O astrônomo e cientista norte-americano Carl Sagan uma vez perguntou: “O que significa para uma espécie inteligente ter milhões de anos? Desenvolvemos o rádio, telescópios e naves espaciais em poucas décadas. Nossa humanidade técnica tem algumas centenas de anos, mas uma civilização com milhões de anos está além de nós como estamos além de um arbusto ou de um macaco”. Mesmo que qualquer conjetura sobre tais civilizações avançadas seja uma questão de simples especulação, ainda podemos usar as leis da física para estabelecer limites aproximados para entendermos sua possível existência. Especialmente agora que as leis da Teoria Quântica de Campos, da Relatividade, da Termodinâmica e outras estão bem estabelecidas, podemos teorizar limites materiais que definam os parâmetros destas supostas civilizações.
Esta não é mais uma questão de elucubração, mas de fato. Em breve a humanidade poderá enfrentar um “susto existencial” quando verificar a expansão da atual lista de planetas extrassolares já descobertos, constatando que se parecem mais com nosso mundo do que poderíamos supor. Sua descoberta, e em número crescente, indica que começamos para valer nossa jornada no caminho do conhecimento do universo. Isso pode introduzir um novo tempo em nossa relação com o cosmos e nunca voltaremos a ver o céu da mesma forma. Cientistas já atualizam regularmente uma enciclopédia para identificar as coordenadas exatas de centenas de orbes como a Terra, e isso é realidade.
Hoje computamos cerca de 500 planetas extrassolares — ou exoplanetas — descobertos, e a cada semana temos notícias de novos mundos que podem chegar ao tamanho de Júpiter, o maior do Sistema Solar, com diâmetro 11 vezes superior ao da Terra. Os últimos foram encontrados ao redor da estrela Gliese 581, uma anã vermelha localizada a aproximadamente 20,5 anos-luz de distância daqui [Veja seção Imprensa Ufológica desta edição]. Gliese 581 tem idade estimada entre 7 a 10 bilhões de anos — para comparação, o Sistema Solar tem 4,5 bilhões de anos. O astro é caso inédito na astronomia, pois em sua órbita já foram descobertos sete exoplanetas, denominados de Gliese 581a a Gliese 581g — este último foi registrado no final de setembro, tem raio uma vez e meia o da Terra e massa aproximadamente quatro vezes maior do que a nossa. Mas o melhor ainda está por vir. Brevemente os cientistas lançarão um novo tipo de telescópio espacial, o Interferome, que detectará padrões de interferência de raios de luz de estrelas para melhorar seu alcance e resolução. Por exemplo, a Missão de Interferometria Espacial [Space Interferometry Mission, SIM], da NASA, será lançada na próxima década e contará com telescópios múltiplos colocados ao longo de uma estrutura espacial.
Procurando planetas como a Terra
Com uma resolução inédita, muito próxima dos limites que qualquer instrumento óptico pode atingir, o SIM é espantosamente sensível. Girando ao redor da Terra, poderia descobrir o movimento de uma lanterna em Marte! Ele também facilitará a missão do Buscador de Planetas Terrestres [Terrestrial Planet Finder], que será lançado na próxima década e deverá identificar mais planetas parecidos com a Terra, concentrando-se nos 50 a 100 sistemas estelares mais luminosos já observados pelos aparelhos já em operação. Tudo isso estimulará um esforço concentrado para determinar se algum destes mundos possui vida — e quiçá é habitado por uma civilização mais adiantada do que a nossa.
E mesmo que seja impossível predizer as características exatas de tais civilizações, seus perfis podem ser analisados usando as leis da física que conhecemos. Não interessa quantos milhões de anos estejam à nossa frente, tais espécies ainda devem obedecer às mesmas leis, mesmo que tenham avançado o suficiente para entenderem tudo o que nós ainda não compreendemos, desde as partículas subatômicas até a maior estrutura do universo. O objetivo desse ensaio é a análise desses perfis à luz da física que conhecemos.
Tipos de civilizações alienígenas
Em nossa estimativa de enquadrar fisicamente as civilizações que por ventura viermos a encontrar em nossa busca, temos pelo menos três tipos básicos a considerar. Naturalmente, como consomem energia, podemos agrupar tais civilizações por seu perfil neste aspecto, usando para isso princípios estabelecidos, como as leis da termodinâmica, da matéria estável e as que regem a evolução planetária. No primeiro caso, até onde sabemos, mesmo uma espécie muito avançada estaria limitada por leis da termodinâmica, principalmente pela segunda delas — que postula que a quantidade de entropia de qualquer sistema isolado termodinamicamente tende a aumentar com o tempo, até alcançar um valor máximo —, e pode se alinhar pela energia que encontra à sua disposição.
Já quanto às leis da matéria estável, temos que recorrer ao que se chama de matéria bariônica, fundamentada em prótons e nêutrons. Em cosmologia, considera-se matéria bariônica toda a forma de matéria constituída pelas partículas bárions e léptons, isto é, toda a matéria que nos rodeia e que podemos ver, incluídos nós mesmos. Esse tipo de matéria tende a concentrar-se numa hierarquia crescente de massa, que começa nas estrelas e termina nos superaglomerados de galáxias, passando por galáxias de diversos tipos. Planetas constituem uma fração mínima da massa que envolve uma estrela. Toda a luminosidade desses objetos é, em última análise, um resultado da fusão nuclear no interior das estrelas e da força gravitacional que aquece o gás entre as galáxias, num aglomerado. O consumo de energia de tais civilizações definiria sua situação no cosmos.
Por fim, usando o conceito das leis da evolução planetária, sabemos que qualquer espécie avançada tem que crescer mais rápido do que a freqüência de catástrofes que possam ameaçar sua existência — como o impacto de um meteoro, glaciações, explosões de supernovas próximas etc —, e com isso deverá consumir mais energia. Por outro lado, se seu crescimento for lento, tal mundo estaria condenado à extin&cc
edil;ão. Todos estes dados podem ser empregados para determinar os limites matemáticos de taxa de crescimento de eventuais civilizações no universo.
Consumo energia, logo existo
Em uma matéria publicada em 1964, no Jornal de Astronomia soviético, o astrofísico russo Nicolai Kardashev teorizou que espécies extraterrestres desenvolvidas deveriam se agrupar em três tipos distintos, que denominou em I, II e III, com base em suas respectivas formas planetárias, consumo e manipulação de energia. Kardashev teve como base a Terra, a qual definiu como sendo do tipo 0 [Veja quadro]. Ele calculou também que os três tipos de civilizações avançadas devem estar separados por um fator de muitos bilhões de anos. Mas quanto tempo levaria, por exemplo, para uma civilização do tipo I alcançar o estágio seguinte? E para uma nesta situação alcançar o estágio mais adiante? A resposta é: menos do que a maioria dos estudiosos imagina.
Para tratar disso, recorremos ao astrônomo Don Goldsmith, que nos lembra que a Terra recebe aproximadamente apenas um bilionésimo da energia gerada pelo Sol, e que os seres humanos, em conjunto, usam somente cerca de um milionésimo disto. Ou seja, consumimos uma quantidade insignificante de toda a energia que o Sol gera todo dia. Atualmente, nossa produção de energia planetária total é de aproximadamente 10 bilhões de ergs por segundo [Unidade de energia no sistema centímetro-grama-segundo]. Mas como nossa produção está crescendo, podemos tentar calcular o tempo que levaria para alcançarmos o estado do Tipo II ou III, caso estivéssemos no estágio inicial Tipo I. Goldsmith nos chama a atenção para o quão longe chegamos na utilização de energia quando aprendemos como manipulá-la, como conseguir combustíveis fósseis, criar eletricidade com a força hidrelétrica e muito mais.
“Chegamos ao uso da energia em apenas dois séculos, comparados aos bilhões de anos de idade de nosso planeta, e esse conceito pode ser aplicado a outras civilizações”. Já o físico Freeman Dyson, do Instituto para Estudos Avançados da Universidade de Princeton, calcula que daqui a 200 anos, mais ou menos, deveremos chegar ao Tipo I, o que não deixa de ser alentador. A coincidir com este fato, Kardashev calculou ainda que, crescendo a uma modesta proporção de 1% ao ano, levaríamos “somente” 3.200 anos para chegarmos ao Tipo II, e 5.800 anos para alcançarmos o Tipo III.
Uma civilização do Tipo I teria uma existência verdadeiramente planetária, ou seja, existiria presa a um mundo físico. Dominaria a maioria das formas de energia de tal mundo, cujo rendimento poderia ser bilhões de vezes maior do que o terrestre atual. Isso nos faz lembrar Mark Twain, escritor, pensador e romancista do começo do século passado, que disse uma vez que “todos reclamamos do estado do tempo, mas ninguém faz nada a respeito”. É verdade, mas isso pode mudar com uma civilização do Tipo I, porque ela teria energia suficiente para mudar o clima e seu ambiente geral. Também teria energia em boa quantidade para alterar o processo de terremotos, vulcões, catástrofes naturais que viesse a sofrer, e até construir cidades sobre e sob seus oceanos.
Vivendo numa civilização em evolução
Atualmente, como uma civilização do Tipo 0, o rendimento de energia da Terra está em patamares modestos. Somos assim qualificados porque, entre outras coisas, não obtemos toda a energia de que precisamos dos meios planetários, mas queimando matéria morta, como óleo e carvão. Porém, ainda assim, já podemos ver as sementes de uma civilização do Tipo I germinando em nosso futuro. Há sinais claros disso. Por exemplo, temos um idioma planetário se fixando cada vez mais, que é o inglês, assim como um sistema de comunicação global enraizando, a internet, e uma economia planetária em crescimento, a formação de uma comunidade econômica como a União Européia. Inclusive, temos até o começo de uma cultura planetária em andamento, manifestada pelos meios de comunicação em massa, a televisão e os filmes de Hollywood.
Por definição, segundo o conceito das leis da evolução planetária, uma civilização avançada tem que crescer mais rapidamente do que a freqüência de ameaças que sofre e das catástrofes a que está sujeita — até para que possa lidar com tais situações. Assim, enquanto um grande meteoro pode impactar sua superfície uma vez em milhões de anos, por exemplo, uma civilização do Tipo I deve dominar a viagem espacial para desviar ou destruir tais ameaças, o que não seria um problema para ela, analisando sua escalada evolutiva e o ponto já atingido. E considerando, como se estima que ocorra na Terra, que glaciações venham a acontecer a cada 10 mil anos, uma civilização do Tipo I deve aprender a modificar o clima para safar-se desta situação em seu mundo.
Capturando a energia de estrelas
Uma espécie do Tipo I também deve estar apta a eliminar as catástrofes artificiais e as internas de sua história, uma vez que problemas como a poluição global, por exemplo, já não serão mais obstáculos ao seu progresso, pois esta é uma ameaça mortal apenas para uma civilização do Tipo 0, como a nossa. Enfim, uma espécie do Tipo I, para chegar aonde chegou, deve ter vivido vários milênios como uma civilização planetária e necessariamente ter atingido o equilíbrio ecológico. Problemas internos, como guerras e conflitos raciais, nacionais e setoriais, são sim ameaças sérias, mas tais espécies teriam tido milhares de anos de evolução para resolverem.
Eventualmente, depois de vários milhares de anos, uma civilização do Tipo I esgotaria a energia de seu planeta e acabaria consumindo a energia gerada pela estrela que or
bita, talvez de forma completa, ou seja, trilhões de ergs por segundo. Já uma civilização do Tipo II, segundo teorizou Dyson, poderia construir uma gigantesca esfera ao redor de sua estrela para capturar sua energia de forma mais completa e eficaz. E ainda que ela tente esconder sua existência de outras espécies, deverá, pela Segunda Lei da Termodinâmica, emitir restos de calor — e estes serão detectados. Da forma que utilizaria a energia que acumula, seu planeta poderia brilhar como enfeites de uma árvore de Natal. Para tentar encontrá-las, considerando que já existem galáxias por aí afora, Dyson propôs procurarmos especificamente por emissões infravermelhas — este seria o método para identificarmos as civilizações do Tipo II.
Talvez a única ameaça que paire sobre uma civilização do Tipo II seria a explosão de uma supernova, como se chama um corpo celeste que surge do colapso de estrelas com mais de 10 vezes a massa solar, especialmente se localizada perto de sua órbita. Seu estouro súbito poderia queimar com raios-X o planeta em que tal espécie se alojaria, eliminando toda espécie de vida — exceto bactérias, que podem se resguardar no fundo de mares ou no interior da crosta.
Uma civilização imortal
Mas uma civilização bem mais interessante para nosso ensaio é a de Tipo III, a que seria realmente imortal. Ela teria capacidade de esgotar o poder energético de sua estrela e ainda migraria para outros sistemas estelares em busca de mais energia. Nenhuma catástrofe natural conhecida pela ciência seria capaz de destruir uma civilização desta categoria, nem mesmo no caso descrito a pouco, da explosão de uma supernova vizinha, pois uma espécie avançada como esta teria diversas alternativas para tal situação. Uma delas seria alterar a evolução daquele astro que agoniza e que está prestes a explodir, ou então abandonar seu mundo para viver noutro em outro sistema planetário, talvez, se necessário, transformando-o num ambiente adequado. Nada disso seria problema para uma civilização do Tipo III.
Mesmo assim, haveria alguns obstáculos ao surgimento de uma civilização do Tipo III. Dyson calcula que a transição para uma civilização em estágio anterior para uma deste tipo pode demorar uma eternidade, o que atentaria contra fundamentos dos postulados de Einstein. Inclusive, quando tiver que enfrentar a barreira imposta pelo limite da velocidade da luz, uma civilização do Tipo III teria que agir com criatividade para alcançar velocidades ainda maiores ou pelo menos próximas dela. Isso pode ser impossível para nós, em nosso estágio atual, mas não para uma civilização como a de que estamos falando. Uma gama de sistemas de propulsão estaria disponível para que ela atinja velocidades maiores ou próximas à da luz — como motores de fusão a reação, motores fotônicos etc.
Instrumentos para explorar a galáxia
Em razão das distâncias entre as estrelas serem tão grandes, e do número de sistemas estelares impróprios à evolução de vida em planetas ao seu redor ser considerável, uma civilização do Tipo III certamente se depararia com a seguinte questão: qual seria a forma mais eficaz de explorar os bilhões de estrelas na galáxia? E no universo? Na ficção científica, a procura por mundos habitados no universo foi imortalizada pela saga de heróicos capitães que comandam uma única nave espacial em busca de tais orbes. Mas isso é apenas na ficção, porque o método mais eficiente para explorar o espaço seria menos charmoso, embora lembrasse ainda mais a ficção: enviar frotas de naves não tripuladas por toda a galáxia, veículos que as correntes científicas chamam de “naves ou sondas Von Neumann”, em homenagem a John Von Neumann, que estabeleceu as leis de sistemas que se autoreproduzem.
Uma sonda Von Neumann seria um robô construído para alcançar sistemas estelares distantes e criar em seus planetas fábricas que o reproduziriam em milhares de cópias idênticas, que por sua vez fariam o mesmo. Uma lua morta seria o destino ideal para uma sonda Von Neumann, em vez de um planeta, já que o veículo poderia facilmente nelas pousar e decolar — e também porque tais luas não têm qualquer corrosão, pela ausência de atmosfera. As sondas operariam usando os depósitos de ferro, níquel e de outros elementos de tais orbes, gerando os recursos necessários para a construção de mais fábricas e de mais robôs. Assim eles se tornariam milhares de cópias, se espalhariam pelo universo e perpetuariam a procura por outros sistemas de estrelas e de vida.
Semelhantes a um vírus que coloniza um corpo muitas vezes maior do que seu tamanho, haveria no futuro bilhões de sondas Von Neumann expandindo-se em todas as direções, enquanto aumentariam sua velocidade de exploração gradualmente, até bem próxima à da luz. Desta forma, uma galáxia que estivesse a 100 mil anos-luz poderia ser completamente analisada em, digamos, meio milhão de anos.
Os novos desenvolvimentos
Se uma sonda Von Neumann encontrar somente evidências de vida primitiva onde procurar — ou uma civilização instável e selvagem —, ela poderia ficar silenciosamente inativa ou dormente naquele orbe, aguardando que ali floresça uma civilização do Tipo 0, que em seguida evolucione até o Tipo I, mais estável, e assim por diante. Depois de esperar calada por vários milênios, a sonda pode se ativar quando tal civilização estiver suficientemente avançada para ser analisada. O físico Paul Davies, da Universidade de Adelaide, na Austrália, propôs que uma sonda como a descrita poderia estar dormente em nossa própria Lua, deixada lá numa visita prévia que tenha feito ao Sistema Solar, aguardando despertar.
Se essa narração dos fatos parece um pouco familiar é porque está baseada no filme 2001: Uma Odisséia no Espaço [1968], de Stanley Kubrick. Orig
inalmente, Kubrick começou a produzir seu filme contando com a assessoria de uma série de cientistas, que lhe explicaram como uma sonda como a descrita seria o método mais eficiente para explorar o espaço exterior. Infelizmente, na última hora, o diretor cortou o segmento da abertura de seu filme e estes monólitos se converteram em entidades quase místicas.
Mas, desde que Kardashev concebeu a categorização dos possíveis tipos de civilizações extraterrestres existentes no universo, muitos desenvolvimentos científicos surgiram para estender seus conceitos, como os recentes avanços nas áreas da nanotecnologia, da biotecnologia, da física quântica etc. A nanotecnologia, por exemplo, poderia facilitar o desenvolvimento das sondas Von Neumann. Como o físico Richard Feynman um dia asseverou, “há muito espaço no quarto dos fundos”. Feynman, um dos desenvolvedores da bomba atômica, estava se referindo ao fato de que não há nada nas leis da física que impeça a construção de exércitos de máquinas moleculares. Cientistas já construíram curiosidades de tamanho microscópico, como um violão com cordas que tem apenas 100 átomos de comprimento.
Davies também especula que uma civilização viajando pelo espaço poderia usar a nanotecnologia para construir sondas em miniatura para explorar novas galáxias, talvez não maiores do que a palma de uma mão. Ele diz que “essas sondas diminutas seriam tão discretas que eu não ficaria surpreso se encontrarmos uma. É assim que a tecnologia se desenvolve: pequena, rapidamente e mais barata. E se outras civilizações foram por este caminho, então estaríamos rodeados por tais dispositivos de vigilância”. Além do mais, o desenvolvimento da biotecnologia abriu novas possibilidades. Essas sondas podem atuar como verdadeiras formas de vida, enquanto reproduzem sua informação genética, deformando-se e evoluindo em cada fase de reprodução para melhorarem suas capacidades — podem até desenvolver inteligência artificial para acelerarem sua busca.
Ouvimos bem o que diz o cosmos?
Mas novas informações podem modificar a categorização original de Nicolai Kardashev, que, afinal, é de 1964. Por exemplo, o Projeto SETI [sigla em inglês para Search for Extraterrestrial Intelligence, que significa Busca por Inteligência Extraterrestre] apenas examina transmissões eventualmente emitidas por uma civilização do Tipo 0, mas não de civilizações mais avançadas, devido à quantidade de ruído encontrada no espaço profundo. Ora, receber transmissões numa só freqüência representa um erro grave. Em vez de botar todos os ovos numa mesma cesta, um sistema mais eficiente enviaria a mensagem em todas as freqüências. Desta forma, ainda que certas freqüências sofram interferência de estática, a mensagem sobreviveria com precisão quando se voltar a montá-la pelas vias rotineiras de correção de erros.
Além do que, qualquer civilização do Tipo 0 que escute a mensagem emitida numa única freqüência apenas ouviria um som sem sentido. Por analogia, civilizações do Tipo II e III, de nossa galáxia, poderiam estar enviando várias mensagens, mas nossos radiotelescópios apenas ouviriam sons incoerentes. E há também a possibilidade de que uma civilização do Tipo II ou III alcance uma quantidade fabulosa de energia, como a teorizada por Max Planck, da ordem de bilhões de volts — milhões de vezes maior do que nosso destruidor de átomos mais poderoso. Com isso, tal espécie poderia usar os recursos do universo de forma ainda não imaginada por nós.
A aludida energia permitiria a tais civilizações, por exemplo, navegar através de buracos negros ou de minhoca. Ficção? Talvez, mas com os recentes avanços da gravidade quântica e da Teoria das Super Cordas, há um renovado interesse entre os físicos a respeito de energias tão grandes e com efeitos quânticos tão vastos que podem separar o espaço do tempo. Esse quantum físico permitiria a navegação nos tais buracos, possibilitando a civilizações suficientemente avançadas a viagem pelo universo usando os atalhos que eles formam. E se tais espécies podem navegar com sucesso através deles, podem ir a qualquer ponto da galáxia que desejarem. Isso reduziria muito o tempo de transição entre uma civilização do Tipo II e uma do Tipo III. Igualmente, a habilidade de se abrir buracos no espaço-tempo pode um dia acontecer.
Vida ao redor de buracos negros
Astrônomos que analisam a luz emitida pelas supernovas concluíram recentemente que o universo poder estar acelerando sua velocidade, em vez de a estar reduzindo. Se isso é verdade, pode haver uma força de antigravidade — talvez a constante na cosmologia de Einstein — a neutralizar a atração gravitacional de galáxias distantes. Mas isso também significa que o universo poderia se estender para sempre, como vários artigos científicos postulam. Isso seria lamentável, pois qualquer civilização que sobreviva a tal situação estaria desesperadamente se agrupando ao lado das estrelas de nêutrons e de buracos negros, ou seja, a vida inteligente morre enquanto o universo morre.
Hoje compreendemos que foguetes suficientemente poderosos podem nos salvar da morte de nosso Sol, prevista para daqui a cinco bilhões de anos, depois que os oceanos ferverem e as montanhas derreterem. Mas como escaparemos da morte do universo? O astrônomo John Barrows, da Universidade de Sussex, na Inglaterra, tem uma idéia: “Vamos supor que pudéssemos aumentar a graduação de nossa civilização para cima do Tipo 0. Os membros de hipotéticas civilizações do Tipo II, III, IV, V, e assim sucessivamente, poderiam manipular as estruturas do universo em novas formas de equilíbrio, abarcando grupos de galáxias e agrupando-as em unidades maiores”. Ou seja, as civilizações além do Tipo III podem ter energia suficiente para fugir de nosso agonizante universo pelos buracos no espaço. Mas para onde iriam?
Obviamente, até que alguém realmente faça contato com uma civilização avançada, tudo isso é especula&
ccedil;ão, ainda que respaldada pelas leis da física. Estes dados não passam de um guia inicial em nossa procura por inteligências extraterrestres. Mas um dia poderemos consultar uma futura “enciclopédia cósmica”, que conterá as coordenadas de centenas ou milhares de planetas como a Terra num dado setor da galáxia, e então perguntaremos, assim como o fez Carl Sagan: “Como seria uma civilização um milhão de anos mais avançada que a nossa?”
Os possíveis tipos de civilizações inteligentes existentes no universo
O astrônomo soviético Nikolai Kardashev e depois o físico norte-americano Freeman Dyson criaram um sistema que ficou conhecido como Esquema de Classificação Kardashev, utilizado para classificar possíveis civilizações extraterrestres com base na maneira como elas produzem, consomem e reciclam a energia necessária para sobreviverem. O sistema tem quatro tipos básicos, dois hipotéticos e dois fictícios.
• Civilizações do Tipo 0 São aquelas que ainda utilizam métodos primitivos de produção de energia, baseados na queima de combustíveis fósseis, nucleares e alternativos, com comprometimento do meio ambiente. Ainda mantêm estruturas segmentadas de cultura, religião e política, e não conseguiram se livrar de seus conflitos raciais, preconceitos e guerras. Podem estar na iminência de se autodestruir, antes de atingir uma situação Tipo I. A Terra é um exemplo clássico desta categoria.
• Civilizações do Tipo 1 São as que dominaram as formas energéticas de seu planeta natal e têm a capacidade de modificar seu clima, minerar seus oceanos ou extrair energia diretamente do núcleo de seus mundos. As necessidades de uma raça desse tipo seriam tão grandes que precisariam utilizar recursos energéticos de todo o seu globo. A utilização e gerenciamento de recursos nessa escala requerem sofisticado grau de cooperação e comunicação entre seus habitantes. Isso significa que tal tipo de civilização já pode ser chamada de planetária, e a maior parte de seus conflitos raciais, disputas religiosas, preconceitos etc deve estar eliminada.
• Civilizações do Tipo 2 Teriam esgotado os recursos energéticos de seus planetas devido à sua grande demanda. Por isso, passaram a dominar a energia de sua estrela principal para obter o que necessitam. Dyson especula que, construindo uma gigantesca esfera em torno das estrelas que orbitam, civilizações desse tipo poderiam utilizar sua produção total de energia. Também poderiam ter iniciado a exploração e colonização de sistemas estelares próximos.
• Civilizações do Tipo 3 São manipuladoras de espantosa quantidade de energia e teriam esgotado a produção de uma única estrela, estando agora em busca de sistemas e aglomerados estelares por todo o universo para suprirem sua magnífica demanda. São assim candidatas a entrar na classificação de civilizações galácticas. Inclusive, poderiam abandonar seus mundos para viverem em outros sistemas planetários, talvez, se necessário, transformando-o em ambientes adequados.
Para se ter uma idéia, a famosa Federação dos Planetas, descrita na série de TV Jornada nas Estrelas, é composta de civilizações do Tipo II, a dos tecnológicos Borgs e dos misteriosos Qs. O planeta Terra possui atualmente uma civilização Tipo 0 em vias de se tornar uma de Tipo I, isso se sobrevivermos a nós mesmos.
— Equipe UFO