Mais um notável se junta ao seleto grupo de autoridades que garantem que os UFOs existem. Sir Paul Hellyer, ex-ministro da Defesa do Canadá durante o governo de Lester Pearson, declarou abertamente sua crença de que exis-tem civilizações mais avançadas no Cosmos e que algu-mas delas estão nos visitando há décadas. Isso, por si só, já seria algo inusitado para ser dito por um político do calibre de Hellyer, mas ele não parou por aí. Em recente pronunciamento, afirmou também que os EUA estão desenvolvendo armamentos para serem colocados em órbita da Terra, visando evitar que naves alienígenas entrem em nossa atmosfera para suas habituais incursões. Tais comentários foram divulgados pela imprensa canadense e mundial, estimulando o interesse do público e gerando reações em mui-tos segmentos, prin-cipalmente dentro da Ufologia [Veja seção Diálogo Aber-to desta edição]. Paul Hellyer foi eleito pela primeira vez como liberal em Davenport, próximo a Toronto, em 1949. Na época, foi o mais jovem membro do Parlamento canadense. Hellyer trabalhou como assistente do ministro da Defesa Nacional e, depois, como vice-ministro da Defesa durante o governo de Louis Saint-Laurent. Mais tarde, assumiu completamente o cargo de ministro da Defesa durante o governo de Pearson, em meados de 1960, e também foi ministro dos Transportes no governo de Pierre Trudeau.
Sua mais notável e controversa conquista foi a unificação do Exército, Marinha e Força Aérea canadenses numa única organização, as Forças Armadas canadenses. Tal processo gerou considerável reação negativa por parte de muitas corporações militares, que repudiaram a maneira como suas tradições – como uniformes distintos para cada força – foram descartadas. Mas, mesmo enfrentando dificuldades, Hellyer deu conta da tarefa.
Militância política — Depois de deixar o cargo no Ministério dos Transportes, devido a um desentendimento com Trudeau, Hellyer se manteve na política de forma independente e chegou a criar o Partido da Ação Canadense, até filiar-se ao Partido Conservador Progressista. Já como progressista, candidatou-se a líder do Parlamento, mas perdeu as eleições e acabou abandonando os conservadores. Retornou à sua posição original de liberal, visando uma nova disputa para o cargo, mas não conseguiu garantir sua candidatura. Finalmente, reativou seu projeto de montar o Partido da Ação Canadense, em 1995.
O auge da sua carreira aconteceu nos primeiros anos de atividade como ministro. Suas principais preocupações gravitavam em torno da ameaça à soberania do país, representada pela influência política e econômica dos Estados Unidos sobre os assuntos canadenses. Recentemente, foi uma das personalidades a condenar publicamente o apoio dado pelo governo do Canadá ao programa nacional de implantação de mísseis balísticos do país vizinho. Hellyer defende o fim das armas no espaço e está convicto de que o sistema bélico que os EUA pretendem instalar em órbita da Terra tem como alvo UFOs vindo em direção ao planeta.
Paul Hellyer afirma ainda que sua crença nas visitas extraterrestres não tem nenhuma relação com informações privilegiadas que teria obtido enquanto ocupou o cargo de ministro da Defesa. Na época, afirma, não deu atenção aos relatos de casos ufológicos que recebia, como o do Porto de Shag, na Nova Escócia, ocorrido em outubro de 1967, ou o de Falcon Lake, em Manitoba, em maio de 1967. Este incidente tornou-se famoso por ter seu protagonista, Stephen Michalak, queimado por um UFO. Hellyer diz que o seu interesse por Ufologia começou ao assistir um documentário da rede de TV norte-americana ABC, que teve Peter Jennings como âncora e enorme repercussão na América do Norte. Em seguida, leu The Day After Roswell [O Dia Após Roswell, Pocket Books, 1997], do coronel Philip Corso, que trabalhou como chefe do Escritório de Tecnologia Estrangeira no Departamento de Desenvolvimento e Pesquisa do Exército dos Estados Unidos.
Uma das coisas que prendeu mais a atenção de Hellyer ao livro de Corso foi quando o autor afirmou que partes de um veículo alienígena foram recuperadas em julho de 1947, na queda ocorrida em Roswell, Novo México. Corso afirma também que alguns pedaços do UFO foram levados para um local secreto dentro do Pentágono, em Washington, onde foram usados para orientar o desenvolvimento de sofisticadas e revolucionárias tecnologias – como circuitos integrados, aparelhos de visão noturna e lasers. Apesar da riqueza de detalhes do relato do coronel, muitos ufólogos contestam suas idéias e duvidam de boa parte da obra. O físico nuclear Stanton Friedman [Correspondente internacional da Revista UFO no Canadá] é um deles. Friedman, primeiro ufólogo a investigar o Caso Roswell, lança dúvidas sobre as afirmações de Corso. Mas isso não abala Hellyer, que, respondendo às pessoas que questionam como pode acreditar no relato do autor, afirma que um general norte-americano lhe assegurou pessoalmente que não só o conteúdo do livro, mas coisas ainda mais surpreendentes, eram verdadeiras.
Fundamentalismo na Ufologia — Para alguns ufólogos, a incursão de Hellyer na Ufologia, e mais especificamente na exopolítica – uma nova área que pratica um misto entre Ufologia e política, definida por seus defensores como “o estudo, planejamento e diplomacia nas relações com seres extraterrestres” –, não é vista com bons olhos. E até mesmo a idéia de se estabelecer um estudo de cunho político para lidar com futuros contatos com extraterrestres é fortemente contestada por estudiosos que acreditam que a Ufologia deveria se concentrar somente na investigação científica do Fenômeno UFO. Mas a realidade disso tudo é que a maior parte desse debate acontece somente entre um pequeno grupo de pesquisadores e interessados, e tem impacto muito pequeno nas informações disseminadas pela grande mídia. Há bem poucas figuras públicas dispostas a arriscar sua popularidade defendendo a importância dos UFOs – especialmente admitindo-os como tendo origem extraterrestre.
Como se sabe, poucos políticos foram corajosos o suficiente para enfrentar o desgaste público ao garantir que o estudo de UFOs precisa ser conduzido de forma séria e oficialmente. Os ex-presidentes norte-americanos Jimmy Carter e Ronald Reagan estão entre eles e chegaram a comentar publicamente suas crenças pessoais de que estamos sendo visitados por outras civilizações
do Cosmos. Mesmo assim, fizeram poucas afirmações sobre as implicações políticas desta realidade. Por outro lado, seria de se esperar que qualquer declaração pública defendendo a possibilidade de estarmos sendo visitados por seres de outros planetas recebesse a aprovação imediata da Comunidade Ufológica Mundial, o que, infelizmente, não se verifica – devido às dissensões entre os variados pontos de vista dos praticantes da Ufologia e a abordagem específica adotada por aqueles que abraçaram a exopolítica como uma nova forma de tratar a questão dos discos voadores.
Ainda que tenha demonstrado muita coragem ao assumir uma posição pública quanto aos UFOs, Paul Hellyer está enfrentando críticas quanto às suas afirmações. O produtor de TV Paul Kimball, da empresa Redstar Films, foi quem desferiu as mais contundentes, focalizando seus ataques na alegação do ex-ministro de que não teve acesso a informações privilegiadas sobre UFOs enquanto ocupava sua posição no governo canadense. Para Kimball, se deveria haver alguém com conhecimento de alto nível sobre UFOs no país, nos anos 60, este alguém tinha que ser Hellyer. “Ora, se há uma pessoa no Canadá que precisa ter detalhes sobre visitantes extraterrestres e as respectivas políticas governamentais de acobertamento, este alguém só pode ser o ministro da Defesa Nacional, e Hellyer era essa pessoa na época”, diz. O que Kimball fala, se escuta. Ele é importante no meio ufológico por ser um dos poucos canadenses produzindo documentários sérios sobre o Fenômeno UFO.
Entretanto, a afirmação de Kimball parte do pressuposto de que o ministro da Defesa Nacional deve necessariamente saber de todos os segredos relacionados ao seu departamento. Mais ainda, assume que qualquer problema relacionado à entrada de UFOs no espaço aéreo canadense exigiria automaticamente um posicionamento político do próprio ministro. Ocorre, no entanto, que quando Hellyer assumiu seu cargo no ministério, a política de segurança nacional com relação a UFOs já tinha sido determinada pela assinatura de tratados específicos de defesa aérea continental com a North American Aerospace Defense Command [Comando de Defesa Aeroespacial Norte-Americana, NORAD], em iniciativas conjuntas com os Estados Unidos, que entraram em funcionamento no início de 1950.
A política de desmistificar UFOs — Existem documentos que sugerem uma grande preocupação, por parte dos governos, com os riscos à segurança nacional associados à presença de UFOs desde após a Segunda Guerra Mundial, algo que teria se intensificado posteriormente. É sabido que a Força Aérea Norte-Americana (USAF) realizou diversos estudos sobre UFOs para avaliar o potencial de ameaça à soberania dos EUA representada pela presença deles no espaço aéreo do país. Inicialmente, acreditava-se que os UFOs eram armas secretas desenvolvidas pelos alemães ou pela então União Soviética. Mais tarde, como se sabe, chegou-se à conclusão de que alguns UFOs poderiam ter uma origem interplanetária. Em seu livro Flying Saucers: Top Secret [Discos Voadores: Ultra Secreto, Putnam, 1960], o major Donald Keyhoe, documentou a batalha dentro da USAF entre os favoráveis à divulgação das informações e o “grupo do silêncio”, como eram chamados os que queriam manter segredo sobre os casos ufológicos, por temer a reação da população, que, segundo acreditavam, não estaria preparada para encarar a nova realidade. A própria CIA, que patrocinou estudos secretos sobre UFOs – entre eles o Painel Robertson, em 1953 – determinou a política a ser adotada pelas agências governamentais e militares norte-americanas com relação ao Fenômeno UFO. Entre suas determinações estavam a de que somente os relatos relacionados a incidentes facilmente explicáveis, como meteoros e coisas do tipo, deveriam ser publicados, e que as atividades dos grupos ufológicos deveriam ser monitoradas. Segundo certos documentos da agência de inteligência, não havia qualquer evidência de que os UFOs representassem uma ameaça à segurança dos EUA, mas a divulgação de incidentes relacionados a eles poderia levar à histeria de massa. Aos poucos, a CIA percebeu que a própria mídia poderia ser utilizada para desacreditar os avistamentos, de forma a mostrar à população que os UFOs eram qualquer forma de alucinação. O Projeto Blue Book, conduzido pela USAF em 1968, chegou a semelhantes resultados.
Mesmo assim, uma das mais sérias e controversas questões relacionadas aos UFOs, que se mantém até hoje, é se pessoas associadas a estes obscuros projetos de pesquisa teriam continuado seus estudos em algum tipo de organização secreta, tal como o alegado Majestic 12 (MJ 12), que, supostamente, estaria operando nos EUA desde o final dos anos 40 ou início dos anos 50. A maior parte da polêmica vem do fato de que a existência dessa organização e de suas atividades secretas estariam escondidas nos bastidores da segurança interna dos EUA, e seriam invisíveis para o público. Mais que isso, estariam fora até mesmo do alcance do controle governamental. O MJ 12 seria uma organização secreta existindo dentro do governo, mas longe da ação de presidentes, senadores, membros do congresso e outras figuras públicas. A entidade seria mantida com dinheiro destinado às chamadas black ops, operações secretas, e espalharia ameaças e intimidações no meio ufológico, visando impedir o vazamento de informações e, caso houvesse, compensá-lo com contra-informações, visando sempre mascarar a verdade através de alegações parcialmente falsas e confundindo os pesquisadores e a opinião pública.
Acima da fronteira — Mas e o Canadá? Teve ele algum programa de estudo ufológico oficial? O governo do país chegou a estabelecer algum tipo de atividade de investigação do tema e eventual direcionamento político de seus resultados? Estas são questões que merecem atenção. Embora tenha havido muitos contatos de UFOs com aviões da Força Aérea canadense e sua respectiva detecção por radares, não parece existir qualquer documento que forneça pistas sobre os procedimentos relacionados a tais incidentes. É sabido que a Aero
náutica do país realizou estudos em alguns casos específicos de observações de naves alienígenas, mas não há indicação segura sobre os objetivos que orientaram tais trabalhos. Na realidade, é possível mesmo que o governo nunca tenha elaborado uma diretiva política voltada ao estudo dos incidentes com UFOs no país. Talvez porque nunca tenha havido pressão pública suficiente para gerar uma atitude por parte do governo. Ou, talvez, a burocracia governamental, incluindo a Defesa Nacional, tenha preferido estabelecer sua política própria. A mídia no país, em geral, ignora os relatos de avistamentos ufológicos desde os anos 50, enquanto o público está fragmentado em diferentes sistemas de crenças quanto à questão.
No Canadá, o estudo dos UFOs foi entregue ao Conselho Nacional de Pesquisas em 1968, o que sugere que o país simplesmente seguiu as orientações políticas dos Estados Unidos quanto ao assunto. Curiosamente, 1968 foi também o ano em que os EUA desativaram o Blue Book. Pelo que se sabe, poucos cientistas canadenses chegaram a se interessar por um estudo objetivo do fenômeno, e ainda assim, somente nas situações em que havia o propósito de encontrar e localizar meteoritos. Desde meados dos anos 50, o Canadá participa do NORAD, e a resposta a qualquer detecção de objetos voadores não identificados pelo sistema de radares da entidade funciona como gatilho para procedimentos definidos conjuntamente entre os dois países. Por isso, é provável que uma ação do Canadá simplesmente siga as regras definidas pelos estrategistas norte-americanos, quando da detecção de UFOs através de seus próprios sistemas. É possível ainda que os EUA tenham feito pressão para desencorajar qualquer estudo específico sobre UFOs no país, devido à preocupação com o vazamento dos resultados para o público ou para algum país estrangeiro.
Detecção de naves alienígenas — Com todos estes fatos, Kimball parece ter uma posição que mereça ser ouvida, embora seja difícil entender seu raciocínio quando fala sobre as afirmações de Paul Hellyer. Ele vê as revelações do ex-ministro – de que nada ou muito pouco sabia sobre UFOs enquanto estava no Ministério da Defesa – como uma prova de que o governo canadense jamais se interessou pelo assunto. Ele pode estar certo ao afirmar que muitas pessoas dentro dos círculos governamentais estão surpresas com as recentes afirmações de Hellyer, mas não se pode ignorar que a questão ufológica tem ressonância no país. Existem pessoas e setores das Forças Armadas canadenses preocupadas com os relatos que os pilotos e operadores de radar fazem sobre a ação de UFOs no país. “Nunca houve qualquer projeto secreto controlado pelo governo para conhecer o assunto”, afirma Kimball, referindo-se especificamente ao programa Magnet, que seria controlado pelo cientista Wilbert Smith e que recebeu muita publicidade no passado. O Magnet operava com o pressuposto de que o campo magnético da Terra poderia ser utilizado como meio de propulsão ou navegação pelos discos voadores, o que acabaria levando à construção de uma pequena base de detecção de UFOs na Baía de Shirley, perto de Ottawa.
O projeto teria sido financiado pelo governo no período de 1950 a 1954, mas, apesar de secreta, a estação foi comentada por vários jornais da época. E a publicidade que recebeu teve grande influência na decisão de cancelar o projeto, em 1954. Para Kimball, numa opinião que é apoiada por outros ufólogos, isso é fantasia e o governo nunca esteve envolvido oficialmente com o Magnet. “O projeto foi uma iniciativa particular de Smith, que era cientista do Departamento dos Transportes”, diz. Se for assim, então estaria desmontada a principal informação de que o Canadá tivera um dia um programa oficial de pesquisas ufológicas.
O produtor também tenta desmanchar outra suposta evidência da ação governamental canadense quanto aos UFOs. “Nunca houve qualquer plano secreto para capturar naves alienígenas que pousaram em Alberta”, afirmou, referindo-se à província [Estado] na área central do país onde, em décadas passadas, se acreditou que os militares tivessem um programa para permitir aterrissagens de naves. Um artigo de jornal de julho de 1967 alertava a população com a manchete Local de Pouso de UFOs Permaneceu Secreto por 13 Anos. Na matéria é dito que Paul Hellyer afirmara que o governo, há mais de uma década, disponibilizara a Estação Experimental de Pesquisa de Suffield, na província, para ser usada como um local pré-determinado de pouso de discos voadores. Ainda no mesmo artigo é informado que “o projeto ultra secreto nunca produziu qualquer resultado tangível e nenhuma nave extraterrestre jamais foi vista aterrissando na região, de 1.650 km2”. A estação é uma espécie de mini Área 51 canadense e tão secreta que nenhuma aeronave pode sobrevoá-la sem permissão especial. Logo, a idéia por trás do suposto projeto era a de que um UFO, tentando fazer contato com a Terra, poderia pousar no local sem ser derrubado pelo sistema de defesa antiaérea do país.
O que há de verdade sobre tal operação secreta? A Estação Experimental de Pesquisa de Suffield está localizada a noroeste da cidade de Medicine Hat, em Alberta. Ela foi, por várias décadas, o principal centro para pesquisas e desenvolvimento de armas químicas e biológicas do país. A alegação de que também fôra alocada como campo de pouso secreto de UFOs, no início de 1950, não é nova. O autor Yurko Bondarchuk já fala disso em seu livro UFOs: Observações, Aterrissagens e Seqüestros [Difel, 1982], mas afirma que o capitão Douglas Caie, oficial do quartel-general da Defesa canadense, negou categoricamente o uso da estação para pouso de naves: “Não temos qualquer registro de um programa desse tipo no local”. Kimball teria razão? Mas por que, então, Hellyer afirmara que os militares tinham em Suffield uma operação ufológica secreta?
Conhecimento dos fatos — Segundo o mencionado livro do major Keyhoe, que tem entre suas credenciais a de fundador do National Investigations Committee on Aerial Phenomenon [Comitê Nacional de Investigações de Fenômenos Aéreos, NICAP], o serviço de inteligência da USAF soube da existência deste campo de pouso em 1954, e descobriu que ele
foi criado depois que as diversas tentativas da Força Aérea canadense de derrubar UFOs que violavam seu espaço aéreo foram mal sucedidas. A intenção dos militares do país seria atrair os alienígenas para que pousassem espontaneamente no local, mas não há nada que possa indicar que a estratégia realmente funcionou. Se Hellyer mencionou isso, é porque tinha conhecimento de algo específico. Assim, sua conversão ao assunto, agora, pode não ser apenas algo recente, mas uma posição pensada. De qualquer forma, considerando que a estação de Suffield foi, dos anos 50 aos 70, um centro de desenvolvimento de armas químicas e bacteriológicas, talvez seja razoável supor que os UFOs nunca escolheriam um lugar assim para fazer suas aterrissagens… Mas o que há de verdade nesta história, afinal? Por que o governo iria designar uma base militar como “porto seguro” para atividades alienígenas? Outro dado interessante a ser considerado é o suposto envolvimento de Smith com os alegados estudos ufológicos oficiais canadenses. O pesquisador Grant Cameron parece ter algo a acrescentar a esta história. Devido ao seu interesse na questão de Suffield, Cameron manteve correspondência com Hellyer por um longo período, visando obter mais informações sobre os fatos. Ele tentou, nos anos 70, descobrir a identidade do oficial do Departamento de Defesa que teria revelado a existência do suposto campo de pouso. Mas Hellyer nunca se lembrou do nome do oficial, limitando-se a prometer a Cameron que tentaria encontrá-lo em seu arquivo pessoal, o que nunca aconteceu.
O pesquisador, então, conseguiu em 1978 entrevistar a viúva de Smith, a quem perguntou se tinha ouvido falar alguma coisa sobre o campo de Suffield. Ela informou que seu marido realmente empreendeu grandes esforços para tentar convencer as autoridades de que os alienígenas existiam, e que o governo deveria mobilizar esforços para falar diretamente com eles, descobrir quem eram e o que queriam. A história começa a ficar esquisita, quando, em agosto de 1954, a revista Aviation Week and Space Technology publicou matéria informando que um proeminente cientista, o doutor Lincoln LaPaz, estava realizando um estudo sobre dois estranhos satélites que tinham sido descobertos orbitando a Terra à 660 e 990 km de distância. Segundo o artigo, os satélites estavam deixando o Pentágono preocupado porque acreditava-se que seriam artificiais – isso aconteceu três anos após a então União Soviética lançar o Sputnik, o primeiro satélite artificial.
A descoberta de LaPaz fez com que se acreditasse que os misteriosos satélites eram, na realidade, naves alienígenas. Uma delas foi a senhora Frances Swan, que morava na cidade de Eliot, no estado Maine. Ela dizia que, desde o início de abril de 1954, estava recebendo mensagens, através de canalizações, dos dois comandantes das supostas espaçonaves. Eles seriam Affa, comandante da nave M-4, e Ponnar, idem da nave L-11. Por alguma razão desconhecida, Affa era o principal “canal” de Frances e outros contactados da época. Wilbert Smith, que acreditava firmemente na existência de alienígenas, mantinha contato com Frances e outros mensageiros dos tais ETs – ele próprio também teria métodos alternativos de contato com os seres.
Acordos com alienígenas — A viúva de Smith disse a Cameron que seu marido acreditava que, se o governo parasse de atirar em UFOs, ele conseguiria fazer com que o comandante Affa aterrissasse para um encontro. Tal ser teria sugerido isso num contato com Frances. Smith teria dado indicações de que conseguira se aproximar de um comitê altamente secreto do governo canadense para apresentar sua proposta, e que seus integrantes teriam concordado em oferecer um local de pouso seguro para Affa e Ponnar – a Estação Experimental de Pesquisa de Suffield, em Alberta. Mas, quando Smith comunicou o acordo a Affa, o alien exigiu garantias de que, além de aterrissar em segurança, também poderia partir a hora que quisesse, sem interferências. Segundo Cameron, Smith apresentou também essa outra exigência ao comitê, mas a proposta foi recusada e o pouso nunca aconteceu.
Por mais estranha que esta história possa ser, ela parece, pelo menos parcialmente, verdadeira. Sabemos que Smith era uma espécie de contactado e que acreditava firmemente que os UFOs eram naves alienígenas. Sabemos também que seu projeto Magnet foi patrocinado pelo governo, assim como sua pequena base de detecção de UFOs na Baía de Shirley. E temos informação concreta de que Hellyer realmente sabia que a estação de Suffield havia sido oficialmente designada como local de pousos secretos de UFOs em algum momento dos anos 50. As declarações do ex-ministro neste sentido foram reproduzidas pela imprensa em várias cidades canadenses, e ninguém duvida de que ele saiba o que está dizendo. Mas, segundo informação adicional da viúva de Smith, os aliens nunca pousaram no local porque o governo canadense não ofereceu as garantias necessárias, mas isso Hellyer não comenta. E Affa e Ponnar parecem ter ido embora com uma péssima impressão da diplomacia do governo canadense daquela época…
Se estas histórias aqueceram os debates sobre UFOs no passado, o clima atual da mídia quanto ao assunto parece ser desencorajador. É difícil avaliar o impacto causado pelos comentários de Hellyer sobre o público canadense, pois as pessoas, em geral, não demonstram muito interesse pela questão ufológica atual. Um exemplo disso são as matérias do colunista político Andrew Coyne, do National Post, jornal de grande influência no Canadá, que demonstram surpresa com a posição assumida por Hellyer e suas afirmações de que há décadas existe no país uma conspiração governamental para esconder do público segredos relacionados a discos voadores. Coyne chega a insinuar que Hellyer está ficando senil e fazendo defesa cega do que chamou de “visões conspiracionistas”, no estilo das defendidas por parte da população norte-ameri
cana, contra o terrorismo islâmico que se instalou nos EUA após 11 de setembro de 2001.
Autoridades excluídas — Mesmo abaixo de críticas, que eram de se esperar, o ex-ministro da Defesa Paul Hellyer acredita na capacidade do público em pressionar o governo para dar respostas convincentes sobre a presença e atuação de outras raças cósmicas em nosso planeta. Em recente discurso, ele afirmou que crê que mesmo governantes de países avançados são excluídos quando os militares tratam da questão ufológica. Para ele, o controle das informações é tão grande, dada à sua complexidade e gravidade, que muitos militares acreditam que os políticos momentaneamente no poder não precisam saber de nada além do estritamente necessário sobre discos voadores. Ele usou seu próprio exemplo – de que nada soube de relevante quando ocupou o Ministério da Defesa – para que a platéia compreendesse a que ponto a política de segredo sobre UFOs é levada a sério pelas superpotências.
Concomitantemente, a Ufologia não tem conseguido dar grandes passos ao tentar encontrar evidências conclusivas para sustentar a chamada Hipótese Extraterrestre (HET) ou qualquer outra explicação concreta para os UFOs, baseando-se bastante em conclusões e pouco em provas concretas. Mesmo assim, muitos estudiosos analisam repetidamente as evidências já obtidas e concluem que a HET é de fato a explicação mais provável para o fenômeno UFO. Assim, em função das implicações desta hipótese, faz sentido investigá-la com cuidado e tentar encontrar explicações para algumas perguntas básicas: quem são nossos visitantes? O quê eles querem de nós? Como os nossos governos estão reagindo à sua presença? E será que as agências governamentais estão de fato escondendo algo de nós? Talvez Paul Hellyer seja o primeiro político de peso do Canadá a considerar, com toda franqueza, a importância deste questionamento e a alertar para o fato de que a opinião pública tem o direito de saber e participar das decisões envolvendo contatos com seres de outros planetas. É função dos ufólogos procurar a verdade e esclarecer os incidentes envolvendo discos voadores, como também procurar respostas para as principais questões colocadas acima, se é que de fato estamos abertos à possibilidade de que os UFOs sejam veículos fabricados e possivelmente pilotados por seres avançados em algum tipo de exploração ou observação de nosso planeta.