Para um ufólogo, poucos passeios no mundo podem se equiparar à uma aventura nos arredores da Área 51. Uma visita à Nazca, no Peru, às pirâmides do Egito, ou ainda à Ilha da Páscoa, no litoral do Chile, seriam roteiros que rivalizariam quase à altura uma expedição à Área 51. Digo “quase” porque, certamente, há diferenças vitais entre estes destinos. Nazca, as pirâmides ou a Ilha da Páscoa, para permanecer com os mesmos exemplos, são locais onde se pode ir com uma certa tranqüilidade, fazem parte de roteiros turísticos regulares e podem ser visitados sem qualquer risco ao aventureiro, seja ele um ufólogo ou não. Já uma visita à Área 51 não está em qualquer roteiro de agências especializadas, e apesar de ser algo relativamente fácil, envolve um risco que não deve ser desprezado: o de ser preso, multado, ter seu veículo apreendido e, quando estrangeiro, deportado.
Pois foi a essa aventura que me entreguei três vezes em minha vida de ufólogo e editor de revistas sobre Ufologia. Movido por uma imensa paixão pelo assunto, que me acompanha desde a infância, por um grande fascínio por tudo aquilo que a Área 51 representa – assim como as demais instalações do Complexo Militar de Testes do Nevada – e com um certo pendor para aventuras, estive em três ocasiões nos arredores desta que é a mais bem guardada instalação militar do planeta Terra. Falar que fiz uma “visita” à Área 51 é um exagero, uma forma de se expressar. Ninguém visita o local, nem mesmo graduadas autoridades de elevados escalões do Governo norte-americano podem entrar e sair da base do Lago Groom quando bem entendem. É necessária uma credencial de segurança de altíssimo nível para tanto, coisa que pouca gente fora das esferas militares mais internas possui.
Reconhecimento do terreno — Minha última expedição aos arredores da Área 51 deu-se em março deste ano, quando estive durante uma semana participando como conferencista do 15º International UFO Conference and Film Festival, na cidade de Laughlin, cerca de 370 km ao sul da base militar do Lago Groom, uma viagem de umas seis horas com direito a várias paradas para fotos e reconhecimento do terreno. As duas vezes anteriores foram em 1993, com um grupo de ufólogos norte-americanos e canadenses, e em 1997. De notório nessas aventuras pelo Deserto do Nevada há o fato de que, na primeira vez, durante uma viagem noturna de Las Vegas à cidadezinha de Rachel, vizinha à Área 51, o carro em que estávamos foi seguido durante uns bons 40 minutos por uma gigantesca e esfuziante esfera luminosa. O fato se deu exatamente na Rodovia Estadual 375, do Nevada, que depois viria a se chamar de Rodovia Extraterrestre por sua proximidade da Área 51. Precisamente entre os lugarejos de Coyote Summit e Hancock Point.
Saímos de Vegas às 21h00 com destino a Rachel, lá chegando por volta das 23h30. São cerca de 230 km. Jantamos no bar e restaurante típico Little A’Le’Inn que, conforme já descrito na edição passada, é um misto de museu ufológico com centro de exposições e local onde se reúnem ufólogos e ufófilos de todo o mundo, atraídos pelo fascínio que uma viagem às cercanias da Área 51 representa.
Os antigos proprietários do bar, Pat e Joe Travis, souberam já no começo dos anos 80 capitalizar o interesse na base do Lago Groom para seu estabelecimento, que hoje é ponto obrigatório de visitas a quem vai aos Estados Unidos participar de eventos ufológicos. Hoje em mãos diferentes, o Little A’Le’Inn conserva as tradições e mantém em suas paredes fotos de UFOs e de ufólogos de todo o mundo – há até imagens de UFOs feitas no Brasil, cedidas para o local pela Revista UFO, que permanecem expostas.
Sono quase insuportável — Bem, naquela noite de 1993, após o jantar no Little A’Le’Inn, voltamos para Las Vegas, sempre pelo meio do deserto e tendo à nossa direita, para quem segue no sentido sul da Rodovia Extraterrestre, as montanhas que separam a estrada da Área 51, algo em torno de 20 km a oeste. Em determinado momento, logo após iniciarmos o retorno, eu, que estava no assento dianteiro do passageiro, passei a observar a enorme luz, que se deslocava na mesma velocidade do nosso carro, mantendo distância uniforme – que estimei posteriormente, ao voltar ao local de dia, em cerca de 10 km, mais ou menos a metade da distância da estrada às montanhas. Fomos todos tomados de um sono quase insuportável, inclusive o motorista, que não conseguia manter-se na estrada mesmo a pouco mais de 40 km/h. Todos ficamos absolutamente entorpecidos por cerca de uma hora, uma fração de tempo imensa para percorrermos os pouco mais de 50 km da parte da rodovia mais próxima da Área 51. A partir de um determinado momento, o objeto sumiu, nosso sono se foi e aceleramos em direção a Vegas, lá chegamos nas primeiras horas da madrugada – sem missing time, pelo que sabemos…
Esta é uma história que poucas vezes em minha vida de ufólogo relatei, seja entre amigos, seja em encontros ufológicos. E nunca o tinha feito em qualquer das edições de UFO ou UFO Especial. Ela é absolutamente verídica e apenas me abstenho de relatar o nome de meus acompanhantes norte-americanos e canadenses por razões de privacidade. Não sei o que era aquele objeto, se uma nave alienígena ou apenas um experimento militar. O certo é que não poderia ser um avião ou helicóptero convencional. Conversando posteriormente sobre o fato, assumimos o consenso de que fomos seguidos por um UFO, aplicando-se aqui o termo ao pé da letra: um objeto voador não identificado. Já minha segunda aventura à Área 51 não teve surpresas, exceto a companhia inesperada de ufólogos europeus, desses que se encontram em hot spots ufológicos sem muita explicação. E minha terceira viagem, em março passado, foi bastante tranqüila, exceto por dois incidentes, que passarei a relatar.
Charque extraterrestre apimentado — Para esta expedição, saímos às 05h00 de Laughlin, que fica na divisa tríplice dos estados da Califórnia, Nevada e Arizona. Com pouco mais de duas horas se chega a Las Vegas, e com mais uma hora se está no começo da Rodovia Extraterrestre, onde uma grande placa com este nome dá as boas-vindas aos turistas. Tudo naquelas paragens tem algo de ufológico, desde pequenos hotéis e os poucos restaurantes de beira de estrada até uma fábrica de charque, que se chama Alien Jerky, sendo jerky a expressão para uma espécie de carne seca apimentada do deserto. O visitante encontrará, pelos 240 km que separam Vegas e Rachel, uma grande variedade de placas alusivas a UFOs ou às atividades da Área 51. O trajeto é belíssimo, semelhante ao cerrado brasileiro em algumas áreas, mas um vigoroso deserto no geral, que durante o dia, no verão, pode chegar facilmente a 46º C, mesmo que à noite, ainda no verão, arrefeça para algo em torno de 10º C. O trajeto é ladeado por uma paisagem típi
ca daquele tipo de deserto, particular do estado do Nevada e da vizinha Califórnia, onde há vários, principalmente o do Mojave, onde está a Base Aérea de Andrews e algumas instalações militares mais secretas.
A cerca de 60 km de Rachel, em um trecho da rodovia em que não se vê uma curva sequer, está o vale que tem, à esquerda de quem segue para o norte, as Montanhas Bald e o Pico Tikaboo. É de lá que se avista parcialmente a Área 51, quando se consegue chegar ao seu topo, uma dificuldade imposta não somente pela aridez do local e a dura ascensão, mas também devido ao forte patrulhamento da área, mesmo se estando fora da base do Lago Groom. Qualquer aproximação é detectada de várias formas, e quando o intruso estiver muito próximo da Área 51, é repelido até com violência. Fizemos o trajeto até Rachel pelo asfalto, tomamos um café no Little A’Le’Inn e voltamos cerca das 13h00 pela mesma estrada, quando então pretendíamos nos aproximar ao máximo da área. No bar se compram mapas e guias para visitas à toda a região. Munido de um desses, não que precisávamos, eu e meus acompanhantes – o representante da Revista UFO na Turquia Haktan Akdogan e o médico, autor e ufólogo especialista em abduções da Califórnia Roger Leir – tomamos a Rodovia Extraterrestre no sentido sul, para Las Vegas. A apenas 32 km de Rachel está o primeiro ponto de parada obrigatório, a chamada Caixa Postal Preta, um local onde muitos grupos se reuniam no passado para fazerem vigília, por sua visão privilegiada das Montanhas Bald. A Caixa Postal já foi pintada de branca e é certamente a mais fotografada do mundo.
“Infratores serão multados e presos” — Apenas alguns quilômetros à frente está um cruzamento com uma estrada poeirenta que corta o deserto no sentido leste-oeste. Trata-se da Estrada do Lago Groom, que conduz à principal entrada lateral da Área 51. Tomamos esta estrada e, 22 km depois, estávamos diante das famosas placas que sinalizam: “Pare: Esta é uma área restrita. Proibida a entrada. Os infratores serão multados e presos”. Elas surgem do nada logo após uma curva, já entre as depressões da estrada em meio às Montanhas Bald. Dali não se pode passar nem sequer um centímetro. Como informado nos guias de visitação ao local encontrados no Little A’Le’Inn e em muitos sites da internet, é imediata a visão, no topo da colina do lado direito, de uma camionete com uma patrulha vigiando o local. Há uma placa também informando que fotografias e filmagens não são permitidas na região, mas os guardas não se importam muito com isso, desde que os visitantes não sejam atrevidos, exagerados e, claro, não entrem no terreno que pertence à Força Aérea Norte-Americana (USAF), onde está instalada a base do Lago Groom. Daquele ponto máximo onde se pode chegar, apenas coisa de 18 km separam os visitantes do centro de operações, dos hangares gigantescos, das pistas de pouso e decolagem e dos laboratórios tecnológicos da base militar mais secreta do mundo.
Chegamos até aquele local, saímos de nosso veículo e começamos a fotografar o ambiente ao redor, mesmo sendo observados, com binóculos, pelos guardas – que desta vez usavam uma picape Chevy verde. Quando eu disse que teríamos surpresas nesta aventura, apesar do encontro com os guardas não ser exatamente uma, de tanto que já foi prevista, saber que estávamos sendo vigiados por eles, e passíveis de sermos presos e multados apenas por estarmos ali, já fez o coração disparar. No meu caso e no de Haktan, estrangeiros, seríamos deportados sem questionamento. Mas surpresa mesmo foi ver que os guardas tinham algum tipo de instrumento que, ao apontarem em nossa posição, fez com que a bateria de minha câmera Nikon novíssima, modelo D50, e a da filmadora Sony, modelo TRV-480, de Haktan, simplesmente fossem arreadas em questão de segundos – e ambas estavam totalmente carregadas antes de chegarmos àquele ponto. “Se eles têm este tipo de equipamento, capaz de descarregar baterias, certamente para manter o local mais inacessível às câmeras, o que mais poderiam ter os guardas para usar contra intrusos?”, questionou-se Roger Leir.
Não ficamos ali para saber. Mais alguns poucos minutos de observação do local, em uma intensa emoção de ali estarmos misturada com receio de reações hostis dos patrulheiros, e fomo-nos embora pelo mesmo caminho. A volta pela Estrada do Lago Groom pareceu muito mais rápida que a ida, e mal tivemos tempo para apreciar a paisagem, repleta de cactos, de árvores joshua e, claro, de muitos pequenos postes colocados pelo caminho, com câmeras, dispositivos eletrônicos de detecção de presença, sensores infravermelhos e etc, colocadas ao longo da paisagem para garantir aos administradores da Área 51 que os intrusos estão sendo observados, e a instalação militar, preservada de sua curiosidade.