A comunidade ufológica dos Estados Unidos foi sacudida nos últimos anos pela controvérsia que gira em torno de uma série de documentos oficiais, secretos e supostamente autênticos, cujo nome é Majestic-12. Esses documentos viriam a confirmar as suspeitas de muitos investigadores e pesquisadores daquele país, de que há muitos anos a Força Aérea dos EUA (USAF) e o próprio governo estariam mantendo em seu poder restos de pelo menos um UFO acidentado em território norte-americano. Mais ainda, os documentos confirmariam o resgate dos restos do UFO juntamente com sua tripulação de seres extraterrestres humanóides, que teriam falecido na ocasião do acidente, ocorrido em Roswell, Novo México, no início de 1947. Um tema já bem abordado pela Ufologia.
A princípio, os investigadores teriam recebido um comunicado oficial emitido pela própria Base Aérea de Roswell, que possuía na ocasião o único esquadrão atômico até então. O comunicado era datado de 8 de julho de 1947 e dizia o seguinte: “A Oitava Base da Força Aérea teve a felicidade de apoderar-se de um disco voador através da cooperação de um dos rancheiros locais e da delegacia do xerife do condado de Chaves”. O Comandante daquela Base, Gal. Roger Ramey, rapidamente enviou um contra-comunicado, afirmando que o objeto em questão era uma sonda atmosférica em forma de globo, desmentindo assim o primeiro comunicado. A matéria, evidentemente, não poderia vazar para a imprensa. Mas o Caso Roswell – como ficaria conhecido – permaneceu esquecido por mais de 30 anos, até que os escritores Charles Berlitz e William Moore levantassem novamente as atenções em seu livro e bestseller O Incidente de Roswell.
Nesse livro, ambos apresentam uma entrevista exclusiva com o major (hoje reformado) Jesse Mareei, que havia sido precisamente o oficial de investigações da base de Roswell e encarregado de coletar todas as peças metálicas do objeto aéreo acidentado no rancho de W. W. MacBrazel, em 2 de julho de 1947. O major Mareei afirma, na entrevista, que o objeto em questão não seria uma sonda atmosférica, mas sim um objeto voador não identificado “e obviamente não terrestre” – garantiu. Além desse testemunho, Moore e outros pesquisadores, tais como o físico nuclear Stanton Friedman, haviam coletado cerca de 80 testemunhos até aquela data de pessoas que participaram direta ou indiretamente do Caso RosweII. Além disso, os mesmos investigadores obtiveram, através da Lei da Liberdade de Informação [Editor: Freedom of Information Act, uma lei que garante ao cidadão dos EUA processar em parte ou totalmente as mais diversas agências e departamentos do governo, para obter informações sobre quaisquer assuntos que ele esteja retendo – inclusive sobre UFOs], documentos do FBI que parecem finalmente confirmar que o objeto acidentado em Roswell foi um UFO e não uma sonda.
O então diretor do FBI, J. Edgar Hoover, por exemplo, disse e assinala em um documento com data de julho de 1947, que seus agentes deveriam “insistir em obter acesso pleno aos discos voadores resgatados”. Hoover ainda diz que o Exercito chegou antes e apoderou-se dos restos do UFO, mandando que se fizesse um detalhado exame preliminar, coisa que o FBI não podia admitir. Apesar de todas essas evidências, no entanto, esses fatos não serviram para convencer plenamente a maioria dos pesquisadores norte-americanos, sem contar os célicos e a comunidade científica em geral. Os mesmos tentaram achar provas mais convincentes, além de alguns documentos e testemunhos isolados. Foi ai que surgiu, como que caído do céu, o memorando conhecido como Majestic-12 ou MJ-12, uma bomba com intensidade semelhante à bomba de Hiroshima.
Em meados de 1987, o escritor e ufólogo de Los Angeles, William Moore, e alguns colaboradores (o físico Stanton Friedman e o produtor de TV Jaime Shandera), apresentaram ao público o que a princípio poderia se chamar de \’uma mão cheia de áses\’. Porém, os pesquisadores não dispunham de provas materiais do UFO acidentado ou dos cadáveres dos extraterrestres. Obtiveram, então, informações documentais tão convincentes que seriam quase como provas físicas do ocorrido: uma série de documentos top secret da época dos presidentes Harry Truman e Dwight Eisenhower, que descreviam em profusão de detalhes os esforços empreendidos pelo governo americano para investigar e encobrir as notícias do acidente de Roswell, entre outros detalhes. Tal missão, sob responsabilidade de uma comissão ultra-secreta de generais, almirantes e cientistas escolhidos a dedo pelo presidente foi denominada de Majestic-12 ou MJ-12 – devido ao número inicial de pessoas que dele participavam.
Os céticos contestaram imediatamente os documentos, dizendo que a autenticidade dos mesmos era duvidosa, que tal documentação não teria saído pelos canais usuais da Lei de Liberdade de Informação, como era de se esperar etc. Mas Moore, Friedman e Shandera contestaram veementemente as críticas, dizendo que os documentos teriam vazado de instalações militares secretas por obra de algum agente descontente do governo e irritado com a política oficial de Washington de encobrir o tema UFO. Segundo o trio, este oficial, com nome resguardado, teria enviado as informações via correio primeiramente a Shandera, em dezembro de 1984, “num rolo de filme 35 mm. Na realidade, Moore, Friedman e Shandera se viram obrigados a revelar publicamente o que sabiam sobre os documentos quando esses foram publicados, sem censura alguma, no começo de 1987, no livro Above Top Secret, do investigador inglês Timothy Good.
Estivemos recentemente com Good, quando este visitou Nova York durante um giro para promover as novas edições americana e canadense de seu livro, e ouvimos dele interessantes declarações. Quando lhe perguntamos como havia obtido os documentos, Good respondeu “…que nunca revelo minhas fontes; tudo o que posso dizer com alguma certeza é que os documentos provêm de uma fonte da inteligência dos Estados Unidos. Sei disso porque vi as evidências e a documentação dessa mesma fonte”. E ainda completou: “Os documentos foram mandados especificamente para serem incluídos em meu livro Above Top Secret, porque existe um grupo dentro da comunidade de inteligência norte-americana que quer revelar essa informação”. Já tínhamos ouvido esse tipo de informação de variadas outras fontes igualmente responsáveis: há setores da inteligência [Editor: leia-se espionagem] dos EUA que quer ver divulgada a questão ufológica.
O ponto-alto dessa história é
; de fato o documento de 8 páginas e com data de 18 de novembro de 1952, intitulado Brieftng Document: Operation Majestic-12, que teria sido feito supostamente pelo almirante Roscoe Hillenkoetter, então primeiro diretor da CIA, para o presidente eleito Dwight Eisenhower, O documento inclui também um memorando assinado pelo presidente Truman ao secretário da Defesa dos EUA, James Forrestal, datado de 24 de setembro de 1947 e no qual se assinala que todas as \’considerações futuras da Operação MJ-12, “deveriam permanecer somente ao encargo direto do presidente e seu gabinete”. Obviamente, as implicações do assunto são de que o presidente Eisenhower – herói da invasão da Normandia e comandante supremo das Forças Aliadas na Europa durante a II Grande Guerra – somente seria informado do segredo dos UFOs acidentados quando eleito, em 1952. Antes de analisarmos as críticas contra a autenticidade dos referidos documentos, convém que estudemos o conteúdo do memorando do almirante Hillenkoetter. Vejamos um trecho:
“Aos 7 de julho de 1947, principiou-se uma operação secreta para assegurar o resgate de restos de um UFO acidentado em Roswell, para estudo científico. Durante o curso dessa operação, o reconhecimento aéreo descobriu que quatro seres pequenos, humanóides, teriam aparentemente saltado da nave antes que a mesma explodisse. Esses seres teriam então caído em terra a mais ou menos duas milhas de onde os escombros foram encontrados. Os quatro estavam mortos e já em adiantado estado de decomposição, devido à ação de animais que se alimentam de carniça e também do tempo que lã jaziam até seu descobrimento, \’período esse que deve ter sido de uma semana aproximadamente.”
O documento da comissão secreta organizada pelo general Nathan Twining, da Força Aérea, e o Dr. Vannevar Bush – que durante a guerra tinha a responsabilidade de coordenar cientificamente a produção da bomba atômica -, conclui que “o disco voador seria provavelmente um veículo de reconhecimento de curto alcance”, devido às suas características e reduzido tamanho. Há um fato mais interessante ainda: as conclusões médicas sobre o estudo dos seres humanóides, baseadas em autópsias de seus corpos e realizadas por outro membro do MJ-12, o Dr. Detlev Bronk, que posteriormente chegou a presidente da Academia Nacional de Ciências. Segundo o memorando de Hillenkoetter, “a conclusão preliminar da Comissão MJ-12 foi de que os humanóides tinham aparência humana e que processos biológicos e evolutivos responsáveis por seu ai atiço parecem ter características bastante diferentes dos observados ou documentados no homo sapiens terrestre”.
A equipe do Dr. Bronk sugeriu que se adotasse um termo para classificação destas criaturas, e a denominação Entidades Biológicas Extraterrestres (EBEs) surgiu para defini-las – “até que se possa encontrar uma designação mais definitiva e apropriada”, concluiria o documento. O memorando abrange outros aspectos da investigação secreta do UFO acidentado, como esforços sem êxito aparente para se determinar o sistema de propulsão que utilizaria. Comparações foram feitas entre esse objeto e um segundo UFO, provavelmente de origem similar, segundo o documento, que se acidentou em 6 de dezembro de 1950, na área conhecida com El Indio Guerrero, na fronteira do Texas e México. No entanto, lá os restos deste objeto foram recuperados quase inaproveitáveis – “haviam sido quase que totalmente incinerados” diz o memorando. Finalmente, o documento ainda explica que a atividade o grupo MJ-12 devia manter-se incógnita, devido “as precauções de segurança mais ostensivas o possível, para evitar o pânico no meio público”.
Igualmente, o memorando garante que “…as implicações de segurança nacional seriam terríveis se o conteúdo dessas ocorrências viesse a público”, concluindo que a manutenção do sigilo “…é de importância contínua, devido aos motivos e intenções finais desses visitantes extraterrestres, que são totalmente ignoradas”. São termos pesados e dentro do padrão de muitos outros documentos já obtidos pela Lei de Liberdade de Informações (e fora dela). O temor constante nesse tipo de ocorrência e de que o público, sabendo da existência dos ETs e de suas freqüentes visitas à Terra, as interprete exclusivamente como uma ameaça à soberania norte-americana e coloque em risco o futuro da vida nesse planeta.
Se são verídicos os documentos MJ-12, os ufólogos iriam tentar descobrir até a exaustão, e isso responderia finalmente ao público a inquietação política do governo, de encobrir por mais de 40 anos uma história como essa – e Washington foi responsável. Mas ainda, traria a público um memorando de ninguém menos importante que o almirante Hillenkoetter – figura prestigiadíssima nos EUA – ao presidente eleito Eisenhower, e sobre assunto da maior delicadeza. Mas sua autenticidade permanece em dúvida. Para saná-la, Moore, Friedman e Shandera conseguiram outro documento dos Arquivos Nacionais, de Washington, liberado legitimamente através da Lei da Liberdade de Informação. Esse documento revela peças importantes desconsideradas pelos críticos da autenticidade do MJ-12: “Trata-se de um memorando para o general Twining, membro do Conselho MJ-12, escrito por Robert Cutler, assistente especial do presidente Eisenhower, com data de 14 de julho de 1954”.
O documento não revela nada de novo, mas sua importância está no fato de que confirma a existência do Projeto de Estudos Especiais Majestic-12 e dá instruções p
ara uma reunião na Casa branca, a ocorrer no dia 16 de julho desse mesmo ano. O novo documento possui todas as características de padrões oficiais de decodificação próprios da Lei de Liberdade de Informação, e foi achado por Shandera e Moore em uma caixa de documentos quase esquecida dos Arquivos Nacionais. Mas a crítica sobre a autenticidade dos documentos MJ-12 não era pouca e iniciou-se logo após sua descoberta ter sido publicada, primeiro em um artigo no London Observer. Joann Williamson, chefe da Seção de Referência Militar dos Arquivos Nacionais, emitiu um comunicado oficial em que citava várias razões técnicas que demostravam ou indicavam problemas no memorando de Cutler, supostamente liberado por sua divisão ou gabinete.
Essas imperfeições no documento que teria a propriedade de confirmar o MJ-12, extensas demais para enumerar-se aqui, são referentes aos formatos, denominações, carimbos de classificação de segurança, tipo de papei utilizado etc. Segundo Williamson, o documento não estaria em conformidade com a própria burocracia de Washington durante a presidência de Eisenhower, Ainda mais, Williamson alega que uma busca exaustiva em outras referencias do Majestic-12, nos arquivos de várias agências governamentais, não havia produzido qualquer resultado positivo. O golpe seguinte no documento – e em seus defensores, Moore, Shandera e Friedman – foi da Biblioteca Eisenhower, em Kansas. Esta informou que Cutler não poderia ter escrito tal memorando ao general Twining em 14 de julho de 1954, justamente porque se achava em missão oficial fora do país. Friedman, apesar de tudo, respondeu que o documento não está assinado e que Cutler havia deixado instruções a seus assistentes para que agilizassem a papelada sobre sua assinatura…
Imediatamente, o Comitê para a investigação Científica de Supostos Fenômenos Paranormais (CSICOP), um grupo profissional de céticos e desqualificadores de áreas como Ufologia e Parapsicologia, emitiu rapidamente um comunicado denunciando que os documentos eram “uma fraude grosseira e de produção rudimentar, além de serem um dos atos mais decepcionantes e deliberados jamais vistos, perpetrados por espertalhões junto aos meios de comunicação e o público”, Philip J. Klass, um dos dirigentes do CSICOP e o inimigo Número Um da Ufologia norte-americana (e mundial), publicou uma grande crítica aos documentos na revista da entidade, a The Skeptical Inquirer. Além de analisar duramente os memorandos de Hillenkoetter e Cutler, Klass conclui ainda que a suposta carta do presidente Truman ao secretário da Defesa, James Forrestal, era uma fraude criada por superposição de mensagens inócuas sobre lima foto de uma carta autentica de Truman.
Tanto as críticas de Williamson, dos Arquivos Nacionais, como as do CSICOP e de Klass, eram algo que já se poderiam esperar. Supondo que os demais documentos MJ-12 fossem reais e que foram realmente vazados ilegalmente, como afirmam Moore, Friedman, Shandera e até Good, o governo faria todo o possível para negar seu conteúdo. Por outro lado, o CSICOP e Klass – este sendo o autor de quatro livros contra os UFOs – denunciaram automaticamente todos os casos principais de avistamentos e contatos dos últimos anos. Por isso mesmo, a negativa de Klass não surpreendeu ninguém. O que fez efeito de credibilidade para os documentos MJ-12 foi a atitude cética dentro da própria comunidade de investigadores da Ufologia. O advogado e ufólogo de Nova York, Peter Gersten, que obteve milhares de documentos oficiais sobre os UFOs através da Lei de Liberdade de Informação, expressou imediatamente sua dúvida sobre a autenticidade do Majestic-12.
A crítica mais desastrosa até aquela data, apesar disso, foi dada pela entidade conhecida como Citizens Against UFO Secrecy (Cidadãos Contra o Sigilo aos UFOs, CA US), um grupo de ufólogos que se especializou em obter documentos oficiais através da Lei de Liberdade de Informação e que tinha logrado êxito em mais de 70% dos inúmeros processos que moveu contra diversos departamentos do governo norte-americano, em tribunais de diversos estados. Em uma edição boletim Just Cause, da CAUS, seu editor Barry Greewood, um reconhecido ufólogo, publicou uma análise minuciosa de várias páginas em que concluía que, “desafortunadamente, o \’affair MJ-12\’ parece ser uma perpetração fraudulenta muito grande e, em conseqüência disso, um galão de tinta gigante foi atirado sobre a superfície da Ufologia, manchando-a para sempre”. Greenwood tenta assinalar todas as razões técnicas que o fizeram chegar à esta conclusão, inclusive sugerindo o nome de Richard Doty, agente da inteligência norte-americana lotado na Base Aérea de Kirtland, no Novo México, como autor da fraude.
Doty, já havia sido acusado de fraude no passado, em envolvimento com outros documentos pretensamente oficiais sobre o tema UFO, e foi acusado de falar recentemente sobre os EBEs e o Projeto Acquarius a repórteres e pesquisadores – o que seria uma violação flagrante da conduta que se espera de um oficial. No mínimo, esperava-se dele que fosse cauteloso, em vez de sair por aí falando sobre assunto tão delicado pelos cotovelos. William Moore e Stanton Friedman, sem muita demora, responderam às críticas de Greenwood e Klass afirmando que estas deixavam muitos pontos sem esclarecimento ou resolução. Por exemplo, Friedman aponta a agenda oficial da Casa Branca, que confirma que houve uma reunião secreta do presidente Truman com o secretário de Defesa Forrestal e com o Dr. Vannevar Bush, em setembro de 1947 – como assinalada no suposto memorando de Truman. Mesmo que seu conteúdo não tenha sido revelado de forma oficial.
Igualmente, Friedman demonstra que pelo menos algumas das explicações oficiais sobre os formatos e siglas empregados no memorando não estão corretas, e que existem outros documentos autênticos da época que usam o mesmo estilo. Tudo isso levou outros pesquisadores importantes, como Jerome Clark, do J. Allen Hynek (Center for UFO Studies (CUFOS), e o Dr. Bruce Maccabee, do Fundo de Investigações Ufológicas (FUFOR), a declararem que o veredicto final sobre o Majestic-12 ainda está em aberto. A última novidade das investigações sobre os documentos foi revelada recentemente pelo advogado Robert Bletchman, que atua como diretor no estado de Connecticut para a conhecida organizaç
ão Mutual UFO Network (MUFON). Bletchman contratou um expert mundial em lingüística, o Dr. Roger Wescott, para que realizasse um estudo detalhado do estilo, composição, gramática e pontuação do memorando do almirante Hillenkoetter. Seu estudo deveria ser comparativo com outros documentos, memorandos e cartas genuínas do almirante e daquela época.
Com a ajuda de Friedman e outros pesquisadores, incluindo esse autor, Bletchman entregou ao Dr. Wescott um total de 22 documentos escritos por Hillenkoetter entre 1947 e 1970, para que fizesse seu trabalho. Antes de resumir as conclusões do Dr. Wescott, convém ter em mente suas credenciais profissionais e acadêmicas, que poderiam levar todo o espaço desse trabalho. Entre outros títulos, o expert recebeu seu doutorado em lingüística na Universidade de Princeton, em 1948; foi professor em Oxford e em outras universidades, e atualmente é professor de Antropologia e diretor do programa de lingüística na Drew University, de Nova Jersey. Wescott publicou 40 livros científicos e centenas de artigos sobre sua área, é ainda membro de várias sociedades e ligas acadêmicas e representante do governo norte-americano perante a Organização Internacional para a Unificação de Neologismos Tecnológicos das Nações Unidas, com sede em Varsóvia. Como vemos, é uma pessoa que deve ser ouvida quando fala. Mas o que falou o Dr. Wescott sobre os controvertidos documentos MJ-12?
O estudioso de Ufologia também deve reconhecer o nome do principal envolvido nos documentos, o próprio almirante Hillenkoetter, que foi o primeiro diretor da CIA depois que esta agência foi erigida Sob a forma que ainda hoje funciona. Segundo os documentos de Moore, Shandera e Friedman, o almirante é supostamente o autor da Operação Majestic-12, e foi quem a dirigiu ao presidente eleito Eisenhower. Efetivamente, Hillenkoetter figurou durante muitos anos como membro do comitê de diretores da extinta organização ufológica NICAP – uma lenda dentro da Ufologia. A NICAP surgiu nos anos 50 como a primeira organização a tratar seriamente o assunto UFO. Foi fundada e dirigida por muitos anos pelo então major Donald Keyhoe, que teve sempre uma atitude muito crítica com relação a Força Aérea.
A NICAP era formada por uma elite de profissionais liberais, cientistas, estudiosos e a nata da Ufologia de sua época, mas seu arrojo foi minado por infiltrações que sofreu por parte de militares norte-americanos, que, a pretexto de participarem de suas atividades, agiam como espiões duplos. A história da NICAP praticamente se confunde com a história da Ufologia norte-americana, pois esta entidade sabia tanto quanto (ou talvez mais que) a própria Força Aérea e suas fétidas comissões de investigação ufológica (Blue Book etc). Pois o almirante Hillenkoetter seguiu a linha de Keyhoe até l962, quando renunciou subitamente a sua posição na NICAP e a abandonou.
Em síntese, após estudar e comparar estilística e lingüisticamente os 22 documentos e cartas (autênticas) de Hillenkoetter com o memorando MJ-12, o Dr. Wescott emitiu a seguinte declaração em 1988: “Um minha opinião, não há uma só razão que me compele u considerar qualquer destes documentos chamados MJ-12 como fraudulentos, ou que me faça crer que qualquer deles foi escrito por outra pessoa que não o próprio Hillenkoetter. Esta declaração é válida para o controverso memorando presidencial de 18 de novembro de 1952, assim como para as cartas, tanto oficiais como pessoais, que analisei”. E agora? O que pensar disso? Em uma outra carta enviada à Bletchman, o Dr. Wescott ainda assinala que “em situações ambíguas como esta, tento seguir um equivalente ao princípio legal que di: ser inocente o acusado até que surjam provas em contrário. Minha análise é de que os documentos MJ-12 são autênticos, até que se prove – ou que surjam novas evidências – que são fraudulentos”.
Até aqui, a análise realizada por Wescott estava sendo o fiel da balança. Em uma entrevista à imprensa em Nova York recentemente, Timothy Good assinalou que “as análises mais recentes que estão sendo feitas por experts em letras de máquinas de escrever e outros analistas de documentos, no material do almirante Hillenkoetter, estão confirmando tudo o que o Dr. Wescott disse”. Mas Good ainda falou que não seria fácil provar A ou B com relação aos documentos, pois este tipo de estudo custa uma verdadeira fortuna -“e ela não está sendo doada por céticos que querem ter uma solução para a polêmica”, concluiu. O debate sobre a autenticidade dos documentos MJ-12 ainda continua e está em pauta em congressos nos EUA e em todo o mundo. Alguém poderá então perguntar: se for uma fraude, como se conseguiu fazê-la tão perfeita que até hoje não se consegue um veredicto sobre ela? É difícil imaginar algo fraudado que seja tão bem feito, isso é verdade, especialmente se verificarmos que seu conteúdo – mesmo se o documento for falso – é acuradíssimo.
Além disso, mesmo que sejam fraudulentos, ainda ficam no ar muitas perguntas e dúvidas para serem respondidas. De início diríamos que se trataria de uma fraude extremamente sofisticada, que tomaria muito tempo e dinheiro para ser produzida – coisa que nem Moore, Shandera ou Friedman têm. Por outro lado, se o agente Doty ou outro personagem obscuro de alguma agência de inteligência é o culpado pela eventual fraude, estaríamos aqui falando de um caso particular e isolado, ou de um esquema muito bem montado de \’desinformação\’ oficial? Porque com os documentos MJ-12 – ao contrário dos comentados e inúmeros \’diários de Hitler\’ e outras fraudes famosas surgidas de tempos em tempos com a intenção única de produzir lucros, por exemplo – ninguém pretendeu ganhar nada com isso, e ninguém ganhou! Alguém poderá – como já ocorreu – dizer que Timothy Good foi o grande vitorioso nesta polêmica, pois ajudou a vender seu livro Above Top Secret e o fez um homem rico.
Essa é uma afirmativa parcialmente certa. O Above Top Secret de fato se converteu em um famoso bestseller na Inglaterra, Austrália e outros países. Porém, o livro tem mais de 600 páginas e estava praticamente terminado quando Good recebeu uma cópia dos famosos documentos. de mais a mais, Good j&aac
ute; era um bestseller no mundo ufológico antes e esse seu livro tem de fato o valor que lhe é atribuído. Mesmo assim, lima coisa fica clara: muitas reputações, de vários investigadores tanto pró ou contra os documentos, foram comprometidas. E dependendo do resultado final do impasse, se chegarmos a ele algum dia, muitas outras ficarão manchadas. Finalmente, chegamos à conclusão de que, se os documentos são lima fraude realmente, permanecem ainda muito mais coisas que o governo dos EUA terá de explicar e esclarecer algum dia.
Cremos ser absolutamente verdadeira, por exemplo, a narrativa sobre o objeto acidentado em Roswell, cuja existência foi estabelecida muito antes da aparição dos documentos MJ-12. Assim como os muitos testemunhos relatados por investigadores, tais como Leonard Stringfield, de que o governo norte-americano tem em seu poder os restos de vários UFOs acidentados. Quem se recorda das declarações do conhecido senador Barry Goldwater, de que a Força Aérea negou-lhe terminantemente seu pedido para inspecionar o chamado \’quarto azul\’ da Base Aérea Wright-Patterson, em Dayton, Ohio, aonde se guarda as informações secretas sobre UFOs? Por que a USAF impediria um senador de visitar tal base? O que guarda lá? Mais ainda: quem se recorda que Goldwater chegou a declarar publicamente, totalmente indignado com a USAF, que essa informação tinha que ser colocada à disposição da população. “Negaram acesso a um senador dos Estados Unidos”, disse revoltado à imprensa, “para que fosse àquela base aérea exercer seu direito e dever de fiscalizar o que o governo está fazendo. Para isso, os oficiais apenas disseram-me: a informação que o senhor deseja está classificada como muito além de top secret\'”, completou. Como podemos ver, a última palavra sobre esse assunto ainda está para ser dita.