O diretor do Observatório Astronômico do Vaticano, padre José Gabriel Funes, afirmou em entrevista que “Deus pode ter criado seres inteligentes em outros planetas do mesmo jeito como criou o universo e os homens”. A afirmação foi publicada na edição de 13 de maio do jornal L´Osservatore Romano, órgão oficial de imprensa da Santa Sé distribuído na Itália e tido em Roma como “o jornal do papa”. Na entrevista, que foi recebida por espanto por fiéis e religiosos ligados à Santa Sé, o padre Funes diz que, “como existem diversas criaturas na Terra, poderiam existir também outros seres inteligentes, criados por Deus”.
Funes é um jesuíta argentino de 45 anos devoto de São Francisco de Assis, a cuja imagem recorreu durante a entrevista. Ele disse que “possíveis habitantes de outros planetas devem ser considerados como nossos irmãos, pois isso não contradiz nossa fé, uma vez que não podemos colocar limites à liberdade criadora de Deus”. Em outra passagem da entrevista ao L´Osservatore, o religioso astrônomo admitiu que “pode haver seres semelhantes a nós ou até mais evoluídos em outros planetas, ainda que não tenhamos provas da sua existência”. O interesse dos religiosos pela astronomia surgiu com o papa Gregório 13, que promoveu a reforma do calendário em 1582, dividindo o ano em 365 dias e 12 meses e introduzindo os anos bissextos.
José Gabriel Funes explicou que o universo é formado por 100 bilhões de galáxias, cada uma composta de 100 bilhões de estrelas. “Muitas delas ou quase todas poderiam ter planetas”. Ele sabe do que fala, pois o cargo de diretor do Observatório do Vaticano é disputadíssimo entre os astrônomos católicos. O órgão se localiza desde 1935 em Castelgandolfi, próximo de Roma, onde está situado o palácio de verão do papa, e tem um posto avançado no Arizona, Estados Unidos. “Estudar o universo não nos afasta, mas nos aproxima de Deus, porque abre nosso coração e mente e nos ajuda a colocar a vida das pessoas na perspectiva certa”, declarou ainda o cientista religioso.
Sempre falando de ciência, e sem usar a expressão “disco voador” em momento algum da entrevista, o padre Funes lembrou que os astrônomos do Vaticano fizeram importantes descobertas, como o “raio verde”, o rebaixamento de Plutão e trabalhos em parceria com a NASA, através da filial do Observatório nos Estados Unidos. Todas as suas declarações não pareceram algo casual nem espontâneo, mas sim um sinal bem estudado que, os religiosos teriam emitido para dar a entender que se aproxima o momento de certas revelações sobre a pluralidade da vida no universo, além da contemplação das novas perspectivas que isso pode representar para a humanidade, especialmente para os católicos. Confira a entrevista do padre José Gabriel Funes:
Como fica a teoria do criacionismo, segundo a qual a vida na Terra foi toda gerada por Deus, com suas afirmações de que pode haver vida inteligente no universo? Nada muda. Mesmo antes disso, as teorias propostas, como a do evolucionismo, de Charles Darwin, que explica o nascimento do universo e da vida na Terra sem fazer relação com a existência de Deus, não se chocam com a visão da Igreja.
E a crença em Deus após a eventual descoberta de que existem muitas outras civilizações no universo? Como astrônomo, eu continuo a acreditar que Deus seja o criador deste universo e que nós não somos um produto do acaso, mas filhos de um pai bom.
Não há contradição entre acreditar em Deus, segundo os moldes defendidos secularmente pela Igreja, e nos seres extraterrestres? Nenhuma. Pelo contrário, há confirmação. Observando as estrelas, vemos claramente um processo evolutivo, e este é um dado científico. Não vejo nisso uma contradição com a fé em Deus. E estudar astronomia não leva necessariamente ao ateísmo.
O senhor não acha que estudar astronomia pode proporcionar uma visão solitária para a espécie humana, levando até mesmo a duvidar da criação? Não, é uma lenda achar que a astronomia favoreça uma visão atéia do mundo. Nosso trabalho no Observatório do Vaticano demonstra que é possível fazer ciência seriamente e acreditar em Deus.