O universalismo que impõe o estudo da Ufologia coloca-nos, necessariamente, acima de dogmas religiosos. Contudo, convida-nos ao estudo dos mesmos para a ratificação do que sabemos: que este universo é povoado por muitas raças, em muitos planetas. Este artigo não versa sobre religião, mas sim sobre um campo em expansão no fenômeno do estudo ufológico, o espiritualista. Isso se deve à presença ostensiva de extraterrestres em centros espíritas do Brasil e de outros países, como Portugal, por exemplo. Assim, cresce o interesse pela Ufologia e, em progressão geométrica, a necessidade de conhecimento e troca de informações sobre nossos visitantes, que aparentemente já não buscam mais permanecerem ocultos da grande massa humana. Sua manifestação ostensiva em centros espíritas, aliada à mudança na rotina de bloqueios mentais dos abduzidos, naturalmente ampliam a formação do inconsciente coletivo, propiciando o ambiente adequado para um contato em massa que não provoque catástrofes civis.
Tudo parece estar dentro de uma planificação para este momento tão aguardado por todos nós que estudamos e convivemos com a realidade ufológica. Como sabiamente disse Albert Einstein, “a ciência sem religião é manca, e a religião sem ciência é cega”. Esta é a nossa proposta de estudo aqui, pois que ampliar nossos horizontes se faz mister para podermos compreender os seres extraplanetários que nos visitam há mais tempo do que a atual raça humana povoa este planeta.
Abduções bíblicas
Comecemos analisando fatos relatados na Bíblia, na qual temos algumas passagens que sugerem abduções alienígenas. Em Gênesis (capítulo 24), por exemplo, é mencionado o homem justo — Enoque, filho de Jared e que gerou Matusalém — que viveu antes do dilúvio e fora trasladado misteriosamente por Deus. Cópias dos livros de Enoque, que são textos apócrifos, foram encontrados em Qumram, um sítio arqueológico na Cisjordânia, próximo ao Mar Morto, onde também foram encontrados os famosos Manuscritos do Mar Morto. O primeiro livro de Enoque, mais conhecido por sua versão etíope, descreve que este judeu, em uma noite em que se sentia estranhamente triste, estava tentando conciliar o sono quando viu dois homens enormes com cabeças que brilhavam como sóis, olhos que eram como chamas e que o avisaram que, por ordem de Deus, ele subiria aos céus com eles, devendo preparar a família para cuidar de tudo durante sua ausência. Feito conforme lhe fora ordenado, Enoque foi levado aos céus pelos tais anjos gigantes.
No segundo Livro dos Reis (capítulo 2), o profeta Elias sabe que será levado por Deus e previne seu seguidor, Eliseu, de que não poderá acompanhá-lo. E perante outros de seus seguidores e do próprio Eliseu, que assumiria seu lugar, é levado aos céus em corpo físico, em um carro de fogo puxado por cavalos de fogo, dentro de um redemoinho — procuraram por seu corpo, mas nunca o encontraram. Há ainda outros casos na Bíblia, tanto no Velho como no Novo Testamento, que podem ser indicativos de abduções, como a descrição do rei Davi, quando este se via vítima da perseguição do rei Saul. Podemos ler em Salmos (capítulo18, versículo 4) e no Segundo Livro de Samuel (capítulo 22) que Davi suplicou a Deus que o salvasse de Saul. Escreveu ele: “Enviou desde o alto e me tomou, tirou-me das muitas águas. Livrou-me do inimigo forte e dos que me aborreciam, pois eram mais poderosos do que eu. Surpreenderam-me no dia da minha calamidade. Mas o Senhor foi o meu amparo. Trouxe-me para um lugar espaçoso. Livrou-me porque tinha prazer em mim”.
A abdução do profeta Ezequiel também é rica em detalhes. Em seu livro (capítulo 1, versículos de 1 a 18) lê-se a descrição do que ele chamou de querubim. Mais adiante (capítulo 3, versículos de 12 a 15) ele diz que foi transportado de Tel-Abide para Jerusalém, quase 1.100 km distante, em segundos. “Levantou-me o Espírito e ouvi por detrás de mim uma voz de grande estrondo, que dizia: ‘Bendita seja a glória do Senhor, desde o seu lugar’. E ouvi o ruído das asas dos seres viventes, que tocavam umas nas outras, e o ruído das rodas defronte deles, e o sonido de um grande estrondo. Então o espírito me levantou, e me levou. Eu me fui amargurado, na indignação do meu Espírito. Porém, a mão do Senhor era forte sobre mim. E fui a Tel-Abide, aos do cativeiro que moravam junto ao Rio Quebar, e eu morava onde eles moravam. Fiquei ali sete dias, pasmado no meio deles [Ezequiel 3:12-15]”.
Levado aos céus
Mais adiante, o profeta diz que, “então, os querubins elevaram as suas asas e as rodas os acompanhavam. A glória do Deus de Israel estava em cima sobre eles. E a glória do Senhor se alçou desde o meio da cidade e se pôs sobre o monte que está ao oriente dela. Depois o Espírito me levantou e me levou à Caldeia, para os do cativeiro, em visão, pelo Espírito de Deus. E subiu de sobre mim a visão que eu tinha tido. Falei aos do cativeiro todas as coisas que o Senhor me havia mostrado [Ezequiel 11:22-25]”. Neste texto, a “glória de Deus” parece ser uma nave alienígena e Ezequiel a descreve no capítulo 1 de seu livro.
No Novo Testamento temos a possível descrição da abdução de Filipe, diácono da Igreja Primitiva. Em Atos (capítulo 8, versículos 39 e 40), estava Filipe em Gaza quando foi intuído a ir ter com o mordomo-mor da rainha etíope, que lia o livro de Isaías. O eunuco pede a Filipe que o batize na água da qual estavam próximos. “E disse Filipe: ‘É lícito, se crês de todo o coração’. E respondendo, ele disse: ‘Creio que Jesus Cristo é o Filho de Deus’. E mandou parar o carro e desceram ambos à água, tanto Filipe como o eunuco, que o batizou. E quando saíram da água, o Espírito do Senhor arrebatou a Filipe, e não o viu mais o eunuco. Jubiloso, continuou o seu caminho. E Filipe se achou em Azoto e, indo passando, anunciava o evangelho em todas as cidades, até que chegou a Cesareia [Atos 8:37-40]”. Azoto dista 29 km de Gaza.
Jesus de Nazaré foi um homem de imenso poder para estabelecer conceitos em poucas palavras. De forma concisa, deixou teses e temas para discussões sem fim. Além disso, jamais dizia algo à toa — todos os seus ensinamentos visavam o despertar das consciências ao longo dos séculos que viriam após sua passagem física, por este planeta. Seguidores dos ensinamentos de Jesus Cristo ou não, é inegável que já tenhamos ouvido duas de suas colocações, intimamente relacionadas à vida extraplanetária e a sua própria origem. Por exemplo: “Filhinhos, ainda por um pouco estou convosco. Vós me buscareis, mas, como tenho dito aos judeus, para onde eu vou não podeis vós ir. Eu vo-lo digo também agora. Um novo mandamento vos dou: ‘Que vos ameis
uns aos outros, como eu vos amei a vós, que também vós uns aos outros vos ameis’”.
E continua Jesus: “Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros. Disse-lhe Simão Pedro: ‘Senhor, para onde vais?’ Jesus lhe respondeu: ‘Para onde eu vou não podes agora seguir-me, mas depois me seguirás’ [João 13:33-66]”. Um pouco mais adiante, lemos: “Não se turbe o vosso coração. Credes em Deus e crede também em mim. Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se não fosse assim, eu vo-lo teria dito. Vou preparar-vos lugar [João 14:1-2]”.
Estas palavras foram ditas por Jesus aos seus discípulos na última ceia em que estiveram juntos, pouco depois de ele dizer a Judas Iscariótis que fosse cumprir o que tinha se comprometido a fazer. Os discípulos, acostumados ao mestre, sentiam nele uma tristeza não usual e uma certa tensão. Logo, começaram a arguí-lo sobre a razão de tal sentimento e ouviram que, por um pouco, ele estaria com eles, mas que logo iria para onde os discípulos ainda não poderiam segui-lo. Contudo, para lhes acalmar o medo, prometeu que prepararia esse lugar para recebê-los, quando eles estivessem prontos para o mesmo destino.
Preparando o caminho
Se estivesse Jesus abordando sua morte, por que confundiria os discípulos falando sobre muitas moradas? Afinal, o único evento certo da vida é a morte e, preparados ou não, todos os seres vivos morrem em seu devido tempo ou não, uma vez que o suicídio abrevia o tempo preestabelecido de vida. Por que lhes diria que prepararia o lugar para onde ele mesmo iria, como se para ali viver precisassem aqueles humanos de algo a mais? Caso se referisse a céu, purgatório e inferno — ou umbrais —, tema já conhecido e discutido com os seus seguidores, não seria lógico retomar o assunto às portas de seu suplício.
E Jesus lhes prometeu que prepararia o lugar para aonde iria a fim de receber seus discípulos — claramente, nenhum deles teria condições de estar no mesmo ambiente vibracional de Jesus, ser superior a todos neste planeta. “Tornou, pois, a entrar Pilatos na audiência, e chamou a Jesus e lhe disse: ‘Tu és o rei dos judeus?’ Respondeu-lhe Jesus: ‘Tu dizes isso de ti mesmo ou disseram-te outros de mim?’ Pilatos respondeu: ‘Porventura sou eu judeu? A tua nação e os principais dos sacerdotes entregaram-te a mim. O que fizeste?’ Respondeu Jesus: ‘O meu reino não é deste mundo. Se fosse, pelejariam os meus servos para que eu não fosse entregue aos judeus, mas agora o meu reino não é daqui’ [João 18:33-36]”.
O primeiro livro de Enoque descreve que ele, em uma noite sem sono, se surpreendeu ao ver dois homens enormes com cabeças que brilhavam como sóis, olhos que eram como chamas e que o avisaram que, por ordem de Deus, ele subiria
Jesus nunca se proclamou rei dos judeus. Pelo contrário, sempre se definiu como um servo. Mas para Pilatos deixou claro que seu reino não era Israel. Nascido judeu, de pais sem posses, embora tanto Matheus quanto Lucas refiram-se a ele como descendente do rei Davi, que reino na Terra poderia ele ter? E se o reino por ele mencionado a Pilatos fosse o céu, que anjos lutariam contra soldados físicos para defendê-lo? Se o ato de ferir um centurião feito por Pedro, no Horto das Oliveiras, quando de sua prisão, foi por Jesus rechaçado, como permitiria ele que anjos combatessem simples mortais? Assim, esses dois diferentes momentos apontam em uma mesma direção: a de que existe vida fora da Terra e, sim, ele não era daqui.
A própria ascensão de Jesus perante os 500 discípulos da Galileia pode ser definida como um evento ufológico, pois ele foi visto por centenas de pessoas no quadragésimo dia de sua ressurreição. Após comunicar-se telepaticamente com a multidão, na qual estavam seus 11 discípulos, e exortando todos a viver de modo fraterno e a levar as sementes da boa nova ao mundo, Jesus sobe aos céus envolto em luzes tão brilhantes que cegam, adentrando uma grande esfera iluminada que pairava entre as estrelas do firmamento.
De modo homeopático, Jesus introduzia o conceito de que não estamos sós no universo, mas, em um tempo onde somente os sábios tinham cultura suficiente para compreendê-lo, pregou para os simples e para os humildes, cujas mentes estavam famintas de esperança, pois suas vidas eram plenas de dificuldades sem fim. Hoje, fazendo uma comparação, as mentes mais sapientes da Terra rejeitam oficialmente a possibilidade de vida extraplanetária, enquanto que milhões de humanos sabem que não apenas existe vida em outros mundos, como também somos visitados, há éons, pelos seres desses planetas.
Outras escrituras
As escrituras sagradas da Índia também falam claramente sobre vida fora da Terra, quando, por exemplo, se referem aos vimanas, as naves dos deuses, e a seres extraterrestres. No épico Ramayana, datado de 8.000 anos, lê-se que os devas e os asuras lutavam para dominar os planetas intermediários, como a Terra. “Ao mesmo tempo, os asuras visitavam a Terra para explorar seus recursos. Os reis que dominavam a Terra eram muito maus e a estavam destruindo. Então, Bhumi, uma deidade, triste pelo que estava acontecendo, aproximou-se de um semideus, Brahma, que com outros semideuses orou e pediu socorro para o planeta azul”. Assim, Deus, denominado Vishnu na tradição védica, disse que os semideuses deveriam nascer todos na Terra e apoiar os bons homens para salvar o planeta e que deveriam matar os maus, ou seja, destruir o corpo físico e exilar os espíritos para outros planetas, já que os hindus creem na reencarnação. Essa batalha, chamada de Kurukshetra, foi devastadora. Possivelmente nuclear.
Há um forte vínculo entre religiões e seres extraterrestres, suas naves e suas ações junto aos homens, mas, em 1857, a publicação de O Livro dos Espíritos vem colocar essa ligação em forte evidência. A obra é considerada a codificadora do Espiritismo ou Kardecismo, tendo a autoria de Allan Kardec e um sistema de perguntas feitas à chamada Egrégora Espírito da Verdade por meio de médiuns de efeitos físicos — aqueles que produzem uma grande quantidade de energia mais densa, plástica e que pode ser manipulada pelos espíritos, denominada ectoplasma.
As respostas iam sendo dadas por meio de instrumentos que se moviam pela ação da energia dos médiuns, sem serem controlados pelos mesmos. Eram denominados de “mesas girantes” e “chapéus-de-bico”. Tudo o que aqueles médiuns faziam era tocar com a ponta dos dedos nos instrumentos de comunicação entre mortos e vivos, ou, no jargão espírita, desencarnados e encarnados, respectivamente. A soma do ectoplasma com a energia dos espíritos movia os objetos, dando respostas do tipo “sim” e “não” e letras por meio de códigos previamente combinados entre os assistentes e os espíritos comunicantes.
Na Paris que renascia para ser a Cidade Luz, essas reuniões eram a festa dos salões e a burguesia e a ainda existente nobreza passavam horas de entretenimento. Em uma determinada noite, no Século da Luz, quando muitos espíritos nasceram com ideias revolucionárias que mudariam a história da humanidade, um professor de ciência de 50 anos, que fora aluno na famosa Escola de Pestalozzi, Hippolyte Léon Denizard Rivail, foi à casa da amiga Plaine Maison, que queria apresentá-lo à febre que consumia a Europa desde 1850. Rivail, durante a prática, passou a observar atentamente a jovem Julie Baudin, médium que fornecia o ectoplasma para os espíritos moverem o chapéu-de-bico. Profundamente tocado pela experiência, anos mais tarde, escreveria que “entrevi naquelas aparentes futilidades, no passatempo que faziam daqueles fenômenos, qualquer coisa de sério, como que a revelação de uma nova lei, que tomei a mim investigar a fundo”.
Mediunidade que aflorava
O professor passou, então, de modo sistemático, a observar aquelas reuniões, estabelecendo padrões de perguntas e respostas acerca da vida física e o que se seguia após o final da mesma. Por 20 meses, Rivail coletou informações e passou a frequentar a casa dos Baudin regularmente às terças-feiras — anotava todas as respostas dadas por meio de mais de 10 médiuns, comparando informações às dos espíritos. As principais médiuns eram as irmãs Julie e Caroline Baudin, com 14 anos e 16 anos respectivamente, e Ruth Jafet, de 20 anos. Julie era médium inconsciente, ou seja, ficava em transe profundo durante as comunicações entre os planos físicos e extrafísicos. Já Ruth era médium sonambúlica e produziu por psicografia à noite, ou seja, uma forma de mediunidade que promove a comunicação por escrito.
Em abril de 1856, um espírito transmitiu ao pesquisador que era dele a responsabilidade de publicar os ensinamentos que havia coletado. Aturdido, Rivail pediu a confirmação da mensagem e a obteve. Começou, então, a compilar os dados e a primeira edição de O Livro dos Espíritos, lançada em 1857, tinha 501 perguntas e respostas. Como não escrevera o livro, mas “apenas” compilara as respostas a suas perguntas, não queria receber os méritos pela autoria e já que havia sido um livro baseado nas respostas dos espíritos, definiu que este seria seu nome, O Livro dos Espíritos — um deles deu a Rivail a sugestão de publicá-lo sob o pseudônimo Allan Kardec, nome que ostentara quando de sua encarnação como druida.
A própria ascensão de Jesus perante os 500 discípulos da Galileia pode ser definida como um evento ufológico, pois ele foi visto por centenas de pessoas no quadragésimo dia de sua ressurreição. Observações de naves e até de seus tripulantes eram comuns
Naturalmente, o livro exasperou o clero e os céticos, mas acordou muitos médiuns que passaram a procurar o agora “pai” da Doutrina Espírita que, segundo suas próprias palavras, seria uma filosofia, ciência e religião baseada nos ensinamentos de Jesus. Pesquisador emérito, Kardec publicaria uma segunda edição revisada com 1019 perguntas. O famoso e respeitado escritor Victor Hugo, frequentador assíduo das reuniões das mesas girantes, declarou que “negar a atenção a que tem direito o Espiritismo é desviar a atenção da verdade”.
Mas o que O Livro dos Espíritos tem a ver com Ufologia? A resposta é que há nele 22 perguntas sobre a vida em outros planetas e a possibilidade de existirmos em vários mundos além da Terra, bem como sobre a existência de seres extraterrestres entre nós. Vale a pena a leitura das mesmas para compreendermos a extensão das informações dadas pela Egrégora Espírito da Verdade às perguntas de Kardec. A seguir listamos algumas das perguntas e seus respectivos números para que o leitor possa fazer sua própria pesquisa [Veja as demais perguntas e respostas no box desta matéria].
Pluralidade dos mundos
Na pergunta de número 55 de O Livro dos Espíritos, é questionado se são habitados todos os globos que se movem no espaço? Globos querendo significar planetas. A resposta dada pelos espíritos é surpreendente: “Sim e o homem terreno está longe de ser, como supõe, o primeiro em inteligência, em bondade e em perfeição. Entretanto, há homens que têm espíritos muito fortes e que imaginam pertencer a este pequenino globo o privilégio de conter seres racionais. Orgulho e vaidade! Julgam que só para eles criou Deus o universo. Deus povoou de seres vivos os mundos, concorrendo todos esses seres para o objetivo final da Providência”. A resposta vai além e afirma que acreditar que só haja vida no planeta que habitamos é duvidar da sabedoria de Deus, “que não teria feito qualquer coisa inútil”.
Continua o texto na pergunta número 55: “Certo a esses mundos há de ele ter dado uma destinação mais séria do que a de nos recrearem a vista. Aliás, nada há, nem na posição, nem no volume, nem na constituição física da Terra, que possa induzir à suposição de que ela goze do privilégio de ser habitada, com exclusão de tantos milhares de milhões de mundos semelhantes”. Igualmente reveladora é a resposta às perguntas seguintes, 56 e 57. Na primeira, é questionado se a vida em diferentes globos tem constituição física diferente da nossa. A resposta: “Não, de modo algum se assemelham”. Na segunda, Kardec quis saber se, não sendo uma só constituição física para todos, teriam os seres que habitam tais mundos organizações diferentes? “Sem dúvida, do mesmo modo que no vosso os peixes são feitos para viver na água e os pássaros no ar”.
A pergunta 58 leva a uma resposta ainda mais surpreendente. Seu texto, conforme O Livro dos Espíritos: “Os mundos mais afastados do Sol estarão privados de luz e calor, por motivo de esse astro se lhes mostrar apenas com a aparência de uma estrela?” E a resposta: “Pensais então que não há outras fontes de luz e calor além do Sol e em nenhuma conta tendes a eletricidade que, em certos mundos, desempenha um papel que desconheceis e bem mais importante do que o que lhe cabe desempenhar na Terra?” Aqui se fala em eletricidade em um período de nossa história em que o conceito ainda era incipiente.
Por fim: “Demais, não dissemos que todos os seres são feitos de igual matéria que vós outros e com órgãos de conformação idêntica à dos vossos. As condições de existência dos seres que habitam os diferentes mundos hão de ser adequadas ao meio em que lhes cumpre viver. Se jamais houvéramos visto peixes, não compreenderíamos que pudesse haver seres que vivessem dentro d’água. Assim acontece com relação aos outros mundos, que sem dúvida contêm elementos que desconhecemos. Não vemos na Terra as longas noites polares iluminadas pela eletricidade das auroras boreais? Que há de impossível em ser a eletricidade, em alguns mundos, mais abundante do que na Terra e desempenhar neles uma função de ordem geral, cujos efeitos não podemos compreender? Bem pode suceder, portanto, que esses mundos tragam em si mesmos as fontes de calor e de luz necessárias a seus habitantes”.
Vida em diferentes mundos
Mais adiante em O Livro dos Espíritos, o assunto se volta para a existência em outros planetas, quando temos a pergunta 172, sobre as nossas diversas existências corporais que se verificam todas na Terra, respondida da seguinte forma: “Não. Vivemo-las em diferentes mundos. As que aqui passamos não são as primeiras, nem as últimas. São, porém, das mais materiais e das mais distantes da perfeição”. No questionamento seguinte, de número 173, quer se saber se a cada nova existência corporal a alma passa de um mundo para outro, ou se pode ter muitas no mesmo globo? A resposta: “Pode viver muitas vezes no mesmo globo, se não se adiantou bastante para passar a um mundo superior”. Podemos então reaparecer muitas vezes na Terra? “Certamente”. Podemos voltar a este, depois de termos vivido em outros mundos? “Sem dúvida. É possível que já tenhais vivido algures e na Terra”.
A pergunta seguinte, 174, da obra postular do Kardecismo insiste em revelar, em sua resposta, as condições de vida em nosso planeta. “Tornar a viver na Terra constitui uma necessidade?”, é a questão. E a resposta: “Não. Mas se não progredistes, podereis ir para outro mundo que não valha mais do que a Terra e que talvez até seja pior do que ela”. E a questão de número 175 trata de saber se há alguma vantagem em se voltar a habitar a Terra? A resposta: “Nenhuma vantagem particular, a menos que seja em missão, caso em que se progride aí como em qualquer outro planeta”. Não se seria mais feliz permanecendo na condição de espírito? “Não, não. Estacionar-se-ia e o que se quer é caminhar para Deus”.
Mais adiante, a pergunta de número 176 procura saber se, depois de haverem encarnado em outros mundos, poderiam os espíritos encarnar neste, sem que jamais aí tenham estado? A resposta: “Sim, do mesmo modo que vós em outros. Todos os mundos são solidários — o que não se faz em um faz-se em outro”. Assim, há homens que estão na Terra pela primeira vez? “Muitos, e em graus diversos de adiantamento”. Pode-se reconhecer, por um indício qualquer, que um espírito está pela primeira vez na Terra? “Nenhuma utilidade teria isso”.
Ufologia na literatura espírita
Por fim, a pergunta 177 quer saber se, para se chegar à perfeição e à suprema felicidade — destino final de todos os homens — teria o espírito que passar pela fieira de todos os mundos existentes no universo? A resposta é igualmente reveladora: “Não, porquanto muitos são os mundos correspondentes a cada grau da respectiva escala e o espírito, saindo de um deles, nenhuma coisa nova aprenderia nos outros do mesmo grau”. E como se explica então a pluralidade de suas existências em um mesmo globo? “De cada vez poderá ocupar posição diferente das anteriores e nessas diversas posições se lhe deparam outras tantas ocasiões de adquirir experiência”. O leitor poderá conhecer as demais perguntas e respostas que se referem à vida extraterrestre na citada obra no box deste artigo.
A associação do recém-nascido Espiritismo com a Ufologia não parou em sua obra magna. Kardec lançou a Revista Espírita, que circulou de janeiro de 1858 até abril de 1869, quando ele desencarnou. Na publicação, diversos artigos sobre mundos habitados além da Terra foram publicados, a maioria por Camille Flamarion, amigo de Kardec, entusiasta do Espiritismo e astrônomo renomado, já com vasta obra literária. Flamarion publicaria sete livros espíritas abordando o tema da vida extraterrestre, como La Pluralité des Mondes Habités [A Pluralidade dos Mundos Habitados, 1862] e Voyages Aériens [Viagens Aéreas, 1870]. Neles, descreve a vida em outros planetas com imensa riqueza de detalhes.
O homem terreno está longe de ser, como supõe, o primeiro em inteligência, em bondade e em perfeição no universo. Os humanos da Terra julgam que foi só para eles que Deus criou o cosmos, mas a verdade é que este está repleto de vida
Na edição de agosto de 1858 da Revista Espírita, Victorien Sardou publicou um interessante artigo sobre a vida em Júpiter, mais propriamente em suas luas — declarou que Mozart viveria em Europa, o satélite jupiteriano que hoje sabemos ter água talvez em estado líquido, conforme as informações recebidas pela Agência Espacial Norte-Americana (NASA) e para onde a mesma planeja uma missão espacial não tripulada. Mas como seria possível haver vida naquela lua gelada? Ora, a resposta à pergunta 181 esclarece que a vida estará adaptada ao local onde está manifesta.
A correlação entre Ufologia e espiritualidade vem aos dias de hoje com as psicografias do extraordinário médium mineiro Chico Xavier, que, no livro Cartas de Uma Morta [Lake Editora, 1935], em mensagens ditadas por Maria João de Deus, mãe de Chico já desencarnada, falam sobre a vida em Marte e em Saturno com riqueza de detalhes — devemos nos lembrar que Maria João descreveu não apenas o que via no plano tridimensional, mas, tamb&eacut
e;m, no plano da quarta
dimensão.
Também têm sido atribuídas o Chico Xavier diversas referências a extraterrestres, inclusive contatos com seres bons e maus, havendo uma advertência do querido médium mineiro: “Se você encontrar extraterrestres baixinhos de olhos grandes, não se preocupe porque eles são bons. Mas se encontrar uns altos e estranhos, corra o mais rápido que puder”. Será que ele se referia a grays e draconianos, respectivamente? Chico falou sobre a chamada Confederação Galáctica e disse que, se a humanidade não promover uma guerra nuclear até 2019, entraremos em um ciclo de crescimento e prosperidade como nunca antes visto neste planeta — e também que receberemos a visita ostensiva de seres extraplanetários, retornando à “família universal”.
Pedro de Campos, emérito escritor espírita e consultor da Revista UFO, tem reconhecido trabalho divulgando a Ufologia dentro do Espiritismo, com seis livros sobre o tema. Atualmente, dois importantes escritores espiritualistas lançaram obras com a temática extraterrestre. Entre eles está Wanderley de Oliveira, médium psicógrafo de Ermance Dufaux, publicou a obra psicografada de Maria Modesto Claro, Os Dragões [Dufaux Editora, 2015], sobre seres draconianos que chegaram à Terra milhares de anos atrás. O outro escritor é Robson Pinheiro, que recentemente lançou o livro Os Abduzidos [Casa dos Espíritos, 2015], oferecendo como brinde um DVD com palestras de reconhecidos ufólogos brasileiros [Pinheiro é um dos conferencistas, junto da autora deste texto, do IV Fórum Mundial de Contatados, a ocorrer em Santos, em julho. Veja anúncio nesta edição].
Embora os autores não sejam versados em Ufologia, é inegável a divulgação que estão dando ao tema, uma vez que têm grande número de leitores espiritualistas. E tudo isso acontece no momento em que, a exemplo do que ocorreu na Casa do Consolador, em 2004, os extraterrestres estão “invadindo” os centros espíritas no Brasil e fora dele. E, também, alguns templos evangélicos, igrejas católicas e, talvez, mesquitas, sinagogas e templos budistas porque tais seres, em sua maioria, já superaram a barreira dos dogmas, agindo por uma única crença — a Lei da Fraternidade.
ETs e centros espíritas
Tem se tornado cada dia mais frequente o número de casas espíritas em busca de esclarecimentos sobre seres e energias “diferentes” que seus médiuns estão descrevendo. São entidades que se somam às chamadas equipes de luz que trabalham nestes locais e nos diversos tratamentos espirituais realizados. Humanoides adâmicos, insetoides, reptilianos, nórdicos e grays são descritos sistematicamente em tais locais. Seu modus operandi muda de caso a caso, mas as características de suas ações são muito similares, como, por exemplo, provocar a queda na temperatura do ambiente onde se manifestam, levar à observação de luzes visíveis tridimensionalmente, a contatos mentais, à percepção de energia mais sutil — eles têm atuação rápida e resultados objetivos. Aliás, se há um adjetivo para definirmos os extraterrestres é exatamente a assertividade.
Apesar de toda a literatura existente e, mais importante, das evidências sobre a presença desses seres em íntimo contato conosco, persiste boa dose de ceticismo entre os espíritas, para os quais os extraterrestres existem, mas não têm corpo físico. Este é um interessante contraste com os ufólogos que se proclamam científicos, para os quais os extraterrestres existem, mas são todos tridimensionais, como nós. Ambos estão certos e errados. Os extraterrestres têm corpo físico se encarnados, como nós mesmos no momento, e não têm se desencarnado, como um dia todos nós estaremos.
Tem se tornado cada dia mais frequente o número de casas espíritas em busca de esclarecimentos sobre seres e energias ‘diferentes’ que seus médiuns estão descrevendo. São entidades que se somam às chamadas equipes de luz que trabalham nestes locais
Vai nos atrasar muito no contato com esses seres o verdadeiro “terrorismo mediúnico” ao qual os médiuns que relatam a presença de extraterrestres, em centros mundo afora, são submetidos por dirigentes de parcos conhecimentos e grande medo do desconhecido. O Espiritismo é um dogma libertário e, portanto, deve estar aberto ao novo, ao que está chegando e não ser podado como erva daninha. O próprio Allan Kardec advertiu que não havia escrito tudo sobre o que viria. Como seria bom se nosso Chico Xavier ainda estivesse fisicamente entre nós para indicar a estes dirigentes o caminho da expansão de conceitos.
Os extraterrestres procuram notadamente os espíritas porque, em sua obra magna, a sua existência é perfeita e claramente definida. Porque os espíritas trabalham com a mediunidade ou a paranormalidade que possibilita o contato. Porque os espíritas compreendem os conceitos de projeção astral do qual se valem os extraterrestres encarnados, que deixam seus corpos nas naves, no que chamam de “células de proteção”, vindo, em corpo astral, trabalhar junto a mentores espirituais nossos. Porque os espíritas são convidados ao estudo incessante de tudo o que nos cerca. Sobretudo, porque os espíritas creem que fora da caridade não há salvação, o que é bem próximo do que dizem os extraterrestres: “Fora da fraternidade, não há salvação”.
Mas isso de modo algum implica em que os espíritas sejam eleitos para ter o contato — não existem eleitos no que tange aos extraterrestres e sabemos que não existem apenas extraterrestres evoluídos. O outro lado é forte e está presente por aqui também. Somente com pesquisa, estudo e troca de informações é que poderemos estabelecer, com segurança, que tipo de entidades tentam se comunicar conosco.
A hora é agora
Temos que somar nosso conhecimento em prol da pesquisa baseada em evidências, quer sejam elas físicas ou extrafísicas. Esses seres que nos abordam estão deixando claro que estão entre nós atuando a nosso favor, saibamos disso ou não. Sem poderem interferir, pois é nosso o arbítrio sobre o planeta, auxiliam no que podem e intervém, intensamente, nos conflitos que estão ocorrendo nas dimensões extrafísicas, onde a luz e a sombra lutam pelo domínio planetário. Atualmente, em projeções astrais, no plano espiritual, é frequente vermos naves extraplanetárias e termos contato com se
res não humanos. Sua biodiversidade é tremenda. Será que o fato de isso ocorrer em uma dimensão além dos limitados sentidos físicos torna isso uma ilusão, um devaneio, uma alucinação? Os melhores informantes sobre nossos visitantes extraterrestres são os seres humanos que tiveram e têm contato com eles, quer como abduzidos, quer como contatados. Naturalmente, refiro-me aqui aos comprometidos com a verdade.
Há muito tempo a Ufologia vem se dividindo em áreas que se convencionou chamar de científica, ainda que ciência oficial não seja, e mística. Este termo está, a meu ver, totalmente errado — seu significado leva as pessoas a pensarem em adoração e idolatria. A definição psicanalítica da expressão é: “Conteúdo de uma ideia, causa, instituição etc, ou a atmosfera ou aura de perfeição, verdade, excelência incontestável que as cerca, despertando nas pessoas respeito, adesão apaixonada, devotamento, sectarismo etc”.
Algo tão profundo e abrangente, novo e sério, porque somos muito pouco perto do poder mental e tecnológico dos extraterrestres, não pode gerar “adesão apaixonada”. Temos que manter o distanciamento que nos permite ampliar nossos conhecimentos e, ao mesmo tempo, preservar quem somos — não seres inferiores, mas em plena evolução. Proponho que o termo Ufologia Mística seja substituído por Ufologia Espiritualista, mais correto porque se prega, aqui, a fé que questiona.
Em todas as religiões, de diferentes modos, o homem é exortado a se autoconhecer para melhorar e evoluir. Exortado a estudar. Exortado a fazer o bem. Essa é a ponte mais segura para o contato, ou seja, o autoconhecimento, conhecimento e prática do bem. Esta é a tríade que nos possibilitará o contato em massa com outras inteligências cósmicas. Sem barreiras dogmáticas, sem verdades temerosas de se saberem parciais demais. Mas com a vastidão mental deste universo que nos cerca e mantêm.