Desde que as primeiras experiências com o movimento de imagens gravadas em filme começaram, o sonho do ser humano com outros mundos ganhou uma representação física. Aquilo que antes era apenas imaginado, agora podia ser visto fora da mente humana — e o espaço foi, talvez, o primeiro contemplado com aquela novidade. Em 1902, foi lançado o filme francês La Voyage Dans La Lune [Viagem à Lua], com enredo baseado em dois livros de ficção científica, Da Terra à Lua, de Julio Verne e Os Primeiros Homens na Lua, de H. G. Wells, ambos muito populares à época. Foi uma revolução no incipiente cinema.
O tempo passou, o cinema cresceu e se diversificou, e muito embora hoje ninguém mais se assombre ao ver a exibição de um longa-metragem, os filmes de ficção continuam sendo a expressão máxima da futurologia científica para o grande público. Tramas envolvendo alienígenas e naves espaciais começaram a surgir nos anos 40, a maioria delas mostrando seres estranhos, cruéis, inumanos e malfeitos. Não eram filmes filosóficos, eram dramas para aterrorizar ou distrair e nada mais.
O primeiro filme sobre UFOs no qual surge um extraterrestre de aparência humana foi lançado em 1951, O Dia em Que a Terra Parou, dirigido pelo lendário Robert Wise. Nele, o iluminado alienígena Klaatu e Gort, seu robô indestrutível, pousam com um disco voador na capital dos Estados Unidos, Washington. Sua missão: alertar sobre os perigos do armamento atômico, não só para a humanidade, mas para os habitantes de outros mundos.
Com uma abordagem que, guardados os devidos parâmetros, era uma grande novidade para a época, o longa tornou-se, além de um sucesso de público e de crítica, um clássico para Hollywood, para os amantes de ficção e para os aficionados em Ufologia. Os anos 50, lembre-se o leitor, foram marcados por avistamentos e contatos de todos os tipos e o assunto discos voadores estava em todos os jornais quase que diariamente. Mas O Dia em Que a Terra Parou guarda outros segredos — e alguns talvez indiquem que mais do que entreter, Hollywood buscava ensinar e preparar as pessoas para um futuro contato.
O enredo certo
O filme começa com uma nave do alienígena Klaatu, em grande altitude, sendo monitorada pelo radar antes de pousar em um parque localizado ao sul da Casa Branca, conhecido como Elipse. Não é bem no gramado da Casa Branca, mas é perto o suficiente, e acabou por criar a popular pergunta: “Se realmente alienígenas estão nos visitando, por que eles não pousam no gramado da Casa Branca?” A resposta óbvia é que os aliens não traçam suas estratégias diplomáticas ao sabor do entretenimento de Hollywood.
Tão logo a nave de Klaatu aterrissa, ela é cercada por soldados norte-americanos já a postos, com os dedos no gatilho. O veículo se abre, Klaatu sai e anuncia: “Viemos para visitá-los em paz e de boa vontade”. Mas os militares não compram a ideia e, quando o visitante saca de seu traje de voo um dispositivo de aparência peculiar, um soldado nervoso presume que seja uma arma e abre fogo contra Klaatu, ferindo-o e destruindo o objeto que ele portava.
Em resposta ao ato de agressão, Gort, o robô humanoide de Klaatu, emite um feixe poderoso vindo de sua viseira e desintegra, sistematicamente, todo e qualquer equipamento militar em cena, para horror dos espectadores militares e civis. Gort continua suas ações defensivas até Klaatu pronunciar a frase, que se tornou icônica e já foi repetida milhares de vezes em filmes, livros e seriados: “Klaatu Barada Nikto”. Naquele momento, o robô cessa o ataque e retorna à sua posição estática inicial. Klaatu, então, explica aos militares que o objeto destruído era um presente para o presidente dos Estados Unidos: um dispositivo de visualização, através do qual o mandatário poderia ter vislumbrado as maravilhas da vida em outros planetas.
Klaatu é posto em custódia em um hospital, para curar-se do ferimento à bala, e os militares tentam descobrir os segredos de sua nave, que ainda está estacionada no parque perto da Casa Branca. Porém, seus esforços mostram-se inúteis, pois a camada de metal do UFO é totalmente impenetrável, resistindo a maçaricos de corte e às brocas de diamante. Pouco tempo depois, Klaatu escapa de seu cativeiro e decide alojar-se em uma pensão sob o pseudônimo de senhor Carpenter. É lá que o ET faz amizade com Helen Benson [Interpretada pela atriz Patricia Neal], uma viúva da II Guerra Mundial, e seu filho Bobby [Interpretado por Billy Gray]. Ambos ignoram sua origem extraterrestre.
Planeta parado por completo
Mas Quando Klaatu pergunta a Bobby quem é a pessoa mais importante na Terra, o jovem, fanático por ciência, diz que o líder norte-americano é um cientista, o professor Jacob Barnhardt [Interpretado por Sam Jaffe]. Klaatu então se encontra com o professor e lhe avisa que pessoas de outros planetas estão profundamente preocupadas com o nosso recente desenvolvimento da energia atômica e seu potencial destrutivo, tanto para a Terra, quanto para outros planetas. Klaatu diz a Barnhardt que, se sua mensagem contra o uso da energia nuclear não for considerada, “o planeta Terra será eliminado”.
Isso obriga o professor a marcar uma reunião com outros cientistas na área em frente à nave de Klaatu. No entanto, a fim de que os cientistas levassem o visitante extraterrestre a sério, Barnhardt sugere que ele antes faça uma demonstração de seu poder — assim, Klaatu promove um apagão por 30 minutos em todo o mundo, fazendo basicamente com que o planeta pare por completo.
Quando o apagão termina e os militares finalmente capturam Klaatu, ele é baleado letalmente. Gort leva o corpo de Klaatu de volta para o disco, onde Helen — já então plenamente ciente da natureza alienígena de Klaatu — observa como o alien é trazido de volta do mundo dos mortos por meio do uso de avançada tecnologia operada por Gort. O reavivamento de Klaatu é apenas temporário, no entanto. Nem mesmo sua ciência conseguiu encontrar uma forma plena de vencer a morte. Esse poder é reservado exclusivamente para “o espírito todo-poderoso”.
Envolvimento da CIA?
Na cena final do filme, Klaatu sai de seu disco e aborda os cientistas que Barnhardt reuniu à frente da nave. A cena mostra o que é considerado, até hoje, um dos discursos mais memoráveis do cinema: “Eu partirei em breve e vocês me perdoem se eu falar sem rodeios. O universo fica menor a cada dia e a ameaça de agressão por qualquer grupo, em qualquer lugar, não pode mais ser tolerada. Deve haver segurança para todos, ou ninguém estará
; seguro. Não é preocupação nossa como vocês dirigem seu próprio planeta, mas se vocês ameaçarem estender sua violência, esta Terra será queimada e reduzida a cinzas. Sua escolha é simples: juntarem-se a nós e viverem em paz ou prosseguirem em seu curso atual e enfrentar a destruição. Esperaremos por sua resposta. A decisão cabe a vocês”.
A apresentação de O Dia em Que a Terra Parou trazendo o aviso de um extraterrestre com aparência humana contra o uso de armas nucleares veio dois anos antes de o controverso contatado George Adamski afirmar ter recebido sua primeira mensagem contra o uso de bombas atômicas, supostamente proveniente de um alienígena com aparência igualmente humana, cujo nome era Orthon. Ao longo da década de 1950 e nas seguintes, pessoas que tiveram contato com UFOs afirmaram ter recebido mensagens ecológicas e pacifistas similares, vindas de seres extraterrestres com aparência humana. Embora seja muito tentador concluir que tais contatados simplesmente foram influenciados pela ficção de Hollywood, é importante lembrar que O Dia em Que a Terra Parou contém realmente uma grande quantidade de detalhes precisos do meio ufológico — alguns dos quais foram, com toda a probabilidade, introduzidos pelo governo dos Estados Unidos.
A apresentação de O Dia em Que a Terra Parou trazendo o aviso de um ET com aparência humana contra o uso de armas nucleares veio dois anos antes de o contatado George Adamski afirmar ter recebido uma mensagem do gênero
Considere-se, por exemplo, o testemunho de Linda Moulton Howe. A cineasta e jornalista, ganhadora de inúmeros prêmios, entre eles o Emmy, afirma que enquanto realizava a pesquisa para um documentário sobre UFOs, em 1983, foi informada pelos oficiais de Inteligência da Força Aérea Norte-Americana (USAF) que O Dia em Que a Terra Parou “fora inspirado pela CIA” e que o filme foi “um dos primeiros testes do governo quanto à reação pública sobre um pouso de uma nave alienígena”.
É notável que o roteirista de O Dia em Que a Terra Parou, Edmund H. North, tenha sido major do Comando do Exército dos Estados Unidos, que desenvolve, testa, fornece e gerencia comunicações, além de dar suporte a sistemas de informação de todas as Forças Armadas norte-americanas, antes de ser selecionado pela empresa cinematográfica 20th Century Fox para escrever o roteiro. Durante seu tempo na corporação, North foi encarregado de documentários educativos voltados para treinamento. Mais tarde, foi escritor de filmes de guerra patrióticos, incluindo os famosos Sink the Bismark [Afundem o Bismark, 1960] e Submarine X-1 [Submarino X-1, 1968], bem como Patton [1970], pelo qual recebeu um Oscar.
Tudo isso abre a possibilidade de que North tenha mantido um papel oficial, ou quase oficial, em campanhas de propaganda cinematográfica para o governo ao longo de sua carreira. De modo mais significativo, o chefe de produção da 20th Century Fox, Darryl Zanuck — homem responsável por supervisionar a produção de O Dia em Que a Terra Parou —, foi o próprio responsável pelo documentário de uma unidade do Exército durante a Segunda Guerra Mundial e era, na época da produção do filme, membro do Comitê Nacional para uma Europa Livre [National Committee for Free Europe], criado pela Agência Central de Inteligência (CIA), em 1949.
Guerra psicológica
Como membro em destaque do Comitê, Zanuck convivia regularmente com a diretoria executiva da organização, que incluía o futuro diretor da CIA, Allen Dulles, e o futuro presidente dos Estados Unidos, Dwight Eisenhower. Em 1951, quando O Dia em Que a Terra Parou estava sendo escrito, produzido e lançado, o presidente do Comitê era o general Charles Douglas Jackson, que atuou como vice-chefe da Divisão de Guerra Psicológica do Quartel-General Supremo da Força Expedicionária Aliada [The Supreme Headquarters Allied Powers Europe, ou Shape] durante a Segunda Guerra Mundial.
Mais tarde, o general seria nomeado assessor especial do presidente Eisenhower para assuntos de guerra psicológica — ele foi, nas palavras do historiador Frances Saunders, “um dos mais influentes estrategistas secretos da América”. O general Jackson um dia se referiu a Darryl Zanuck como pertencente a um grupo de “amigos de Hollywood”. O grupo incluía também Jack Warner e Walt Disney, pessoas com quem o governo podia contar “para inserir em seus roteiros, e em suas ações, as ideias certas, com a sutileza adequada”, segundo o mesmo general.
Com isso em mente, e à luz daquilo que os agentes de Inteligência da USAF alegadamente afirmaram à Linda Moulton Howe sobre o fato de que O Dia em Que a Terra Parou fora um teste da CIA para medir a reação do público sobre um contato aberto com extraterrestres, um memorando de Darryl Zanuck para o produtor do filme Julian Blaustein — também um veterano do Exército — e para o roteirista Edmund North, é uma leitura fascinante.
No memorando, datado de 10 de agosto de 1950, Zanuck salienta que todo esforço deve ser feito para “obrigar o público a aceitar completamente essa história como algo que poderia acontecer em um futuro não muito distante”. Zanuck deu ênfase especial na cena, agora icônica, em que o alienígena Klaatu aterrissa seu disco voador em Washington, antes de se direcionar ao público. Zanuck aconselhou Blaustein e North a “tratar a cena da forma mais realista que puder”, sugerindo até mesmo que fosse feita nos moldes de um documentário. “Você deveria, de repente, ouvir programas de rádio sendo interrompidos com anúncios em flashes surpreendentes de Washington, Nova York, Los Angeles etc. A nação inteira está ouvindo”, sugeriu. Aquilo deveria ser dramatizado como a abertura de um documentário. “O público deve aceitar todo o nosso projeto”, disse Zanuck.
O roteiro de O Dia em Que a Terra Parou foi finalmente terminado e aprovado por Darryl Zanuck em 21 de fevereiro de 1951 — praticamente todas as suas sugestões para o texto foram aceitas. Como reflexão final sobre o filme, dentro do contexto da propaganda e da persuasão, o leitor pode encontrar algum significado na seguinte declaração feita por Zanuck, em 1943, durante seu tempo no Exército: “Se você tem algo interessante a dizer, vista-o com as cores resplandecentes do entretenimento e encontrará um mercado pronto. Sem entretenimento, nenhum filme de propaganda vale um centavo sequer”.
Envolvimento do governo
Outra evidência circunstancial que indica o envolvimento do governo dos Estados Unidos na produção de O Dia em Que a Te
rra Parou vem de Paul Davids, que escreveu e produziu o filme Roswell [1994] para o canal de TV Showtime. De acordo com Davids, Robert Wise era um vigoroso crente nas visitas de extraterrestres e sua crença era baseada em informações fidedignas que lhe foram fornecidas por integrantes do governo.
“Wise se encontrou comigo em seu escritório em Beverly Hills”, disse Davids durante uma entrevista em 2013. “Ele me disse que realmente acreditava que os discos eram reais e que alguns deles eram extraterrestres. Ele pensava, não por já ter visto um, mas por causa de toda a informação que lhe chegou enquanto ele estava fazendo O Dia que a Terra Parou”. Wise disse ainda a Davids que cientistas e engenheiros de Washington, durante as filmagens, o levaram e conversaram com ele sobre UFOs — o que lhe disseram o convenceu de que o governo levava realmente a sério que algumas daquelas aeronaves eram extraterrestres.
Não há dúvidas de que O Dia em Que a Terra Parou foi uma produção influenciada pela CIA e pelos militares para a população norte-americana passar a ver com mais naturalidade a possibilidade de um dia sermos visitados por outras espécies cósmicas.
Precisamente, o que esses cientistas e engenheiros de Washington disseram a Wise sobre UFOs não sabemos, mas é justo presumir que O Dia em Que a Terra Parou possui um notável grau de verossimilhança com relatos de testemunhas ufológicas. Em filmes anteriores, os UFOs eram engenhocas desajeitadas, como em The Flying Saucer [O Disco Voador, 1950]. Nele, a nave é pouco mais que um avião circular sobre rodas, e tem um cockpit semelhante ao de um avião militar. A elegante forma de disco com cúpula, descrito em relatos de testemunhas em documentos governamentais desde 1947, não foi utilizado nas telas até 1951, com O Dia em Que a Terra Parou.
Mais notavelmente, o brilho uniforme dado ao disco por Wise traz à mente o aparecimento de ar ionizado — um efeito comum lembrado pelas testemunhas de avistamento em todo o mundo, que se pensou ser o produto dos sistemas de propulsão eletromagnética. A preocupação de Klaatu sobre o nosso uso de armas nucleares também tem precedentes na documentação oficial do governo — à época sigilosa —, descrevendo as incursões de UFOs sobre bases nucleares dos Estados Unidos.
“Aviões não identificados”
Em 31 de janeiro de 1949, o Escritório Federal de Investigação (FBI) emitiu uma nota sobre UFOs, intitulada Proteção de Instalações Vitais. O documento confidencial foi enviado pelo G-2, tropa do Escritório de Investigações Especiais da Força Aérea, ao Escritório de Inteligência Naval e ao diretor do FBI J. Edgar Hoover. Isso revela que uma reunião entre aquelas autoridades ocorrera pouco antes do filme. O documento afirma que “as questões dos ‘aviões não identificados’ ou ‘fenômenos aéreos não identificados’, também conhecidos como ‘discos voadores, pires voadores e bolas de fogo’, são consideradas altamente confidenciais por oficiais de Inteligência, tanto do Exército quanto da Força Aérea”.
Os documentos do FBI também catalogam uma lista de incursões de UFOs em espaço aéreo restrito, como ao redor de uma instalação de pesquisa altamente secreta da Comissão de Energia Atômica, em Los Álamos, no Novo México, de dezembro de 1948 ao início de 1949. Incrivelmente, o memorando prossegue explicando que “esses fenômenos não identificados viajam a uma velocidade mínima estimada em 4,8 km/s e máxima de 19 km/s, ou a uma velocidade média calculada de 12 km/s”. Ainda mais impressionantes são as declarações do documento dizendo que “em duas ocasiões houve uma mudança na trajetória definitiva na vertical” e que o aparecimento dos objetos era “um ponto de luz circular com uma área definida como fonte de luz”.
Outro paralelo com a vida real existente no filme refere-se ao metal impenetrável da nave de Klaatu, no qual vemos certa influência do Caso Roswell — dezenas de testemunhas de primeiro e segundo grau confirmaram que os restos recuperados do disco voador acidentado em julho de 1947 não podiam ser recortados, divididos ou amassados, e eram essencialmente indestrutíveis. Adicionalmente, o som estridente emitido pelo disco voador de Klaatu também tem sido uma característica comum em relatórios de avistamentos, desde a década de 40 até os dias de hoje, com testemunhas muitas vezes associando o som de zumbidos e assobios altos aos UFOs.
Alienígenas entre nós
A aparência e o brilho do disco de Klaatu, seu metal lustroso e impenetrável, o barulho estridente que emite e seu interesse em nossas capacidades nucleares são detalhes que poderiam ter sido facilmente vazados a mando da CIA durante a fase de criação do roteiro, por meio do funcionário da ativa e de alto nível da agência, Darryl Zanuck, ou por meio de seus companheiros propagandistas do Exército, o roteirista Edmund North e produtor Julian Blaustein. E os detalhes podem ter sido afinados durante a fase de filmagens no set. Infelizmente, há muito tempo há uma regra na CIA que diz que “nada deve ser colocado no papel”. Sendo assim, é pouco provável que algum dia nós tenhamos certeza dessas afirmações.
Um dos detalhes mais interessantes de O Dia em Que a Terra Parou é que Klaatu, um alienígena, possui uma aparência completamente humana. Aqui novamente encontramos surpreendentes paralelos com o Fenômeno UFO. Lembrando que o filme é de 1951 e que quase todos os relatos de testemunhas até então davam conta de que os alienígenas se pareciam muito conosco. Pode ter sido, também, uma forma de humanizar o visitante.
Em meados dos anos 60, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) realizou de forma ultrassecreta um estudo da problemática dos UFOs, intitulado A Avaliação — o trabalho foi a versão do órgão a um estudo semelhante, intitulado Estimativa da Situação, feito pela Força Aérea Norte-Americana (USAF) em 1948. Mas, enquanto o estudo da Força Aérea concluiu apenas que alguns UFOs teriam origem provavelmente interplanetária, o texto de A Avaliação foi além. Pelo menos segundo o testemunho de Robert Dean, um sargento-major aposentado do Comando do Exército dos Estados Unidos que foi designado para o citado Shape, com sede em Bruxelas, durante meados dos anos 60.
Dean afirma que em 1964, enquanto esteve no Shape, teve acesso limitado à A Avaliação e que suas conclusões eram chocantes. Diz ele que “pa
rte do estudo indicou que a OTAN chegou à conclusão de que tivemos quatro diferentes civilizações, culturas ou inteligências que estiveram presentes aqui na Terra, nos visitaram e interagiram conosco”. Particularmente interessante, afirma Dean, era que um dos grupos alienígenas era idêntico, em aparência, aos seres humanos — ou, melhor dizendo, nós seríamos idênticos a eles. Isso foi de grande preocupação para a liderança da OTAN.
Durante uma palestra pública no Teatro Cívico de Leeds, na Inglaterra, em 1994, Dean afirmou que alguns dos extraterrestres de aparência humana eram tão semelhantes a nós que “poderiam se sentar ao seu lado em um avião ou em um restaurante com terno e gravata ou um vestido e você nunca saberia. Eles poderiam estar sentados ao seu lado em um teatro como este”. Dean observou que este era um assunto de grande preocupação para os almirantes e generais na sede do Shape. “Algumas das discussões que se passavam na sala de guerra do órgão tinham um tom assustador e algumas eram bastante divertidas. Um oficial disse: ‘Meu Deus, você percebe que estes alienígenas poderiam andar para cima e para baixo pelos corredores da sede da Shape e nós nem sequer saberíamos onde diabos eles estavam?’”
Infiltração alienígena hostil
Em O Dia em Que a Terra Parou, Klaatu, sem qualquer esforço, se infiltra na sociedade humana, caminhando entre nós despercebido, mas casual e sutilmente observando nossas maneiras curiosas. Enquanto muitos filmes de UFOs têm explorado a ideia de infiltração alienígena hostil em nossa sociedade, apenas alguns veem o outro lado da moeda, mostrando alienígenas de aparência humana caminhando livremente entre nós — isso apesar de numerosos casos na literatura ufológica que dão conta da aparente benevolência de nossos visitantes.
Um típico caso referente a estas linhas remonta a 09 de dezembro de 1954, quando um agricultor no Brasil observou em suas terras três homens e sua nave pousada, que estava envolta em uma névoa. Dois dos estranhos estavam fora da nave, inspecionando os arredores, enquanto o terceiro estava visivelmente em seu interior. A nave fazia um barulho “como uma máquina de costura”, disse a testemunha. Chocado com a visão com a qual se deparava, o lavrador deixou cair o forcado. Um dos seres então se aproximou, pegou a ferramenta, examinou-a e a devolveu ao homem. Os dois visitantes no solo, em seguida, juntaram-se ao terceiro na nave, apontando para o agricultor não chegar muito perto. O UFO então decolou. Como se vê, algo bem diferente dos pesadelos que Hollywood oferece.
Os seres neste caso vestiam, segundo a testemunha, “macacões marrons que terminavam com sapatos sem salto. Eram de estatura mediana, tinham ombros largos, cabelos longos, pele muito branca e olhos puxados”. Esse tipo de ETs loiros e de pele branca, os chamados nórdicos — e suas variantes —, foi relatado em todas as décadas, desde os anos 20, e em todos os continentes. Literalmente, há centenas de depoimentos de testemunhas sobre alienígenas tipo humano, conforme visto no livro The Humanoids [Os Humanoides, Spearman, 1969], de Charles Bowen e no recém-lançado Guia da Tipologia Extraterrestre [Biblioteca UFO, 2014], de Thiago L. Ticchetti.
Klaatu como Cristo
A referência de Klaatu quanto a um “espírito todo-poderoso” é também um aceno claro para Deus e era a intenção dos escritores do filme que aquilo fosse compreendido dentro de um contexto cristão. Não é por acaso, por exemplo, que a Klaatu é dado o pseudônimo de carpinteiro, ou senhor Carpenter, ocupação humilde de Cristo como descrito na Bíblia. Também não é coincidência que Klaatu, um homem com poderes sobrenaturais que prega a paz para as massas, seja morto apenas para ser ressuscitado antes de subir aos céus em um disco voador. Mas a alegoria cristã do filme é irônica, dado que, em muitos casos de contato, ocupantes de UFOs têm falado sobre um poder divino em termos leigos e distintos dos cristãos, falando de Deus não como um ser masculino e supremo, mas defendendo a noção de uma força de vida universal ou de uma energia cósmica onipresente.
“Para nós, o que vocês chamam de Deus é uma forma de energia absoluta e a morte apenas uma mudança no arranjo molecular, uma mudança de estado”, foi o que o contatado argentino Orlando Jorge Ferraudi alegou ter ouvido de um ser de aparência humana, em agosto de 1956. Em um caso de contato com UFOs em Campitello, na Itália, em julho de 1968, um ser de aspecto igualmente humano, com leves características felinas, teria dito ao vendedor de carros Walter Marino Rizzi que “Deus está em toda parte. Em nós, nas plantas, pedras, grama e na natureza. Enfim, em tudo que existe”. E acrescentou que, quando o seu próprio povo morre de causas naturais, é pelo resultado do “esgotamento da energia cósmica”. Nesses termos, a fé alienígena parece mais próxima das filosofias orientais do Taoísmo e do Budismo do que do Cristianismo.
Em 1995, O Dia em Que a Terra Parou foi selecionado para preservação no Registro Nacional de Filmes dos Estados Unidos como sendo “cultural, histórico e esteticamente significante”. E, justamente por isso, sua influência não pode ser subestimada. Essa não foi uma produção obscura de filmes B, mas um grande evento de cinema, o produto de um estúdio de alta qualidade, que tinha o apoio entusiástico de Darryl Zanuck, uma das figuras mais influentes em Hollywood, e que foi visto por milhões de cinéfilos do mundo inteiro.
O legado deixado
Um desses cinéfilos foi Ronald Reagan. Ele mesmo não é uma personalidade estranha à indústria do cinema, pois atuou em vários filmes B entre o final dos anos 30 e meados dos anos 60. Ele também foi um ávido observador de filmes e nenhuma imagem em movimento atingiu tanto o futuro comandante em chefe dos Estados Unidos como o filme O Dia em Que a Terra Parou. Em um discurso famoso feito à Assembleia Geral das Nações Unidas, em 21 de setembro de 1987, o presidente Ronald Reagan disse: “Muitas vezes esquecemos o quanto devem se unir todos os membros da humanidade. Talvez precisemos de alguma ameaça alienígena universal para nos fazer reconhecer esse vínculo comum. Eu ocasionalmente penso quão rapidamente nossas diferenças em todo o mundo desapareceriam se estivéssemos enfrentando uma ameaça alienígena de fora deste mundo. E, ainda assim, pergunto: já não há uma força alienígena entre nós?”
É uma questão de registro público que o próprio Reagan foi testemunha de um avistamento, mas seu discurso sobre uma ameaça alienígena feito perante a ONU — o qual ele repetiria publicamente em várias ocasiões ao longo de sua presidência — pode ter sido diretamente inspirado por O Dia em Que a Terra Parou. De acordo com o ufólogo Grant Cameron, “a paz mundial e os alien&
iacute;genas nunca se distanciavam da mente de Reagan. Ele costumava caminhar ao redor da Casa Branca perguntando às pessoas se já tinham visto o filme O Dia em Que a Terra Parou, proferindo a frase ‘Klaatu Barada Nikto’. Exatamente como a personagem Helen Benson havia pronunciado a frase alienígena em cima da hora e salvado o mundo, Reagan planejava fazer o mesmo”, diz Cameron.
Cameron ainda postula a noção de que o fascínio de Reagan com O Dia em Que a Terra Parou pode realmente ter levado ao fim da Guerra Fria: “Em 1989, inspirado pelas palavras de Klaatu, de que ‘deve haver segurança para todos, ou ninguém está seguro’, Reagan estava no Muro de Berlim e pediu ao seu amigo Mikhail Gorbachev para derrubar esse muro. Gorbachev removeu a parede que separava as duas Alemanhas e houve paz entre os blocos Leste e Oeste dos países desde então”.
Mas Reagan não foi o único presidente inspirado por O Dia em Que a Terra Parou. Em 21 de março de 2012, enquanto estava em Maljamar, no Novo México, o presidente Barack Obama parafraseou a fala imortal de Klaatu: “Viemos para visitá-lo em paz e de boa vontade”. Diante de uma multidão de repórteres, Obama declarou: “Foi uma viagem maravilhosa. Aterrissamos em Roswell. Eu anunciei às pessoas quando aterrissei que ‘eu venho em paz’”. Foi uma tática simples para provocar alguns risos e associar o real, um incidente histórico com um UFO em Roswell, com as ficções de Hollywood. Talvez alguém devesse ter avisado ao presidente que O Dia em Que a Terra Parou foi uma má escolha a esse respeito, permanecendo, sem dúvida, como um dos filmes de maior conteúdo ufológico na história.