
Há algumas décadas, a teoria que diz que nosso planeta já foi habitado por uma civilização muito desenvolvida e com algum grau de conhecimentos tecnológicos vem ganhando força. A ciência, por óbvio, não toca no assunto e sequer aventa essa hipótese, mas pesquisadores autônomos em todo o mundo têm buscado evidências que reforçam a tese da existência de uma civilização anterior à nossa. Michel A. Cremo e Richard L. Thompson sacudiram os alicerces da academia com a magnífica obra A História Secreta da Raça Humana [Editora Aleph, 2014], onde a tese principal era demonstrar — por meio de achados arqueológicos surpreendentes — que o modelo de nossa pré-história deveria ser abolido de vez. Segundo os autores, deveríamos recomeçar a escrever nossa história com um pensamento mais amplo, admitindo a possibilidade de que antes da grande Era Glacial pode ter existido no planeta uma civilização avançada, constituída de alta tecnologia.
Achados arqueológicos, como a marca de uma sola de sapato que pode chegar a ter mais 500 milhões de anos, descoberta por William J. Meister ao procurar por fósseis de minúsculos animais marinhos do período Paleozoico chamados de trilobites, estão entre as muitas evidências que apontam que há mais em nosso passado do que imaginamos. Os restos do que parece ser uma usina atômica com mais de dois milhões de anos na África e trechos de muralhas com o mesmo padrão de construção encontrados no Peru, na Ilha de Páscoa, na Índia e em outros locais do planeta, apontam que muito antes nós, outros já andavam por aqui. Outra questão que levanta sérios questionamentos é a evolução humana, mais precisamente o estágio de nossa trajetória em que somos conhecidos como Homo habilis, linhagem que, pelo que sabemos até hoje, permaneceu 2,5 milhões de anos apenas lascando pedras, até o final do período Paleolítico. Então, há 40 mil anos, com a chegada da Era Neolítica, o Homo sapiens, ou Cro-magnon, começa a polir as pedras e assim permanece por apenas mais 10 mil anos, o que equivale a um piscar de olhos na história da evolução. Note o leitor que foi no período de transição do Paleolítico para o Neolítico que surgiu o xamanismo, a caça de animais de grande porte, a escultura, as vestimentas mais elaboradas e os primeiros passos da agricultura, que, por sua vez, mudou radicalmente a forma de viver dos humanos.
Javier Cabrera Darquéa
A história da evolução e das civilizações é recheada de contradições e de explicações mal construídas. Há saltos civilizatórios que parecem impossíveis e regressões de conceitos que contrariam a lógica. Por outro lado, se, como dizem muitos, a Terra já foi palco de uma grande e avançada civilização, onde estão os registros de sua história? Os povos que vieram depois de seu desaparecimento não nos deixaram nada? Essas são perguntas difíceis de serem respondidas, mas talvez haja uma boa pista sobre elas nas famosas — e polêmicas — pedras gravadas de Ica.
A cidade de Ica, no Peru, é hoje um destino turístico conhecido em todo mundo. A região que a cerca é sem dúvida atraente, porém o que colocou Ica no mapa não foram suas paisagens, mas as pedras gravadas com inusitadas imagens que foram encontradas em suas cercanias. Embora muita gente pense que tudo tenha começado na década de 60, quando Javier Cabrera Darquéa, um médico da cidade de Ica, ganhou de presente uma pequena pedra decorada para servir de peso de papel, isso não é verdade — as pedras já eram conhecidas desde a chegada dos espanhóis. Seu primeiro registro data de 1535 e foi feito por um padre que viajava pela região, e em 1562 algumas pedras gravadas foram enviadas a Espanha. Os registros das duas datas constam da obra de Juan de Santa Cruz Pachacuti Lamquie, Relación de Antiquedades Del Reyno del Piru, de 1571.
Mesmo assim, foi Darquéa quem tornou as pedras conhecidas e chamou a atenção de historiadores e arqueólogos para os fatos que as gravações nelas relatavam. Como dissemos, o médico ganhou uma pedra de presente e a partir de então passou a procurar por elas e colecioná-las. Filho de uma família tradicional da cidade — seu avô, don Luis Gerônimo Darquéa, foi um dos fundadores de Ica — ele foi um grande incentivador cultural e o primeiro diretor da Casa de la Cultura de Ica. Em sua gestão no museu, o médico emprestou à instituição 5.000 pedras de sua coleção particular, possibilitando ao grande público ver uma das maiores descobertas arqueológicas das Américas de todos os tempos. Darquéa também ajudou a fundar a Universidad Nacional San Luis Gonzaga de Ica e o Museo de Pedras Grabadas de Ica, que na atualidade leva o nome Museo Cientifico Javier Cabrera [A instituição está entre as visitadas pelos grupos que a Revista UFO e a Terra Inca Operadora de Turismo levam regularmente ao país].
A esta altura o leitor pode estar se perguntando por que, afinal essas pedras são tão importantes a ponto de mereceram um museu e qual é a polêmica em torno delas? Bem, os artefatos são pedaços de um minério chamado andesito e são como seixos de rio, lisas e roladas ao longo de milênios — na verdade, têm entre 65 milhões e 230 milhões de anos, datando do período Mesozoico. Mas não é a idade das pedras o que conta, e sim aquilo que está gravado nelas, como, por exemplo, cenas mostrando homens caçando e sendo caçados por dinossauros, pessoas usando telescópios, um bebê nascendo por meio de uma cesariana, além de animais e peixes desconhecidos.
A polêmica sobre as pedras
Darquéa entendeu que as pedras contavam uma história oculta, datando de milhões de anos, e que ela mudaria tudo o que sabemos sobre a evolução humana. Como um Champollion do século XX, ele mergulhou a fundo no mundo das pedras da Ica, buscando uma maneira de dar sentido àquilo que elas contavam e alimentando a esperança de certificar a autenticidade das gravações. Para ele, não podíamos fechar os olhos à mensagem dos artefatos. Seu livro As Mensagens das Pedras Gravadas de Ica [Melhoramentos, 1980] é muito bem documentado, com muitas ilustrações apresentando em detalhes a pesquisa que o autor fez durante sua vida.
Obviamente, o médico encontrou muita resist
ência e um pelotão de cientistas prontos para acusá-lo de fraude e de coisas piores, uma vez que a simples ideia de que havia humanos na época dos dinossauros parece totalmente despropositada. Do outro lado da história estavam — e ainda estão — os criacionistas, que buscam de todas as formas provar que o mundo tem apenas 6.000 anos e que todas as medições de idade que passem desse período estão erradas. Assim, como todos sabem que não havia humanos há 65 milhões de anos, qualquer coisa que os mostre com dinossauros provaria que a Bíblia está incorreta.
Muitos estudiosos dizem também que as capacidades xamânicas na Antiguidade foram ensinadas e incentivadas por seres de outros planetas e dimensões, com o objetivo de abrirem a consciência humana para outros planos da existência além dos sentidos
Mas antes de condenarmos a ciência por não aceitar as pedras como um registro verdadeiro, temos que ser justos e dizer que muitos exames foram feitos nas pedras nas últimas cinco décadas, e que o resultado de alguns deles é, no mínimo, curioso e coloca suas pinturas como algo que vai de algumas centenas de anos a vários milhares de anos — a datação não foi feita nas pedras em si, mas naquilo que se acumulou em suas ranhuras ao longo do tempo e também nas camadas que se acumularam sobre os desenhos, chamadas de “pátina de oxidação”. O solo da região, seco e árido, favorece o aparecimento dessa camada. Quanto às acusações de fraude, temos a dizer que é verdade que muitas pedras foram fraudadas e vendidas como suvenires a turistas desavisados, o que é natural que ocorresse.
O Museo Científico Javier Cabrera, fundado em 1966, nasceu da vontade de preservar, salvaguardar e divulgar para o mundo a única biblioteca formada não por livros, mas por pedras vulcânicas — chamadas de gliptolitos —, com informações surpreendentes sobre astronomia, a Atlântida, transplantes de órgão, dinossauros, máquinas do futuro e muitas referências modernas feitas em desenhos que podem ultrapassar milhões de anos. Darquéa chamou as pedras de gliptolitos ao perceber a diferença entre elas e os petroglifos, que são desenhos feitos em rochas encontradas em vários lugares do mundo. Nos gliptolitos, os desenhos se destacam por apresentarem não apenas um registro, mas toda uma trama de figuras e elementos simbólicos, em uma elaborada forma de comunicação.
Milhares de anos de história
O médico acreditava que os artefatos formassem conjuntos de informações e, para conseguir entendê-los, eles deveriam ser “lidos” em grupo, ou seja, uma pedra completa a informação da outra, como um enorme quebra-cabeças. Hoje o museu possui 11 mil pedras consideradas originais em seu acervo, assim como todo o material de pesquisa de seu fundador, que está disponível para consultas e apreciação. A administração do museu é comandada por Ernesto Cabrera Claux, filho de Darquéa. Claux está empenhado em recuperar as pedras que estão espalhadas pelo mundo, cujo número pode chegar a 50 mil exemplares, no desejo de preservá-las e também de organizar o suposto quebra-cabeças que formam. Essa pode ser a mais extraordinária contribuição para a história de todos os tempos.
O aspecto da falsificação das pedras deve ser discutido com clareza. Muitas vezes, quando se faz uma pesquisa em campos não ortodoxos, como é o caso, quem quer desacreditar o trabalho dos investigadores sai em busca de qualquer indício de falsificação, e, ao encontrá-lo, vai logo gritando que tudo é falso, sem qualquer critério. Isso foi exatamente o que aconteceu no caso das pedras. Basílio Uchuya foi um lavrador da pequena Ocucaje, um distrito de Ica de onde supostamente se extrai a maior quantidade de pedras do Peru. E foi ele o apontado como sendo o verdadeiro autor das pedras, que, para os arqueólogos mais conservadores, seriam todas falsas. Além de ignorarem os registros históricos sobre a existência dos artefatos, estes cientistas também não explicaram como Uchuya, um simples camponês, poderia ter, já nos anos 60, o sofisticado e complexo conhecimento desenhado nas pedras.
Xamãs gravaram as pedras?
A verdade é que Darquéa adquiriu, sim, algumas peças de Uchuya, antes da fama das pedras se espalhar e o camponês se ver arrastado pela polícia, acusado de vender relíquias históricas. Como no Peru a pena por falsificação é muito mais branda do que aquela aplicada aos ladrões de peças históricas, Uchuya alegou que não havia vendido relíquia alguma e que as peças eram fabricadas por ele. Alguns anos depois, ele confessaria que havia inventado a história da falsificação para se livrar da cadeia. Mas, seja como for, o lavrador realmente fabricava peças para vender aos turistas e tinha até alguns empregados para aumentar a produção, já que a procura começou a crescer depois que as pedras se tornaram famosas. Quando perguntado sobre o assunto, justificou-se dizendo que desenhar nas pedras dava mais dinheiro e era um trabalho muito mais leve do que o que tinha. Quanto aos desenhos, ele disse que os copiava de revistas, ilustrações e também de outras pedras. Mas se não foi Uchuya quem fez todas as pedras, quem foi?
Javier Cabrera Darquéa sustentava que todas as pessoas representadas nas pedras eram seres humanos, com exceção de uma entidade que ele dizia “pertencer a outro lugar” — infelizmente, o médico faleceu sem deixar a resposta sobre quem ou de onde seria aquele ser. Haveria também um alienígena retratado nas pedras? Se sim, quem registrou sua presença? No começo deste artigo dissemos que os xamãs surgiram no planeta há cerca de 40 mil anos, e, olhando para os desenhos nas pedras e as estranhas vestimentas nelas mostradas, não seria despropositado pensar que os desenhos talvez tenham sido feitos por eles.
Os xamãs são capazes de obter, em seus transes, informações sofisticadas tanto sobre o passado quanto sobre o futuro, o que explicaria a presença dos dinossauros e dos telescópios mostrados nas pedras. E embora a ideia possa parecer fantasiosa, ela tem ao menos um precedente que a abona: os desenhos conhecidos como Blythe Intaglios, geoglifos feitos por xamãs há cerca de 2.000 anos no deserto do Colorado, nos Estados Unidos — o que chama muito a atenção nos desenhos norte-americanos é que há, ao lado de uma representação de um homem, a de um animal muito parecido com um cavalo.
Alienígenas
A importância desta informação está no fa
to de que os cavalos só chegaram às Américas em 1493, na segunda expedição de Cristóvão Colombo, e depois na expedição de Hernán Cortez, em 1519, e assim sucessivamente. Eles não são um animal nativo, apesar dos mustangues serem muitas vezes considerados como animais selvagens e muitos acreditarem que são provenientes da América do Norte. Esse exemplo dá margem a especularmos que, se os xamãs de então viram os cavalos durante um transe ou viagem astral e depois os retrataram, outros xamãs poderiam, em processo idêntico, ter gravado suas visões nas pedras de Ica.
Muitos estudiosos dizem também que as capacidades xamânicas na Antiguidade foram ensinadas e incentivadas por seres de outros planetas e dimensões, com o objetivo de abrirem a consciência humana para outros planos. Há quem diga que o xamanismo foi a forma que seres muito adiantados encontraram de ensinar aos atrasados terrestres técnicas de cura espiritual, de respeito à natureza, de convivência harmônica com o planeta. Talvez as pedras de Ica sejam o registro de tais ensinamentos.