De alguns anos para cá, algumas pessoas têm registrado marcas geométricas esporádicas em seus corpos sem possam explicar de onde elas vieram. Seriam trabalho de ETs ou a explicação para elas é muito mais humana?
O fenômeno ufológico não mais se restringe unicamente ao estudo dos chamados discos voadores. Ao longo dos anos, muitos elementos acabaram sendo incorporados a esse universo tão incomum, às vezes até mesmo de forma indevida.
Apenas para citar alguns deles: abduções e visitas de dormitório, Anunnakis e antigos astronautas, mutilação de animais, chupacabras, homem-mariposa. A lista é longa.
Mais recentemente surgiu um novo elemento que os pesquisadores chamam de “dermoglifos” ou marcas na pele. As marcas são restritas ao plano superficial da pele, chamado de epiderme.
Como elas não atingem os planos mais profundos – derme e tecido subcutâneo –, ao desaparecer, convenientemente, não deixam nenhuma cicatriz.
Outro aspecto típico e bastante curioso das marcas é a simetria de seu contorno, lembrando em determinadas situações o bocal de um secador de cabelo ou uma chapinha, uma pokebola, dedos de uma mão ou um instrumento qualquer com contorno bem definido.
Outro detalhe que chama a atenção é o surgimento espontâneo, ou seja, elas surgem da noite para o dia e sem que a pessoa tenha lembrança de um evento prévio que possa explicar a natureza e origem da marca.
Na tentativa de preencher mais essa lacuna no raciocínio, rapidamente se atribuiu uma natureza alienígena ao fenômeno.
O que diz a medicina
Não nos cabe emitir um conceito de valor, uma opinião preconceituosa ou mesmo desqualificar de forma arbitrária um depoimento, pois como profissionais da área da saúde, devemos nos ater aos fatos, buscar o consenso dos colegas e nos apoiar naquilo que diz a ciência.
Nós sabemos que marcas na pele, quando originadas de alguma afecção dermatológica, raramente apresentam uma simetria como a encontrada nas marcas das testemunhas.
Se formos buscar uma explicação no campo da psiquiatria, nós vamos encontrar, por exemplo, somatizações de conflitos emocionais, de estresse, ansiedade, automutilação etc. Todos esses aspectos ligados a estados ou conflitos mentais e neuropsiquiátricos igualmente apresentam características bem diferentes daquelas apontadas pelas testemunhas. As lesões, em casos psiquiátricos, geralmente são mais profundas, dolorosas, persistentes e, via de regra, deixam cicatrizes.
Cabe mencionar um distúrbio psiquiátrico que atende pelo nome de Transtorno Factício ou Síndrome de Münchausen que envolve comportamentos enganosos que são usados para falsificar sintomas ou induzir lesões.
Nele, os pacientes podem fabricar sinais e sintomas e induzir doenças, podem agravar doenças genuínas e pré-existentes por não seguir as recomendações médicas e podem adulterar testes ou amostras de laboratório e forjar registros médicos.
O diagnóstico deste transtorno exige a presença cada um dos seguintes itens:
- Falsificação de sinais ou sintomas físicos ou psicológicos, ou indução de lesão ou doença, associada à fraude identificada;
- O indivíduo se apresenta aos outros como doente, prejudicado ou ferido;
- O comportamento enganoso é evidente mesmo na ausência de recompensas externas óbvias;
- O comportamento não é mais bem explicado por outro distúrbio mental, como um delírio ou outro distúrbio psicótico.
E o mistério continua
Crédito da imagem: UOL
Diante do exposto, acabamos por ficar num beco sem saída: se não é dermatológico nem psiquiátrico, o que pode ser?
Em geral, o que se percebe em toda investigação de um fenômeno insólito é a utilização de uma metodologia rasa e tendenciosa que, no caso presente, carece de uma maior documentação médica que possa oferecer embasamento científico para uma conclusão mais alinhada com o bom senso.
Deixo a pergunta acima para que as pessoas busquem uma resposta no âmbito das suas crenças e do seu conhecimento. Para finalizar, é importante que todo pesquisador honesto consiga estabelecer um equilíbrio entre o ceticismo radical e a crença fanática.
Como hoje em dia todo mundo tem uma opinião formada sobre todas as coisas, esse equilíbrio é algo muito difícil de conseguir. A sugestão é para que nós mantenhamos a mente aberta a todas as possibilidades, mas sem deixar que nossos cérebros caiam para fora.
Marco Aurélio de Seixas é médico cardiologista e conselheiro especial da Revista UFO