Desde o início da chamada Era Moderna dos Discos Voadores, no final da década de 40, ufólogos e membros da comunidade científica vivem uma relação conturbada. Embora haja certa mobilidade entre os dois grupos, tipicamente seus representantes trocam farpas ao defender posições discordantes sobre UFOs e alienígenas, aumentando gradualmente o abismo que os separa. Esse fato histórico não é gratuito, mas tem razões para acontecer. Com enorme frequência, a Ufologia e a ciência convencional partem de pressupostos diferentes, o que faz com que se distanciem à medida que constroem conclusões a partir dos respectivos alicerces.
Como a realidade atual tem entre suas características principais uma quantidade imensa de pessoas abraçando distintas visões de mundo, cada forma de pensar sobre os UFOs acaba por encontrar um grande número de adeptos. E essa coletividade reunida em torno de cada conjunto de convicções acaba por se sentir progressivamente forte e coesa, como se dominasse o mundo ou estivesse a caminho disso. Experimente o leitor ir a um grande evento de céticos, esotéricos ou ufólogos e verá por si mesmo isso que se afirma. Um dos resultados é a ilusão, por parte dos adeptos, de que a Razão (com R maiúsculo) está ao seu lado e de que mais e mais pessoas estão “acordando para a realidade” da qual estão convictos. Assim, entrincheirados entre seus iguais e sem se esforçarem para compreender os melhores argumentos e contribuições dos enormes e igualmente inteligentes grupos de pessoas que pensam de outro modo, ufólogos, céticos e cientistas tendem a viver em um estado de alienação mútua.
Encontros e desencontros
Mas pontes entre essas diferentes formas de ver o Fenômeno UFO estão sendo construídas, ainda que a maioria das pessoas ignore o fato — e não se tratam de casos isolados, em que um ou outro cientista embarca em investigações privadas fora da academia ou de ufólogos que encomendam algumas análises em laboratório de material coletado em pesquisas de campo. Tampouco me refiro apenas à amplificação contemporânea do conceito de ciência. Vale dizer que, ao contrário do que muitos ufólogos, esotéricos e entusiastas pensam, essa amplificação não significa que qualquer forma de conhecimento organizado pode ser considerada ciência. Há diferentes formas de conhecimento, como ciência, religião, esoterismo, arte, conhecimento popular, pseudociência, autoconhecimento, com princípios que as tornam reconhecíveis e em algo distintas. Mesmo considerando-se suas crescentes variações, há um conjunto de princípios que tornam uma área de conhecimento científica e que a Ufologia não segue.
Este artigo pretende contornar parte dessas impressões errôneas. Com boa vontade, cientistas em plena atividade têm realizado pesquisas robustas e complexas dentro do meio acadêmico sobre experiências ufológicas e publicado seus reveladores resultados em periódicos científicos respeitados. A grande maioria dessas pesquisas vem dos Estados Unidos e da Europa, mas elas estão acontecendo mesmo no Brasil. Assim, é passada a hora de a Ufologia se interessar por esses estudos e pelas contribuições diretas que eles dão para a compreensão abrangente e honesta das experiências e convicções ufológicas. Sem a participação mais ativa tanto do método científico quanto de seus resultados, a Ufologia tem encontrado sérios problemas em seu caminho em busca de solidez. Exemplos simples ilustram o ponto.
Certa vez, testemunhei uma palestra em que um conhecido ufólogo brasileiro reapresentava um caso de abdução também muito conhecido que ele investigara. Ao final, outro ufólogo, também conhecido, se levantou e contestou a autenticidade do episódio, dizendo que conhecia o pretenso abduzido e que, nos termos usados na ocasião, “não via a verdade nos olhos dele”. Prontamente, o descobridor da abdução contra-atacou, afirmando que o protagonista era sincero e verdadeiro, que não teria razão para mentir. Ou seja, para ambos, o critério que permitia discernir o caso como autêntico ou falso era a avaliação superficialmente subjetiva de cada um sobre a honestidade e as motivações do abduzido.
Separando o joio do trigo
Em outra oportunidade, testemunhei uma acalorada discussão, fundamentada em semelhante superficialidade, entre ufólogos brasileiros e norte-americanos sobre a autenticidade de casos de relação sexual convencional entre humanos e alienígenas durante abduções. O mesmo acontece quanto a diversos outros episódios, fotografias e vídeos ufológicos, teorias da conspiração etc. Muitos ufólogos enxergam evidências de abdução em quaisquer sonhos ou lembranças imprecisas da infância das pessoas — os exemplos são intermináveis e mostram o quanto a Ufologia peca pela falta de sistematização. Muitos pesquisadores dizem que 90% dos episódios são fraudes e erros de interpretação de fenômenos mundanos, enquanto outros dizem que são 99%, 95% ou mesmo 100%, no caso dos céticos. Mas como separar o joio do trigo de modo mais robusto e confiável? O método científico possui recursos para enfrentar essas dificuldades, além de diversos resultados já disponíveis em relação aos UFOs e alienígenas.
Além disso, a ciência frequentemente faz descobertas contraintuitivas, isto é, que contrariam o modo como as coisas parecem ser. Entre os exemplos mais famosos, aprendemos com Einstein que o espaço é curvado pela gravidade e que o tempo é relativo, mesmo que nossa experiência cotidiana rudimentar faça parecer o contrário. A mecânica quântica nos mostra, entre outras estranhas maravilhas, que duas partículas, separadas por qualquer distância, podem se afetar instantaneamente e que a realidade subatômica é caótica e probabilística. A última é tão contraintuitiva que até Einstein estranhou a ideia. Da mesma forma, a ciência pode fazer — e tem feito — descobertas contraintuitivas sobre experiências ufológicas e paranormais em geral, o que deve ser levado em conta por qualquer pessoa honestamente interessada em entender o que esses episódios significam, mesmo com a eventual necessidade de abandonar convicções pessoais prévias.
Não apenas os ufólogos e curiosos ganhariam com a assimilação consistente da ciência, mas as testemunhas ufológicas também se beneficiariam tremendamente. Com frequência, recebo e-mails de pessoas que se d
izem assustadas após determinadas experiências. Após buscar mais detalhes e aplicar o escrutínio científico, a imensa maioria das ocasiões revela evidências de que a assustadora experiência em questão pode ser explicada em termos convencionais, o que costuma trazer grande alívio aos seus protagonistas. Para os casos em que há uma dose adicional de mistério, o método científico é um instrumento poderoso para construir conhecimento a respeito, o que também promete trazer conforto para os protagonistas e respostas para aqueles honestamente interessados em prosseguir no caminho de compreender esses episódios — e esse esforço científico já vem acontecendo.
Um ponto de partida
Tudo começa com a definição de um objeto de estudo cientificamente viável. Ao menos de modo oficial e aberto, a comunidade científica não tem naves e alienígenas em seus laboratórios para exame. Muitas pessoas erram ao entender que isso inviabiliza o estudo científico dito convencional dos contatos imediatos. Mas basta uma ligeira mudança de enfoque para tornar os estudos não apenas possíveis, mas tremendamente produtivos. Um dos pilares do método científico é a possibilidade de verificação dos seus resultados por qualquer um que repita os procedimentos de pesquisa, incluindo céticos. Se não possuímos esse luxo com naves e corpos de alienígenas, temos à disposição um grande número de testemunhas ufológicas e seus relatos. Ora, se há controvérsia sobre esse ou aquele caso, sobre a origem dos UFOs e mesmo sobre sua existência — considerando-se os céticos —, não há dúvidas sobre a existência das testemunhas e de seus relatos. Esses podem ser os pontos de partida para a pesquisa científica das experiências ufológicas, com apoio adicional dos eventuais indícios físicos, que são mais raros.
Definir o objeto de estudo da Ufologia dessa forma é um modo imensamente eficaz, inclusive, de atrair a atenção da comunidade científica. Como os estudos começam enfocando as pessoas e suas experiências subjetivas, a peculiaridade e a riqueza dos casos ufológicos acabam sendo interessantes para psicólogos, antropólogos, neurocientistas, sociólogos, psiquiatras, cientistas da religião e de áreas afins. É o que tenho percebido corriqueiramente, pois tenho encontrado as portas abertas para publicar regularmente artigos sobre tais temas em revistas científicas e para fazer palestras em eventos acadêmicos nessas áreas. Quando termino minhas apresentações e abro espaço para questionamentos, a plateia, quase inteiramente composta de cientistas, me inunda com perguntas interessadas e entusiasmadas.
O interesse do meio acadêmico pelas experiências ufológicas não é propriamente recente. Carl Jung foi o primeiro cientista a se posicionar de modo detalhado e profundo sobre o assunto, tendo publicado em 1958 a versão original de seu livro Um Mito Moderno Sobre Coisas Vistas no Céu [Melhoramentos, 1968]. Trata-se, aliás, de uma obra muito mal compreendida entre os ufólogos. Dois anos antes, o famoso psicólogo norte-americano Leon Festinger lançou os pilares de sua Teoria da Dissonância Cognitiva, uma das teorias mais ricas e úteis da história da psicologia, a partir de um estudo de campo que fez com um grupo de contatados. Mais recentemente, diversos periódicos científicos têm publicado pesquisas no Brasil e no exterior sobre a controvérsia cultural e científica sobre UFOs e extraterrestres, testes psicológicos e avaliações clínicas em testemunhas, relações dessas experiências ufológicas com folclore e religião, o funcionamento da percepção e da memória em casos ufológicos etc.
Pluralidade dos mundos
Há ainda muitas publicações em revistas científicas que tratam de estatísticas sobre aspectos diversos do Fenômeno UFO, como duração das experiências, o número de testemunhas por caso etc, assim como das relações das experiências ufológicas com místicas, busca de causas para os episódios, o desenvolvimento histórico da Ufologia e implicações psicológicas, filosóficas, sociológicas e antropológicas do imaginário coletivo sobre a pluralidade dos mundos habitados. A Associação Psicológica Americana, o órgão mais importante do mundo na área da psicologia, publicou no ano 2000 uma icônica obra sobre experiências extraordinárias chamada Variedades da Experiência Anômala, que tem um excelente capítulo inteiramente dedicado às abduções — e poucos ufólogos sabem disso.
Naturalmente, não é possível apresentar aqui essa imensa quantidade de estudos. Mas, olhando-os de modo panorâmico, alguns pontos se tornam estabelecidos, enquanto a controvérsia reina em outros domínios, demandando novos estudos. Em resumo, pesquisas acadêmicas no mundo todo demonstram que as experiências ufológicas — incluindo as abduções e contatos amistosos —, não têm entre suas causas típicas as doenças mentais. Mas diversas pesquisas encontram uma série de características psicológicas, embora não ligadas a transtornos mentais, que aparecem regularmente nessas testemunhas de um modo mais acentuado do que na população geral, como tendência a fantasiar e a ter distorções de memória, além de elevada sugestionabilidade e traços de paranoia. Enquanto isso, outros estudos não encontram essas características. Isso significa que novas investigações são necessárias, ao mesmo tempo em que os métodos usados precisam ser aprimorados — e já estão sendo.
A ausência de abduções em alguns países, enquanto chegam ao nosso conhecimento outros tipos de episódios neles, sugere uma formatação cultural mais específica, de modo que, naqueles contextos culturais, abduções não são relatadas
Entre os exemplos está um estudo realizado na Inglaterra e publicado em 2008, que sugeriu que testemunhas ufológicas são pessoas mais sugestionáveis e propensas à dissociação, a crenças em paranormalidade, falsas memórias e fantasias. Na segunda etapa da pesquisa, os autores testaram 19 pessoas que alegavam essas experiências e encontraram os mesmos resultados, além de uma tendência delas a terem alucinações. Por sua vez, ao contrário dos resultados dos estudos anter
iores, eles não apuraram susceptibilidade maior dos protagonistas para falsas memórias.
A ciência encontra a Ufologia
Outro estudo publicado no mesmo ano examinou a tendência à fantasia, a inteligência emocional e características de personalidade de 26 pessoas também da Inglaterra, dos Estados Unidos e da Austrália que alegavam terem sido abduzidas. Contrariando os resultados das diversas pesquisas realizadas anteriormente, os autores não encontraram diferença entre abduzidos e não abduzidos em quase todas as características investigadas, o que os levou a defender que os primeiros possuem perfil psicológico bastante semelhante ao do restante da população. Os autores também criticaram estudos anteriores ao sugerir que as diferenças encontradas neles quanto a essas e outras características pessoais se deveram a deficiências metodológicas sérias, como preconceito contra os abduzidos, observação tendenciosa, métodos inadequados e amostras pequenas. A discussão é grande e cada nova pesquisa leva em conta as críticas anteriores. A ciência se aperfeiçoa a cada novo estudo e controvérsia.
Por sua vez, o ambiente cultural faz muita diferença para o formato das experiências ufológicas. A depender de onde as testemunhas nascem e vivem, elas tendem a relatar diferentes tipos de alienígenas, naves e episódios. Por exemplo, enquanto as abduções são muito relatadas no Ocidente, em especial na América do Norte, elas são raríssimas na Ásia, sendo que muitos países não têm um único caso conhecido. Os ufólogos se perguntam se isso não resultaria simplesmente da ausência de ufólogos nesses locais, o que também é um exemplo de como cada cultura lida com os UFOs. Mas, se fosse apenas isso, não teríamos conhecimento de casos ufológicos de qualquer tipo nestes locais.
A ausência singular de abduções, enquanto outros tipos de episódios chegam ao nosso conhecimento, sugere uma formatação cultural mais específica, de modo que, naqueles contextos culturais, abduções não fazem sentido e não são relatadas. E enquanto os seres baixos e cinzentos — os temíveis grays — são tremendamente típicos na América do Norte, e os extraterrestres altos e loiros reinam na literatura ufológica europeia, países marcados pela mistura cultural, como o Brasil, são ricos em visões de alienígenas de diversos tipos: altos, baixos, gordos, magros, demoníacos, angelicais, parecidos com Jesus ou com orixás. Tenho encontrado diversos casos assim.
Por fim, em um de meus exemplos favoritos, jornais dos anos 40 e 50 mostram que, quando o termo disco voador começou a ser ouvido no Brasil, passaram a emergir relatos de todo tipo — incluindo visões de discos voadores pequenos e negros, com um furo claro no meio, tal qual discos de vitrola. Como as pessoas ainda não tinham uma ideia clara do que seriam esses tais discos voadores, muitas foram criativas em seus relatos. Conforme os UFOs se tornaram difundidos, as descrições começaram a sofrer uma formatação cultural, de modo que aquelas bizarrices virtualmente desapareceram com o tempo, dando lugar a relatos parecidos dentro de cada cultura — mas surpreendentemente diferentes, quando comparamos diferentes lugares.
Convicções ufológicas
Porém, o caráter inicial das pesquisas científicas sobre o tema pode estar nos pregando peças. Afinal, com um número proporcionalmente pequeno de estudos realizados, podemos estar enganados nos resultados. Precisamos de mais investigações e de mais cientistas envolvidos para verificarmos a solidez do que conseguimos encontrar até agora. Por isso, para divulgar o assunto em ambiente acadêmico e atrair a atenção dos colegas, organizei em 2013 um evento dentro da prestigiada Universidade de São Paulo (USP) sobre UFOs e alienígenas. Convidei outros pesquisadores acadêmicos do assunto no Brasil e palestramos ao longo do dia 23 de maio em um auditório do Instituto de Psicologia daquela instituição. O evento abordou desde a busca por inteligência extraterrestre através da astrobiologia até o desenvolvimento histórico da noção popular que hoje temos sobre discos voadores, passando também pelos aspectos psicológicos e sociais das experiências e convicções ufológicas. O evento teve desdobramentos interessantes e ainda há repercussão na instituição, tanto que se planeja a segunda edição para o futuro próximo. Tenho também feito e incentivado palestras em outros locais com o mesmo propósito.
Foi nesse contexto de abertura gradual do meio acadêmico à pesquisa aprofundada de temas paranormais, nos quais a Ufologia está inserida, que defendi em 2011 minha dissertação de mestrado sobre experiências ufológicas dentro da mesma USP. O título do trabalho é longo, mas fácil de ser explicado: Contatos Imediatos: Investigando Personalidade, Transtornos Mentais e Atribuição de Causalidade em Experiências Subjetivas com Óvnis e Alienígenas. A dissertação apresenta uma pesquisa de dois anos que realizei, na qual foram investigadas características pessoais de 46 testemunhas ufológicas, incluindo abduzidos e contatados, e os modos pelos quais elas entendem as experiências pelas quais teriam passado.
É comum em nosso cotidiano encontrarmos preconceitos segundo os quais “quem vê disco voador é louco”, tem a “mente fértil”, “quer aparecer” ou “fica entediado com o seu cotidiano e foge para um mundo de faz de conta cheio de alienígenas e viagens espaciais”. Essas são algumas das expressões usadas para rotular testemunhas. Mas elas e ufólogos combatem esses preconceitos, ainda que sobre fundamentos que necessitam revisão, como mencionado anteriormente. Assim, aplicando critérios sólidos do método científico para a obtenção de respostas, foram investigadas questões como as apresentadas a seguir, sendo que utilizei técnicas padronizadas de entrevistas, testes psicológicos e acompanhamento cotidiano dos voluntários da pesquisa:
As e
xperiências ufológicas brasileiras também não podem ser tipicamente atribuídas a transtornos mentais?
As testemunhas ufológicas têm características de personalidade que as predisporiam a ter experiências ufológicas geradas apenas em sua própria mente, tais como tendência a fantasiar, desejo de chamar a atenção ou dificuldades emocionais para lidar com o dia a dia?
Como é o processo mental pelo qual as testemunhas, a partir de uma determinada experiência estranha, real ou não, chegam à conclusão de que se defrontaram com algo extraterrestre?
As razões são reais
As conclusões do longo estudo foram contraintuitivas tanto para céticos quanto para ufólogos. Por um lado, enquanto grupo, as testemunhas ufológicas não apresentam transtornos mentais e aquelas mencionadas características psicológicas. Assim, embora seja possível que experiências ufológicas sejam geradas na mente de algumas pessoas devido a problemas mentais ou demandas psicológicas, como desejo de chamar a atenção e tendência a fantasiar, e embora muitos céticos acreditem que isso seja típico, essas características não se mostraram distintivas nos voluntários estudados, o que enfraquece o argumento de que os episódios dependem desses atributos pessoais para acontecer.
Por outro lado, ufólogos e entusiastas sempre se perguntaram por que algumas pessoas seriam “escolhidas” para ter experiências com UFOs e ETs, enquanto outras passam toda a vida sem nada lhes acontecer? Estudos como os mencionados aqui parecem indicar uma série de características em comum entre protagonistas desses episódios. Apesar do enfraquecimento daquelas hipóteses preconceituosas, minha pesquisa encontrou outros atributos pessoais que distinguiram as testemunhas ufológicas das demais pessoas. Os abduzidos e contatados do estudo apresentaram características na infância que são conhecidas dentro da psicologia e psiquiatria como indicadoras de um desenvolvimento futuro de transtornos mentais graves. Assim, eram crianças que tipicamente se comportavam de modo estranho, além de se isolar, ouvir vozes ou ver vultos exóticos, tudo isso sem relação com religiões específicas. A psicologia e a psiquiatria estão apenas começando a entender como e porque essas crianças têm um desenvolvimento posterior saudável, e as pesquisas com testemunhas ufológicas estão ajudando diretamente nisso.
Entre os acontecimentos que testemunhei até agora estão demonstrações diversas de paranormalidade oriunda de intervenções extraterrestres e a passagem lenta de uma silenciosa esfera de luz dourada sobre mim e outras 500 pessoas
Por outro lado, os protagonistas de experiências consideradas mais simples, como ver um UFO ou um alienígena de modo rápido, se destacaram por apresentar uma mente mais aberta a novidades e a emoções positivas, como felicidade e boa disposição, além de sensibilidade à beleza das artes e de outros aspectos da vida, interesse por uma rotina repleta de atividades e tendência a questionar valores tradicionais. E essas pessoas ainda apresentaram menor tendência para alcançar metas socialmente valorizadas em nosso contexto e ponderam pouco antes de tomar decisões.
Já os abduzidos e contatados se destacaram da mesma forma por ter a mente mais aberta, uma rotina movimentada, senso estético e questionamento de valores, acrescentando destacada assertividade, tendência a valorizar os próprios sentimentos e curiosidade intelectual. É interessante notar também que, ao contrário de certo estereótipo popular segundo o qual pessoas que relatam experiências ufológicas são menos inteligentes, o traço de personalidade relativo àquela “mente aberta” se relaciona moderadamente, segundo outras pesquisas, a bons níveis de educação e inteligência.
Extraterrestres angelicais
Esses resultados nos levam a pensar em hipóteses interessantes, que vem sendo estudadas atualmente em meu doutorado. Por questão de espaço, apresentarei apenas algumas delas. Elevados senso estético, gosto pela variedade e pelo questionamento das convenções podem predispor os protagonistas de experiências ufológicas ao deslumbramento, comoção e busca de assuntos e experiências que sejam divergentes do consenso cultural e científico, além de associados ao belo — como luzes bonitas no céu, extraterrestres angelicais e civilizações utópicas. Os UFOs e alienígenas atendem bem a essas expectativas, de modo que pessoas com tais tendências pessoais poderiam se interessar pelo assunto mais facilmente. Além disso, essas testemunhas poderiam ser mais propensas a considerar como extraordinários estímulos fascinantes e ambíguos no céu, além de encontrarem ali oportunidade para manifestar sua tendência prévia ao questionamento das convenções. As pesquisas atuais têm encontrado evidência direta nesse sentido, de modo que tenho testemunhado cotidianamente satélites, aviões e outros fenômenos naturais ou artificiais familiares sendo logo tomados como naves extraterrestres, quase sempre sob grande comoção.
Como possibilidade alternativa, ao contrário de serem resultado dessas tendências pessoais prévias, as experiências ufológicas poderiam estimular a abertura mental para o novo e o belo, além do questionamento a convenções — especialmente se houver um histórico dessas experiências desde a infância ou juventude. Embora essas características de personalidade sejam razoavelmente estáveis ao longo da vida, existem precedentes para sugerir impactos transformadores de experiências estranhas sobre modos habituais de comportamento das pessoas, como já defendiam a psicóloga carioca Gilda Moura e o
saudoso psiquiatra John Mack.
Vivenciando o fenômeno
Temos de considerar também a possibilidade de mútua influência entre disposições pessoais prévias e experiências ufológicas. Assim, pessoas mais propensas a tomar como anômalas experiências ambíguas poderiam ter nessas um reforço para se abrirem ainda mais ao belo, ao novo e ao não convencional. Essa mútua influência poderia se dar em uma espiral ascendente, na forma de um mútuo reforço rumo a patamares progressivamente elevados ao longo de anos, com experiências e crenças mais e mais complexas, como as pesquisas que venho conduzindo sugerem ser especialmente o caso de abduzidos e contatados. Aquelas eventuais predisposições patológicas comentadas anteriormente poderiam potencializar ainda mais a espiral, ao fornecer-lhe experiências precoces e um desenvolvimento saudável posterior que dá um novo sentido às ocorrências em fases anteriores de vida. O caráter progressivo da evolução do conjunto de convicções ufológicas e experiências potencializaria uma assimilação mais suave da situa&ccedi
l;ão, facilitando a absorção de episódios e ideias possivelmente rejeitáveis, caso emergissem sem tal gradatividade.
Por fim, o modo como as testemunhas ufológicas interpretam suas experiências e chegam à conclusão de que tiveram contato com alienígenas não resulta de uma avaliação racional isenta dos fatos, como muitos parecem querer, mas dependem fundamentalmente do contexto cultural em que vivem e de suas demandas pessoais, tudo isso acontecendo inconscientemente. Essas diferentes combinações entre influências culturais, histórico de vida e características das experiências parecem as principais responsáveis pelas notáveis variações que verificamos nos casos ufológicos investigados.
A pesquisa de mestrado que realizei, além de possibilitar descobertas interessantes, ergueu hipóteses para estudos subsequentes, como a atual pesquisa de doutorado que empreendo. Enquanto entrevistava e testava os voluntários no mestrado, boa parte deles me dizia: “Se você estivesse lá na hora da minha experiência ufológica, você também teria visto!” Pois a pesquisa atual tem permitido tais oportunidades, pois tenho testado as hipóteses resultantes dos estudos anteriores, feito novas descobertas e tido minhas próprias experiências ao acompanhar cotidianamente abduzidos e contatados, além de passar longos períodos em regiões de elevada casuística ufológica atual. Assim, tenho realizado avaliações psicológicas das testemunhas durante algumas de suas experiências ufológicas e examinado os episódios durante sua ocorrência. As descobertas e análises do farto material obtido ainda estão em curso, o que ainda impede uma exposição ampla. Contudo, cumpre adiantar alguns pontos.
Inicialmente, eu temia que minha presença nestes lugares pudesse diminuir o número de episódios — algo como o efeito nocivo da presença de um analista diante de experiências que se pretenderiam espontâneas. Mas tem ocorrido o oposto, a começar pelos dias imediatamente anteriores à minha visita a determinado local ou pessoa, recebo notícias de que os episódios se intensificaram, o que permanece após minha chegada. Entre os acontecimentos que testemunhei até o momento, apenas como exemplo, estão demonstrações diversas de alegada paranormalidade oriunda de intervenções extraterrestres diretas e a passagem lenta de uma grande e silenciosa esfera de luz dourada sobre mim e outras 50 pessoas, aproximadamente, o que foi predito pelo contatado que organizara a vigília.
Confrontos físicos com ETs
Tem sido possível acumular evidências do desaparecimento gradual de episódios ufológicos de conotação negativa e intrusiva característicos do meio rural, como perseguições em estradas isoladas por luzes vindas do céu e confrontos físicos com alienígenas corpulentos, brigas mesmo. Em seu lugar, vem se acumulando e ganhando terreno episódios de conotação positiva, como os encontros amistosos típicos dos contatados, especialmente por vias sutis, e visões fugidias que as testemunhas acreditam ter propósito benéfico. Entre as possíveis razões para isso, acumulam-se evidências da poderosa influência cultural da urbanidade crescente e diminuição tanto geográfica quanto simbólica daquilo que é propriamente rural.
Os pontos a serem discutidos são muitos e o espaço é reduzido. Discuto esses e outros assuntos detalhadamente em meu livro Procurado: Descobertas Recentes da Psicologia sobre Experiências Alienígenas e Sobrenaturais [Biblioteca 24 Horas, 2014]. Mas cumpre sintetizar aqui que os estudos acadêmicos sobre experiências ufológicas estão em estágio embrionário, lançando desafios e instigando a curiosidade de um número crescente de cientistas diante de fenômeno tão desafiador. As experiências ufológicas são oportunidades particularmente ricas para a psicologia e áreas afins pesquisarem seus temas tradicionais, como a formação das convicções pessoais e o funcionamento da memória e da percepção. Desse modo, ciência e Ufologia podem aprender muito uma com a outra.
A ciência, quando praticada de modo consciencioso, equilibra a mente aberta para novidades extraordinárias e o ceticismo que duvida de modo sistemático. Portanto, as pesquisas realizadas no meio acadêmico e seus autores não pretendem meramente desacreditar a Ufologia, como se fosse uma perseguição — o objetivo é a construção de conhecimento sólido, independentemente de isso significar a confirmação ou negação de crenças prévias. A jornada da busca pelo conhecimento exige coragem e desapego. E o convite para participar está aberto a todos.
Um livro diferente sobre Ufologia retrata os avanços científicos
Há uma luz cada vez mais brilhante no final do túnel da imensa literatura ufológica. Um exemplo é o livro que acaba de ser lançado Procurado: Descobertas Recentes da Psicologia sobre Experiências Alienígenas e Sobrenaturais [Biblioteca 24 Horas, 2014], do pesquisador mineiro Leonardo Martins. Trata-se de uma obra de Ufologia diferente, a começar pelas credenciais do autor. Martins é psicólogo formado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e mestre em psicologia pela Universidade de São Paulo (USP), onde está prestes a concluir seu doutorado. Ele também é pesquisador do Laboratório de Psicologia Anomalística e Processos Psicossociais (Inter Psi), que realiza estudos científicos sobre temas paranormais dentro da USP. p>
Orientações para leitoresHá uma luz cada vez mais brilhante no final do túnel da imensa literatura ufológica. Um exemplo é o livro que acaba de ser lançado Procurado: Descobertas Recentes da Psicologia sobre Experiências Alienígenas e Sobrenaturais [Biblioteca 24 Horas, 2014], do pesquisador mineiro Leonardo Martins. Trata-se de uma obra de Ufologia diferente, a começar pelas credenciais do autor. Martins é psicólogo formado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e mestre em psicologia pela Universidade de São Paulo (USP), onde está prestes a concluir seu doutorado. Ele também é pesquisador do Laboratório de Psicologia Anomalística e Processos Psicossociais (Inter Psi), que realiza estudos científicos sobre temas paranormais dentro da USP.
Antes disso, na adolescência, Martins fundou um grupo ufológico em sua cidade natal, a mineira Pedro Leopoldo, implementando ativa coleta de casos e realização de vigílias ufológicas — vem daí o interesse que o faria, anos mais tarde, tratar de dar um verniz científico às pesquisas ufológicas ocorrendo no país, especialmente na área das abduções alienígenas e do contatismo. Percorrido todo esse caminho e após ter artigos seus publicados em revistas científicas do Brasil e exterior, onde também realizou diversas palestras sobre temas ufológicos e sobrenaturais sob uma perspectiva científica, o psicólogo e pesquisador decidiu reunir seu trabalho em Procurado.
O livro foi escrito para todos os públicos, desde os meramente curiosos até cientistas, ufólogos e céticos. O autor apresenta detalhadamente casos ufológicos e suas próprias pesquisas sobre os mesmos, além de diversos outros estudos realizados por acadêmicos em universidades de todo o mundo, trabalhos esses que permanecem pouco conhecidos até entre os ufólogos e entusiastas do assunto, que seriam os maiores interessados. Além disso, combinando seus conhecimentos científicos e ufológicos, Martins não apenas apresenta, como discute diversos outros assuntos da Ufologia, como casos clássicos, teorias conspiratórias, o uso da hipnose em abduzidos, critérios para se reconhecer a qualidade de argumentos e evidências ufológicas, e ainda dá orientações para leitores que tiveram experiências e estão com dificuldade para lidar com elas.
Em Procurado, Martins explica didaticamente as alucinações, ilusões de ótica, mentiras, histerias coletivas, delírios, sugestão, fantasias e transtornos mentais, temas importantes para quem quer separar o joio do trigo dentro da Ufologia. A obra também discute alegadas curas espirituais, mediunidade, intuições, estigmas e outros tipos de experiências paranormais, as quais também foram relatadas por parte dos abduzidos e contatados investigados pelo autor.
Enfim, a nova obra buscou traduzir os complicados termos científicos para uma linguagem simples e acessível a qualquer leitor, sem perder o rigor que interessa àqueles que possuem alguma familiaridade com os temas tratados, o que torna Procurado uma obra de referência. O livro estáà venda na seção de Psicologia do site da Editora Biblioteca 24 Horas, no endereço www.biblioteca24horas.com.