Em setembro de 1996, o escritor espanhol J. J. Benítez esteve em São Paulo para lançar o quinto livro da série Operação Cavalo de Troia e deu uma entrevista exclusiva ao editor A. J. Gevaerd, da Revista UFO, na qual revelou o que verdadeiramente pensava, duas décadas depois, das alegações dos irmãos Sixto e Carlos Roberto Paz Wells, especialmente sobre seu aludido contato com seres de Morlen, como Oxalc. Aliás, o próprio nome do suposto extraterrestre é uma invenção dos irmãos peruanos, que a criaram quando Carlos Roberto, o Charlie, lia uma bula de remédio e nela encontrou o nome de uma substância que o compunha, oxalato de cálcio, do qual extraiu seu fantasioso Oxalc.
Como se constatou na época da entrevista, e se confirma até hoje, apesar de estupendo escritor, Benítez é uma pessoa de pouca fala — restringe-se a responder o que lhe é perguntado, sendo muito cuidadoso em suas colocações. Mas entende do assunto como ninguém e não se exime de mostrar exatamente qual é sua opinião sobre cada questão que lhe é apresentada. Vendo a repercussão que seu inocente endosso ao suposto contato que Sixto e Charlie afirmavam ter com civilizações extraterrestres imaginadas por eles, hoje se arrepende de ter apoiado os irmãos. Vamos a um trecho de sua entrevista, publicada originalmente na Revista UFO, edição 47, de novembro de 1996.
Você acha que estamos sendo visitados pelas mesmas civilizações que têm vindo à Terra durante todos esses anos ou crê que temos novos visitantes, novas civilizações aqui chegando, baseado no comportamento dos extraterrestres hoje, nas abduções e em tudo o mais?
Quando se examinam os testemunhos das pessoas que dizem ter visto os humanoides hoje, os tripulantes dos discos voadores, eles são exatamente iguais no aspecto físico aos que tinham sido reportados em anos anteriores. Os objetos e as naves também são muito parecidos ou iguais aos que já conhecemos. Então, acho que sim, podem ser os mesmos ou muito parecidos aos que já estão nos visitando desde muito tempo — e creio que com a mesma intencionalidade. A confiança do gênero humano de que não estamos sós é muito importante. Não creio que haja nenhum caso ufológico que se possa atribuir à casualidade. Penso que há no Fenômeno UFO um planejamento minucioso por parte deles, dos ETs. Nenhuma ocorrência é casual.
O que pensa a respeito das abduções que ocorrem hoje em todo o mundo?
Para mim, esse é um dos capítulos da Ufologia mais difíceis de se compreender. A princípio porque o Fenômeno UFO, em geral, é bastante respeitoso com o ser humano. Mas nas abduções, sem dúvida, não há respeito para com o ser humano. Pegam as testemunhas, deixam-nas sem saída e exercem controle sobre elas, que vai contra a sua liberdade. Por isso afirmo que é o capítulo que menos compreendo. Seguramente, é parte de um processo do qual todos os investigadores sérios têm participação. Não há ufólogo que, em sua infância ou juventude, em algum momento de sua vida, não tenha tido algum tipo de experiência de abdução ou contato com extraterrestres.
Você pessoalmente já teve alguma experiência de contato com discos voadores ou com seres extraterrestres? Uma abdução ou coisa assim?
Ocorreu-me um fato na infância, quando tinha uns seis anos. Mas não me é possível reconstruir os fatos que vivi naquela época. Todo o tempo anterior de que me recordo é muito nebuloso. Sentia que algo havia ocorrido, que havia sofrido algo. Porém, eu o tinha em branco. Depois de uma série de regressões hipnóticas, em que pude reconstruir meu passado, descobri um encontro com um UFO ocorrido em um pequeno povoado nas montanhas do norte da Espanha. Foi muito lindo.
É cogitado que você teve uma experiência no Peru, no Deserto de Chilca, a uns 60 km ao sul de Lima. Estive lá com muitas pessoas, investigando casos. Algumas até dizem que tiveram contatos com discos voadores. O que existe lá? O que aconteceu? O que foi essa experiência?
No ano de 1974, trabalhava em um jornal espanhol e me ocupava com o tema da investigação ufológica, quando apareceu uma notícia na imprensa dizendo que o Instituto Peruano de Relaciones Interplanetárias (IPRI) estava em contato com UFOs. E meu jornal me enviou ao Peru para investigar. Eu já era ufólogo, já investigava o assunto desde 1972. Então fui ao Peru e conversei com várias pessoas do grupo, mas elas me contaram umas histórias difíceis de serem comprovadas. Uma das coisas que relatavam é que teriam tido contato visual com UFOs voluntariamente. Assim, pedi-lhes um encontro com os tripulantes das naves — perguntei-lhes se poderia acompanhá-los como jornalista. Disseram-me que sim e, em 07 de setembro daquele ano, fui com várias pessoas para Chilca.
Você pensava que as histórias fossem verdade? Acreditava que conseguissem mesmo ter contatos com UFOs quando bem entendessem?
Eu não acreditava em nada, absolutamente nada. Mas fui lá mesmo assim, verificar. Fiquei por mais de duas horas no deserto, mas sentindo-me completamente ridículo porque não conseguia acreditar que aquilo pudesse ser verdade. Entrevistei algumas pessoas, falei com outras e, às 21h30, com céu completamente escuro, algo pareceu acontecer. O grupo havia se dividido em dois porque fazia muito frio. Eu estava com quatro pessoas em um determinado local, a uns 100 m do outro grupo, quando escutei vozes e gritos vindos de lá. Neste instante, observamos no céu, por debaixo de umas nuvens, uma luz muito forte e à baixa altura, entre 200 e 300 m do chão. Vi um objeto luminoso branco e em silêncio por debaixo das nuvens, quase quieto. Eu queria sondá-lo mais detidamente porque não o esperava. Pensei que estavam me enganando, mas ali não havia estrada, nem povoados, nem nada. Aí apareceu uma luz menor que ficou girando ao redor da maior em um movimento aleatório. Observamos este fenômeno por uns sete minutos mais ou menos, quando ambas as luzes entraram nas nuvens e desapareceram.
Seus livros da série Operação Cavalo de Troia são todos depois dessa experiência em Chilca e de outras mais. Muitas pessoas no Brasil e de outras partes do mundo acham que você teve inspiração nesses fatos para escrevê-los. O que diz a respeito?
Inspiração eu tive, mas não sei de quem. Veja, a ocorrência em Chilca deu-se em 7 de setembro de 1974 e só escrevi o primeiro livro da série Cavalo de Troia em 1984. Ou seja, dez anos depois. De qualquer forma, a inspiração continua.
Você é uma pessoa muito informada sobre os discos voadores, conhece gente de todo o mundo e está em contato com muitos ufólogos. O que pensa dos tais contatados, das pessoas que garantem ser escolhidas por extraterrestres, por alguma razão, embora nada provem a respeito? Muitos chegam a afirmar que têm contato com extraterrestres que vêm de vários planetas, mas nunca têm evidência alguma para provar o que dizem.
Bem, conheço muitos ufólogos pelo mundo afora, conheço muitos grupos de contatados e investigadores, mas não faço parte de nenhum. Em princípio, não acredito nos tais contatados porque não têm a menor evidência para apoiar seus relatos. Há alguns contatados, muito poucos, que têm algumas evidências, mas não são muitas — nesses casos, tenho uma dúvida racional a respeito. A maioria dos que falam ser contatados, creio, tem problemas psicológicos. Talvez avistem algo, em algum momento, em alguma ocasião. Entendo que não conhecemos os verdadeiros contatados.
Você pode dar o nome de alguma pessoa que considera realmente contatada, entre aqueles que assim se autointitulam, em qualquer país do mundo?
Não, não tenho nenhum nome para dar. Eu acredito que os verdadeiros contatados, os que são mesmo autênticos contatados, são os investigadores do Fenômeno UFO. As pessoas que são verdadeiramente contatadas, na maioria das vezes, sequer são conscientes dessa situação. Além disso, nunca falam sobre suas experiências, não fazem propaganda.