WASHINGTON – No longuíssimo prazo, o equilibro entre matéria e energia do Universo vai pender cada vez mais para o lado da matéria, terminando com um espaço povoado por partículas geladas, vazio de luz e calor. E, sem fontes de energia, a vida será impossível. A conclusão, descrita por dois físicos americanos na edição mais recente da revista Physical Review D, é resultado da descoberta, nos últimos anos, da chamada energia escura – uma força que está acelerando a expansão do Universo. Antes da descoberta dessa aceleração, muitos cientistas esperavam que, com o passar de bilhões e bilhões de anos, prótons e nêutrons – as partículas que compõem o núcleo da matéria comum – acabariam se desintegrando, dando origem a um futuro de pura energia, sem matéria. Mas, segundo simulação conduzida por Lawrence Krauss e Robert Scherrer, a expansão do Universo vai levar ao desaparecimento da radiação muito antes de a matéria ter tempo de se desintegrar.
Isso acontecerá porque a expansão do Universo faz com que as ondas da radiação eletromagnética – como rádio, luz e calor – estiquem-se, aumentando em comprimento e perdendo freqüência. Como a energia da onda é proporcional à freqüência, a expansão acelerada fará com que as ondas tornem-se fracas demais para afetar a matéria antes que os prótons cheguem a se desintegrar. Como resultado, tudo que existe no Universo ficará cada vez mais frio. “Nesse Universo, todas as outras galáxias e fontes de energia fora do nosso grupo local desaparecerão rapidamente de vista”, diz Krauss.
Como resultado, civilizações que existam nessa época ficarão sem suprimentos de energia, o que levará à extinção da vida. Mas o astrônomo Martin Rees, da Universidade Cambridge, embora concorde com os cálculos de Krauss e Scherrer, discorda da conclusão apocalíptica. Ouvido pelo serviço noticioso ScienceNow, Rees afirma que, exceto pelo desaparecimento das estrelas mais distantes, as condições locais não mudarão muito. A vida poderia continuar, mesmo com um suprimento de energia em contínuo declínio, embora sob a forma de criaturas “tão diferentes dos humanos quanto nós somos dos insetos mais primitivos”.