O Caso Trancas talvez seja uma das ocorrências mais fantásticas em toda a história da Ufologia Mundial. Isso não apenas pelo número e credibilidade das testemunhas, mas também pelas características do próprio fenômeno que se manifestou naquela localidade argentina e sua similaridade com outros incidentes de mesma natureza. Na ocasião da ocorrência, no início dos anos 60, a imprensa publicou relatos breves e até contraditórios sobre o evento — as agências de notícias, ainda pouco familiarizadas com o Fenômeno UFO à época, reproduziram os fatos de modo literal, resultando em histórias deficientes, o que requereu uma investigação in locu.
Sem questionar a reconhecida idoneidade das testemunhas envolvidas, porém considerando que o caso mereça um estudo mais pormenorizado, julgamos necessário fazer um novo exame dos fatos sete anos depois da ocorrência, o que se deu em 1970. O resultado desta nova investigação foi positivo e seguido por várias outras em muitas fases da história da Ufologia Argentina, enquanto as testemunhas ainda viviam e algo ainda podia ser averiguado no local do incidente, onde surgiram evidências físicas impressionantes. Este presente trabalho reflete as descobertas do Caso Trancas em sua primeira análise completa, quando se tornou possível fornecer um panorama completo e fiel dos eventos segundo relato direto das pessoas envolvidas.
Ao longo de suas viagens a trabalho a várias partes da Argentina, investigando desastres aéreos, o senhor Alberto Máximo Astorga, que era ufólogo e atuava como coordenador geral do Círculo Argentino de Investigaciones Ufológicas (CADIU), de Córdoba, esteve em Tucumán em meados dos anos 70 — cidade próxima da localidade de Trancas. Astorga aproveitou a oportunidade para fazer algumas investigações no meio militar local sobre aquele notável avistamento, que já era conhecido da comunidade. Assim, acabou estabelecendo contato com um oficial ligado à família Moreno, envolvida nos fatos. Por meio deste contato o ufólogo chegou até Yolié Del Valle Moreno, uma das principais testemunhas do Caso Trancas. Tal circunstância foi fundamental para a reavaliação do excepcional acontecimento.
Pessoa culta e instruída
Uma entrevista inicial de Astorga e este autor com a testemunha Yolié Moreno aconteceu em 02 de outubro de 1970. Como na ocasião ela estava casada com um conhecido membro da Força Aérea Argentina (FAA), atendemos o pedido de seu marido para tratá-la por seu nome de solteira em qualquer publicação a respeito do Caso Trancas, a fim de evitar problemas para ele. A jovem senhora tinha, na época da entrevista, 28 anos e era mãe de dois filhos — quando avistou o UFO, tinha apenas 21 anos e apenas um bebê. Era uma pessoa culta e instruída, assim como os outros membros de sua família, o que fortaleceu a importância de seu testemunho. Segundo seu relato, a sequência dos acontecimentos em Trancas ocorreu de forma incrível.
A certa distância da residência havia dois objetos interligados por um prolongamento luminoso, como se fosse um tubo de mais ou menos 100 m de comprimento, onde era possível ver cerca de 40 silhuetas humanoides se movendo de um lado para outro
Às 19h00 de 21 de outubro de 1963, houve uma interrupção no funcionamento da estação de energia elétrica da Fazenda Santa Teresa, pertencente à família. Como a propriedade ficava em uma zona desabitada em um raio de dois quilômetros, distante outros três do centro do vilarejo de Trancas, na província de Tucumán, a pequena estação era a única fonte de eletricidade para a família. Os Moreno, portanto, foram obrigados a apanhar lampiões e velas para poderem passar aquele momento de escuridão na fazenda. Yolié não soube dizer se o problema com a energia teve a ver com o espantoso fenômeno que aconteceria em seguida, e isso não pôde ser determinado nas investigações.
Depois do jantar à luz de velas, a família foi forçada a ir cedo para a cama, por volta das 20h00, devido à falta de energia. Yolié, que já era casada naquela época com o mesmo militar, permaneceu acordada, pois tinha que amamentar seu bebê às 21h30. Ela descansava em um dos aposentos da casa, situada no meio da propriedade rural, com o filho e sua irmã Yolanda, solteira e então com 30 anos. Naquele momento, a empregada doméstica Martina Guzmán, de 15 anos, bateu à porta do quarto onde estavam as duas e disse estar com medo, mas não soube explicar com clareza o motivo, fazendo com que Yolié não desse grande importância àquilo — ela imaginou que fosse apenas o sentimento de solidão e isolamento naquela propriedade que afetava Martina. Mais tarde, ela diria à moça o quanto achou estranho aquele comportamento, pois já deveria estar acostumada àquele ambiente.
Uma estranha luz piscante
Pouco depois, Martina retornou ao quarto, insistente, dizendo ter visto luzes estranhas na parte de trás da casa. Explicou que, toda vez que saía da habitação, tudo ao redor se iluminava por alguns segundos. Mas não havia sinal de tempestade com trovões se formando, apenas algumas poucas nuvens espalhadas pelo céu. Yolié e Yolanda se levantaram e foram tentar ver o que seria aquilo, porém nada observaram de estranho. Esperaram por alguns minutos e retornaram para o quarto. Mas, logo em seguida, Martina, agora em pânico, chamou-as novamente para dizer que as luzes haviam reaparecido. Então, as duas irmãs foram mais uma vez para fora, mas novamente nada viram de diferente. A empregada implorou às irmãs para que ficassem lá fora por mais alguns instantes, dizendo que as luzes apareciam em intervalos marcados — ela tinha tanto medo que disse que deixaria para o dia seguinte todas as tarefas domésticas ainda por fazer.
As três, então, caminharam para a extremidade esquerda do local da casa e ali avistaram, na direção da Ferrovia Belgrano, cerca de 100 m distante da residência, duas luzes interligadas por um prolongamento luminoso, como se fosse um tubo de mais ou menos 100 m de comprimento. Incrivelmente, era possível ver cerca de 40 silhuetas contra o fundo luminoso, dentro do tal tubo — as figuras moviam-se de um lado para o outro fazendo com que as testemunhas pensassem ter havido algum tipo de descarrilamento ou estar ocorrendo alguma sabotagem nos trens. As sombras, indubitavelmente com forma e estatura humanas, pareciam também ir para frente e para trás em ambas as direções, mas Yolié imagina que estivessem dentro daquele tubo.
A vegetação ao redor evitava que as testemunhas vissem aquilo tudo em mais detalhes e elas foram obrigadas a se abaixar sob os galhos das árvores. Então, concordaram em se aproximar da ferrovia a fim de investigar melhor aquilo. Antes disso, no entanto, as irmãs voltaram para o quarto para vestirem roupas mais pesadas, pois fazia muito frio naquela noite. Enquanto Yolanda procurava por uma lanterna, Martina foi apanhar um revólver Colt calibre 38 que mantinha para os momentos em que fi
cava sozinha na propriedade. Yolié entrou no quarto em que seus pais, Antonio Moreno Ebaich, de 72 anos, e Teresa Kairuz de Moreno, 63, dormiam. Ela também esteve no aposento em que sua outra irmã, Argentina Moreno de Chávez, e seus dois filhos repousavam. Argentina tinha então 28 anos, era casada com um militar do Exército e também testemunharia o acontecimento.
Guerrilheiros na área?
Yolié pediu que Argentina cuidasse de seu bebê, enquanto o trio ia para fora novamente, agora na direção da ferrovia. Quando Argentina ouviu a história do que se passava, tentou convencer a irmã a não sair, pois poderiam ser guerrilheiros ou sabotadores que não hesitariam em abrir fogo caso vissem as moças. Yolié, porém, insistiu que iriam assim mesmo, dizendo que nada lhes aconteceria. Naquele instante, Argentina, já também curiosa, saiu até um corredor da casa de onde também poderia ver as supostas luzes avistadas pelas irmãs e pela empregada. De repente, começou a gritar em choque, dizendo haver “máquinas estranhas” próximas da casa. Aterrorizada, descontrolou-se e correu para os fundos da residência — mas acabou tropeçando em uma pilha de tijolos no quintal e caiu ao chão, levantando-se rapidamente e correndo para o quarto. A mudança em seu comportamento, normalmente calmo e introvertido, assustou as outras irmãs, que jamais a tinham visto tão transtornada. Argentina chorava e, em meio a soluços, disse ter visto naves.
Os pais também foram acordados pelo alvoroço, mas as crianças continuavam dormindo. Yolié, Yolanda e a empregada saíram rapidamente pela sala da frente e rumaram para a parte direita da casa. As três seguiram resolutas até a ferrovia, sendo que Martina ia à frente. O primeiro detalhe a chamar-lhes a atenção foi uma luz pálida esverdeada próxima ao portão da fazenda, que imaginaram ser do pequeno caminhão dirigido por Cesar Huanca, empregado dos Moreno. Então, Martina correu adiante para abrir o portão para que ele entrasse. Nisso, Yolié apontou a lanterna para a luz esverdeada e, de repente, seis pequenas janelas se iluminaram, revelando uma estranha forma discoide suspensa no ar mais ou menos quatro metros delas, ou seja, dentro da propriedade, entre a casa e o portão.
Era um corpo sólido com cerca de 10 metros de diâmetro, cuja superfície parecia ser de metal, como alumínio. O objeto possuía junções ligadas por protuberâncias que pareciam ser rebites — no topo havia uma cúpula, também de aparência metálica, porém mais escura e sem rebites. Não havia emblemas ou marcas no artefato. As pequenas janelas eram retangulares, com mais ou menos 80 por 65 cm e emitiam uma forte luminosidade branca. O restante da superfície da máquina não podia ser visto devido a uma névoa esbranquiçada que saía de sua área inferior. Do topo à parte mais baixa das janelas, a altura parecia ser de mais ou menos 3 m, e do final das janelas ao chão era mais ou menos um 1,5 m. A máquina balançava suavemente para frente e para trás, mas não girava em seu eixo. Claramente, também não estava pousada no solo.
Odor que lembrava enxofre
De repente, um tipo de “fita de luz” colorida iluminou-se dentro do objeto e começou a girar, detalhe que as moças puderam observar através das janelas, que agora mudavam de cor, lentamente e em sequência, como se percorressem uma trajetória circular em sentido anti-horário. No início, a impressão de movimento foi dada por uma luz avermelhada que passava de uma janela a outra. Entretanto, o processo ganhou velocidade até que toda a periferia do artefato assumiu uma coloração alaranjada — um zunido suave acompanhava o movimento das luzes e a névoa esbranquiçada começava a se encorpar, exalando um odor que lembrava enxofre.
As três moças observaram todos esses detalhes durante menos de 30 segundos, pois logo surgiu uma repentina língua de fogo do objeto — as testemunhas não sabem dizer por onde — atirando-as violentamente ao chão a uma distância de dois metros. Elas se levantaram rapidamente e saíram em disparada e em pânico até a casa, observando tudo de lá. Martina sofreu os maiores efeitos daquela chama, pois estava à frente das irmãs, que sentiram apenas a sensação de calor. No dia seguinte, a empregada foi tratada em um pequeno hospital de Trancas com queimaduras de primeiro e segundo graus na face, braços e pernas. Na entrevista que concedeu em 1970, Yolié acredita ainda haver registros da ocorrência no hospital onde a jovem foi atendida.
Da janela da sala da casa, o casal Moreno conseguiu observar que da parte inferior do objeto saiu um tubo de luz de mais ou menos 3 m de largura que ‘escaneou’ com extrema precisão todas as partes da moradia, como se fizesse uma inspeção da construção
Simultaneamente a tudo isso, três outras luzes surgiram perto ou sobre a estrada de ferro. Agora eram seis os estranhos objetos avistados simultaneamente, as duas primeiras luzes interligadas com o “tubo de luz” e tendo as silhuetas dentro, o grande artefato discoide que já estava alaranjado, envolto em névoa e dentro da propriedade e estes três novos artefatos sobre a ferrovia. Ou seja, não apenas eram várias as testemunhas a curta distância de tudo isso, como eram vários os aparelhos vistos ao mesmo tempo, e em detalhes. Dos três novos artefatos, dois estavam mais separados, a mais ou menos 350 m um do outro. É provável que as luzes vistas por Martina na parte de trás da casa, cuja origem ela não soube explicar, fossem essas novas luzes, que iam e vinham uniformemente — do centro da propriedade não era fisicamente possível enxergar a estrada de ferro, mas, obviamente, dali se podia avistar o brilho dos objetos que iluminavam toda a área.
Raios de luz sólida
Enquanto aquela fita de luz na aeronave discoide girava cada vez mais rápida, o objeto era gradualmente envolto pela névoa emanada de sua parte de baixo, até que as características estruturais da máquina finalmente desapareceram de vista, sendo o aparelho agora perceptível apenas como uma nuvem de cor alaranjada. Da janela da sala da casa, com vistas para o leste, o casal Moreno conseguiu observar que, da parte inferior daquele objeto, saiu um tubo de luz de mais ou menos 3 m de largura que “escaneou” com extrema precisão todas as partes da moradia, como se fizesse uma inspeção minuciosa da construção. Os outros artefatos, pousados ou suspensos sobre a ferrovia, tinham a mesma
aparência metálica do maior — Yolié Moreno o chamou de nave-mãe, e não apenas por causa de seu tamanho, mas também porque parecia ditar o comportamento dos outros cinco. Toda a área ao redor estava muito iluminada, sendo muito fácil identificar tais detalhes.
Então Yolié, que agora estava dentro de casa, pela janela de um dos quartos viu que dois “raios compactos” de luz começavam a surgir de um dos novos objetos avistados sobre a linha férrea. Ao sair novamente da residência, ela caminhou para a extrema direita da casa e pôde observar que os tais raios eram dirigidos diretamente para um abrigo a cerca de 35 m dali, onde guardavam o trator da propriedade — os raios levaram alguns minutos para percorrer a distância entre a ferrovia e o abrigo, passando ao lado da casa, quando então pararam a cerca de dois metros em frente à pequena edificação. “Assistir aos raios avançando foi uma experiência aterrorizante”, disse a testemunha. Os raios jamais tocaram o chão, permanecendo alguns centímetros acima dele. Eram perfeitamente cilíndricos e sem sombras. Entretanto, considerando-se o diâmetro dos objetos, os pontos de origem daqueles tubos de luz tinham que ser menores do que sua extremidade final.
Os raios não emitiam vapor ou ruídos — na época, a imprensa erroneamente relatou o contrário. Eles permaneceram em frente ao abrigo do trator por cerca de 40 minutos, sendo que, no dia seguinte, os Moreno repararam que as manchas de graxa no veículo haviam sumido, como se ele tivesse sido cuidadosamente lavado. Em dado momento, instintivamente, Yolié enfiou metade do braço em um dos tubos de luz emitido pelo objeto que estava sobre a linha férrea, que cruzava a propriedade. A luminosidade cristalina do raio fez com que ela pensasse que aquilo seria água concentrada por algum mecanismo desconhecido, mas seu braço não se molhou. Em vez disso, ela sentiu uma sensação de calor muito forte, mas que não produziu qualquer efeito sobre sua pele. “Aquilo era algo imaterial que parecia atravessar as coisas, como a cerca da fazenda”, argumentou. Mas, mais uma vez, o terror diante do desconhecido fez com que Yolié corresse para dentro da casa.
Feixes que escaneavam tudo
O pai das moças, senhor Antonio Moreno Ebaich, quis sair para investigar as luzes, mas as filhas impediram que ele o fizesse, por estar atravessando um problema de saúde. Enquanto isso, a esposa rezava. Das janelas dos aposentos da casa todos podiam ver os raios luminosos avançando lentamente agora a partir de outro objeto em direção aos prédios anexos da fazenda — eram brancos e perfeitamente cilíndricos, mas a luz que continham não se espalhava. Tal como os que saíram do artefato anterior e pararam na frente do abrigo do trator, estes também pareciam tubos de três metros de largura e se manifestavam paralelos.
Enquanto isso, o objeto maior, dentro da propriedade, continuava a emitir seu feixe de luz “escaneando” a residência. Em dado momento, as irmãs olharam para os dois primeiros artefatos observados, que durante algum tempo estavam unidos por um “túnel de luz”, dentro do qual estavam aquelas 40 silhuetas humanas, e tudo isso tinha desaparecido — só restavam lá os dois objetos, agora isolados, ao lado dos outros três que haviam chegado depois e dos quais, de pelo menos dois deles, saíam os raios de luz paralelos. Sobre estes raios, aliás, Yolié notou e revelou aos pesquisadores que eles tinham um final abrupto. Uns minutos depois, o terceiro artefato, um dos que chegou depois, também passou a emitir dois raios paralelos, que desta vez se dirigiram lentamente até um galinheiro que continha cerca 40 aves, perto do abrigo do trator. Estes feixes de luz, tal como os anteriores, também pararam a curta distância do alvo, permanecendo estacionários durante vários minutos.
Ou seja, todos os itens da fazenda estavam sendo objeto de algum tipo de exame por parte de raios de luz que saíam dos três aparelhos que se encontravam perto ou sobre a ferrovia — apenas os dois que estavam inicialmente interligados pelo “túnel de luz” não os emitiam —, assim como o maior, que Yolié considerou ser a nave-mãe e emitir comandos para os demais, escaneava a casa. Enquanto isso, no interior da residência, a temperatura subia para 40o C, permanecendo em torno disso até o resto da duração do fenômeno — antes de seu início, o termômetro estava constante em 16o C. Os cobertores das três crianças que ainda dormiam ficaram molhados com sua transpiração.
Iluminado como se fosse dia
Dentro da casa, além do calor insuportável, tudo ficou iluminado como se fosse dia. Yolié Moreno não consegue explicar por onde a luz entrava e nenhuma das testemunhas reparou se os raios penetravam pelas paredes, mas Yolié sugeriu que esta poderia ter sido a causa da luz dentro da residência, embora não pudesse ter certeza. Porém, o fato de ela não ter tido dificuldades em atravessar o feixe de luz com seu braço seria um sério indício disto. Na literatura ufológica temos inúmeros casos em que estas luzes conseguem penetrar objetos sólidos, como paredes de alvenaria, e, quando tocados, não parecem ser constituídos de nada que não seja mesmo luz.
Quando o artefato discoide que estava no jardim partiu, todos os Moreno e ainda Martina saíram da residência, onde a névoa produzida pelo objeto ainda pairava, muito densa e com forte odor de enxofre — ela não se dispersaria até quatro horas depois
Além disso, há uma hipótese interessante oferecida pelo pesquisador francês Jean Goupil, que analisa campos magnéticos canalizados. Ela constitui uma explicação teórica para esses “tubos de luz”, que seriam como descargas toroidais de um campo magnético. E como barreiras de madeira ou pedra não são impedimento para campos magnéticos, tais luzes as atravessam sem problema. Ainda segundo a teoria de Goupil, os raios luminosos de uma descarga toroidal podem se reconstituir do outro lado de uma parede, dando assim a incrível impressão de que a luz se desmaterializou de um lado de um corpo sólido e se rematerializou do outro. Da mesma forma, considerando-se a emissão de considerável quantidade de energia no processo, a temperatura no interior da casa provavelmente subiria, e foi o que aconteceu na residência dos Moreno.
Abundantes evidências
Em dado momento durante a ocorrência do fenômeno, a mãe, Teresa de Moreno, viu uma sombra passar rapidamente pela janela de um dos quartos da casa. Porém, Yolié não soube dizer se tal visão er
a produto de seu alterado estado emocional naquele momento ou se a figura era real. Seja como for, depois de um breve período, o objeto discoide maior, que estava dentro da propriedade, projetou seu raio de luz compacta na direção do vilarejo de Trancas, ao sul. Ele avançou lentamente e, depois de 10 ou 15 minutos, pareceu ter chegado à periferia do local, a poucos quilômetros. Então, o raio subiu e fez uma curva de 180 graus, virando-se para o norte. Em seguida, recuou lentamente, recolhendo-se dentro do artefato, que começava a se mover na direção da estrada de ferro. Lá, os outros objetos se reuniram e todos partiram juntos voando em baixa altitude na direção leste, para a Serra de Medina. A duração de toda a observação foi de uns 45 ou 50 minutos, período em que os arredores da fazenda permaneceu pintado de luzes alaranjadas.
Este é um caso ufológico de elevada complexidade, em que não somente temos grande número de testemunhas, quase todas de bom nível cultural, como um número incomum de objetos voadores realizando um igualmente raro conjunto de manobras e ações. Dizemos ser uma ocorrência de elevadíssimo grau de estranheza e de credibilidade. Mas são vários os detalhes de particular interesse subsequentes ao incidente, que fornecem confirmações à autenticidade do extraordinário fenômeno como tendo natureza ufológica.
Quando o artefato discoide que estava em seu jardim partiu, todos os Moreno e ainda Martina saíram da residência, onde a névoa produzida pelo objeto ainda pairava, muito densa e com forte odor de enxofre — ela não se dispersaria até quatro horas depois. Abaixo do ponto onde a nave ficou por mais de meia hora balançando para frente e para trás no ar, foi encontrado um círculo de mais ou menos 10 m de diâmetro, dentro do qual, formando um perfeito cone de um metro de altura, os Moreno descobriram várias bolinhas brancas de 1,5 cm de diâmetro cada. No dia seguinte, encontraram esferas similares na estrada de ferro, embora não em tanta quantidade quanto no jardim.
As bolinhas podiam ser deformadas com leve pressão e se esfarelavam com o atrito dos dedos. Esse curioso material foi analisado por Walter Gonzalo Tell, chefe do Instituto de Engenharia Química da Universidade de Tucumán, resultando que as esferas eram compostas de 96,48% de carbonato de cálcio e 3,51% de carbonato de potássio. Não se tinha notícia de carbonato de cálcio de tamanha pureza em estado natural na Argentina nem em qualquer outro local. Estranhamente, as árvores próximas ao local onde as bolinhas foram encontradas ficaram todas murchas dias depois. Passados alguns anos aplicando fertilizantes, no entanto, a família conseguiu fazer com que as plantas voltassem a crescer no local, mas não tão bem como antes.
Tentativas de confirmação
Outro dado curioso foi que os cães da fazenda, conhecidos por sua ferocidade, não latiram uma vez sequer durante todo o episódio, e nem depois que os objetos partiram — eles pareciam anestesiados, como se estivessem dormindo, mesmo efeito sendo observado com as aves do galinheiro.
Às 22h30 da mesma noite, ainda nervosa com o fato, Yolié Moreno foi até a casa de seu vizinho, Francisco Tropiano, que fica uns 100 m ao norte de sua residência, perguntar-lhe se tinha visto algo estranho pouco tempo antes, já que um dos objetos também dirigiu seus raios de luz na direção de sua propriedade. Mas Tropiano disse nada ter visto ou sentido, pois estava dormindo. Tudo o que pôde ver foi um estranho brilho alaranjado que ainda persistia ao leste, que o homem não sabia o que era.
Ainda tentando reunir mais detalhes sobre o fenômeno, os Moreno conversaram com o capataz de uma fazenda ao lado, José Acosta, cuja residência ficava 100 m a oeste da deles, do outro lado do canal de irrigação. Ao recebê-los, Acosta foi logo perguntando por que os campos estavam em chamas momentos antes, pois tinha visto uma iluminação semelhante a incêndio na área da propriedade. E ainda contou que achou estranho ver vários objetos luminosos movendo-se para oeste por um bom tempo. Mas isso os Moreno não puderam observar porque, de onde estavam, tinham a visão bloqueada por árvores.
Chama a atenção a composição das bolinhas encontradas no gramado sobre o qual o UFO pairou. Elas eram compostas de carbonato de cálcio quase puro, com 96,48%, sendo o carbonato de potássio presente em 3,51% da amostra, uma mera impureza
Outra confirmação importante, mas pouco explorada na época, veio de uma médica de um pequeno hospital de Trancas, René Vera, que fica nos arredores da mesma cidade. Naquela noite, seu carro quebrou enquanto ela dirigia para o vilarejo e então decidiu terminar o caminho a pé. Era por volta das 23h00 quando ela viu 40 ou 50 bolas luminosas voando a baixa altitude em uma trajetória oeste-leste, ou ligeiramente para nordeste. Os objetos deixaram toda a atmosfera impregnada com um cheiro de enxofre — o odor era tão forte que a doutora se sentiu mal. O fato foi relatado à família pela própria doutora René muito depois de o barulho na imprensa ter silenciado. Ela não quis relatar sua experiência na época com medo de ser ridicularizada.
Tecnologia terrestre?
É possível que todos os objetos tenham vindo do oeste, considerando-se o grande número, e provavelmente sejam os mesmos que o capataz Acosta avistou rumando para a Serra de Medina. Poucos minutos antes, os artefatos vistos pelos Moreno tinham partido naquela mesma direção das montanhas. Especula-se se os raios de luz compactos que fizeram uma curva de 180 graus não seriam um tipo de sinal para que os objetos vistos por Acosta seguissem a formação? Mas não temos uma resposta para isso.
Yolié Moreno contou ainda em sua entrevista que, na época, teve que preencher um questionário técnico sobre o incidente para a Marinha Argentina, além de realizar um teste para o Pentágono, dos Estados Unidos. Sabe-se que na ocasião as Forças Armadas do país estavam interessadas no Fenômeno UFO, a ponto de contarem com participação de militares e da inteligência norte-americana em sua investigação, o que explica a interpelação de Yolié para que desse informações sobre o fato. Curiosamente, no entanto, com base nos rebites vistos no objeto discoide e nas silhuetas humanoides observadas a distância no “tubo de luz” formado pelos primeiros dois artefatos observados, a testemunha acreditava que os aparelhos seriam produto de alguma tecnologia terrestre. Tal observação é de especial importância, não devido à hipótese terrestre em si, mas por revelar que Yolié Moreno não era uma pessoa inclinada a ideias fantasiosas — se algo
a manteve calma durante a experiência daquela noite foi sua crença de que, como revelou na entrevista, “se são gente como nós, isso não é uma questão extraterrestre”.
Uma boa teoria
A descrição da “fita de luz” vista por Yolié, Yolanda e Martina dentro do disco voador maior, que se colocou entre a casa e o portão da propriedade, é curiosa e encontra paralelo em outros casos. Ela iluminou-se dentro do objeto e logo começou a girar, o que se podia ver através das janelas. A cena lembra a teoria do pesquisador Wilbert Smith sobre as chamadas “cubas magnéticas” que se revelam na forma de anéis giratórios — os efeitos luminosos de uma máquina durante o procedimento seriam causados pela rotação do anel, embora certas vezes possam formar uma descarga em forma de coroa.
Em sua pesquisa, Smith concluiu que vários discos voadores seriam invisíveis durante a noite, especialmente quando há ausência de calor em seus anéis, que não estariam girando ou estariam girando lentamente. Entretanto, se a velocidade do anel aumentar e ele se aquecer como resultado do processo dentro de um campo magnético, geraria um brilho cor-de-rosa, segundo Smith. Então, a velocidades ainda maiores, a cor ficaria mais brilhante e avermelhada, passando depois para o alaranjado e amarelo, podendo chegar ao branco avermelhado idêntico à cor de um metal aquecido. O processo de conversão seria gradualmente mais rápido a cada vez.
No Caso Trancas, a fita ou anel giratório começou seu movimento lentamente, exibindo uma cor entre o rosa e o vermelho. Conforme a rotação aumentava em velocidade, a cor tornava-se um vermelho vívido, finalmente chegando ao tom alaranjado que persistiu durante uns 40 ou 45 minutos do fenômeno. As fases de maior velocidade de rotação — que exibiriam a cor amarela e o branco avermelhado — não foram atingidas pelos objetos avistados em Trancas. Mesmo assim, a correlação e a sequência na variação de cores coincidem com a teoria de Wilbert Smith.
Odores, luzes e resíduos
Particularmente interessante é a sensação de odor de enxofre no ar, aparentemente componente da névoa que cercou o aparelho discoide, emanando de sua parte de baixo. Entre os casos ufológicos argentinos em que o odor de enxofre foi uma característica marcante, podemos mencionar a aterrissagem de um UFO em Villa Constitución, na província de Santa Fé, em 11 de setembro de 1967. Naquela ocasião, o artefato permaneceu suspenso por quatro horas a uma altura de um metro do chão, emitindo o odor característico do elemento. Igualmente, em toda a literatura ufológica mundial encontramos grande quantidade de casos em que o mesmo se repete.
Da mesma forma, chama a atenção a composição química das bolinhas encontradas no gramado sobre o qual o disco voador maior pairou, assim como, porém em menor número, na Ferrovia Belgrano. Elas eram compostas de carbonato de cálcio quase puro, com 96,48%, sendo o carbonato de potássio presente em 3,51% da amostra, considerado uma mera impureza. A casuística ufológica argentina também registra casos de resíduos semelhantes encontrados, por exemplo, em uma aterrissagem ocorrida em 12 de maio de 1962, em Bahia Blanca. A análise do material achado naquela ocasião foi feita nos laboratórios da Universidade Nacional do Sul e revelaram alta porcentagem de carbonato de cálcio, além de resíduos de carbonato de potássio.
Os raios de luz sólida — uma forma de designarmos os feixes de luminosidade emanados do UFO que tinham formato próprio, como luz condensada — também compõem um elemento de grande interessante no Caso Trancas. Quando se entrevistou Yolié Moreno, a ela foram mostradas várias publicações ufológicas com descrições e esboços de avistamento envolvendo “tubos de luz” diversos. Ela ficou muito surpresa ao perceber a grande semelhança entre aqueles casos e a ocorrência que testemunhou em Trancas. Entre os acontecimentos ufológicos que têm uma analogia com Trancas estão, por exemplo, o de 06 de maio de 1967, em Estrasburgo, na França, quando um raio cilíndrico e luminoso foi emitido por um estranho objeto em direção do solo. E o episódio de 29 de agosto de 1967, em Oka, no Canadá, quando um artefato discoide emitiu um raio de luz compacto que se movia em várias direções, como se fizesse uma varredura. Vendo isso, Yolié manifestou a impressão de que tais feixes luminosos pareciam fazer um estudo minucioso das edificações de sua fazenda.