A mitologia sobre as bases militares secretas menciona intermináveis quilômetros de túneis interligando enormes complexos subterrâneos que penetram nas entranhas da terra em muitos andares de profundidade. Nessas cidades subterrâneas, experimentos assustadores envolvendo humanos e extraterrestres seriam realizados, e grande parte da estratégia de ação dos invasores de outros mundos estaria sendo concretizada. Seria mais ou menos algo como as imensas instalações subterrâneas que escondem as atividades dos agentes secretos no filme MIB [Men in Black ou Homens de Preto, dirigido por Barry Sonnenfield, em 1997].
Embora não tenhamos condições de confirmar com certeza absoluta a existência de construções subterrâneas desse porte, sabemos que existem e estão em atividade, pelo menos desde a década de 50, várias bases subterrâneas para desenvolvimento de projetos que exigem um altíssimo nível de sigilo. Muitas vezes, parte das instalações se localiza sobre a terra –servindo como uma espécie de fachada, agrupando apenas os setores de logística e outras áreas menos sensíveis da atividade desenvolvida –, enquanto outra fica sob o solo. Os motivos para isso são os mais diversos, e vão desde a proteção de equipamentos altamente secretos até a manutenção do sigilo que envolve os projetos em curso. Várias bases desse tipo existem em todo o território dos Estados Unidos e também dentro do Complexo Militar de Nellis, a região que abrange a Área 51. De uma maneira geral, quase todas elas desenvolvem pesquisas militares de ponta, com instalações especialmente adaptadas às suas necessidades específicas.
E dentre esses tipos de instalações, uma se destaca pela peculiaridade das suas construções. Muitas vezes, ufólogos inexperientes ou pessoas desavisadas se assustam com o que vêem e divulgam fotos da parte externa dessas bases na internet, ou até mesmo em palestras, como provas irrefutáveis da intervenção alienígena neste planeta. Apesar de termos notícias de ocorrências de UFOs próximos a pelo menos uma dessas instalações, e da forte impressão que elas causam aos observadores – plataformas que se elevam do subsolo e estradas que terminam repentinamente no meio do deserto –, existe uma explicação bem simples, prosaica mesmo, para essas construções tão suspeitas. E ela começa com a sigla RCS ou radar cross section – em uma tradução livre, superfície equivalente de eco. Antes de prosseguir, vamos entender o que é e para que serve essa sigla.
Funcionamento do radar — Sabemos que o radar, aparelho utilizado para detectar a presença de aeronaves a distância, funciona em dois tempos: primeiro emite um sinal de alta freqüência e, depois, caso este mesmo sinal reflita em alguma coisa, analisa a resposta obtida para poder determinar a distância e a velocidade do alvo. O princípio de funcionamento do radar é a propriedade que os materiais sólidos possuem de refletir ondas eletromagnéticas. Sempre que algum objeto se interpor no caminho da onda emitida, uma parte dela será refletida de volta para o emissor pela sua superfície sólida, e a antena de radar – que serve tanto para emitir quanto para receber os sinais eletromagnéticos – identificará a presença do objeto. A quantidade de sinal refletido depende do ângulo de incidência e do tipo de material. A distância é definida pelo intervalo de tempo entre a emissão do sinal inicial e a recepção do eco. A velocidade é definida comparando-se a freqüência do sinal inicial com a freqüência do sinal recebido, uma outra propriedade física chamada Efeito Doppler [Deslocamento da freqüência aparente de uma vibração em virtude do movimento relativo da fonte e do observador].
Pela explicação acima, podemos facilmente perceber que a eficiência do radar em detectar aviões depende totalmente da quantidade de sinal refletido, ou seja, da intensidade do eco gerado quando o sinal emitido encontra o objeto-alvo. Nesse momento, o formato da superfície desempenha um papel fundamental. Superfícies planas tendem a refletir quase todo o sinal emitido e, dependendo da posição delas em relação à antena emissora, podem funcionar como um espelho, direcionando o sinal de radar de volta para o emissor ou outra direção qualquer. Superfícies curvas, por outro lado, sempre irão refletir pouco de sinal de volta para a estação de radar, independente da sua posição em relação à fonte. Portanto, as superfícies planas, caso estejam em uma posição perpendicular à antena de radar, irão gerar um sinal fortíssimo no receptor de radar, mas se estiverem em qualquer outra posição, irão refletir quase todo o sinal para outras direções, e a recepção será muito fraca na estação de radar. Tão fraca que não será nem detectada até que seja tarde demais, ou seja, até que o avião inimigo esteja tão próximo que já não haja tempo hábil para reagir. Esse é um dos segredos da tecnologia chamada Stealth [Furtiva].
Como tornar um avião invisível — Se de um lado a adoção de superfícies curvas pelos aviões comuns leva a um extraordinário ganho aerodinâmico, por outro redunda na perda de sua capacidade furtiva, oferecendo maiores chances de serem detectados pelas estações de radar. Já os aviões que fazem uso da tecnologia Stealth, entre outros recursos, valem-se largamente de superfícies planas em ângulos cuidadosamente calculados para equilibrar as necessidades aerodinâmicas com a intenção de refletir o sinal de radar para longe da fonte emissora. O caça supersônico F-117 é um excelente exemplo disso.
A superfície equivalente de eco é definida como a área projetada de uma esfera de metal que produziria a mesma intensidade de sinal que o alvo detectado. O valor de RCS é medido em metros quadrados e define a facilidade em se detectar ou não, um objeto qualquer –independente da sua forma real. Valores altos de RCS levam a uma situação na qual o objeto será facilmente detectado pela estação de radar, mesmo que esteja a muitos quilômetros de distância. Valores baixos indicam que o objeto só poderá ser detectado quando estiver muito próximo – talvez até próximo demais – da base de radar. Por isso o RCS é tão importante no desenvolvimento de aviões militares. Quanto menor o seu valor, maior a probabilidade do avião ser bem sucedido ao atacar o inimigo.
Além do formato da
fuselagem, outras técnicas também podem ser utilizadas com o objetivo de reduzir o RCS. Entre elas, a cobertura do avião com substâncias que absorvem ondas eletromagnéticas e o emprego de emissores de sinais que cancelam o sinal emitido pelas estações de radar. Dentre todos os recursos existentes, o formato da fuselagem foi o primeiro a demonstrar a sua eficácia. Tanto que, quando o projeto da Lockheed Martin para a construção do primeiro avião Stealth ganhou a concorrência da Força Aérea Norte-Americana (USAF), em 1975, ele foi imediatamente classificado como ultra-secreto. Para que o leitor possa ter uma idéia do que isso significava para a USAF na época, basta dizer que, desde a Guerra do Vietnã, uma quantidade enorme de caças aliados estavam sendo facilmente derrubados por defesas antiaéreas guiadas por radar. O problema ganhou uma proporção tão grande que levou a USAF, no início dos anos 70, a convocar os melhores fabricantes de aviões dos Estados Unidos para tentarem encontrar uma solução. O projeto da Lockheed Martin, chamado de Hopeless Diamond [Diamante Implacável], representou na época um alívio enorme para os estrategistas norte-americanos. Os testes secretos realizados em uma base da USAF escondida no meio do deserto revelaram um conceito totalmente novo e revolucionário para a construção de aeronaves militares.
E foi exatamente em um desses testes que um modelo do novo avião foi colocado pela primeira vez em frente a um aparelho de radar. Mantendo o modelo estático sobre um apoio especialmente desenvolvido para este fim, o aparelho de radar foi sendo lentamente afastado do avião enquanto se media cuidadosamente a intensidade de sinal [Reflexão] obtida na sua tela. Para surpresa de todos e imensa satisfação dos militares, o modelo sumiu completamente quando o aparelho de radar alcançou a pífia distância de apenas 500 m. O operador de radar não estava acreditando no que via, e todos se entreolhavam espantados quando o sinal subitamente reapareceu. Sem entender nada, os técnicos voltaram os olhos novamente para o modelo, que estava parado logo ali, ao lado deles. Foi quando notaram que um pequeno pássaro havia pousado sobre o avião, e o sinal de radar estava indicando a presença do pássaro. O avião continuava completamente invisível!
Sucesso nos ataques — Embora a estratégia de se construir aviões com a fuselagem repleta de superfícies planas tenha tido grande sucesso em um primeiro momento, apesar das enormes complexidades aerodinâmicas envolvidas, a tecnologia de radar também avançou para fazer frente ao desafio, de maneira que foram desenvolvidas técnicas para se conseguir detectar, ou pelo menos reduzir, o efeito furtivo obtido com a tecnologia Stealth. Os aviões que usam este sistema foram utilizados com sucesso durante a Guerra do Golfo, em incursões avançadas dentro do território inimigo, no bombardeio ao Afeganistão, na Guerra dos Balcãs e na invasão do Iraque. E com exceção de um F-117 que foi derrubado pelos sérvios durante a Guerra do Kosovo, não há registro de outras baixas, de maneira que a relação entre a quantidade de ataques bem-sucedidos e a quantidade de aviões derrubados tem sido excepcional. Logo, tanto um lado da questão – o desenvolvimento de novas tecnologias de radar – quanto o outro – o enorme sucesso nos ataques furtivos – têm sido um enorme incentivo às pesquisas de RCS, ao mesmo tempo em que elas são mantidas no mais alto sigilo. E isso tudo nos leva diretamente ao Deserto de Mojave – um pouco mais a oeste que o do Nevada, já na Califórnia, mas ainda assim nas vizinhanças da Área 51 –, onde existem pelo menos quatro instalações dedicadas especificamente ao estudo de RCS. São elas a Northrop Grumman, construída dentro da Fazenda Tejon, próxima ao Vale do Antílope; a McDonnell Douglas, próxima a Los Angeles; a Lockheed Martin, na cidadezinha de Helendale e administrada pela Skunk Works; e a chamada Fazenda do Cruzamento [Junction Ranch], localizada em um local isolado do Mojave. Esta última está sob controle da Marinha e é administrada pela Divisão de Armamentos do Centro de Assuntos Aéreos e Navais da Base de China Lake, famosa instalação subterrânea militar.
Por trás do véu de sigilo — Muito impressionado com as referências obtidas, e também com o que ele viu durante as suas observações dessas instalações no meio do deserto, o pesquisador Tom Mahood dedicou um bom tempo ao levantamento de dados e ao esclarecimento das atividades que acontecem por trás do véu de sigilo que encobre essas bases. Ele definiu no local uma região que chamou de Área de Testes, cuja principal característica, a que talvez chame mais a atenção do observador, além de ser um elemento fundamental para os testes, é o poste para sustentação das aeronaves. É ele que mantém o modelo do avião parado sobre o solo enquanto as antenas de radar fazem as medidas de RCS. A inclinação para frente é fundamental para desviar as reflexões de radar geradas por ele na direção do chão, evitando assim que elas interfiram nas leituras obtidas a partir do avião. A superfície de concreto que dá sustentação ao poste tem o formato de diamante também pelo mesmo motivo, qual seja, a de direcionar as reflexões de radar para longe da antena emissora.
Mahood também descobriu instalações elevatórias subterrâneas. Em algumas bases, os postes de sustentação são fixos e os aviões são colocados sobre eles com a ajuda de guindastes. Entretanto, existem também bases que possuem grandes postes retráteis que saem do solo para elevar os aviões. Muitas vezes o próprio avião é mantido escondido sob a superfície da terra, e só sai de lá no momento em que o teste é realizado, para logo depois ser escondido novamente. No caminho das ondas de radar, entre as antenas e o poste de sustentação, normalmente é colocada uma fina camada de asfalto que lembra uma pista de pouso, mas que na realidade não tem nem condições de suportar o peso de um avião. O seu objetivo é somente evitar o excesso de reflexão das ondas de radar.
O observador que desconhece as atividades desenvolvidas em uma base de testes de RCS quase sempre se surpreende com a visão dessa aparente pista de pouso, que termina em um poste torto sobre um desenho de diamante. E lá se vão as especulações. E há também as instalações subterrâneas, sendo que as bases mais modernas e rece
ntes para teste de RCS as possuem quase sempre para esconder os aviões em teste. Como os modelos normalmente são ultra-secretos, todos os esforços são feitos para evitar qualquer tipo de exposição a satélites espiões ou olhares curiosos.
UFOs sobre a base da Northrop — Durante suas pesquisas sobre as bases de teste de RCS, Mahood esbarrou, quase que por acaso, em muitas histórias de avistamentos de UFOs sobre a Fazenda Tejon, administrada pela Northrop. Às vezes fantasiosos e exagerados, mas muitas vezes bastante coerentes, os relatos foram atraindo seu interesse, até que resolveu investigá-los mais a fundo. Acabou encontrando diversas evidências para os fenômenos anômalos e, apesar dele mesmo nunca ter visto nada estranho por lá, considerou-os extremamente verossímeis. Uma das testemunhas, que Mahood classifica como tendo um alto nível de credibilidade, cuja identidade foi mantida anônima, relatou-lhe que no verão de 1991 estava trabalhando junto com um amigo num projeto, quando o assunto UFOs veio à tona. Este amigo lhe disse que costumava sair com seus colegas e se aventurar dentro do deserto para observar uma base secreta. E que eles viam coisas muito estranhas por lá. Ele lhe deu as coordenadas e, quando as conferiu num mapa, descobriu que a tal base era na verdade as instalações da Northrop, em Tejon.
Como o tal amigo pareceu sincero nas suas descrições, a testemunha se sentiu estimulada a ir até o local e dar uma olhada também. Na primeira oportunidade que teve, um tanto apreensivo, tomou o caminho do Vale do Antílope, dirigindo uma camionete com tração nas quatro rodas. Levou consigo seu telescópio e binóculos. Independente de ver ou não alguma coisa, passar uma noite no deserto lhe pareceu ser uma experiência deveras interessante. Um pouco antes do Sol se pôr ele já estava no local com tudo montado e pronto para as observações. Sentou-se e ficou ali admirando o cenário. Eram por volta das 19h30. Até então, tudo o que ele conseguira ver das instalações da Northrop eram umas poucas luzes nos prédios. Estava distraído olhando o cenário em volta dele quando, de repente, a sua atenção foi desviada por um flash de luz. Brilhante e dourada, uma bola luminosa surgiu aparentemente do nada, piscando de maneira intermitente.
Logo depois, ficou contínua e começou a crescer muito em intensidade, até se tornar tão brilhante que o assustou, fazendo com que se escondesse atrás do carro. A impressão foi a de que ela iria explodir. A luz começou então a subir lentamente em direção ao céu. Observando-a melhor através do telescópio, pôde perceber que tinha o formato de uma bola de futebol, com uma luminosidade dourada bem forte. Toda vez que a luz parava de se mover, parecia que sua luminosidade diminuía um pouco. A luz dourada pairou no ar por alguns minutos, depois se deslocou um pouco para o lado e voltou a ficar completamente parada. Por fim, moveu-se de novo para o oeste cerca de um quilômetro e começou a descer de volta para o chão, até desaparecer completamente por trás de uma pequena elevação.
Aquela coisa luminosa repetiu essa mesma seqüência várias vezes, com intervalos de cerca de uma hora. Em um determinado momento, a testemunha chegou a ver vá luzes no ar ao mesmo tempo. Duas na direção oeste e uma na direção leste. As duas a oeste começaram a trocar deliberadamente de posição entre si, enquanto a outra, a leste, quase não se mexia, estava praticamente parada. As luzes a oeste trocaram de posição horizontalmente dentro de certos intervalos de tempo e algumas vezes ficaram alternadamente uma em cima da outra, sempre em movimentos lentos e claramente intencionais. Havia um vento moderado – de cerca de 20 km/h – soprando do oeste durante todo o tempo.
Movimentos lentos e intencionais — E enquanto aquelas coisas estavam pairando no ar, ele podia ver alguns veículos se movendo em volta da base. Utilizando os caminhões como referência, calculou a largura dos objetos como sendo do mesmo tamanho de uma picape, ou talvez um pouco maior. A altura era cerca da metade ou um pouco menos do que a largura. A luminosidade dourada era muitas vezes bastante intensa, mas não chegava a iluminar todo o vale abaixo delas. Em nenhum momento qualquer som foi emitido. Utilizando uma caneta hidrocor, desenhou na parte interna do pára-brisa do carro a trajetória realizada por vários dos objetos. Quando o dia raiou, pôde perceber que havia uma espécie de concreto ou apoio colorido no local de onde os objetos saíam. Ele não podia fazer nenhuma idéia sobre o que eram aqueles objetos.
Podem ter sido talvez um efeito luminoso oriundo de algum veículo ou aparelho moderno, ou então um subproduto de algum tipo de propulsão. Esteve lá por diversas vezes depois dessa noite, mas essa foi a única vez que viu as tais bolas douradas de futebol. O curioso é que tais fatos também são narrados nas imediações das demais instalações citadas, existentes no Deserto do Mojave. Ou seja: é muito possível que avistamentos de supostos UFOs possam ser explicados desta maneira.