeiro trabalho como astrônomo foi no Observatório de Paris, em 1961. Mas logo no ano seguinte ele já morava nos Estados Unidos e trabalhava no Observatório MacDonald, da Universidade do Texas. O estudioso também passou pela Universidade do Michigan e Universidade Northwestern, no estado de Illinois, onde conheceu seu colega e pioneiro da Ufologia Mundial J. Allen Hynek. Vallée, que já era interessado por Ufologia, teve em Hynek um mentor que o fez ingressar de cabeça neste fascinante mundo. Mas, diferentemente do pioneiro — que tinha uma visão material da manifestação ufológica —, Vallée via a natureza do Fenômeno UFO como ambígua. Para ele, havia um componente imaterial ou multimaterial nos discos voadores, como se seus tripulantes tivessem a capacidade de manusear a matéria como bem entendessem — e ele chama isto de transcendental.
Quando eu me aproximei da Ufologia, nos anos 60, pensei que a hipótese extraterrestre era a melhor de todas as que havia para explicar o fenômeno. Mas fui forçado a mudar de opinião porque os dados que coletei contradizem essa hipótese.
Para os que iniciaram nessa jornada há mais tempo, deve rapidamente vir à memória o personagem Lacombe de Contatos Imediatos do Terceiro Grau [1977], vivido pelo artista François Truffaut. Lacombe, um matemático franco-americano que tinha excepcional conhecimento da questão ufológica, era como o diretor Steven Spielberg via Vallée. Entre toda a trama militaresca do filme, foi delegado a ele o lado transcendental da manifestação de UFOs na histórica película. O personagem, fortemente influenciado pelo próprio Vallée durante a produção do filme, mostra uma visão bastante transcendental do Fenômeno UFO, geralmente pouco praticada e até mesmo entendida pela Comunidade Ufológica.
A entrevista original de 2004 com Jacques Vallée, agora repetida nesta edição, também inaugurava uma nova forma de trabalho que a Equipe UFO passou a adotar na ocasião. Simplesmente, em vez de apenas um entrevistador, Vallée foi inquirido por inúmeros integrantes de nosso Conselho Editorial, convocados para satisfazerem a curiosidade dos leitores sobre o trabalho de nosso convidado. Nossos colaboradores e consultores elaboraram suas questões e as remeteram para reenvio ao estudioso, em uma espécie de “entrevista coletiva virtual”. O coordenador desse trabalho foi nosso ombudsman na época, o hoje ex-ufólogo Carlos Alberto Reis, que era um dos estudiosos brasileiros do tema mais identificados com a linha de atuação de Vallée. Reis não somente formulou suas próprias perguntas ao entrevistado como procurou selecionar criteriosamente aquelas recebidas de nossos integrantes, que fossem abrangentes, de interesse coletivo e trouxessem os esclarecimentos necessários a tantas dúvidas.
Trabalho multicefálico
Em sua tarefa, o então ombudsman foi competentemente ajudado pelos consultores Marcos Malvezzi Leal, autor e tradutor, e Laura Elias, advogada, ambos veteranos da publicação. Participaram desse trabalho, enviando suas perguntas para serem formuladas a Vallée, os seguintes estudiosos: Ademar Eugênio de Mello, Alexandre de Carvalho Borges, Arismaris Baraldi Dias, Atílio Coelho, Carlos Alberto Millán, Claudeir Covo, Elaine Villela, Fernando de Aragão Ramalho, Jayme Roitman, Marco Aurélio Gomes Veado, Pedro Cunha Filho, Reinaldo Stabolito, Renato A. Azevedo, Roberto Pintucci, Roberto S. Ferreira, Rodolfo Heltai, Rogério Chola, Vanderlei D’Agostino, Wagner Borges, Wallacy Albino e Wendell Stein.
O leitor reconhecerá entre eles vários nomes que hoje estão na diretoria da Revista UFO, como Ramalho, que é seu atual coeditor, e outros já falecidos ao longo dos anos, como Mello, Dias, Covo e Heltai. A partir da Espanha, os pesquisadores José António Roldán Sanchez e Marisol Roldán Sanchez também enviaram suas questões. O mesmo fez o astrólogo Jaime Lauda, que já foi um dos grandes nomes de nossa Ufologia e que, hoje, atuando como nosso consultor, segue observando o cenário ufológico nacional. Entre nossos leitores, Marcos Leal, Paulo Rogério Dias, Rogério de Paulo Silva e Ary Moura de Salles também participaram desse trabalho.
Sobre Jacques Vallée ainda há muito que se falar, e ele próprio já foi por diversas vezes apresentado nesta publicação, em matérias anteriores. Um dos artigos mais importantes que se publicou sobre seu trabalho foi justamente o do citado Reis, na edição UFO 090, Novos Rumos Para Uma Velha Ufologia. O autor deixava claro o conteúdo de seu texto a partir do subtítulo: A Ufologia Precisa Ser Repensada na Íntegra, Para se Adequar à Dinâmica do Fenômeno Que Estuda. Mas vamos deixar que a própria entrevista revele mais sobre esse personagem da Ufologia. Autor de inúmeros livros, pouquíssimos deles traduzidos para o português, Vallée é considerado um autêntico pensador da moderna Ufologia — e por isso se afastou da agitação dos congressos e da mídia de modo geral para dedicar-se às suas reflexões sobre o tema. Embora limitado pelo espaço que a revista se impõe, esse diálogo deixa nas entrelinhas muito material para reflexão.
Há quase 10 anos, o senhor se afastou do meio ufológico para dedicar-se a reflexões sobre os aspectos sociais e mitológicos do fenômeno, defendendo a ideia de que desde o princípio foi feita uma leitura superficial dele e que todos nós caímos nessa armadilha. Que frutos esse isolamento proporcionou? Qual seria a releitura atual ou qual é a “anatomia do fenômeno” hoje? O afastamento foi apenas das discussões públicas sobre Ufologia, e eu continuo afastado. Mas nunca desisti da pesquisa em si. Porém, o campo se tornou tão confuso, com ramos e ideologias conflitantes, que qualquer coisa que eu dissesse como cientista se perderia na confusão. Nos últimos 15 anos, tenho sido membro do corpo consultivo do Instituto Nacional Para a Descoberta Científica [National Institute for the Discovery of Science, NIDS] e consultor do Centro Aeronáutico Nacional de Registros de Fenômenos Anômalos [National Aviation Reporting Center on Anomalous Phenomena, NARCAP], que se especializa no estudo de avistamentos de fenômenos aéreos por pilotos. Muitos pesquisadores, hoje, estão seguindo uma estratégia parecida de trabalhar em silêncio, longe da controvérsia da mídia. Nós estamos voltando aos dias do “Colégio Invisível”, de que tratamos no passado. O quadro que continua a emergir é o de um fenômeno muito forte, que combina parâmetros físicos com efeitos psicológicos e psíquicos muito interessantes. Meu método é bastante simples e muitos dos meus leitores compartilham comigo suas experiências pessoais com o Fenômeno UFO. Estes são casos que eu não divulguei para a imprensa ou para grupos ufológicos — tenho condições de estudá-los por inteiro sem grandes esforços. Isso permite formar minha própria opinião sobre os casos, e testar os dados com variadas hipóteses. Continuo tão fascinado quanto antes com a fenomenologia ufológica.
As características dos UFOs são as mesmas hoje, porém o fenômeno foi captado de maneira diferente em cada cultura. Uma parte disto se deve ao contexto social ao qual foi inserido, mas parece também existir interação entre a fenomenologia e as testemunhas.
Jung, na sua obra magistral Um Mito Moderno, aventou a hipótese de os UFOs serem uma forma deinteligência que adota diferentes maneiras de se manifestar, de acordo com distintos contextos históricos. Ou seja, algo muito parecido àquilo que o senhor sempre fez questão de defender. Seu pensamento ainda é o mesmo?
É difícil não ficar impressionado com o fato de que o fenômeno tem tomado várias formas através da história, desde os navios voadores de Magonia, na França do século IX, às naves voadoras de 1897 e os foguetes fantasmas de 1947, na Escandinávia. As características físicas básicas dos UFOs são as mesmas, porém o fenômeno foi captado de maneira diferente em cada cultura. Uma parte disto se deve simplesmente ao contexto social ao qual foi inserido, mas parece também existir algum tipo de interação entre a fenomenologia e as testemunhas. É por esta razão que eu propus a ideia de que isso representava um sistema de controle.
A síntese de seu pensamento sobre o fenômeno é a de que ele opera através de uma espécie de consciência não humana, fazendo parte de um domínio ainda não explorado da natureza. Seria, portanto, uma expressão carregada de simbolismo de outra forma de inteligência. Isso significa que estamos em um beco sem saída?
Meu amigo Aimé Michel [Ufólogo francês falecido em 1992, um dos criadores da teoria das ortotenias] pensava que nós já estávamos na verdade em uma rua sem saída, muitos anos atrás. Eu discordo, porque ainda é muito cedo para se chegar a esta conclusão, uma vez que a ciência ainda não se aplicou ao estudo do Fenômeno UFO. Teoricamente, é possível que a forma de consciência envolvida — seja ela extraterrestre ou não — é tão avançada ou estranha a nós que a questão de interação com ela seja realmente insolúvel. Afinal, nós sabemos que algumas questões matemáticas não têm respostas, de forma que esta não é uma situação nova. Recentemente, o doutor Eric Davis e eu apresentamos uma tese sobre este assunto em uma conferência sobre ciência, consciência e religião na cidade do Porto, em Portugal. O título do trabalho é Incomensurabilidade, Ortodoxia e a Física de Alta Estranheza, e está disponível para pesquisa no site do NIDS [Endereço www.nidsci.org].
Explorando novas hipóteses
O senhor acredita que atualmente estejamos errados em sermos mais quantitativos do que qualitativos? Que deveríamos retomar o rumo das pesquisas que o senhor representa tão bem, que é o de buscar as hipóteses que possam explicar o fenômeno e suas manifestações mais intrigantes?
É importante ser tão quantitativo quanto possível — a ciência está baseada em medidas. O desafio é determinar qual medida é significativa. Ao mesmo tempo, é saudável explorar novas hipóteses. Após 65 anos de pesquisas, é óbvio que todas as explicações simples para o fenômeno falharam.
Fazendo uma síntese de suas obras, o senhor afirma que sua maior decepção seria constatar que os UFOs realmente são de origem extraterrestre. Poderia explicar melhor este pensamento e se atualmente ele ainda persiste?
Não foi exatamente isso que eu disse. Eu falei que ficaria desapontado se os UFOs se mostrassem ser nada além de naves espaciais. Eu passei muito tempo ouvindo testemunhas de observações ufológicas e de supostos contatos, e o que elas descrevem não é uma espaçonave, mas um fenômeno físico que pode surgir do nada, mudar de forma dinamicamente e esvaecer, tornando-se transparente a qualquer instante. Um objeto que faz tudo isso é muito mais interessante do que “simplesmente” uma espaçonave — ele próprio afeta o tempo, podendo vir de qualquer lugar, em qualquer tempo, inclusive de nosso próprio planeta. Nós temos que amadurecer e abandonar o conceito de espaçonave, como era vista pelos filmes de ficção científica da década de 50.
O senhor nega com convicção as alegações sobre UFOs acidentados, seres extraterrestres resgatados e outros fatos dessa mesma linha, que considera subcultura ufológica. Podem-se incluir nessa categoria as abduções e os implantes?
Existem várias possibilidades para essa questão. Em meados da década de 60, quando defendi pela primeira vez o estudo dos contatos imediatos — especialmente dos relatos de aterrissagens envolvendo formas de vida como as que nós tínhamos nos arquivos franceses —, a maioria dos pesquisadores se colocou francamente contra a ideia. Eu me lembro do doutor David Jacobs [Professor de história norte-americana na Universidade de Temple e autor de A Ameaça, em 2002] argumentando que este tipo de caso traria descrédito para o campo de pesquisas que estávamos desenvolvendo. Naquela época, mesmo o Comitê Nacional de Investigações de Fenômenos Aéreos [National Investigations Committee on Aerial Phenomenon, NICAP] era cuidadoso ao publicar suas ocorrências de pouso de supostos UFOs pela mesma razão. Então, fico contente em ver que casos de contatos imediatos de terceiro grau e de abdução estão agora sendo pesquisados seriamente.
Qual tem sido sua forma de atuar na investigação do Fenômeno UFO?
Tenho buscado fazer análises de resíduos materiais de casos de contatos imediatos, e alguns indicaram a presença de vários metais. Eu continuo a conduzir estas análises e há alguns anos viajei à Costa Rica para colher amostras de água do Lago de Cote, onde um fotógrafo do governo viu o que parecia ser um grande disco voador. Quanto ao assunto dos acidentes com UFOs, ainda estou reservando minha opinião para o futuro. Eu vi os dados de ambos os lados sobre o assunto, porém não estou pronto para chegar a uma conclusão. Já sobre os implantes, por enquanto ainda não vi nenhuma evidência de que sejam algo extraordinário — os médicos que consultei sobre este assunto me disseram que dermatologistas estão acostumados com este tipo de objetos nos corpos das pessoas.
O que nós chamamos de nova Ufologia, aquela que busca uma “ressignificação” do fenômeno e que tenta resgatar o Fio de Ariadne que se perdeu dentre tantos modelos e filosofias prontas, lança um olhar para um futuro ainda pouco definido. Quais são as perspectivas em médio e longo prazos?
Existem relativamente poucos avistamentos hoje, o que torna este momento ideal para um estudo tranquilo da Ufologia. Vários grupos de pesquisa estão ocupados colhendo e organizando arquivos de fatos ufológicos históricos, enquanto outros estão expandindo os catálogos de casos computadorizados. Toda essa atividade nos ajudará a compreender melhor os padrões subjacentes do Fenômeno UFO. Qualquer redefinição do debate tem que começar a partir desse tipo de análise sólida.
Um fenômeno muito saudável
Em uma entrevista recente, o senhor disse que, no atual estágio de desenvolvimento humano, as perguntas se tornaram mais importantes que as respostas. Nesse contexto, o senhor diria que o Fenômeno UFO é um gerador autoconsciente dessas indagações?
Ele trabalha como qualquer outro fenômeno da natureza. Os UFOs nos forçam a reconsiderar quem somos, qual é a história da humanidade e até a questionar o que chamamos de realidade física. Nesse sentido, o fenômeno é muito saudável.
Qual é a sua opinião sobre o Caso Varginha? E qual é o acontecimento em nível mundial que o senhor considera mais impressionante?
Infelizmente, não viajei ao local do incidente de Varginha, então não tenho conclusões a oferecer — prefiro falar apenas dos casos cujos locais de manifestação eu visitei, e cujas testemunhas encontrei e entrevistei. Em um caso como o de Varginha é crucial falar com os observadores em primeira mão e compreender o contexto social em que o fato ocorreu. Mas, veja, os acontecimentos que são muito impressionantes não são necessariamente os mais interessantes do ponto de vista científico. Eu procuro estudar casos que tenham potencial de nos ensinar algo novo sobre o Fenômeno UFO. Nesse contexto, me impressionei com o Caso Valensole, ocorrido na França, em julho de 1965, e com o Caso Council Bluffs, que se passou nos Estados Unidos, em dezembro de 1977, porque em ambos as evidências são muito fortes. Mas eu teria a dizer que casos brasileiros verificados nas ilhas de Colares e Mosqueiro, no litoral fluvial do Pará, foram os mais interessantes entre todos que estudei.
Os céticos constituem uma categoria psicológica fascinante. Nós podemos discordar com certeza da interpretação que fazem dos avistamentos ufológicos, mas é difícil entender como alguém que se diz um cientista possa ignorar os dados e se recusar a estudá-los.
O senhor esteve no Brasil em 1988 investigando algumas ocorrências relacionadas ao fenômeno chupa-chupa, que gerou a famosa Operação Prato, desenvolvida secretamente pela Força Aérea Brasileira (FAB), em 1977. O que o senhor pensa sobre aqueles acontecimentos e sobre a casuística brasileira, de um modo geral?
Estes casos permanecem bem abertos em minha mente — eles apresentam uma combinação de fenômenos físicos com efeitos psicológicos e de ferimentos reais. Eu tive o privilégio de encontrar várias testemunhas dos fatos registrados durante a onda ufológica do Pará, em 1977, e uma médica que tratou delas, a doutora Wellaide Cecim. Minha esposa [Janine Vallée] e eu também passamos várias horas com militares brasileiros, que viram os fenômenos que ocorriam naquela localidade, incluindo o falecido coronel Uyrangê Hollanda. Não há dúvidas sobre a seriedade e o escopo dos dados que esses militares coletaram durante a Operação Prato. Por outro lado, entre os melhores estudos de casos brasileiros que conheço está o desenvolvido por Bob Pratt, que publicou um livro sobre suas experiências, Perigo Alienígena no Brasil [Código LIV-014 da coleção Biblioteca UFO. Confira na seção Shopping UFO desta edição e no Portal UFO: ufo.com.br]. Eu escrevi o prefácio desse livro e espero voltar ao Brasil no futuro para adquirir mais experiência sobre essa situação — em contraste com os Estados Unidos, o Governo Brasileiro sempre manteve a mente aberta sobre o fenômeno, e isso é muito saudável.
Fazendo um exercício de imaginação, suponhamos que no futuro seja provado que não há nenhum tipo de vida extraterrestre. O que a humanidade terá ganhado ou perdido nessas últimas seis décadas de pesquisa ufológica?
Nós não poderemos encontrar provas de que não há vida extraterrestre, simplesmente porque o universo é grande demais. Os longos anos que dediquei a esta pesquisa se provarão úteis de qualquer forma, porque nos forçam a pensar sobre a natureza da vida em si. Hoje a biologia nos ensina que a vida pode se adaptar a condições extraordinárias, que nós nunca julgamos ser possíveis. A astronomia nos ensina que moléculas complexas, incluindo alguns dos blocos construtores do DNA, podem existir no espaço sideral.
Em um de seus livros, o senhor escreveu que o cético, ao dificultar um estudo mais organizado por parte do mundo acadêmico sobre o Fenômeno UFO, mantém grande parte das pessoas na ignorância sobre o assunto, facilitando o surgimento de cultos e seitas. Como o senhor vê essa situação, passadas algumas décadas de sua afirmação?
Os céticos constituem uma categoria psicológica fascinante, em minha opinião. Nós podemos discordar com certeza da interpretação que fazem dos avistamentos ufológicos, mas é difícil entender como alguém que se diz um cientista possa ignorar os dados e se recusar a estudá-los. Um dia, algum jovem sociólogo investigará as atitudes acadêmicas de rejeição ao Fenômeno UFO e descobrirá algo extremamente fundamental sobre a metodologia científica e seus preconceitos. É saudável aproximar-se do assunto ceticamente, mas a pessoa tem que estar preparada para fazer uma pesquisa mais profunda.
Uma situação perturbadora
Hoje sabemos que muitas vezes os céticos ferrenhos são os que mais contribuem para a desinformação e o acobertamento da realidade do fenômeno ufológico, mesmo sem saberem que estão fazendo. Em sua opinião, o que podemos realmente esperar dessa questão?
Existe uma situação bastante perturbadora nisso que você fala. Na medida em que o fenômeno é sempre apresentado como uma manifestação extraterrestre, nós podemos nunca chegar à verdade e nos trancamos em um dilema. Para muitos ufólogos e para a mídia em geral, um UFO é sinônimo de inteligência extraterrestre. Mas esta é apenas uma hipótese entre muitas que existem para explicar a origem e natureza dos objetos voadores não identificados. Uma vez que não existe prova de que o fenômeno seja de fato extraterrestre, na acepção legítima do termo, muitos cientistas se afastaram dele. Eles não querem ser parte de um acobertamento, mas o resultado de sua rejeição é o mesmo, porque contribuem para uma atitude acadêmica que refuta os dados. O corolário para eles é que, sendo os UFOs sinônimo de inteligência extraterrestre, e esta não tendo sido comprovada ainda, a conclusão é de que simplesmente não existem UFOs. Ora, isso é um absurdo!
Qual é sua opinião sobre o uso da hipnose regressiva na investigação de casos de supostas abduções alienígenas?
Estou preocupado com o uso desse método em tais trabalhos, devido ao perigo óbvio de reforçar ou plantar falsas memórias nos pacientes que tenham sido abduzidos ou que creem que foram. Eu acho isso anticientífico e antiético — e o pior é que é algo que contribui para destruir os dados sólidos que estamos tentando recuperar e conservar sobre o Fenômeno UFO. Eu estudei 70 casos de abdução, tendo passado dois dias com Betty e Barney Hill e com o doutor Benjamin Simon, que conduziu as hipnoses em ambos. O doutor Simon foi taxativo em assegurar que a experiência do caso Hill era real para Betty e Barney. Porém, nenhuma conclusão sobre a realidade física do encontro poderia ser esboçada a partir disso. Sua preocupação era a terapia que aplicava ao casal, não a pesquisa ufológica. Nos últimos 20 anos, muitos ufólogos hipnotizaram milhares de abduzidos, e nós ainda não sabemos nada sobre a natureza do fenômeno. Minha impressão é que esta metodologia é errada.
O que o senhor tem a nos dizer sobre os agroglifos, tão populares hoje?
Pelo que tenho visto, os efeitos que causam tais desenhos nas plantações poderiam ser produzidos por algum tipo de raio de energia direcionado a partir de uma nave pairando a certa altitude, um veículo que fosse pouco observável — não um satélite orbital, mas sim uma aeronave remota não pilotada ou algum dirigível sólido e pequeno. Não sei, mas parece plausível assumir a hipótese de que a inteligência militar esteja testando uma nova arma energética, e a está testando fazendo os desenhos. Entretanto, não sou um expert nesses sistemas, por isso mantenho a mente aberta a possibilidades.
Em seu livro Confrontos [1979], há o interessantíssimo relato do Doutor X, ferido de guerra que, após um suposto contato com um UFO, teria apresentado uma espantosa cura espontânea. Em sua opinião, poderia haver alguma outra explicação para tal fenômeno que não a origem extraterrestre? Houve de fato uma relação entre a melhora clínica do Doutor X e o avistamento ufológico próximo à sua casa?
Esta é uma pergunta interessante, mas os dados que eu tenho sobre o caso precisam permanecer confidenciais por mais algum tempo. Eu continuei a estudar o caso por anos, encontrando-me várias vezes com o Doutor X e sua família — minha esposa e eu até passamos nossas férias com eles. A testemunha tem sido muito generosa em ceder seu tempo a essa investigação e quero respeitar seu desejo de manter certos detalhes do fato em âmbito particular. O incidente também foi pesquisado por outros estudiosos, dentre os quais Aimé Michel. Em 1958, o Doutor X servia no exército da França, quando foi ferido pela explosão de uma mina — isso viria a lhe causar deficiência no lado direito do corpo e fortes dores. Dez anos mais tarde, ele estava cortando lenha em sua casa quando fez um movimento em falso e se cortou na perna — a hemorragia foi intensa e logo o local inflamou. Ele foi tratado imediatamente, mas as dores na área do ferimento perduraram algum tempo.
O que aconteceu então? Parece que foi neste momento que ele teve um contato com um objeto voador não identificado?
Sim. Na noite de 02 de novembro de 1968, ainda sofrendo sequelas do recente acidente, o Doutor X foi despertado pelo choro de seu filho e foi ao quarto para ver o que se passava. Qual não foi sua surpresa ao ver a criança de pé no berço e apontando para um clarão intenso que se movia no céu. Ele foi até a sacada e deparou com dois grandes objetos discoides de cor prateada na parte superior, mas com o fundo lembrando as cores do pôr do Sol. O fenômeno se moveu para uma posição quase acima de sua cabeça e um facho de luz atingiu-o em cheio. O Doutor X ouviu uma espécie de estalo e o objeto subitamente desapareceu — e em minutos, notou que não sentia dor alguma, nem do recente corte, nem do antigo ferimento de guerra.
Hipótese extraterrestre
Interessante. O senhor tem sido criticado pela Comunidade Ufológica Mundial por se abster de uma explicação cartesiana para os UFOs, como, por exemplo, sua procedência extraterrestre. Qual é a sua opinião atualmente?
O método cartesiano começa com os dados e passa por um refreamento para se chegar a conclusões. Isso é exatamente o oposto do que a maioria da Comunidade Ufológica Mundial está fazendo para conhecer o Fenômeno UFO. Descartes disse: “Eu não direi que nada é verdade a menos que eu tenha evidências de que realmente é”. Quando eu me aproximei desse campo de estudos, nos anos 60, pensei que a hipótese extraterrestre era a melhor de todas as que havia, e disse isso em meus primeiros dois livros. Mas fui forçado a mudar de opinião porque os dados que coletei contradizem essa hipótese. Se nós queremos persistir na concepção extraterrestre, devemos estar conscientes dessas contradições — é assim que o método cartesiano funciona.
O cinema, de Contatos Imediatos a ET, e a televisão, de Arquivo X a Taken, exercem forte influência como veículos formadores de opinião. E em se tratando de UFOs, as sequelas sociológicas costumam ser profundas. Na sua visão, essa é uma influência negativa ou positiva?
A influência da expressão artística raramente é boa ou má, ela simplesmente reflete a imaginação da sociedade humana. Steven Spielberg e outros diretores expandiram nossa visão do mundo através de sua arte, mas eu não creio que eles estão tentando influenciar as crenças sociais. Um antigo filme como Planeta Proibido [1964] permanece como um fantástico precursor neste campo.
Conforme nos tornamos menos ingênuos sobre o posicionamento dos vários governos neste campo, torna-se claro que as agências de inteligência têm um interesse real no monitoramento dos relatos ufológicos (…) Até mesmo as autoridades soviéticas usam o tema.
No seu livro Messengers of Deception [Mensageiros do Engano, 1980], o senhor aborda a figura do major Donald E. Keyhoe, que teria sido vigiado de perto pela CIA até sua morte. A obra de Keyhoe, The Flying Saucer Conspiracy [A Conspiração dos Discos Voadores, 1955], causou espanto inesperado nas pessoas que acreditam em UFOs, o que deve ter ajudado muito as agências nos quesitos desinformação e guerra psicológica. Dentro deste contexto, o senhor acredita que o doutor J. Allen Hynek, seu mentor, também foi um “útil descartável” para a Força Aérea Norte-Americana (USAF), mesmo sem saber? O mesmo teria acontecido com o senhor, em determinada época?
Conforme nos tornamos menos ingênuos sobre o posicionamento dos vários governos neste campo, torna-se claro que as agências de inteligência têm um interesse real no monitoramento dos relatos ufológicos. Pesquisadores como o norte-americano Richard Dolan, que escreveu o livro UFO and the National Security State [UFOs e o Estado de Segurança Nacional, 2002], mostrou a extensão deste interesse e também seu abuso — eu escrevi o prefácio deste livro. Está claro que vários governos — e não apenas o dos Estados Unidos — têm usado o fenômeno e a crença popular nos UFOs para encobrir outras atividades. Por exemplo, as autoridades soviéticas realmente encorajavam as pessoas a acreditarem que havia UFOs em certa região da Rússia, porque isso proporcionava uma explicação conveniente sobre alguns testes espaciais ilegais que lá eram realizados. O doutor Hynek e eu sempre estivemos cientes do potencial destas manipulações — é por esta razão que também sempre nos recusamos a chegar a conclusões quando há a ausência de provas científicas. Em meu livro Revelations [Revelações, 1991], relatei o quanto Hynek e eu estivemos perto de fazer certas declarações, com a implicação de que o Pentágono revelaria a prova da realidade ufológica.
E o que aconteceu quando chegaram a esta afirmação?
Simplesmente, nós nunca dissemos no que aquela prova consistiria — e nos recusamos a cooperar com o que nós pensávamos ser desinformação. Muitos ufólogos criticaram esta atitude e a interpretaram como sendo muito tímida. Eu creio que os dados históricos mostrarão que nós estávamos certos em sermos cuidadosos.
Esforço multidisciplinar
Após tantos anos de pesquisa, de acesso a dados laboratoriais, à documentação e troca de informações com cientistas e pesquisadores renomados, o senhor chegou a alguma conclusão sobre a realidade física dos UFOs? Justifica-se tanto preconceito por parte da comunidade científica tradicional?
Existe um círculo vicioso aqui. Nunca se fez ciência em Ufologia. Poucos cientistas — como Hynek e eu, os doutores Pierre Guerin e Claude Poher, na França, e os doutores James McDonald, Peter Sturrock, Richard Haines e James McCampbell, nos Estados Unidos — usam seus conhecimentos de homens de ciência para abordar o assunto. Mas isso não tem relação com o que realmente poderia ser considerado um esforço científico multidisciplinar e competitivo para se compreender o Fenômeno UFO. Todos esses cientistas têm dirigido grandes esforços em pesquisas nacionais, dentro de campos acadêmicos convencionais, mas nós nunca tivemos a oportunidade de fazer o mesmo com o fenômeno. E enquanto isso não for feito, não teremos condições de chegar a qualquer conclusão séria, e assim o preconceito continuará — a menos que a evidência se torne tão grande que a opinião pública forçará uma mudança nesse sistema. Uma das preocupações que deveríamos ter é que a primeira geração de cientistas que preconizou essa pesquisa está morta ou envelhecendo — mesmo que seus arquivos sejam preservados, o que raramente acontece, suas ideias dentro da história e desenvolvimento da Ufologia estarão perdidas. Também existem muitos dados que coletamos, acumulamos e nunca foram publicados.
Qual é sua opinião quanto ao estudo da Ufologia também sob os aspectos do ver e sentir os UFOs e os seres extraterrestres no que seriam a quarta, quinta e quem sabe até outras dimensões?
Nós não sabemos quantas dimensões existem. Tudo que sabemos é que a noção simples de um universo quadridimensional de espaço-tempo não é suficiente para explicar efeitos físicos como os conhecemos hoje. Quando sugerimos que os UFOs não devem ser simplesmente de outro planeta, mas que usariam um universo paralelo ou outras dimensões, a maioria dos ufólogos rejeitou tal tese como se fosse uma ridícula obra de ficção científica. Naquela época, estas ideias eram marginais dentro da física, mas hoje comprová-las é parte dos objetivos acadêmicos. O que acontece com a consciência humana quando ela funciona além das dimensões físicas conhecidas é uma questão muito interessante. Parapsicólogos estão tentando desenvolver modelos de estudo desse funcionamento, especialmente com experimentos de visão remota nos Estados Unidos e na Rússia, e com estudos de experiências de quase morte. Minha impressão é de que precisaremos desenvolver novas ferramentas de pesquisa antes de irmos além dos resultados estatísticos apresentados até agora. Mas sou muito impaciente com estatísticas…