Não há dúvida que estamos vivendo o período mais decisivo de nossa longa caminhada rumo ao estabelecimento da verdade sobre os UFOs. Neste sentido, a Força Aérea Brasileira (FAB) acaba de tomar duas decisões realmente fundamentais para a continuidade e o avanço do processo de abertura ufológica dentro do meio militar do país. A primeira delas — e de maior impacto na mídia — diz respeito à Portaria 551/GC3, de 09 de agosto passado, assinada pelo comandante da Aeronáutica, tenente-brigadeiro Juniti Saito, e publicada no Diário Oficial da União em 10 de agosto, que regulamenta como devem ser tratados os registros de observações e detecções de UFOs em Território Nacional. O documento estipula como deve ser feita a catalogação destes registros e o respectivo envio diretamente ao Arquivo Nacional, em Brasília, para disponibilização pública. A segunda medida, tomada poucos dias depois — em 13 de agosto —, foi a liberação e envio, também para o mesmo órgão, dos documentos sigilosos sobre UFOs gerados pelas nossas Forças Armadas durante a década de 90, até então mantidos longe do olhar do povo brasileiro.
Todo este processo de abertura é resultado da campanha UFOs: Liberdade de Informação Já, concebida em 2004 e desenvolvida progressivamente pela Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU), através da Revista UFO, com expressivo apoio da Comunidade Ufológica Nacional, como já se veiculou à exaustão nesta publicação. Mas, por mais que possamos reconhecer esta realidade, não há dúvida de que o que está acontecendo agora é também fruto direto de um processo histórico vivido não só em nosso país, mas em todo planeta. Trata-se de uma jornada que se confunde com a própria história do Movimento Ufológico Mundial, remontando às primeiras ocorrências na área que receberam cobertura da imprensa, incluindo de casos hoje considerados clássicos, em função dos quais tiveram início não só os estudos e investigações civis e militares da presença alienígena na Terra, mas principalmente um processo de acobertamento progressivo sobre esta realidade.
Momentos históricos e pioneirismo
Ao longo de toda a caminhada dos ufólogos, praticamente desde o início desse processo, ocorreram fatos pontuais que mostravam publicamente, em alguns casos, um reconhecimento até explícito, por parte de autoridades nacionais e estrangeiras, da seriedade e das profundas implicações que a manifestação dos chamados discos voadores representava. Em 1954, por exemplo, como conseqüência de uma grande onda de observações ufológicas, que incluíram até formações de naves sobre grandes cidades, a FAB se envolveu diretamente e pela primeira vez com o assunto, criando o Io Inquérito Confidencial sobre Objetos Aéreos Não Identificados dentro do Estado-Maior da Aeronáutica (EMAER).
Foi justamente dentro dessa perspectiva e realidade que aconteceu, ainda naquela data, um dos fatos mais expressivos do que costumo chamar de Ufologia Militar Brasileira, personificado na palestra do coronel-aviador João Adil de Oliveira, então chefe do Serviço de Informações do EMAER, proferida em 02 de novembro para os diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG), no auditório da Escola Técnica do Exército, no Rio de Janeiro. Na platéia estavam representantes do alto escalão das Forças Armadas da época, incluindo o tenente-brigadeiro Eduardo Gomes, e jornalistas credenciados. Na ocasião, Oliveira fez uma profunda análise dos vários aspectos relacionados ao Fenômeno UFO, abordando as evidências da presença de outras espécies cósmicas em nosso meio não só agora, mas também no passado. Foi a primeira manifestação oficial sobre a questão em nosso país, fazendo com que o Brasil fosse a primeira nação do mundo a se manifestar quanto aos discos voadores.
Relendo a transcrição da espantosa conferência, é surpreendente constatar como ela continua atual e poderia estar sendo proferida em qualquer evento recente. Não há dúvida de que o destaque quanto à seriedade do tema, na visão do meio militar brasileiro, foi o ponto alto daquela conferência. Logo em seu início, Oliveira declarava que “o problema dos discos voadores” vinha já “polarizando a atenção do mundo inteiro, é sério e merece ser tratado com seriedade”. Ainda segundo suas palavras, proferidas na mesma ocasião, “quase todos os governos das grandes potências se interessam por ele e o tratam com seriedade e reserva, dado o seu interesse militar”. Nunca se viu, em lugar algum do mundo, uma autoridade militar de tão alta patente falar abertamente da realidade do Fenômeno UFO.
Poucos dias antes dessa histórica conferência, em 24 de outubro, em meio à onda de observações de UFOs que tomava conta do país, discos voadores haviam sido registrados em vários pontos do Rio Grande do Sul, inclusive sobrevoando a principal base da Força Aérea Brasileira na época, situada em Gravataí, hoje em Canoas, na Grande Porto Alegre. O impressionante é que tais fatos foram também divulgados para imprensa, e não só pelo comando local — a então 5ª Zona Aérea —, como pelo chefe do Estado-Maior da Aeronáutica, brigadeiro Gervásio Duncan, que recebeu repórteres nos dias seguintes e passou a eles todos os detalhes sobre as incursões daqueles misteriosos objetos em Território Nacional.
Conhecimento apesar das negativas
Já naquela época os sinais eram claros, e não havia dúvida de que nossas autoridades militares estavam fazendo história com uma conduta exemplar, que privilegiava não só o registro e a investigação daqueles fenômenos, como uma responsável postura de divulgação e esclarecimento público. E vejam, ninguém entrou em pânico por causa disso, pelo contrário. Uma população informada sobre o que está acontecendo, tratada com maturidade, poderá sempre reagir melhor frente à realidade. Já o acobertamento dos fatos, o sigilo ao assunto, quando percebido e vislumbrado, em tese, pode sempre levantar a idéia que existe algo realmente escuso ou de implicações potencialmente perigosas sendo escondido da população — e isso sim é que é grave!
Mesmo em países cujas forças
militares, órgãos e agências de governo continuam se manifestando contra a realidade do Fenômeno UFO e sua origem extraterrestre, já naquela época a verdade progressivamente começava a aparecer. Nos Estados Unidos, por exemplo, milhares de páginas de documentos antes secretos sobre UFOs foram e continuam a ser liberadas, através de processos movidos por ufólogos ou grupos ufológicos do país contra agências do governo, com emprego da Lei de Liberdade de Informações [Freedom of Information Act, FOIA]. Expressiva parcela dessa documentação, hoje disponível para consulta e estudo, revela inclusive que agências como o FBI e a CIA, entre outras, que negavam qualquer envolvimento com o assunto e até mesmo possuir documentação própria, acompanhavam de perto tudo que estava acontecendo, interferindo diretamente na política governamental desenvolvida para tratar da presença dos UFOs e suas conseqüências.
Um desses documentos, por exemplo, um memorando enviado pelo diretor do Departamento de Inteligência Científica da CIA, H. Marshall Chadwell, para seu superior, o diretor da agência Walter Bedell Smith, declarava textualmente:
“Discos voadores apresentam dois elementos de perigo, os quais têm implicações de segurança nacional. O primeiro envolve considerações psicológicas relacionadas à massa [População] e, o segundo, refere-se à vulnerabilidade dos Estados Unidos a um ataque aéreo. Recomenda-se que o diretor da Agência Central de Inteligência avise ao Conselho de Segurança Nacional sobre as implicações do “problema disco voador”. Que o diretor discuta este assunto com o Conselho de Estratégia Psicológica. Que a Agência Central de Inteligência, com a cooperação do Conselho de Estratégia Psicológica, desenvolva e recomende ao Conselho de Segurança Nacional adotar uma política de informação pública para minimizar a preocupação e possível pânico resultante dos numerosos avistamentos de objetos voadores não identificados”.
Os documentos ufológicos mais antigos liberados pela via judicial remontam à época do Caso Roswell, julho de 1947, que, como temos conhecimento, foi peça fundamental para o início do processo de acobertamento ufológico nos Estados Unidos. Eles já revelavam a perplexidade que tomava conta dos militares frente às sucessivas observações de discos voadores que estavam acontecendo inclusive no Novo México, onde teria caído o primeiro UFO, nos arredores da pacata Roswell.
Declarações de personalidades
Independente da política governamental para lidar com o assunto, periodicamente e contra os responsáveis pelo acobertamento, com o passar dos anos a população norte-americana tomava conhecimento de pronunciamentos contundentes, partindo até mesmo de autoridades que haviam ocupado postos-chaves da estrutura militar e de inteligência do país. Em 28 de fevereiro de 1960, por exemplo, a população foi surpreendida pelas declarações prestadas em entrevista ao jornal New York Times pelo almirante Roscoe H. Hillenkoetter, ex-diretor da própria Agência Central de Inteligência (CIA). O militar, de maneira incisiva e direta, confirmava a existência da política de acobertamento, inclusive por parte da Força Aérea Norte-Americana (USAF). “Muitos cidadãos são levados a supor que os UFOs são um absurdo por causa do segredo imposto pelas autoridades e da ridicularização a que são expostos. Visando esconder a verdade, a Força Aérea tem silenciado os seus membros”, declarava Hillenkoetter, uma das figuras mais proeminentes da estrutura militar dos Estados Unidos [Veja UFO 060, agora disponível na íntegra em ufo.com.br].
No final da década de 60, o país que havia criado e desenvolvido as primeiras operações de acobertamento sobre a presença alienígena na Terra vivia cada vez mais uma dupla realidade. Por um lado, em 1969, foi encerrado o envolvimento da USAF com o assunto, decorrente dos projetos Sign, Grudge, e Blue Book — que haviam estudado a presença dos UFOs ao longo de duas décadas —, devido às manobras realizadas pela Comissão Condon, sob a alegação de que não havia nada que justificasse as investigações. Por outro lado, havia a necessidade de se manter o fenômeno sobre estreita vigilância, ou pelo menos regulamentar procedimentos dentro da estrutura militar e de defesa do país, passíveis de serem acionados quando da detecção de tais objetos.
Um dos documentos mais curiosos que surgiu naquela época, e ao mesmo tempo dos mais reveladores, determinava como UFOs deviam ser relatados quando observados. Trata-se de um cartaz relacionado à documentação JANAP 146, desenvolvido conjuntamente pelas forças militares e de defesa dos Estados Unidos e Canadá, com instruções que padronizavam o processo de transmissão de dados quanto ao avistamento de aviões, mísseis e embarcações suspeitas. O interessante no documento é que, nas representações visuais destes possíveis objetos de interesse relacionados à defesa e segurança dos dois países, cuja observação deveria ser reportada aos comandos, há também a representação visual clara de um disco voador — ou seja, eles também deveriam ser reportados, caso avistados. Ou seja, desde aquela época, as autoridades da área militar e da inteligência dos EUA, ao contrário do que afirmavam e continuam a afirmar em pronunciamentos oficiais, sabem muito bem da realidade desses objetos, como revelam inúmeros depoimentos, inclusive de graduados militares, que contrariam as normas e regulamentos impostos para manter o sigilo.
Novamente o Brasil na frente
Enquanto os Estados Unidos continuavam às voltas com operações de acobertamento da realidade ufológica, em 1969, justamente no ano em que a Força Aérea Norte-Americana (USAF) dava por encerrado o Projeto Livro Azul, nossas autoridades militares, motivadas por uma nova onda de observações de discos voadores sobre o país, principalmente no espaço aéreo de São Paulo, resolviam encarar novamente o desafio de se envolver com o assunto. Foi desta forma que o major-brigadeiro José Vaz da Silva criou o Sistema de Investigação de Objetos Aéreos Não Identificados (SIOANI), dentro da então IV Zona Aérea, o atual IV Comando Aéreo Regional (COMAR 4), na capital paulista. Como se vê, mais uma vez
nossa Força Aérea empresta reconhecimento oficial à presença dos UFOs.
O SIOANI tinha uma particularidade das mais promissoras: vários ufólogos civis foram convocados para participar de sua estrutura de investigadores e correspondentes. Mas com seu encerramento, três anos depois, e após a geração de dois boletins, o país deixava de lado sua tradição de pioneirismo na condução de uma política mais aberta e transparente em relação ao assunto para mergulhar no processo de acobertamento mundial, infelizmente. O próprio material gerado por este projeto de investigação, apesar de não ter sido classificado como sigiloso, seria mantido longe dos olhos da população brasileira por muitos anos, até que a Revista UFO conseguisse cópias dos mesmos e providenciasse a exposição pública da documentação [Veja UFO 155, 156 e 158, agora disponíveis na íntegra em ufo.com.br].
A França reconhece os UFOs
Mas, progressivamente, a jornada dos ufólogos rumo ao estabelecimento da verdade sobre a presença de outras espécies cósmicas em nosso meio passou a ter posição de destaque em outros países, que ajudaram a mostrar para a humanidade a seriedade do que os pesquisadores sempre afirmaram. Em 1976, o então ministro da Defesa da França, Robert Galley, apareceu em rede nacional de TV, em nome do próprio presidente Valéry Giscard d’Estaing, para afirmar a existência dos discos voadores. Galley garantiu ainda que, a partir daquele ano, o país assumiria a liderança mundial do processo de reconhecimento do Fenômeno UFO. Assim, gradualmente, o Centro Nacional de Estudos Espaciais (CNES) — a agência espacial francesa — foi criando e desenvolvendo comissões específicas para tratar do assunto.
A primeira importante comissão do CNES foi sedimentada logo no ano seguinte, em 1977, e recebeu o nome de Grupo de Estudos de Fenômenos Aeroespaciais Não Identificados [Groupement d’Etude des Phénomènes Aérospatiaux Non Identifiés, GEPAN]. Além dos estudos desenvolvidos dentro da esfera governamental francesa, o país propiciou outro momento importante desta escalada da verdade, quando um grupo de notáveis, que ficou conhecido como Comissão Cometa, após um declínio nos estudos dentro da área governamental, causado por sucessivas mudanças de governo, assumiu uma postura decisiva não só no processo de divulgação e defesa do assunto, como no combate de setores ainda reacionários da área acadêmica e dos meios militares, que insistiam em não perceber a realidade, menosprezando mesmo o assunto.
Faziam parte desse grupo, entre outras personalidades, o engenheiro Christian Marchal, o advogado Michel Algrin, o general da Aeronáutica Denis Letty, o almirante da Marinha Marc Merlo e o general do Exército Alain Orszag. O ponto alto dos trabalhos foi a publicação, em 1999, de um documento espantoso e contundente, intitulado Os UFOs e a Defesa: Para o Que Devemos Estar Preparados?, também conhecido como Dossiê Cometa, que a Revista UFO publicou na forma de livro [Código LIV-021 da coleção Biblioteca UFO. Confira na seção Shopping UFO desta edição e no Portal UFO: ufo.com.br]. O Dossiê Cometa é considerado o documento ufológico mais explosivo dos últimos tempos, e foi entregue ao primeiro ministro francês e a outras autoridades mundiais com uma séria advertência: devemos estar preparados para grandes transformações em nossa cultura, ciência e religião, pois em pouco tempo os UFOs causarão grande impacto em nossas vidas.
A Noite Oficial dos UFOs no Brasil
Em 1986, o Brasil surpreendia o mundo com mais uma atitude de vanguarda. Na noite de 19 de maio, objetos esféricos de grandes dimensões foram detectados em grande número pelos radares do Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (Cindacta). No total, 21 UFOs foram registrados evoluindo sobre os estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Goiás, apresentando acelerações, velocidades e alterações de trajetória muito além de nossas possibilidades tecnológicas. Como conseqüência, caças F-5E e Mirage III foram acionados progressivamente das bases aéreas de Santa Cruz, no Rio, e Anápolis, em Goiás, para perseguirem os objetos em busca de um contato mais próximo. No final das manobras, um de nossos aviões passou de perseguidor a ser acompanhado por 13 UFOs em torno de si. Figuras proeminentes da Nação tiveram envolvimento direto com o caso, como o coronel Ozires Silva, que foi uma das principais testemunhas dos fenômenos, quando se aproximava do aeroporto de São José dos Campos (SP), no interior de um avião Xingu, da Embraer.
A surpresa ocorreria no dia seguinte, quando o então ministro da Aeronáutica, brigadeiro Octávio Júlio Moreira Lima, convocaria a imprensa para falar abertamente sobre os fatos, colocando à disposição dos jornalistas os próprios pilotos de nossos mais modernos aviões, que horas antes haviam se envolvido no incidente. Informações técnicas, depoimentos, detalhes etc, tudo foi passado para mídia na oportunidade, em mais um momento especial da Ufologia Brasileira — e também Mundial. Mas o processo de divulgação desse acontecimento acabou estancado, quando deixou de ser divulgado um relatório detalhado do incidente, prometido pelo próprio Moreira Lima para 30 dias depois. O documento só acabou conhecido no ano passado, quase duas décadas e meia depois, através da campanha UFOs: Liberdade de Informação Já [Veja UFO 160, agora disponível na íntegra em ufo.com.br]
Ainda naquela ocasião, de maneira surpreendente, determinados setores da imprensa, logo após os pronunciamentos dos militares e das testemunhas civis relacionados à então Noite Oficial dos UFOs no Brasil, acabaram trabalhando, mesmo sem se darem conta, contra o processo de divulgação dos fatos, dando espaço para as mais absurdas tentativas de explicação dos mesmos — algumas partindo até de celebridades científicas. Os militares envolvidos, assim como a população em geral, tiveram que ouvir que a Força Aérea Brasileira (FAB) havia perseguido com seus caças e pilotos supostas estrelas cadentes, meteoros, planetas etc — ainda que os 21 UFOs tenham sido detectados tanto pelos radares das aeronaves, como os das instalações em terra.
rquivo UFO
Outra explicação absurda para aquele que certamente é um dos episódios ufológicos mais importantes da história, que também teve franca divulgação, era uma que ignorava a competência e qualificação de nossos militares, além de detalhes básicos que haviam sido divulgados na época, como a observação em determinados momentos de alvos ou sinais nos radares [Plots] compatíveis com a observação visual dos UFOs. Absurdamente, a tese pretendia explicar que tudo não passou de efeitos de uma guerra eletrônica. O fato é que, em meio a este festival do absurdo, a Aeronáutica, levando em conta outras motivações ou não, aproveitou para ficar em silêncio, inclusive em relação ao relatório prometido. O assunto UFO, apesar de continuar a fazer parte da rotina dos setores militares relacionados ao controle de tráfego aéreo e da defesa do país, passava a ser tratado novamente de maneira reservada, mantido sobre sete chaves.
Documentos estabelecem o sigilo
Foi justamente nos anos que se seguiram à chamada Noite Oficial dos UFOs no Brasil que a Força Aérea Brasileira (FAB) providenciou de maneira definitiva, através de dois documentos classificados como confidenciais, a que a Equipe UFO teve acesso, regras básicas que deveriam ser seguidas no caso de visualização ou detecção de objetos voadores não identificados. Antes disso, evidentemente, como apresentado em nosso livro UFOs, Arquivo Confidencial [Código LIV-019 da coleção Biblioteca UFO. Confira na seção Shopping UFO desta edição e no Portal UFO: ufo.com.br], já haviam regras para definir e orientar com os membros de nossas Forças Armadas, das áreas de inteligência e de segurança nacional deveriam se portar quanto ao avistamento e detecção de UFOs em nosso espaço aéreo — inclusive especificando as diferentes classificações de graus de sigilo em que diversos documentos ufológicos se encaixavam.
Estes dois documentos deixam claro que os discos voadores passaram a ser alvo de uma normatização mais específica e aprofundada por parte de nossas autoridades militares, tanto no que diz respeito ao registro de avistamentos ufológicos como à transmissão de tais informações para órgão da estrutura da Força Aérea Brasileira (FAB). O primeiro destes documentos é conhecido como Diretriz Específica 04/89 e surgiu dentro do Ministério da Aeronáutica, mais especificamente na área da Diretoria de Eletrônica e Proteção ao Vôo. É compartimentado em três áreas distintas: Finalidade, Disposições Gerais, e Disposições Finais. Apresenta ainda um questionário para ser preenchido por possíveis observadores ou testemunhas de fenômenos ufológicos. O documento foi assinado em 31 de agosto de 1989 pelo major-brigadeiro Ivan Moacyr da Frota [Veja na íntegra no Portal da Ufologia Brasileira: ufo.com.br].
A importância que nossas autoridades davam já naquela época — 1989 — ao assunto pode ser medida pelo nível de detalhamento dos procedimentos que deveriam ser seguidos para a identificação, registro e transmissão de informações sobre a presença de UFOs avistados no espaço aéreo nacional, e até mesmo sobre nossas águas territoriais. No final das Disposições Gerais, por exemplo, é aventada até a possibilidade de os UFOs — definidos no documento como objetos voadores não identificados (OVNIs) — produzirem “alterações significativas na circulação aérea”. Também é digna de nota a citação, no material, de “situações que devam ser do conhecimento urgente dos escalões superiores”, o que, na verdade, já havia acontecido em maio de 1986, quando o próprio presidente José Sarney foi acordado pelo ministro Moreira Lima para ser informado do que estava ocorrendo no espaço aéreo nacional.
“Jornalistas e curiosos inconvenientes”
O segundo documento secreto a que a Equipe UFO teve acesso é ainda mais detalhado e contundente que o anterior, pois é conseqüência e uma evolução daquele, que o novo substituiu. Foi emitido pelo Serviço Regional de Proteção ao Vôo do Rio de Janeiro com o título NPA-09-C, e passou a vigorar no dia 09 de setembro de 1990. Está dividido em seis itens ou partes: Finalidade, Definição, Procedimentos, Instruções Gerais, Relação de Telefones Úteis e Disposições Finais. Logo em seu início, no campo Finalidade, temos a declaração de que o documento “foi estabelecido em cumprimento à determinação do Exmo. Sr. Diretor de Eletrônica e Proteção ao Vôo, contida na Diretriz Específica 04/89, e tem por finalidade orientar os operadores dos órgãos ATS/ATC quanto aos procedimentos em caso de avistamentos de objetos voadores não identificados (OVNIs)”. [Veja na íntegra no Portal UFO [ufo.com.br].
Este novo dispositivo regulamentador também apresenta um questionário próprio para ser preenchido por testemunhas de avistamentos ufológicos. Mas contém uma significativa e reveladora novidade: prescreve e orienta o estabelecimento de sigilo de forma definitiva, inclusive frente às testemunhas de possíveis observações, que possam ter colaborado com a Força Aérea prestando declarações. Tal política de segredo é definida na seção Instruções Gerais”. Em determinada parte do documento são apresentas as seguintes instruções: “Caso a pessoa que reporta o evento questione sobre as medidas a serem tomadas, (deve-se) informar apenas que o caso está sendo relatado às autoridades competentes que, por sua vez, tomarão as devidas providências. Havendo telefonemas de jornalistas e ‘curiosos’ solicitando informações, responder que não está autorizado a fornecê-las”. Nada poderia ser mais esclarecedor da forma como passou a se tratar da questão na década de 90.
UFOs triangulares na Bélgica
Exatamente no mesmo ano em que o Brasil solidificava novamente a prática de sigilo em relação aos UFOs, do outro lado do Atlântico, especificamente na Bélgica, em meio a uma grande onda de observações, autoridades da força aérea daquele país, tendo à frente o coronel Winfried De Brouwer, davam uma nova e evidente demonstração de como o as
sunto deve ser tratado. De maneira singular, além de informações que envolviam as observações de UFOs de forma triangular sobre território belga, alguns gigantescos, e de detalhes das perseguições empreendidas pelos mais modernos caças de sua força aérea, os modernos F-16 norte-americanos, os militares disponibilizaram até mesmo as fitas de vídeo contendo os registros de radar.
Como em outros episódios da Ufologia Mundial, os discos voadores demonstraram na Bélgica um nível de tecnologia que parecia magia, revelando possibilidades de aceleração e desaceleração, velocidades e alterações no sentido de suas trajetórias muito além das nossas possibilidades tecnológicas. No mês de março daquele ano, principalmente, o país parecia ter concentrado boa parte da atividade ufológica mundial, e autoridades belgas responderam da melhor maneira possível, assumindo publicamente a realidade da visita daqueles objetos. E assim, progressivamente, com o passar dos anos, os movimentos de várias nações que pediam o fim do sigilo ufológico e a respectiva liberação dos arquivos militares secretos assumiram uma postura decisiva, contando cada vez mais com apoio de autoridades civis e mesmo militares contrárias à manutenção da política de acobertamento da presença alienígena na Terra. Em alguns países, até mesmo autoridades militares e governamentais tomaram decisões rumo à abertura e o fim do sigilo.
Os exemplos abundam. Em 05 de abril de 2005, por exemplo, foi criada pelo Ministério da Defesa do Equador a Comissão Equatoriana para Investigação do Fenômeno OVNI [Comisión Ecuatoriana de Investigación del Fenómeno OVNI, CEIFO], tendo como coordenador nacional o ufólogo Jaime Rodrigues, correspondente internacional da Revista UFO em seu país, que passa a concentrar os estudos sobre o assunto no Equador — e ao mesmo tempo promover a liberação de inúmeros casos e documentos, revelando uma postura de abertura definitiva frente ao tema. Entre os casos já revelados encontram-se vários que envolveram encontros de pilotos da Força Aérea Equatoriana (FAE) com UFOs.
A abertura equatoriana seguiu de vento em popa. Em 25 de junho de 2007, por exemplo, por ordem expressa do próprio presidente da república, foram desclassificados e liberados para imprensa do país 40 depoimentos prestados por membros das Forças Armadas. Dentro desse processo, autoridades falaram abertamente do tema e revelaram uma maturidade poucas vezes vista em um país sul-americano. Em uma de tais manifestações públicas, o comandante da FAE, coronel Wilson Salgado, além de admitir a seriedade com que o tema é tratado no país, falou abertamente da natureza extraterrestre das naves detectadas e acompanhadas por caças a jato equatorianos.
Rompendo posturas arcaicas
Os ecos da abertura ufológica equatoriana reverberaram mundo afora. Em 2008, para surpresa de praticamente toda a Comunidade Ufológica Mundial, a Inglaterra, que normalmente é uma fiel seguidora da política norte-americana em questões estratégicas, rompeu com o tradicional aliado — pelo menos na questão ufológica — e passou a liberar gradualmente milhares de documentos ufológicos, disponibilizando inúmeros casos pesquisados pelo Ministério da Defesa no Arquivo Nacional do país. O movimento de desclassificação inglês tem continuidade, e volta e meia temos notícia de que novo lote é enviado ao órgão.
Mesmo países com pouca tradição em questões ufológicas, como a Dinamarca, a Noruega e a Suécia, já liberaram quantidades expressivas de documentos dos arquivos de suas forças aéreas. E até o Canadá — outro aliado estratégico dos Estados Unidos — fez o mesmo com documentação produzida pelos seus departamentos de Defesa e de Transporte, além dos da rígida Polícia Montada, uma instituição nacional. No país, já são milhares de páginas disponibilizadas ao público com valiosas informações sobre ação na Terra de outras espécies cósmicas. Assim, Canadá e os demais países já citados, entre outros, inclusive e principalmente o Brasil, podem servir de referência e de exemplos a serem seguidos. Como a Itália, o Chile, o Peru, a Grécia etc, de maneira mais tímida, que também estão fazendo seus movimentos na mesma direção.
Mas é a França, novamente, que parece ter uma posição de destaque no processo de transparência e disponibilização de registros, pelo menos em termos da quantidade de páginas liberadas. Jacques Patenet, o homem forte à frente das investigações ufológicas oficiais do país, garante que perto de 100 mil páginas de documentação já foram liberadas pelo Centro de Estudos e Informações sobre Fenômenos Aeroespaciais [Groupement d’Etude et de Information des Phénomènes Aérospatiaux Non Identifiés, GEIPAN] — diferente da entidade anterior, o GEPAN, por ter incorporado a palavra “informação” ao seu nome —, através do site do Centro Nacional de Estudos Espaciais (CNES) [Veja UFO 133, agora disponível na íntegra em ufo.com.br].
Como se vê, estamos indiscutivelmente vivendo uma nova realidade, inclusive e principalmente em nosso país, com a progressiva liberação dos documentos dos arquivos da Força Aérea Brasileira (FAB), cujos prazos de sigilo já venceram, e a Portaria 551/GC3, de 09 de agosto passado, que representa inegavelmente um passo gigantesco para a campanha UFOs: Liberdade de Informação Já, cada vez mais vitoriosa e reconhecida. Mas existe muito a ser feito ainda. Este autor, em nome próprio e como membro-fundador da Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU), assim como co-editor dessa revista, agradece sinceramente aos militares brasileiros, que progressivamente se integraram ao movimento, por suas dedicações e esforços. E, nesse momento especial, ao comandante da Aeronáutica, o tenente-brigadeiro Juniti Saito, por sua sensibilidade e visão do futuro.