Com um mês de atraso em relação à data esperada, mas ainda dentro das expectativas da Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU), no final de setembro foi enviado para vistoria pública no Arquivo Nacional, no Distrito Federal, o terceiro lote de documentos ufológicos do Centro de Documentação e Histórico da Aeronáutica (Cendoc), a terceira fase da abertura oficial brasileira. Desta vez, os 11 envelopes com exatas 794 páginas abordam toda a década de 80, contendo, dentre vários casos relevantes, o ocorrido em 08 de fevereiro de 1982, conhecido como Caso Vasp Vôo 169 [Veja artigo nesta edição], e aquele que foi denominado pelos ufólogos de Noite Oficial dos UFOs no Brasil, registrado na noite de 19 para 20 de maio de 1986. Ambos alvos de incansáveis solicitações de informações anteriores dos estudiosos junto ao Comando da Aeronáutica, os documentos finalmente vieram à tona, agora com novidades que nem os mais otimistas poderiam imaginar, como veremos mais a frente.
Contando com a pasta enviada pelo Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República, a versão da Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) para a Operação Prato e demais relatórios resultantes da campanha UFOs: Liberdade de Informação Já, o Arquivo Nacional conta hoje com mais de 4.000 páginas sobre o tema, tudo disponível a qualquer cidadão que se disponha ir a Brasília conferir. Já estão computados aí os documentos do Sistema de Investigação de Objetos Aéreos Não Identificados (Sioani), recentemente fornecidos pelo Grupo Ufológico do Guarujá [Veja edição UFO 158], bem como o relatório da primeira ocorrência investigada dentro de uma instituição universitária brasileira, a Universidade de Brasília, conhecido como Caso Papuda, fornecido pela própria CBU. Todo este valioso material já pode ser acessado eletronicamente no Portal UFO [Veja como baixar em box desta edição], e segundo a esforçada equipe do Arquivo Nacional, a papelada estará em breve também em sua página na internet, no endereço www.arquivonacional.gov.br.
Documentos secretos e ultra-secretos
Preliminarmente, para poder entender como a Ufologia Brasileira chegou a estes números inéditos, é importante ressaltar o significativo trabalho desempenhado pela CBU desde o início da campanha que pede a desclassificação de informações ufológicas públicas. Originada com a entrega da Carta de Brasília a membros do Governo, em dezembro de 1997, após o I Fórum Mundial de Ufologia [Veja edições UFO 073 e 111], o movimento passou por várias fases. Em fevereiro de 2004, já reformulada, a CBU iniciou nova forma de abordagem com o lançamento da campanha UFOs: Liberdade de Informação Já. Esta culminou com a visita de seus ufólogos ao Comando de Defesa Aeroespacial Brasileiro (Comdabra) em 20 de maio de 2005, onde os primeiros documentos alvos da campanha foram identificados manualmente.
A visita às instalações militares teve ampla divulgação no Brasil afora e foi comemorada por toda Ufologia Mundial. Finalizamos esta fase com o protocolo do Dossiê UFO Brasil na Casa Civil da Presidência da República, em 26 de dezembro de 2007. Durante os dez meses seguintes, intensificou-se a pressão sobre os ministérios do Governo Lula, onde cópias do Dossiê também foram protocoladas. Especial atenção foi dedicada à Casa Civil, destinatária da versão original, uma vez que, segundo a Lei 11.111/2005, é a ministra-chefe do órgão, Dilma Rousseff, que comanda o processo de abertura peticionado, mesmo que as informações objetivadas não estejam naquele ministério [Veja edições UFO 137, 139, 140 e 147]. Como resultado desses esforços, foi enviado ao Arquivo Nacional, órgão subordinado à Casa Civil, nos meses de outubro e dezembro de 2008, os dois primeiros lotes de documentos liberados. Para completar, só este ano mais dois enormes lotes foram remetidos ao arquivo, um em maio e este agora em setembro, cravando mais dois marcos inéditos na história da Ufologia Brasileira.
Diz a Lei 11.111/2005 que existem quatro níveis de classificação de documentos sigilosos, com os seguintes prazos de resguardo do conhecimento e escrutínio público: reservados, com cinco anos de ressalva; confidenciais, com 10 anos; secretos e ultra-secretos, respectivamente com 20 e 30 anos longe do cidadão comum. Conforme temos observado nas desclassificações efetivadas pelo Cendoc, esperam-se que pelo menos mais um lote deva ir para ao Arquivo Nacional. Especificamente, os ufólogos aguardam agora aqueles envelopes que contenham documentos reservados e confidenciais gerados na década de 90, embora alguns secretos da década de 80 já começaram a aparecer. Com a pressão que certamente deverá aumentar em cima do Governo após a liberação de setembro, outras informações secretas e, principalmente, as primeiras ultra-secretas, deverão aparecer no ano que vem.
Na atual fase de cobrança e divulgação de resultados da campanha junto ao Governo, várias frentes de ação estão sendo executadas ao mesmo tempo, dentro dos diversos setores da sociedade envolvidos. Uma delas, realizada por meio do Fórum de Direito de Acesso a Informações Públicas, ao qual a Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU) se uniu em março deste ano, envolve questões cruciais e concernentes a ações legais, com repercussões políticas e midiáticas nos meios impressos e eletrônicos. Desta forma, além de órgãos como a citada Casa Civil e o próprio Ministério da Defesa, o Congresso Nacional e entidades representativas da mídia nacional, como os jornais O Globo e Folha de São Paulo, a revista Istoé e todas as emissoras de TV abertas também tornaram-se os principais alvos dos ufólogos durante os anos de 2008 e 2009.
Já são dezenas de inserções e matérias falando da campanha UFOs: Liberdade de Informações Já e seus resultados nos citados órgãos de imprensa, alguns com matérias estampadas em suas capas e sites de internet, que por sua vez ajudam a exercer pressão considerável da opinião pública sobre o Governo. Obviamente, a mesma pressão também é sentida tanto por autoridades constituídas dos Três Poderes quanto por servidores graduados da máquina estatal. Inclusive militares responsáveis pela geração, guarda e divulgação das informações pleiteadas pela Ufologia Brasileira, todas constantes do Dossiê UFO Brasil.
O Governo insiste em esconder
A título de exemplo desta complexa gama de atividades desenvolvidas para favorecer a abertura ufológica, podemos citar uma das pontas de ação mais recente da CBU, cujo campo de batalha desenvolve-se dentro da Câmara dos Deputados. Foi o acompanhamento da fase embrionária de dois pr
ojetos de lei (PL) que muito interessam aos ufólogos. É desta forma que entendemos estar defendendo os legítimos pleitos da Comunidade Ufológica Brasileira, assim como o reconhecimento oficial de um importante ramo do saber, cujo próximo passo é sua transformação em ciência – a ciência que estuda a presença extraterrestre inteligente em nosso planeta.
Sabemos sem a menor sombra de dúvida que esta é uma tarefa tão difícil quanto gratificante. Entretanto, é plenamente possível. Foi o que pudemos constatar recentemente, assim que adquirimos do Governo o CD gravado pelo Arquivo Nacional contendo as dezenas de casos ufológicos registrados nos anos 80. Alguns destes acontecimentos foram minuciosamente estudados pela Aeronáutica, inclusive com parecer conclusivo, fato este que, até a citada visita dos membros da CBU ao Centro Integrado de Defesa e Controle de Tráfego Aéreo (Cindacta I), em Brasília, era negado pelo órgão. Boa parte da Ufologia Brasileira sabia que a Aeronáutica escondia tais estudos. Um exemplo é o relatório da Noite Oficial dos UFOs no Brasil [Veja artigo nesta edição].
Da mesma forma, a Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU) também sabe que, de todos os casos liberados pelo Cendoc até hoje, muitos estão incompletos. Faltam a estas pastas documentos contendo pareceres que, caso não sejam conclusivos quanto à identificação da fenomenologia ufológica, são taxativos quanto à sua materialidade e tecnologia, que se sobrepõe de forma indubitável ao que se conhece da ciência aeroespacial. Certamente, as partes não divulgadas dos casos em questão foram classificadas em níveis de sigilo superiores aos das partes liberadas, notadamente nos níveis secreto e ultra-secreto, não sendo cedidos mesmo que os prazos já tenham vencido, segundo a Lei 11.111/2005.
A seriedade dos ufólogos brasileiros é o que vai lhes trazer bons frutos. Eles estão no caminho certo, e a liberação dos documentos por parte da Aeronáutica é a prova de que gozam do respeito dos militares
– Brigadeiro José Carlos Pereira
A prova mais esclarecedora desta afirmação já havia sido levantada em edições anteriores da Revista UFO, quando solicitamos novamente à Subchefia de Assuntos Jurídicos (SAJ) da Casa Civil a cobrança ao Ministério da Defesa de um esclarecimento sobre a falta de material. É escancarada a glosa de informações que, por força de lei, já deveriam ter sua desclassificação determinada, assim como seu repasse ao cidadão interessado. Neste caso específico, o material deveria ser repassado à CBU, em virtude dos pedidos contidos no Dossiê UFO Brasil. Nas cobranças referimos-nos, entre outros, à maioria dos relatórios e fotos originados pela Operação Prato, principalmente as 16 horas de filmes em formato super 8 mm e super 16 mm.
Cobramos ainda, em novembro de 2008, o reconhecimento por parte do Ministério da Defesa da posse de informações ultra-secretas, como a gerada em 1996, em virtude do Caso Varginha. Com este reconhecimento e a conseqüente convocação da Comissão de Averiguação e Análise de Informações Sigilosas (CAAIS), criada pela Lei 11.111/2005 e acionada no Dossiê UFO Brasil, objetivando a revisão desta classificação de sigilo para baixo, a CBU espera o envio desses papéis ao Arquivo Nacional tão logo seja possível. Quer dizer: é possível que, se tudo correr bem, dentro de semanas ou meses o Governo mande para o órgão público onde estão os demais documentos ufológicos, também informações pertinentes à captura de seres extraterrestres no sul de Minas Gerais.
Tal cobrança já havia sido feita no início de 2009, mas que até agora continuamos sem respostas da Presidência da República, esclarecendo se esses atos peticionados no Dossiê de fato aconteceram. Antes de uma matéria veiculada pelo jornal Folha de São Paulo, de 11 de janeiro de 2009, informando sobre os primeiros lotes enviados ao Arquivo Nacional, em 2008, e a ausência de partes e casos significativos inteiros, a CBU já havia protocolado no Palácio do Planalto um novo requerimento do material faltante. Mesmo depois de todo este tempo – já se vai quase um ano só das cobranças – o Governo não se manifestara.
Rolos de filmes desaparecidos
Não bastasse tais cobranças, em junho deste ano a revista Istoé novamente tratou do assunto, imediatamente após outro protocolo da Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU) na Presidência da República, desta feita tomando como base o segundo lote de documentos enviados em maio ao Arquivo Nacional, relativos à década de 70. Em matéria de capa, a referida publicação chegou a identificar várias testemunhas vivas das ocorrências de Colares, no Pará, investigadas pela Operação Prato, inclusive da existência das gravações. Uma delas, a pedagoga aposentada Nahima Lopes de Oliveira Gonçalves, filha do major-brigadeiro Protásio Lopes de Oliveira, comandante do I Comando Aéreo Regional, de Belém (PA), nos anos de 1977 e 1978, chegou a assistir alguns dos vários rolos de filmes que o pai trazia do quartel. Pacientemente, até o fechamento desta matéria, a CBU continua a aguardar o posicionamento da Casa Civil quanto ao reconhecimento destes fatos, a liberação do material faltante e o acionamento da CAAIS.
Outros episódios que comprovam o mesmo tipo de omissão de autoridades do Ministério da Defesa, em casos investigados pela Aeronáutica, nos remetem às transcrições de comunicações entre torres de controle e aeronaves, quando da detecção de UFOs visualmente ou através de radares. As transcrições também são comuns no último lote liberado, mas sem comprometimento quanto às opiniões dos oficiais ou pilotos civis diretamente envolvidos nos contatos com os objetos voadores. É o caso da conhecida Noite Oficial dos UFOs no Brasil, ocorrido em 19 de maio de 1986, constante nos envelopes 07 e 08. Em nenhuma das duas pastas há transcrições destas conversas, que são da maior importância para um julgamento isento da ocorrência.
Uma delas deveria conter, pelo menos, os relatórios do que viram o coronel Ozires Silva, a bordo do avião Xingu da Embraer de prefixo PT-MBZ, e seu piloto Alcir Pereira da Silva, na viagem que faziam de Brasília para São José dos Campos no horário que deu in&iacu
te;cio aos acontecimentos daquela fantástica noite. Ambos experientes pilotos, foram avisados pela estação de radar de Ferraz de Vasconcelos (SP) da presença de três plots nas proximidades de sua aeronave. Com a concordância dos centros de tráfego aéreo de São Paulo, observaram visualmente e tentaram abordar dois dos UFOs, conforme declarado pelos próprios protagonistas e também constantes dos últimos documentos enviados ao Arquivo Nacional [Veja detalhes no livro UFOs: Arquivo Confidencial, código LIV-019 da coleção Biblioteca UFO. Confira na seção Shopping UFO desta edição]
Contudo, as transcrições dos diálogos, por algum motivo, não foram reveladas. Qual seria a razão das conversas entre eles e as torres de controle – os chamados ACCs e APPs – não terem sido autorizadas, a não ser o fato delas possuírem algo mais do que informações confidenciais? Tanto na Operação Prato quanto na Noite Oficial dos UFOs, a liberação de relatórios superficiais apenas aumenta a expectativa sobre o que realmente está escondido nos arquivos do Cendoc com classificações de sigilo superiores.
De qualquer forma, não vamos perder o foco do que é nosso objetivo, ou seja, abrir todo e qualquer tipo de arquivo que contenha informações governamentais de interesse da Ufologia, não interessando qual seja seu grau de sigilo. Porque é direito do cidadão brasileiro ter acesso aquilo que está sendo negado ilegalmente pela administração pública. Mesmo Assim, por outro lado, devemos reconhecer que a ajuda recebida de vários membros e ex-membros desse mesmo Governo é de fundamental importância. Alguns até extrapolando suas competências e condições de trabalho, para que atinjamos nossos objetivos. A estes servidores da Nação, que no anonimato precisam ser mantidos para continuarem suas tarefas, vão nossos mais sinceros agradecimentos por mais este pacote de documentos históricos remetidos ao Arquivo Nacional.
O que foi liberado
Ao que tudo indica, até o momento, a década de 80 é para a Ufologia Brasileira a mais rica em volume e detalhes de dados registrados pela FAB. Nenhuma das aberturas anteriores, vindas dos militares, havia atingido as quase 800 páginas deste último. Com ela vieram pérolas de valor inestimável para os ufólogos, como a citada ocorrência de 19 de maio de 1986, em que caças Mirage e F5-E interceptaram UFOs com tecnologia de vôo surpreendentes. Outro fato de relevância descomunal na imprensa, que veio neste lote, foi o famoso e já citado Caso Vasp Vôo 169, de 08 de fevereiro de 1982. Ambos são tratados em detalhes nesta edição.
Mas as novidades não param por aqui. Duas outras constatações de relevância, sobre as quais a CBU já tinha conhecimento, puderam agora ser levantadas textualmente. Uma delas é o envolvimento da Marinha na geração e catalogação de documentos sigilosos relativos aos UFOs, quando estes ocorrem acima de superfície aquática ou surgem dela. Ou seja, mais uma evidência de que os ufólogos estavam certos quando solicitaram a abertura dos documentos às três Forças Armadas. Contudo, se já sabíamos que dados sobre discos voadores – em alguns casos objetos submarinos não identificados (OSNIs) – eram de fato existentes e tratados pela Marinha, o que não sabíamos é que o trabalho entre a força marítima e fluvial com a Aeronáutica gerou documentos em conjunto.
UFO próximo da Barreira do Inferno
O envolvimento da Marinha é um achado importante, assim como iguais pistas vindas do Exército, que estão por surgir oficialmente a qualquer momento, como fruto da pressão que a Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU) exerce sobre o Governo. Entretanto, outra descoberta tão significante quanto esta merece igual destaque nos documentos enviados ao Arquivo Nacional, ainda que em termos relativos de conteúdo estes relatórios não sejam tão impactantes. Estamos falando das primeiras informações carimbadas como documento secreto, que se encontram no envelope número 11. Suspeita-se que a inclusão desses materiais na desclassificação tenha sido feita porque os mesmos foram considerados “exagero de classificação”, segundo o jargão jurídico da área do direito que cuida do assunto. Mesmo assim, o fato da classificação secreta começar a aparecer é o que chama a atenção. Serve como alerta para a Comunidade Ufológica Brasileira, especialmente para os mais céticos, quanto ao acerto que a CBU teve ao lançar o movimento UFOs: Liberdade de Informação Já. Vamos ao conteúdo desses envelopes.
O primeiro envelope, de 1980, começa com um intrigante caso até então desconhecido dos ufólogos mais tarimbados. Trata-se de estudo pormenorizado feito pelo tenente coronel aviador Francisco José Ennemann Filho, do Departamento de Pesquisas e Desenvolvimento do Centro de Lançamento de Foguetes da Barreira do Inferno, no Rio Grande do Norte. Ele analisou um incidente envolvendo dois rebocadores marítimos, ambos da empresa particular Sea Horse, que se deslocavam da plataforma petrolífera de Ubarana, de propriedade da Petrobrás, para o porto de Natal. O estudo partiu de um telex do Terceiro Distrito Naval para a Barreira do Inferno, o que já sugere o envolvimento da Marinha. Por se tratar de contato com um UFO, o caso passou para a Aeronáutica. O mais interessante deste fato é que já no primeiro envelope de documentos se nota, ao contrário do que afirmavam oficiais do Cindacta I, que militares estudaram detidamente ocorrências ufológicas, e algumas, como demonstra este relatório, depois de exaustivos estudos, resultaram em conclusões.
Prossegue a pasta com mais três casos registrados pela FAB, além de outros documentos interessantes, como o pedido de informações a um adido militar e uma longa carta do ufólogo e professor de física Alberto Francisco do Carmo. As incidências ufológicas dessa pasta reportam um caso em Paranaguá, com quatro fotos de um objeto cilíndrico ofuscado, e outros dois ocorridos entre Brasília e Goiânia, com aeronaves de interceptação da Aeronáutica. Transcrições das conversas entre os pilotos e as torres de controle de Brasília, Anápolis e Goiânia também foram liberadas. Outras peculiaridades estão neste envelope, entre elas um convite feito ao próprio ministro da Aeronáutica, brigadeiro Délio Jardim de Matos, para participar de um encontro ufológico em Casemiro de Abreu (RJ). O curioso é que, no mapa do convite, o ponto de encontro é simbolizado com um disco voador. O ministro não foi, mas observa-se em comentários manuscritos que ele mandou representantes para “observar”.
Já o segundo envelope constante hoje no Arquivo Nacional, correspondente a 1981, denuncia a primeira prova oficial da existência e do envolvimento da Marinha na produção de documentos sigilosos sobre ocorrências ufológicas. O caso ocorreu entre o povoado de Vila Amazônia e a cidade de Parintins (AM), no Rio Amazonas, e leva o carimbo de documento confidencial do 4º Distrito Naval do Ministério da Marinha. A pasta só contém três casos, mas o segundo também merece destaque sobre o terceiro, que reportam apenas avistamentos. Relata a queda – ou submersão – de um UFO supostamente radioativo na represa de uma propriedade rural do município de Morrinhos (GO). Ao que tudo indica, a pesquisa foi em frente, com envolvimento de membros do Governo, mas sem que os resultados dela tenham sido divulgados. O caso é considerado crítico, uma vez que envolve a morte de uma testemunha por leucemia e a contaminação de outras que tiveram contato com as águas da represa. Toda a água foi retirada, e segundo as notícias dos diários da região, o UFO não foi encontrado.
Rota de colisão com UFO em Goiás
Segundo mais importante volume da década, a pasta de 1982 contém a famosa ocorrência do vôo 169 da Vasp, de 08 de fevereiro daquele ano. Não é necessário lembrar que este caso é um tesouro da Ufologia. Mas ele não veio sozinho nesse envelope. Muito pelo contrário, ele está acompanhado por pelo menos duas outras ocorrências, nos dias 09 e 10 do mesmo mês, logo depois do que foi divulgado na mídia. Dizem os relatórios deste terceiro envelope que o dia 08 começou quente no sistema gerenciado pelo então Núcleo de Operações do Comando de Defesa Aeroespacial do país (Nucomdabra), atual Comdabra. As agitações nos céus brasileiros começaram na madrugada, com UFOs em rota de colisão com a aeronave da Força Aérea Brasileira (FAB) de número 2405, já em procedimento de pouso na Base Aérea de Anápolis (GO). O APP de Anápolis registrou oito plots no radar.
Outra ocorrência reporta que, em 23 de março de 1982, o APP-AN foi novamente visitado por um UFO branco-prateado, que apresentou-se exatamente quando um avião F-103 fazia evoluções naquela base, em comemoração às mil horas de vôo de um capitão-aviador Elizeu. O caso gerou um relatório ordenado pelo coronel-aviador José Elislande Baio de Barros, contendo interessantes detalhes sobre a observação. Mais um relatório extremamente significativo deste envelope é identificado como Circular C-002 Min/Adm 130478, redigido pelo próprio ministro da Aeronáutica à época, Joelmir Campos de Araripe Macedo. Nele, a autoridade aborda a realidade do Fenômeno UFO, apontando sua existência em tempos que se perdem na história, seu processo de acobertamento na era moderna, após a Segunda Guerra Mundial, e o tamanho interesse despertado entre o público, os militares e a comunidade científica.
A circular diz que, conforme estudos da Força Aérea Norte-Americana (USAF), os UFOs não traziam perigo à segurança nacional e deveriam ser tratados pela NASA ou a Administração Federal de Aviação (FAA) dos Estados Unidos, numa clara alusão à sua suposta origem não terrestre. Apela da mesma forma como o fizeram os comandantes do Sioani, para a catalogação, avaliação, classificação e arquivamento das ocorrências de forma sistemática, inclusive com uma comissão avaliadora dos casos ufológicos, que se encarregaria de tratar dos acontecimentos mais significantes [Veja edições UFO 155, 156 e 158]. De certa forma, nestes termos, o documento reabre a pesquisa oficial dos UFOs pela FAB, extinta em 1972 com o encerramento das atividades do seu antecessor Sioani, com o detalhe de que, agora, este serviço deveria ser feito internamente, utilizando-se de todo aparato tecnológico das unidades do Cindacta, de forma sigilosa.
Um dos mais ricos da terceiro abertura ufológica governamental brasileira, o envelope 03 segue com vários registros, especialmente na região de Anápolis, onde se encontra um dos centros de decolagem mais ativos da aviação de caça. É como se os UFOs estivessem investigando ou até provocando reações de alerta nos militares, para ver qual a atitude da Força Aérea Brasileira (FAB). Os documentos são ricos em detalhamento das ocorrências, inclusive com desenhos das telas de radar.
Possível queda de UFO no Rio
Já a pasta ou envelope que contém os documentos do ano de 1984, que leva o número 04, começa com recortes de jornais do Rio de Janeiro noticiando a queda de um UFO metálico e cilíndrico no município de Macaé. O objeto foi encaminhado para exames periciais no Instituto Carlos Éboli. Boa parte da imprensa informou que o objeto era supostamente extraterrestre, mas não há documentos confirmando o resultado destes exames. A Força Aérea Brasileira (FAB) supõe que havia exagero na interpretação, tendo em vista que a mídia explorou demasiadamente a ocorrência.
Noutro caso pitoresco deste mesmo ano, oficiais do Serviço de Proteção ao Vôo (SRPV) do Rio de Janeiro relatam, através da análise das transcrições de diálogos com tripulações de vôos da Varig, Cruzeiro e Transbrasil, o episódio em que a reentrada de um foguete russo – conforme dados do Comando Norte-Americano de Defesa Aeroespacial (NORAD) – foi tão seriamente confundida com a invasão de um UFO na região litorânea brasileira, que motivou possíveis disparos de uma embarcação da Marinha em alto-mar. A estranheza dos relatos está exatamente neste fato. Segundo a transcrição da conversa, era do UFO que os disparos saía
m em direção ao alto, e não do mar, onde supostamente estava a embarcação da Marinha. Outro relato marcante do caso é que, em dado momento, o disco voador desaparecia e reaparecia em instantes, com alta velocidade, e que um dos pilotos envolvidos disse tratar-se de um artefato extraterrestre. O envelope segue com vários e sucintos relatos ufológicos registrados pelos militares em 1983 e em anos anteriores, conforme determinação do ministro.
A partir do envelope 05 encontramos uma seqüência enorme de relatos de civis e militares, detecções por radar e transcrições de comunicações que vão de 1983 a 1989 com uma qualidade de investigação que se aproxima do que foi desempenhado durante o período em que o Sioani esteve ativo, 1969 a 1972. São tantos os casos que abordá-los numa edição da Revista UFO seria demasiadamente fatigante ao leitor. Contudo, vale dizer que os destaques desses envelopes vão para a Noite Oficial dos UFOs no Brasil e outros episódios interessantes, como o diálogo entre as torres de controle de Brasília (ACC-BS), Goiânia (APP-GO), São Paulo (APP-SP) e Rio de Janeiro (ACC-GL), em 13 de outubro de 1984, relatando vários UFOs na Região Sudeste do país.
Há neste volume, também, um questionário oficial sobre objetos voadores não identificados, formulado em cima das novas determinações ministeriais para levantamento de dados. Além de informação sobre a interceptação, por caças da Força Aérea Brasileira (FAB), de dois UFOs na madrugada de 12 de junho de 1986 na região de Anápolis (GO), quando os pilotos e observadores em terra reportaram estar diante de objetos com incrível capacidade de vôo. E, claro, estão ali os primeiros documentos com classificação secreta, um deles novamente recomendando providências para tratamento dos dados ufológicos, desta vez com a assinatura do chefe do Estado-Maior da Aeronáutica, tenente-brigadeiro-do-ar Fernando de Assis Martins Costa. Como se vê, o Brasil nunca se descuidou de seu espaço aéreo.