Um novo documentário sobre UFOs, amplamente comentado, intitulado “A Era da Revelação”, inclui uma alegação de um ex-funcionário da CIA de que o Vaticano possui evidências da existência de inteligência não humana — e ele não está se referindo a anjos.

O debate sobre UFOs ganhou um novo capítulo dentro do universo religioso. Após o lançamento do documentário The Age of Disclosure, no qual um ex-agente da CIA afirma que o Vaticano teria conhecimento de tecnologia de origem não humana, um cineasta católico decidiu mergulhar no tema e investigar pessoalmente as alegações.
Sam Sorich, produtor e diretor com longa experiência em mídia católica, está desenvolvendo um documentário que pretende oferecer uma resposta séria, fundamentada e teologicamente embasada à crescente onda de especulações envolvendo a Igreja e o fenômeno ufológico.

A acusação que reacendeu o debate
A motivação do projeto surgiu após as declarações de David Grusch, ex-oficial de inteligência dos EUA que ganhou repercussão ao depor no Congresso norte-americano em 2023. Entre suas denúncias, uma chamou atenção do mundo católico: segundo ele, o Vaticano teria tido acesso a informações sobre um suposto acidente de OVNI na Itália em 1933. O caso envolveria o papa Pio XII, que, conforme a narrativa apresentada por Grusch, teria comunicado discretamente a existência da nave ao governo dos Estados Unidos após a Segunda Guerra Mundial.

A declaração explosiva, que reapareceu no documentário The Age of Disclosure, motivou Sorich a iniciar uma investigação independente.
“É uma afirmação forte, que terá impacto cultural enorme. A Igreja precisa responder, e isso deve acontecer em todos os níveis”, afirmou o cineasta.
Filmagens na Itália e buscas por evidências
Em outubro de 2025, Sorich e sua equipe viajaram até San Oreste, na Itália, para gravar cenas no Bunker Soratte — um complexo militar subterrâneo construído durante o regime fascista. O local foi apontado por algumas narrativas como possível área de armazenamento ou estudo de materiais ufológicos relacionados ao acidente de 1933.
Durante uma visita guiada gravada para o filme, o pesquisador Jesse Michels percorreu túneis e instalações que, segundo o prefeito local, Gregory Paolucci, teriam conexões históricas com o Vaticano. Paolucci citou um episódio curioso: quando fundou o museu do bunker, recebeu de um agente dos serviços secretos italianos uma jaqueta da Guarda Suíça da época da Segunda Guerra.
Contudo, ele admitiu nunca ter encontrado provas concretas que confirmem a ligação do local com qualquer artefato não humano.
Silêncio do Observatório do Vaticano
Buscando aprofundar as apurações, Sorich tentou entrevistar representantes do Observatório do Vaticano, mas teve seu pedido recusado.
O então diretor, o jesuíta Guy Consolmagno, explicou por e-mail que a política da instituição — tanto em seu mandato quanto atualmente — é evitar comentários públicos sobre UFOs. O motivo, segundo ele, é simples: O tema é extremamente sensível e frequentemente contaminado por especulações e charlatanismo.
A resistência não veio apenas do Observatório. Professores de universidades pontifícias em Roma também declinaram entrevistas, afirmando que o assunto não possui credibilidade acadêmica suficiente para discussões formais; um deles chegou a comparar falar de UFOs com um astrofísico a “discutir unicórnios com um zoólogo”.
Os encontros sobre UFOs dentro do Vaticano — e o que eles realmente eram
As investigações levaram Sorich a uma série de palestras mencionadas pela imprensa italiana com títulos sugestivos, como “Vaticano abre-se para os UFOs”. Porém, ao buscar mais informações, o cineasta descobriu que esses encontros não tinham nada de oficiais: faziam parte das tradicionais “Quartas-feiras Culturais”, realizadas por mais de 30 anos na capela de Santa Ana, dentro do território vaticano.

A série tratava de temas variados — egiptologia, poesia, arqueologia, cultura mundial — e as discussões sobre UFOs eram apenas ocasionais. Ainda assim, a viúva do organizador, Nadia Giudici, expressou interesse em promover outro debate sobre o tema no próximo ano.
Mais perguntas do que respostas
Apesar de encontrar elementos curiosos, Sorich admite que ainda não há provas concretas que sustentem as alegações de Grusch sobre uma colaboração secreta entre Vaticano e governo norte-americano em assuntos ufológicos. Mesmo assim, ele considera retornar à Itália para continuar investigando.
A resposta católica ao fenômeno ufológico
A produtora de Sorich, Glass Darkly Films, já trabalhou em projetos voltados à comunidade católica e conta agora com o apoio financeiro de Brantly Millegan, figura conhecida no meio religioso digital. Para Millegan:
“A Igreja tem uma tradição rica que pode lhe dar respostas. Temos um Magistério vivo — e Sam presta um grande serviço ao tratar disso com seriedade.”
O filme, previsto para 2026, pretende reunir teólogos católicos, especialistas em filosofia e ciência, padres e seminaristas que relatam ter visto fenômenos anômalos e fiéis que experimentaram eventos ainda não explicados pela teologia tradicional. Muitos entrevistados pediram anonimato por medo de estigma.
Sorich acredita que o medo do ridículo ainda impede que católicos compartilhem suas experiências ou mesmo busquem compreensão religiosa sobre o tema.

“É uma questão pastoral”: ouvir quem está à margem
Para o cineasta, o papel da Igreja não é julgar, mas acolher e dialogar.
“Pessoas interessadas em UFOs foram empurradas para a periferia. Disseram a elas que são loucas. Mas isso não muda como a Igreja deve tratá-las: com amor e respeito.”
Sorich vê no tema uma oportunidade de evangelização cultural, um convite para que a Igreja responda aos questionamentos contemporâneos sem medo, com profundidade e responsabilidade.





