Duas décadas atrás pudemos assistir a uma das explosões mais brilhantes de uma estrela em 400 anos. Quer dizer, eu não. Para variar o tempo estava ruim e eu me lembro de que o céu ficou encoberto até que a supernova sumisse do céu.
Trata-se da famosa supernova 1987A, que explodiu na nossa vizinha Grande Nuvem de Magalhães, a uns 163 mil anos-luz de distância. Devido a essa proximidade, essa supernova tem sido estudada até a exaustão, em todas as faixas do espectro: rádio, óptico, infravermelho e raios X. Esta imagem, por exemplo, foi tirada pelo Hubble em dezembro do ano passado e divulgada agora em comemoração a esse importante evento. Essa explosão tem ajudado os especialistas em supernovas a compreender melhor os detalhes das teorias envolvidas.
Esta imagem está sendo chamada de “Colar de Pérolas”, porque mostra um anel com dúzias de pontos brilhantes. Esses pontos brilham assim porque uma onda de choque proveniente da explosão da estrela está se propagando no espaço e a compressão do gás faz com que ele se aqueça e brilhe. Esse anel tem quase um ano-luz de diâmetro e deve ter sido expelido da estrela 20 mil anos antes de ela explodir.
Em 1997, os astrônomos detectaram apenas um ponto luminoso, mas com o passar dos anos a expansão foi revelando as bolhas individualmente. Mesmo assim, apenas a qualidade soberba das imagens do Hubble permite que elas sejam vistas. Infelizmente, elas todas devem se desfazer e formar um único anel contínuo nos próximos anos, conforme a onda de choque continue a forçar glóbulos para fora. Quando isso acontecer, o anel deve brilhar mais intensamente e vai iluminar o material que está mais próximo da estrela moribunda, permitindo uma melhor análise da região. O objeto rosa no centro do anel é material que restou da explosão. Esse material brilha por causa do aquecimento de material radioativo, como titânio-44 que foi criado na explosão. Esse material deve continuar brilhando ainda por dezenas de anos.
Reparando bem, existem dois anéis vermelhos e fracos, logo acima e abaixo da estrela condenada. Esses dois anéis ainda permanecem sem explicação. Nenhum modelo até hoje conseguiu prever sua formação. As duas estrelas brilhantes bem em cima desses anéis misteriosos são estrelas da Grande Nuvem de Magalhães que fazem parte da cena, mas não têm nada a ver com a festa.
A Supernova 1987A ainda deve permanecer como alvo de estudos durante muito tempo. Por exemplo, ainda não foi encontrada nenhuma evidência do que restou no lugar da estrela. É esperado que depois de uma explosão dessas uma estrela de nêutrons ou um buraco negro seja criado. Até agora não há traço de nenhum dos dois e ainda especula-se que a estrela que explodiu fizesse parte de um sistema binário.
Essa supernova ainda deve ajudar a repensar muitas conclusões a respeito da morte de estrelas de muita massa.