Se forem verdadeiras as alegações de George Adamski, a história teria de registrar o seu nome como um dos primeiros homens terrestres desde Adão [Curiosamente, o sobrenome Adamski é um antropônimo polonês que significa Adão, Adamah, feito de barro] que estivera frente a frente com seres de outro planeta. Dele já se falou praticamente tudo, inclusive que estava sendo tutelado e subsidiado pelos serviços secretos norte-americanos — principalmente a CIA — para que, com suas narrativas extravagantes, ridicularizasse a Ufologia e desviasse a atenção do público, levando-o a achar que os discos voadores eram coisa de lunáticos. Também atribuíram a ele alcunhas como predestinado, visionário, profeta da nova era, guru, embaixador cósmico, vigarista e mistificador.
Para todos os efeitos, no entanto, Adamski compôs o estereótipo perfeito do contatado. Nascido na Polônia em 1890, emigrou para os Estados Unidos quando tinha apenas um ano e meio de idade. Serviu o Exército entre 1913 e 1919, seguindo uma carreira pouco notável como pintor de anúncios, operário de fábrica, preparador de hambúrgueres e autor de um livro de ficção científica intitulado Pioneiros do Espaço [Pioneers of Space]. Despontou para o cenário ocultista do sul da Califórnia em meados dos anos 30, fundando um grupo religioso chamado Ordem Real do Tibete e proferindo palestras sobre uma tal “lei universal” em programas de rádio. Embora não tivesse curso superior, definia-se como filósofo, estudioso e professor. Durante a maior parte e até o fim de sua vida morou em uma típica casa de classe média na costa oeste, em Palomar Gardens, na vertente meridional do Monte Palomar, Califórnia, perto da Estrada para as Estrelas, a cerca de 18 km do grande Observatório de Hale, em Mount Wilson, sede do telescópio de cinco metros de diâmetro, então o maior do mundo.
Foi naquele cenário particularmente sugestivo que Adamski teria vivido a primeira experiência pessoal com os discos voadores. Na noite de 09 de outubro de 1946, olhava para o céu como quase todos os que acompanhavam a chuva de meteoros no sul da Califórnia. Foi aí que viu “um grande aparelho escuro, parecido com um gigantesco dirigível, imóvel sobre as montanhas de San Diego”, conforme descreveu. Inicialmente pensou que se tratava de um aparelho norte-americano coletando dados científicos sobre os meteoros. Mas “o aparelho deslocou-se rapidamente no espaço, deixando uma esteira luminosa que permaneceu visível por uns cinco minutos”, emendou. Surpreendeu-se depois ao ouvir, pelo rádio, a notícia de que um aparelho em forma de charuto, de origem desconhecida, havia sido visto por milhares de pessoas em San Diego.
Invasão de UFOs na Califórnia
A partir de então, Adamski passou a perscrutar contínua e obcecadamente os céus com seus dois telescópios de reflexão newtonianos [Um de 16,5 cm e um de 41 cm]. Porém, só em agosto de 1947 — logo após as primeiras notícias da Era Moderna dos Discos Voadores, inaugurada em 24 de junho com o avistamento do piloto civil Kenneth Arnold — é que seria recompensado. Em uma noite de sexta-feira, assistiu, junto com mais quatro pessoas, a uma “parada de 184 bolas luminosas que surgiram de leste para oeste, em fila indiana, em grupos de 32”. No dia seguinte, dois cientistas do Observatório de Palomar passaram pelo restaurante Palomar Gardens, do qual Adamski era gerente, e lhe perguntaram se avistara o fenômeno — ele respondeu que sim e mencionou o número de objetos calculados. Os cientistas confidenciaram-lhe então que o total na verdade superava 200, o que o animou a continuar suas observações.
Por anos a fio, dia e noite, George Adamski gastou todo o seu tempo livre disponível vigiando os céus, mas até a primavera de 1951 não fez grandes progressos e obteve somente algumas fotos pouco convincentes de pontos luminosos. No verão de 1951 e no transcorrer de 1952, entretanto, “parecia haver mais objetos em movimento, como se navios do espaço estivessem se aproximando mais frequentemente da Terra”. Nesse período tirou mais de 500 fotos e umas 12 de aparelhos em forma de charuto e de discos luminosos, enviando uma coleção delas à Base Aérea de Wright-Patterson, da Força Aérea Norte-Americana (USAF). Nunca lhe forneceram um parecer. “Se aqueles aparelhos não eram discos voadores e sim armas secretas dos Estados Unidos, por que eles não me fizeram parar com as fotos?”, indagava Adamski, com insinuações de que ele mesmo as tivesse fraudado. A máquina que usava era uma Hagre-Dresden Graflex acoplada ao telescópio. Observava o céu pelo outro visor do telescópio e, quando via algo estranho, simplesmente apertava o disparador.
Devido a um evento incrível — real, inventado ou ambos —, Adamski granjeou fama mundial e gratidão dos cultuadores de UFOs, interessados em soluções simples e fáceis. Em 20 de novembro de 1952, uma quinta-feira, ele e seis companheiros se dirigiram ao deserto californiano imbuídos do propósito de entrar em contato com um disco voador e seus ocupantes. Acompanhavam-no a secretária Lucy McKinnis, e a proprietária do Palomar Gardens, Alice K. Wells. Na estrada perto de Blythe, às 08h00 se encontraram com Alfred C. Bailey e George H. Williamson, ambos do Arizona, e suas respectivas esposas, igualmente chamadas Betty. Todos se interessavam por discos voadores e, como Adamski, haviam assistido aos surtos daqueles misteriosos engenhos no céu norte-americano.
Seguindo impulsos e sensações
Na cidadezinha de Blythe — perto da qual, curiosamente, acham-se gravadas no solo gigantescas imagens de homens e animais, lembrando Nazca, no Peru, conforme mostrou Erich von Däniken em seu livro Será Que Eu Estava Errado? — discutiram que direção tomar, consultando mapas e trocando sugestões. Seguindo seus impulsos e sensações, Adamski decidiu que seguiriam por uma estrada que passava perto de uma base aérea e centro de treinamento militar, então abandonado. Um pressentimento ou intuição o impelia nessa direção. Passaram por Desert Center e viraram à direita, tomando o rumo de Parker, Arizona. Às 11h00 pararam à margem da estrada — reinava o silêncio e a quietude, só interrompidos de vez em quando pelo vento. O céu outonal estava limpo e claro, quase sem nuvens. Williamson demorou-se um pouco estudando o solo que ali não era arenoso, como normalmente é no deserto, mas cheio de pedras de origem vulcânica de variados tons e tamanhos.
Ao meio-dia um avião bimotor os sobrevoou, atraindo momentaneamente suas atenções. Não demorou para que suas cabeças se voltassem novamente ao céu. A grand
e altura surgiu um charuto prateado, silencioso. Com os dois binóculos que portavam, viram que era alaranjado na parte superior. Williamson, que servira na Força Aérea durante a Segunda Guerra, notou uma marca escura, talvez uma insígnia, mas totalmente diferente de qualquer uma que conhecesse. A essa altura, Adamski estava convicto de que entraria em contato com os tripulantes do aparelho. Com Lucy e Bailey, partiu no automóvel, recomendando aos restantes que não arredassem pé. Rodaram mais ou menos uns 800 m até que Adamski resolveu saltar, mandando os amigos regressarem ao ponto de partida e ficarem junto com os demais observando os acontecimentos a distância. Conta ele:
“O navio do espaço estava parado quase acima do local de onde eu me achava. Menos de cinco minutos depois houve um clarão no céu e quase instantaneamente surgiu um belo e pequeno aparelho circular que desceu silenciosamente sobre duas ondulações do terreno, cerca de 800 m adiante. Ao aterrar, a parte superior ficou visível. Rapidamente, sem tempo de focalizar direito, bati as sete chapas que restavam”.
Uma das máquinas estava fora de foco e a outra enguiçou — Adamski só salvou uma foto indistinta. De súbito, um homem apareceu entre as ondulações do terreno, fazendo sinais para que se aproximasse. Ao chegar perto, suas roupas e seus cabelos chamaram, de pronto, sua atenção. As calças pareciam com aquelas usadas pelos esquiadores. Os cabelos eram longos, esparramando-se sobre os ombros. Ele era mais baixo do que Adamski e aparentava ter uns 28 anos. Sua atitude e expressão eram francamente amistosas. Estendeu a mão, mas não apertou a de Adamski quando ele a estendeu. Apenas pressionou levemente a palma de sua mão contra a dele — a pele da mão era firme e morna, delicada como a de um recém-nascido, os dedos eram longos e finos.
Um ser quase andrógino
Com roupas apropriadas, aquela criatura se passaria por uma bela mulher da Terra. Mas Adamski teve a certeza de que se tratava de um homem. As maçãs do rosto eram salientes e o nariz, grosso. A testa era larga e os olhos cinza-esverdeados, ligeiramente puxados. Quando sorriu, Adamski pôde notar os seus dentes, brancos e perfeitos. A pele, lisa, acetinada e imberbe, parecia tostada pelo Sol. Os cabelos eram loiros, cor de areia. A roupa, de uma só peça marrom, parecia confeccionada de um tecido muito fino — Adamski não viu botões, costuras, bolsos ou zíperes. Uma faixa marrom-dourada contornava sua cintura e suas calças estavam presas nos tornozelos por faixas semelhantes. As botas avermelhadas eram de um material tão fino e leve que o homem podia notar o contorno e os movimentos de seus pés, como se estivesse descalço.
O contatado sentiu-se como uma criança diante daquele ser superior que emanava uma espécie halo luminoso. Perguntou-lhe de onde vinha e o viu balançar a cabeça como se dissesse que não compreendia. Adamski apontou então para o Sol, traçou uma órbita no ar e disse “Vênus”. Traçou outra órbita indicando para baixo e disse “Terra”. O ser do espaço sorriu, apontou para o Sol, descreveu um círculo no ar e apontou para si próprio. Adamski perguntou: “Vênus?” Ele sorriu e repetiu a palavra. Sua voz era fina como o de um rapaz na puberdade. Com gestos e quadros mentais, Adamski indagou por que tinha vindo à Terra. E assim ficaram a tentar uma conversação. Pelo que o contatado entendeu, sua missão era pacífica — a radiação das bombas atômicas estava afetando o espaço exterior e fatalmente provocaria uma catástrofe na Terra.
O aparelho deslocou-se rapidamente no espaço, deixando uma esteira luminosa que permaneceu visível por uns cinco minutos. Depois surpreendeu-se ao saber que um aparelho desconhecido havia sido visto em San Diego
A viagem interplanetária era feita no aparelho alongado, do qual eram lançados os discos — os maiores eram pilotados e os menores, remotamente controlados, levavam aparelhos de observação. As naves se moviam aproveitando a força magnética. Os habitantes de Vênus se encontravam em estágio muito superior de evolução material e principalmente espiritual. Assim sendo, viviam mais perto do Criador. Soube ainda que as naves avistadas não vinham só de Vênus, mas também de planetas do nosso Sistema Solar e de outros sistemas estelares. E por que eles não faziam contato oficial conosco? Adamski compreendeu que a humanidade não estava suficientemente madura para tanto. Revolucionariam a ciência, a religião, os costumes, enfim, todos os setores, provocando um desequilíbrio geral. Por outro lado, homens da Terra são levados por eles a outros planetas, voluntariamente, e seres do espaço descem à Terra para estudar nossos costumes.
Chocadeira de ovos
Com roupas iguais às nossas e documentos forjados, espiões interplanetários andariam tranquilamente por nossas ruas, alertou Adamski. Eis a razão de não se deixarem fotografar — se seus traços característicos fossem revelados, seriam facilmente reconhecidos. “Muitos planetas são habitados por seres semelhantes a nós, variando apenas em tamanho, cor de cabelo e pele”, disse em seu livro. Ele se encaminhou de volta ao disco e Adamski o seguiu. O venusiano chamou a atenção para as estranhas marcas deixadas pelos seus sapatos no solo. Williamson, posteriormente, faria moldes dessas marcas. O disco, brilhante e translúcido, parecia mais um sino do que um disco. Adamski distinguiu vultos se movimentando dentro dele. Não estava pousado e sim flutuando a uns 50 cm do solo. Refletia os raios solares como um diamante esfumaçado. A cúpula era escura, com um anel dentado sustentando-a. Acima dela havia uma esfera, que nas fotos aparece na forma de um anel.
Através das vigias transparentes Adamski viu outra face, semelhante à do primeiro. Este lhe advertiu para que não chegasse muito perto do aparelho. O contatado o desobedeceu e, quando seu ombro direito se aproximou da superfície do disco, seu braço foi violentamente lançado contra o seu corpo. Por precaução, o venusiano tomou um dos negativos que Adamski guardava em seu bolso, prometendo que um dia o devolveria. Perguntou se podia entrar no disco e ele o fez compreender que no futuro isso seria possível. Quando o disco se elevou, Adamski notou que dois anéis da parte inferior giravam em direção contrária ao de outros dois. E, tão silenciosamente quanto tinha vindo, desapareceu no espaço. O seu encontro com o venusiano durou cerca de uma hora.
Os seis colegas prestaram declarações juramentadas em um tabelião, confirmando a narrativa de Adamski, o contatado mais publicado, discutido, contestado e acreditado da história da Ufologia. Aqui no Brasil, o repórter João Martins, da extinta revista carioca O Cruzeiro, entrevistou-o no início de agosto de 1954, dois anos depois do incidente no deserto. E, desde então, muitos outros fatos tinham se sucedido. Segundo Adamski, o venusiano teria cumprido a palavra — sobrevoara a sua casa em 13 de dezembro de 1952 e jogara de volta a chapa fotográfica que, revelada, apresentou, em vez da imagem registrada, uma série de estranhos sinais. Nessa ocasião, Adamski tirou as mais espetaculares fotos de um disco voador — na verdade, de uma maquete montada a partir de uma chocadeira de ovos, como ficou patente — até então jamais obtidas. No período de um ano e meio, bateu mais de 700 chapas. Desse total, somente 12 saíram nítidas. Adamski teria tido também mais nove contatos pessoais com os venusianos, sendo que em dois deles o deixaram entrar na nave interplanetária. Captou vários detalhes e fez desenhos minuciosos do seu interior.
Inversão do eixo da Terra
Segundo o contatado, os homens e as mulheres de Vênus apresentam poucas diferenças físicas. Alimentam-se de vegetais concentrados e bebem uma água mais pesada do que a nossa, embora possam comer e beber o mesmo que os terráqueos. Alertaram que as explosões nucleares estavam afetando as linhas magnéticas e os demais planetas do Sistema Solar. Se não parassem, a inclinação do eixo da Terra sofreria uma inversão total, o que acarretaria dilúvios, terremotos, maremotos etc. Por essa razão andavam nos vigiando e, se chegássemos a um ponto crítico, interviriam — mas a única arma que portavam era uma que disparava um raio paralisante, não letal. Captavam nossas transmissões de rádio e televisão e possuíam bases na Lua.
Primeiro de uma série de indivíduos que relataram sem empecilhos experiências pessoais com discos voadores, Adamski alcançou sucesso imediato no circuito discológico. Os dois livros que escreveu, Os Discos Voadores Aterrissaram [Flying Saucer Have Landed], em parceria com o ufólogo inglês Desmond Leslie, em 1953, e Dentro das Naves Espaciais [Inside the Space Ships], continuação do anterior, se tornaram bestsellers. Ele percorreu os Estados Unidos proferindo palestras e conferências em que brindava crentes e fanáticos com pitorescas descrições dos encontros mantidos — alguns dos quais em bares e cafés de Los Angeles — com os “irmãos do espaço”, como ele os chamava, e concedendo uma série de entrevistas às emissoras de rádio e televisão. O seu terceiro livro, lançado em 1961, chamou-se Adeus aos Discos Voadores [Flying Saucers Farewell].
Com roupas iguais às nossas e documentos forjados, espiões interplanetários andariam tranquilamente por nossas ruas. Eis a razão de não se deixarem fotografar, pois se seus traços fossem revelados, seriam facilmente reconhecidos
Em sua obra Pour ou Contre les Soucoupes Volantes [Prós e Contra os Discos Voadores], o ufólogo francês Aimé Michel não perdoou o ilustre fantasista, acusando-o abertamente de ter servido como ponta de lança na campanha de desinformação e ridicularização governamental: “Pela soma fabulosa de absurdos reunidos nesses livros e sua evidente invenção, não obstante a semelhança estudada com os fenômenos relatados pelas testemunhas presumidas de boa-fé, ninguém no mundo fez mais que Adamski para desacreditar o problema, para convencer a todos de que só se trata no caso de histórias de loucos e para desencorajar qualquer pesquisa séria […] Ninguém no pequeno mundo ufológico jamais teve tão sólida reputação de charlatão e mentiroso. O balanço de sua ação ultrapassa de longe, e no mesmo sentido, tudo o que puderam fazer o Painel Robertson e o Comitê Condon, mas com menores despesas”.
Enterro com honras de herói
Entre suas viagens mais espetaculares, conta-se que George Adamski fez uma visita à rainha Guilhermina e ao príncipe Bernhard, da Holanda, ocasião em que, junto com alguns professores universitários, debateram a questão da vida em outros planetas. Regressaria à Europa anos mais tarde e, entre suas novas alegações, contaria que em 31 de maio de 1963 fora recebido para uma conversa particular com o papa João XXIII — encontro que o Vaticano nunca confirmou. Nos últimos meses de vida, andava obcecado em terminar um tratado de filosofia cósmica e divulgar o estabelecimento de uma colônia de venusianos em um local secreto dos Estados Unidos. Por fim, faleceu em 23 de abril de 1965, aos 74 anos de idade, em decorrência de problemas respiratórios. Seu funeral foi feito à custa do estado, no Cemitério Militar de Arlington, em Washington, reservado às autoridades governamentais e militares e onde repousam os heróis de guerra norte-americanos.
Sobre este fato, Aimé Michel indagou: “Por que um charlatão no cemitério dos heróis? Diz-se que Adamski havia lutado na guerra. Mas todos os antigos combatentes repousam em Arlington?” Na edição de 16 de outubro de 1954 de O Cruzeiro, o citado Martins reportou sua presença em uma das tantas convenções de discos voadores realizada no Monte Palomar, a 250 km ao sul de Los Angeles. Por volta de mil pessoas se reuniram ao ar livre, em uma clareira aberta na floresta a mais de dois quilômetros de altitude, defronte à rústica hospedaria denominada Skyline Lodge. A plateia era a mais variada possível: jornalistas nacionais e estrangeiros, policiais, agentes do FBI, cientistas, técnicos em aviação e foguetes, testemunhas de aparições de discos, simples curiosos etc. Havia os que acreditavam piamente em tudo, os que avaliavam com rigor e os que tendiam para a descrença — os mais fanáticos encaravam as palestras como pregações religiosas que anunciavam um novo tipo de misticismo.
Aquela reunião se estendeu por dois dias — 07 e 08 de agosto — e deve-se frisar que não foi promovida pelos cientistas do Observatório, como se disse na época, mas pelos próprios contatados. Os astros do espetáculo
foram, além do próprio Adamski, Truman Bethurum e Daniel Fry que, a exemplo e na esteira do primeiro, também alegaram ter mantido contato direto com os tripulantes dos aparelhos interplanetários. Enviado especial aos Estados Unidos para cobrir o evento, ponderou Martins: “Verdadeiras ou não, todas as narrativas eram altamente construtivas. Giravam em torno de seres de outros mundos muito mais civilizados do que o nosso, seres altamente evoluídos que transmitiam mensagens de paz e davam novas esperanças a esta nossa humanidade que está se afogando em ódios, lutas sangrentas, incompreensões, ignorância e intolerância. Adamski, Bethurum e Fry falavam como profetas de uma nova era, como homens que tivessem entrevisto um mundo melhor e se esforçassem para catequizar os seus semelhantes”.
“Venusianos disfarçados na Terra”
Ao entardecer do primeiro dia da reunião, assinalou Martins, “surgiram nas redondezas uma mulher e dois homens de aspecto estranho. Realmente estranho. Ninguém sabia como tinham vindo nem quem eram. Começou a correr o boato de que eram venusianos disfarçados. Um deles estava de óculos, o que era atribuído a um requinte de caracterização”. Martins os abordou e lhes perguntou, sentindo-se um tanto ridículo, se eram ou não de Vênus — a mulher sorriu e respondeu calmamente que não. Ele voltou a indagar a estranha: “Você acha que eles são de Vênus?”. E ela afirmou enigmaticamente: “Sim, eles são de Vênus”. O repórter pediu-lhes que fornecessem seus nomes, endereços e profissões, e eis o que recebeu: a mulher era Dolores Barrios, desenhista de vestidos, e os homens eram Donald Morand e Bill Jarmarkt, músicos residentes em Manhattan Beach, Califórnia. Sobre isso, vejamos o que mais escreveu João Martins em O Cruzeiro:
“Todas as respostas e informações eram lacônicas, vagas, precedidas de uma ligeira pausa, durante a qual os três se entreolhavam silenciosamente. E só a mulher falava. Eram de fato muito esquisitos. Fotografei-os na manhã seguinte, bem cedo. Depois disso, não foram mais vistos. Deixaram um halo de mistério, uma suspeita que qualquer pessoa, friamente, achará absurda. A semelhança da mulher com o ‘venusiano’ desenhado por Adamski era realmente marcante. Em todo caso, e embora eu ache que eles são tão terrenos quanto nós, aqui fica o registro e as fotos, a título de curiosidade. Adamski, aliás, também negou que eles fossem outra coisa senão ‘comediantes’ que tentavam espalhar confusão”.
A propósito, o ufólogo e amigo pessoal de Martins, Fernando Cleto Nunes Pereira, em entrevista concedida a este autor e ao jornalista, escritor, explorador e ufólogo Pablo Villarrubia Mauso em seu apartamento no Rio de Janeiro, confirmou que na noite de 31 de dezembro de 1954, conforme descreve em seu livro Sinais Estranhos [Biblioteca OVNI Documento, 1980], viu uma mulher idêntica a Dolores Barrios no saguão de espera do Cine Metro, em Copacabana, quando ali se encontrava em companhia da esposa no aguardo do início da sessão das 21h00 do filme Rapsódia.
As considerações finais de Martins a respeito de Adamski são interessantes. Ele disse que sua história, verdadeira ou não, era fascinante e tinha um conteúdo filosófico elevado. Que era uma mensagem de tolerância e de paz, um apelo para que cessem as guerras e as destruições, um brado de alerta contra as loucuras que os homens sensatos e realistas andavam praticando pelo mundo. “Somente isso bastaria para justificá-la. Aliás, Adamski fala como um homem que vislumbrou um mundo melhor e se esforça para transmitir aos outros o que percebeu”. Mesmo assim, a sinceridade e veracidade de praticamente todas as alegações do contatado foram postas em cheque.
Eles nunca pousaram, na verdade
Por exemplo, Jerrold E. Baker, antigo secretário e motorista de George Adamski, denunciou a farsa, preparada com antecipação, do encontro dele com o tripulante do suposto UFO no deserto californiano. A revista britânica Two Worlds publicou na edição de 22 de janeiro de 1955 o artigo O Mistério dos Discos Voadores Adensa-se: O Encontro de Adamski com o Venusiano Previamente Preparado, que expunha as cartas escritas por Baker a Desmond Leslie e James W. Moseley. De acordo com Baker, as seis testemunhas presentes no encontro de Adamski não eram fidedignas. No artigo citava-se o livro Não Pousaram na Terra os Discos Voadores Afinal de Contas [Flying Saucers Haven’t Landed After All], de Hugh Randall-Stevens. Adamski não se defendeu das acusações, mas Leslie as rebateu em uma carta que a Two Worlds publicou em 13 de novembro.
O ufólogo Hugo Rocha, em seu livro O Enigma dos Discos Voadores ou a Maior Interrogação de Nosso Tempo [Editorial Lisboa, 1959], inclinado a dessacralizar Adamski, defendeu que este não passava de um “inocente útil” na mão de hábeis farsantes que encenaram teatralmente os aludidos contatos, ingenuamente acreditados. “Tenho de confessar, francamente, que não aceito sem reservas o que este refere nos livros. Não que o tenha por vítima de uma alucinação ou o considere mistificador sem escrúpulos. É tão espantoso, no entanto, o que Adamski narra e tão inverossímil a entrevista que teve com o tripulante do disco voador que todas as dúvidas são lícitas”, disse Rocha. Ele completou dizendo que tudo aquilo, porém, não impedia que George Adamski tivesse sido joguete. “Hoje estou convencido de que ele pode ter sido um mistificado, mas não deve ter sido um mistificador”.
Verdadeiras ou não, as narrativas de Adamski eram altamente construtivas. Giravam em torno de seres de outros mundos mais civilizados do que o nosso, seres evoluídos que transmitiam mensagens de paz e davam esperanças à humanidade
Todos os contatados conhecidos, a começar por Adamski, tanto prejudicaram quanto ajudaram a política de acobertamento ufológico da Força Aérea Norte-Americana (USAF). Eles prejudicaram o tema ao gerar publicidade sobre os discos voadores e ajudaram ao envolver o assunto em uma aura de absurdo, diminuindo a pressão para que o governo levasse os UFOs a sério — daí as suspeitas de que tivessem sido convenientemente manipulados por militares e agências de espionagem. Ou seja, se já era difícil para a maioria das pessoas relatarem o aparecimento de objetos estranhos no céu, agora mais ainda, pois precisavam estar preparadas para as piadas sobre homenzinhos verdes. O major Donald Keyhoe, pioneiro da Ufologia Mundial, por exemplo, ficou atônito e revoltado com a persistência dos contatados em granjear publicida
de — que, em sua opinião, devia ser concedida aos pesquisadores legítimos de UFOs. Keyhoe não conseguiu inverter a situação porque o público não distinguia as declarações do grupo chefiado por Keyhoe, o National Investigations Committee on Aerial Phenomena [Comitê Nacional de Investigações de Fenômenos Aéreos, NICAP], das dos grupos místicos que referendavam qualquer tolice.
Uma decepção aguardada
Procurar publicidade — e receber — foi o que Adamski fez extraordinariamente bem, acabando por influenciar novos contatados, como os citados Truman Bethurum, Daniel Fry, Cedric Allingham, entre outros, além de mentores de seitas ufológicas. O disco voador do tipo Adamski tornou-se um ícone, um objeto de adoração, servindo de modelo para muitos tipos de naves que viriam a seguir. Em termos definitivos, ficou estabelecido de modo patente que o disco de Adamski não passava de uma chocadeira das mais comuns, com todas as suas partes acessórias identificáveis. Conforme as palavras do ufólogo francês Henry Durant, “era apenas a lanterna de um pavilhão de criadeiras artificiais, munido em sua parte superior de um bico de mamadeira, e na base com três bolas de pingue-pongue à guisa de aterrissadores!”
Um último ponto interessante a destacar sobre Adamski se refere ao desenho de uma escrita pictográfica que o explorador francês Marcel Homet — tido como notório fraudador de peças arqueológicas — alegou ter encontrado no final da década de 40 durante uma expedição à procura de uma colônia atlante na Região Amazônica e que fez questão de estampar em seu livro Os Filhos do Sol: Nas Pegadas de uma Cultura Pré-Histórica no Amazonas [Editora Ibrasa, 1958], ou seja, depois dos contatos de Adamski. Examinando o desenho, no entanto, notamos que a tal escrita não passa de uma farsa de outra farsa, pois nada mais é do que a marca das solas das botas na forma de sinais desconhecidos que o venusiano teria deixado impresso no solo do deserto californiano por ocasião do primeiro encontro com o contatado.