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O Caso Ummo: manipulação e contatismo num enredo mirabolante

A. J. Gevaerd
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Uma das fotos da suposta nave dos ummitas, produzida com requintes técnicos para iludir ainda mais
Créditos: UFO PHOTO ARCHIVES

O Caso Ummo é o mais famoso episódio da Ufologia Espanhola, que teve ramificações na França, Chile, Portugal, Argentina e outros países. Segundo seu enredo, seres extraterrestres — que ficaram conhecidos como ummitas — teriam chegado à Terra nos anos 50 e iniciaram contatos visuais com testemunhas européias. Suas naves tinham um grande símbolo embaixo, parecido com uma letra H, que se proliferou nos círculos místicos e ufológicos, junto com mensagens alienígenas supostamente recebidas pelo contatado Fernando Sesma. Os ummitas teriam constituição física bastante semelhante à nossa e seriam provenientes da estrela Wolf 424, localizada a 14 anos-luz do Sistema Solar. Trata-se de uma anã marrom de um sistema binário — que, em tese, tornaria inviável a existência de planetas habitados em sua órbita.

Durante anos os visitantes teriam cedido textos aos seus contatados, que tratavam de temas como astronomia, física, política, sociologia, antropologia etc. Curiosamente, eram repletos de conceitos revolucionários. Os supostos ETs teriam apresentado várias novas teorias nesses escritos, em que era empregada uma linguagem científica contendo fórmulas matemáticas. Pensou-se que uma civilização avançada estaria apresentando novos conhecimentos à humanidade, o que gerou grande polêmica. Porém, tudo não passou de uma farsa com resultados nefastos e inesperados para a Ufologia, criada pelo psicólogo José Luis Jordán Peña, que na década de 50 defendia a tese de que a paranóia estava muito mais presente entre a população do que os psiquiatras da época admitiam.

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Experiência que fugiu ao controle

O psicólogo acreditava que mais de 80% da população planetária sofria de alguma manifestação paranóica e decidiu demonstrar sua teoria através de uma experiência, que fugiu ao seu controle. Era o Caso Ummo, um conto em que extraterrestres altos, loiros e amistosos teriam aterrissado na localidade de Digne, na França, e estabelecido contato com humanos previamente selecionados. Para Peña, a crença em superstições, em astrologia, discos voadores, espiritismo etc, era uma coisa só e considerada manifestação paranóica. Para provar sua tese, o psicólogo chegou a elaborar falsas evidências da ação dos ummitas, como marcas de pouso de sua nave no subúrbio de Aluche, em Madri, em 1966, fazendo com que a história fosse levada mais a sério.

José Luis Jordán Peña era meticuloso e obteve amostras de um material experimental da NASA, conhecido como fluoreto de polivinil, para incorporar à trama como se fosse algum tipo de substância extraterrestre. Também fazia parte do processo de criação do mito a fabricação de impressionantes fotografias das naves, enviadas anonimamente por Peña a jornais de vários países. As imagens foram elaboradas por Vicente Ortuño, a pedido do psicólogo, e produzidas com uma maquete de disco voador feita com dois pratos de plástico, na região de San José de Valderas, até hoje tida como hot spot para a observação de discos voadores.

“Ummologia”, a ciência dos ummitas

A sórdida e inteligente trama foi tão bem arquitetada que começaram a surgir em todo o mundo grupos e clubes de estudiosos do que já se chamava de “ummologia”, inclusive com a participação de celebridades e cientistas, como o astrofísico francês Jean-Pierre Petit. Inúmeros artigos e livros foram escritos sobre os ummitas e suas mensagens, que se alastraram pelo mundo a tal ponto que até congressos de ummologia foram realizados — o maior deles em 1971, em Barajas. Cada vez mais se evidenciava que o experimento e Peña fugiu de seu controle, o que apenas o alegrava. No entanto, em 1997, pressionando e sentindo-se culpado, admitiu a farsa através de um artigo intitulado Ummo: Outro Mito Que Deve Cair, publicado na revista La Alternativa Racional.

Porém, como tantas farsas na Ufologia, nem mesmo quando admitida por seu criador o Caso Ummo teve fim. Durante décadas os arquitetos deste conto, não apenas Peña, manipularam pessoas e grupos, num experimento que acabou chamando a atenção de agências de inteligência de vários países, que utilizaram a técnica para desacreditar o Fenômeno UFO. Até hoje, mesmo ufólogos veteranos acreditam que o episódio seja verdadeiro e se recusam a aceitar a confissão de Peña, sob a alegação de que fora coagido por forças ocultas a emiti-lo.

TÓPICO(S):
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Ademar José Gevaerd (Maringá, 19 de março de 1962 – Curitiba, 9 de dezembro de 2022) foi um ufólogo brasileiro, editor da Revista UFO, publicação do Centro Brasileiro de Pesquisas de Discos Voadores (CBPDV), entidade do qual também foi fundador e presidente. Também é director brasileiro da Mutual UFO Network (MUFON). Ele representou o Brasil no Center for UFO Studies e foi diretor para a América Latina do Annual International UFO Congress. Esteve em diversas redes brasileiras de TV, além do Discovery Channel, National Geographic Channel e no History Channel, tendo discursado em muitas cidades do Brasil e em outros 50 países, além de ter realizado mais de 700 investigações de campo dos casos de Ovnis no Brasil. Era considerado um dos maiores ufólogos do mundo, uma das personalidades máximas do Brasil nesse assunto, membro de várias associações internacionais de ufologia. Considerado um dos mais respeitados ufólogos, é conhecido por seu empenho em tentar amparar todo fenômeno ufológico com o maior número possível de provas e testes. Ainda na década de 1980, foi convidado pelo Dr. J. Allen Hynek para representar no Brasil o Center for UFO Studies (CUFOS). Gevaerd sofreu uma queda em casa, no dia 30 de novembro de 2022, vindo a morrer no dia 9 de dezembro de 2022 no Hospital Pilar em Curitiba.