Em nosso país, talvez com menor incidência, ou simplesmente devido à maior discrição e hesitação em falar sobre suas experiências, pessoas envolvidas com o Fenômeno UFO também têm sido assediadas por estranhos emissários, os chamados Men in Black [Homens de Preto, MIBs]. Eles não deixam claro sua origem, mas podem ser tão assustadores quanto seus colegas nos Estados Unidos. Grande parte da casuística ufológica brasileira envolve contatos próximos com naves de procedência desconhecida, objetos insólitos pousados, interferência em equipamentos eletro-eletrônicos, efeitos físicos no ambiente ou em pessoas e animais e até a aparição de tripulantes dos UFOs. Ufólogos brasileiros, norte-americanos, franceses, argentinos, espanhóis, portugueses, entre outros, concordam que o Brasil é uma fonte rica de pesquisa ufológica, considerando-se os numerosos casos que proliferam por todo o Território Nacional, muitos dos quais dignos de estudo, respeito e credibilidade.
Não se encontram, no entanto, tantos relatos envolvendo ameaças por parte de agentes desconhecidos – governamentais ou não – a testemunhas de avistamentos ou contatos. Pode haver mais de uma explicação para isso. Se houve ou há no Brasil tantos casos de perseguição e assédio a testemunhas e pesquisadores de UFOs, quanto se relata nos Estados Unidos e outros países, o fato de não ouvirmos com freqüência essas histórias pode indicar que o alerta feito por eles foi tão eficiente que as pessoas visitadas se calaram definitivamente a respeito de sua experiência ufológica, ou pelo menos de parte dela – a que trata do encontro com as visitas ameaçadoras e indesejáveis.
Testemunhas de UFOs — O silêncio também pode ser atribuído à ingenuidade de pessoas que viram “algo diferente”, sem ter noção da magnitude de um possível contato com seres extraterrestres, e que, procuradas por um agente de atitudes formais e até gentis, que lhes perguntariam sobre sua experiência, não interpretariam a interpelação como ameaça. No caso de um repórter ou ufólogo descobrir a história e procurar a testemunha para uma entrevista formal, tal indivíduo nem se lembraria de ter narrado o fato anteriormente, ou o mencionaria apenas. Seja como for, a menor incidência de relatos de encontros com homens de preto ou agentes desconhecidos abordando testemunhas de UFOs no Brasil não significa que eles não aconteçam. E de qualquer forma, é possível que pesquisadores sérios, tanto em nosso país como no exterior, disponham de dados que, até o momento pelo menos, nos escapam.
Há, contudo, um caso interessante ocorrido no início da década de 50, no Rio de Janeiro (RJ), que lembra em muito os incidentes mais bizarros relatados nos Estados Unidos envolvendo assédio a uma testemunha de ocorrência ufológica. Divulgado em 1973 e investigado pela ufóloga professora Irene Granchi, o caso envolve vários elementos sensacionais que, às vezes, intrigam os ufólogos mais respeitados e podem deixar em dúvida até os mais liberais. Dona Irene, porém, se convenceu da sinceridade da testemunha. Algo realmente inusitado aconteceu a esse homem, que aqui chamaremos de senhor E, que até o dia de sua aventura nunca tinha dado atenção a fenômenos insólitos de espécie alguma, muito menos envolvendo discos voadores. No início da referida década – segundo a testemunha, entre 1952 e 1954, o que não se lembrava com certeza –, o senhor estava em frente à casa dele tentando consertar seu carro. Ele entrou na garagem para buscar mais ferramentas e quando voltou, por acaso, olhou para o céu.
Eram 23h00 de uma noite bonita, o céu estava limpo e a lua brilhava. De repente, o senhor viu um objeto que parecia descer. A princípio, lhe pareceu um avião, mas quando se aproximou um pouco mais, ele percebeu que o formato era diferente de qualquer artefato que conhecia. O UFO, então, pareceu estacionar no espaço e ficou pairando no local por algum tempo. O senhor quis gritar para chamar alguém, mas não conseguiu emitir um único som. Nervoso, segurou com tanta força as ferramentas que se cortou. Depois de algum tempo, enquanto o objeto ainda estava no céu sobre sua cabeça, ele conseguiu gritar, chamando a mulher e a sogra, que estavam na cozinha terminando alguns preparativos para uma festa no dia seguinte. O objeto, então, balançou um pouco, sem sair do lugar. Era redondo, de cor cinza ou grafite, e sua parte inferior parecia envolta por uma espécie de nuvem ou fumaça colorida. Além disso, o fundo parecia fosforescente e mudava de cor, de azul-violeta para verde.
Perseguição e compulsão — De repente, para surpresa da testemunha, o UFO brilhou, mudou de posição e partiu a velocidade espetacular. As duas mulheres só viram uma nuvem estranha se movendo no céu. No dia seguinte, o jornal O Globo publicou uma matéria sobre um disco voador avistado no alto do Pão de Açúcar fazendo manobras acentuadas e desaparecendo no horizonte. O senhor E contou à professora Irene Granchi que a partir daquele dia sua vida sofreu uma reviravolta, tantos foram os acontecimentos estranhos que sucederam à experiência ufológica. Até então, era um tranqüilo chefe de família, casado, com os filhos já adultos e nem um pouco desejoso de ver seu nome associado a histórias fantásticas. Tanto que a ufóloga omite o nome dele no livro UFOs e Abduções no Brasil [Novo Milênio Editora, 1991], em que conta o caso em detalhes. Um mês após ter visto o disco voador, o senhor E aguardava, debaixo de chuva, um táxi. Enquanto esperava, passou por ele um homem usando capa de chuva e chapéu escuros. O desconhecido se virou para o senhor E e o encarou. Instantes depois, um amigo seu passou de carro pelo local onde ele tentava pegar um táxi e lhe deu carona. Chegando ao destino, para sua total surpresa, o senhor E viu o mesmo homem de capa escura, desta vez parado na rua e olhando para ele do mesmo modo intrigante. Ficou tão assustado que um senhor, que passava pelo local, lhe perguntou se estava se sentindo bem. Estava muito pálido. Como o homem de preto poderia ter chegado tão rápido a pé, e por que estaria parado como se o estivesse esperando descer do carro do amigo, que aliás dirigira muito rápido? Ao voltar para casa, mais tarde, ele resolveu não pensar no assunto, achando que talvez estivesse fazendo uma tempestade em copo d’água. Alguns dias depois desse episódio, o senhor E saiu de carro para ir comprar cigarros num bar não muito longe de casa. Ele não sabe explicar como, mas sentiu um impulso de tomar outro rumo, e dirigiu até o outro lado da cidade, no Leblon. Estava consciente, mas era como se não tivesse o controle do volante. Quando se viu voltando para casa novamente, ele não se lembrava do que tinha feito, nem de como saíra do local.
e Vilela
Tinha a sensação, porém, de haver se encontrado com uma pessoa. Passados mais alguns dias, desta vez à noite, teve o mesmo impulso de sair de carro. Ao parar em determinado local, ele viu o mesmo homem que o seguira naquele dia chuvoso. Estava com o mesmo chapéu e a capa escura. Observou bem o rosto do indivíduo, conforme relatou à professora Irene, que o desconhecido tinha olhos grandes, mas sem canais lacrimais. Nesse terceiro encontro com o estranho homem, este se aproximou da janela do carro, chegando bem perto, o que lhe permitiu ver os traços acima descritos. O senhor E então tirou do bolso uma caneta, com a intenção de escrever alguma coisa, mas não se lembrava mais do quê. Nesse instante, sentiu um calor muito forte no rosto e na mão que segurava a caneta. Deve ter perdido os sentidos, pois quando deu por si o desconhecido tinha ido embora, seu rosto estava um pouco queimado – ele ficou com uma cicatriz por algum tempo –, e a tampa da caneta apresentava uma espécie de buraco, como que feito por queimadura, perfeitamente circular.
Segundo a professora, a caneta foi posteriormente analisada pela Société Belge d’Etudes des Phénomènes Spatiaux [Sociedade Belga de Estudos de Fenômenos Espaciais, Sobeps], que tentou reproduzir o furo em outras canetas semelhantes, mas sem sucesso. A pesquisadora acrescentou ainda que tentou convencer o senhor E a se deixar hipnotizar pelo doutor Silvio Lago, mas ele se recusou. Lago, médico, parapsicólogo e ufólogo, era especialista em regressão hipnótica em abduzidos por UFOs. Como podemos interpretar o caso do senhor E? Será que um homem que nunca sofrera de alucinações de uma hora para outra começaria a ver coisas, seres estranhos perseguindo-o, depois de ter avistado um UFO no céu? Será que o próprio UFO foi uma alucinação? Muito improvável. Seu relato sobre o objeto não difere de muitos outros, ocorridos no Rio de Janeiro ou em várias outras cidades do Brasil e do mundo. Ainda que ele tivesse delirado ao ver o estranho homem de preto em mais de uma ocasião, o que teria causado a queimadura no rosto e na caneta? Parece que temos, isto sim, um relato autêntico de um caso de assédio por parte de um agente alheio ao nosso ambiente a uma pessoa que viu um UFO. Nesse incidente, o MIB não falou com a testemunha – pelo menos não que ela se lembre –, e não pareceu, como na maioria dos encontros semelhantes ocorridos nos Estados Unidos [Veja matéria nesta edição], ameaçar nem tentar coagi-la a se calar sobre o que viu.
MIB no Caso Varginha — Se acreditarmos, porém, que o estranho visto pelo senhor E era, não um agente governamental – pois pelo relato dele não parecia mesmo ser –, e sim um extraterrestre, talvez o termo assédio não seja apropriado. Os seres desconhecidos, possivelmente envolvidos com o disco voador avistado, estariam talvez fazendo alguma espécie de monitoramento ou experiência com o observador humano. De que tipo? Não dispomos de dados suficientes para especular. Mas é muito provável, dentro desse contexto, que o senhor E não seja o único observador de UFOs a ser vigiado.
Pouco mais de uma década atrás, outro caso de peso no Brasil, pesquisado incansavelmente por respeitadíssimos ufólogos como Ubirajara Franco Rodrigues, Marco Antonio Petit, Claudeir Covo e pelos norte-americanos Bob Pratt e Roger Leir, entre outros, também teve a marca da coação por parte de agentes desconhecidos às testemunhas: o notável Caso Varginha, ocorrido em janeiro de 1996. No livro O Caso Varginha [Código LV-08 da Coleção Biblioteca UFO. Veja seção Shopping UFO desta edição], Ubirajara Rodrigues narra que a senhora Luzia Silva, mãe de duas das meninas que avistaram uma criatura desconhecida nos arredores do Jardim Andere, Varginha (MG), posteriormente capturada por forças militares, recebeu a visita de quatro homens desconhecidos no dia 28 de abril de 1996.
Estranhas atitudes — Eram cerca de 22h00 quando bateram palmas no portão. Luzia viu pela janela um homem já se aproximando da porta, logo seguido por outros três. Os quatro indivíduos insistiram em conversar com ela àquela hora, embora ela dissesse que era tarde. Basicamente, os visitantes queriam que as meninas negassem o que tinham visto, que fossem a algum programa de televisão afirmar que haviam se enganado. Elas deveriam desmentir o avistamento da criatura, dizer que não tinham certeza de nada. Chegaram a oferecer dinheiro para a família, após comentarem com dona Luzia que sabiam das dificuldades financeiras por que passavam. Ela disse que iria pensar.
Os homens foram embora, não a deixando acompanhá-los até a rua, e aparentemente não querendo nem sequer que ela os visse entrando no carro. Não se identificaram, mas prometeram que voltariam. Sabiamente, dona Luzia procurou os ufólogos no dia seguinte e contou tudo. Não se deixou intimidar e, aparentemente, não sofreu nenhum posterior assédio agressivo. Numa noite de janeiro de 1997, voltando mais tarde do que de costume para casa, após o trabalho, dona Luzia foi seguida e abordada por um carro preto. Ela notou que além do motorista havia um homem no banco de trás. O condutor desceu, ofereceu-lhe carona e ficou olhando de modo frio para ela, até entrar no carro. Em O Caso Varginha, Ubirajara Rodrigues explica: “Com o coração disparado, começando a suar, Luzia reconheceu seu benfeitor: era o líder dos quatro visitantes de antes. O que prometera um retorno breve”. No caminho, o homem se apressou em dizer que eles já tinham se encontrado e que jamais fariam mal a ela. Ainda citando o livro de Ubirajara: “Tratava-se de um carro de passeio, grande… Ela… foi na frente, no banco do passageiro. O cidadão do banco de trás não pronunciava palavra, jamais disse algo desde o início daquele inesperado e nervoso encontro. Trajavam terno escuro, aparentemente de cor preta. Engravatados. Ambos de tez clara. Seu interlocutor… aparentava cerca de 47 anos”. Gentil, porém incisivo, o homem de preto insistiu para que, daquele momento em diante, Luzia guardasse segredo sobre a conversa dos dois, não fazendo o que fez antes, quando contou tudo aos ufólogos e à imprensa.
Novamente, ele queria que ela e as meninas de
smentissem em público toda a história a respeito da criatura avistada. Em determinado momento do trajeto, o MIB acendeu a luz interna do carro e lhe mostrou fotos de supostos ETs: um visivelmente morto, o outro provavelmente vivo. Como ela insistia em saber quem eles eram, por que queriam que mentisse, de onde vinham as fotos etc., o homem a interrompeu, dizendo: “A senhora está fazendo perguntas demais. Quem faz perguntas aqui somos nós”. Mais adiante, ele teria demonstrado uma reação um tanto hostil após Luzia ter usado várias vezes a expressão “pelo amor de Deus”. E insistiu: “Pare de falar ‘pelo amor de Deus’ toda hora”, disse o MIB. “Chega de falar ‘pelo amor de Deus’. Confie em mim!” Para se livrar dos estranhos homens, Luzia prometeu que falaria novamente com as filhas e deu ao motorista do carro o telefone da casa onde trabalhava como doméstica. Eles a deixaram um tanto longe de casa.
O encontro durou cerca de três horas. Posteriormente, ela diria aos ufólogos que nunca tinha visto gente daquele tipo em Varginha. Acrescentou ainda que pareciam homens de posição, investigadores ou pesquisadores. Ela afirmou que o interlocutor não tinha nenhum sotaque estranho, mas foi taxativa ao acrescentar que o homem sentado no banco de trás do carro nada disse nas três horas em que ela ficou na companhia deles. Não a cumprimentou quando entrou, nem se despediu quando foi embora.
Monitoramento — Se os homens de preto que abordaram dona Luzia eram agentes do governo, a próxima pergunta é inevitável: De qual governo? Estaríamos sendo paranóicos ao imaginar que agentes de uma potência estrangeira estariam monitorando as testemunhas de contatos e avistamentos de UFOs em território brasileiro? Seriam eles de origem brasileira mesmo, trabalhando, porém, para algum poderoso órgão de inteligência como a Agência de Segurança Nacional [National Security Agency, NSA], dos Estados Unidos, ou talvez um órgão equivalente, porém de alguma outra potência, quem sabe européia ou até do Oriente Médio, infiltrando-se sem dificuldade em nosso país? Tendemos a crer que tal hipótese não está longe da realidade, uma vez que não é novidade para ninguém que departamentos de segurança dos Estados Unidos e de outros países agem com menor ou maior descrição tanto no Brasil quanto em outras nações. E quando o assunto é o Fenômeno UFO, não podemos imaginar os limites do interesse de tais agências.