Uma estrela anã branca é um astro no final de sua vida, brilhando unicamente devido ao lento encolhimento após ejetar suas camadas exteriores ao espaço. Um punhado de sua matéria extremamente densa pode pesar centenas de toneladas e esse é o final de estrelas menores como o Sol, o que ocorrerá daqui 5 bilhões de anos.
Cientistas criaram modelos que permitem especular a respeito da possibilidade de o próximo telescópio da NASA, o JWST [Telescópio Espacial James Webb], detectar oxigênio e água na atmosfera de exoplanetas similares à Terra orbitando uma anã branca. Devido ao pequeno tamanho desses astros moribundos, muitas vezes encolhendo até dimensões pouco maiores que as da Terra, a região habitável que um dia essa estrela teve ficaria mais próxima do astro. Um planeta antes propício à vida teria então que migrar para mais próximo da estrela para experimentar as mesmas condições.
Os cientistas também sabem que discos de poeira circulando anãs brancas podem ser berçários de novos planetas. Esses discos são geralmente compostos das camadas superficiais da estrela, ejetadas durante seus estertores finais. Analisar as atmosferas exoplanetárias é algo possível utilizando o método do trânsito, quando o planeta passa diante de sua estrela. Sua atmosfera absorve parte da luz da estrela e uma análise espectrográfica determina, então, quais são os gases constituintes.
O problema é que as estrelas são muito mais brilhantes que os planetas e isso impede a captação da maior parte do sinal deles. Mas no caso de uma anã branca isso não acontece. E se for possível encontrar uma estrela como essa com planetas ao redor, a análise de suas atmosferas será facilitada. Descobrir gases como oxigênio e metano em exoplanetas, produzidos pela vida na Terra, seria uma forte indicação da presença de organismos nesses mundos distantes.
Outro detalhe importante é que esses compostos que indicam vida são mais facilmente encontrados se a investigação se der na região infravermelha do espectro eletromagnético. E isso é um indicativo de como é importante o lançamento do telescópio James Webb da NASA. O JWST irá operar na maior parte do tempo buscando a radiação infravermelha, ou o calor, de corpos distantes. Programado para subir a bordo de um foguete Ariane V da ESA [Agência Espacial Europeia] em 2018, o JWST não produzirá fotos tão belas quanto o extraordinário telescópio Hubble, mas seu espelho de múltiplos segmentos com mais que o dobro do tamanho do antecessor permitirá enxergar muito mais longe no universo e com maiores detalhes.
O oxigênio na Terra desapareceria em um ou dois milhões de anos, se a vida faltasse subitamente, dissolvido no oceano ou combinado a rochas. A presença desse elemento em nossa atmosfera, a uma taxa de 21 por cento, se deve à produção contínua de seres fotossintetiantes, como plantas e algas. Encontrar oxigênio na atmosfera de um exoplaneta em grandes quantidades significaria, então, que está sendo produzido em vastas quantidades, o que somente processos biológicos podem realizar.
Ainda não se conhecem planetas ao redor de anãs brancas, mas algumas dessas, compostas quase que somente por hidrogênio e hélio, exibem na análise espectrográfica sinais de elementos mais pesados, talvez resultante da perturbação em discos de material ao redor delas, produzidos por planetas. Sistemas binários onde um dos astros é uma dessas estrelas exibem variações incomuns no tempo em que um astro eclipsa o outro, indicando uma perturbação gravitacional produzida por planetas ainda não localizados.
Esse trabalho, produzido por Avi Loeb, da Universidade Harvard, e Dan Maoz, da Universidade de Tel-Aviv, aponta a necessidade de encontrar as mais brilhantes entre as anãs brancas próximas, a fim de melhorar a chance de encontrar vida extraterrestre. Eles estimam que será necessário investigar 500 dessas estrelas para desvendar uma com um planeta como a Terra na região habitável, onde a existência de água líquida na superfície é possível.
Eles também defendem que a anã branca alvo deve ter cerca de três bilhões de anos de idade, já que a vida na Terra levou dois bilhões de anos até começar a produzir oxigênio em grandes quantidades. E planetas com o tamanho do nosso também são ideais para a já descrita pesquisa em suas atmosferas, já que mundos maiores teriam maior gravidade e uma camada atmosférica mais estreita, dificultando as observações.
Leia o trabalho de Avi Loeb e Dan Maoz
Imagens da construção do James Webb
Saiba mais:
Livro: Dossiê Cometa