Praticamente não há quem nunca tenha assistido a um show de mágica. Diante dos olhos embevecidos da plateia, previamente sugestionada, o mestre na arte da ilusão produz, em um cenário adrede preparado e sob condições aparentemente usuais, um fenômeno que, à primeira vista, parece impossível, quase milagroso. Ao final do espetáculo, no entanto, por melhor e mais grandioso que este tenha sido, não há quem fique desapontado ou se sinta quase insultado em sua inteligência pela “enganação” da qual foi cúmplice. Basta um pouco de raciocínio para se depreender que por trás do extraordinário tudo o que há são desvios de atenção, gestos de distração, mãos ágeis e habilidosas, e aparelhos e equipamentos apropriados: tampa de mesa oca, bolsos secretos, varinha feita de pequenos pedaços retráteis e deslizantes, caixas com fundos e compartimentos falsos, alçapões no palco etc. Se algum estraga-prazer lhe explica em detalhes como o truque é feito, você ri de si próprio por não ter atinado uma solução tão simples e óbvia.
Ao chegar a casa, a pessoa reúne os objetos necessários para tentar reproduzir os mesmos truques e impressionar algum amigo ou membro da família. Entretanto, ela percebe que, apesar de ter descoberto os mecanismos do truque, faltam-lhe os recursos cênicos, a técnica e o talento artístico, de modo que não consegue nem chegar perto dos efeitos que tanto o impressionaram. Escapa precisamente o elemento “mágico”, o segredo da profissão — só conhecido entre os próprios mágicos —, de modo que o mistério permanece em sua mente como algo inexplicável.
O Fenômeno UFO apresenta o mesmo recurso de insolubilidade. Deixa vários indícios e até expõe alguns de seus truques, porém, quanto mais as pessoas pensam que sabem algo sobre ele, mais ele se afigura desnorteante. É o equivalente a dizer que o fenômeno nega a si próprio. Ele sinaliza favoravelmente tanto aos que partem do princípio de que suas manifestações são verdadeiras, quanto aos que supõem que são falsas. Determinar qual das duas metades é verdadeira é o desafio deixado ao investigador. A tentação é sair dos limites do império da razão, o que pode ser bastante perigoso. Ou permanecer preso a um círculo vicioso em que testemunhas são enganadas por sociólogos, crentes por supostos homens do espaço, o público pelos crentes, e os sociólogos pelo próprio fenômeno.
Narro a seguir um caso ufológico sugestivo, que envolve um suposto grupo chamado Os Guardiões. O contato com Os Guardiões começou quando uma senhora do Meio-Oeste norte-americano chamada Keech, acordou em uma manhã de inverno com um formigamento ou dormência no seu braço. Ela disse que seu braço inteiro parecia quente até o ombro e teve a sensação de que alguém estava tentando chamar sua atenção. Sem saber por que, ela pegou um lápis e um bloco que estavam sobre a mesa, e sua mão começou a escrever com uma caligrafia diferente da sua. A mulher foi gradualmente introduzida em algo que ela tomou como coisas que estavam “além da vida”, segundo a própria, até que um dia recebeu uma mensagem de conforto de uma espécie de “irmão mais velho”. Ele lhe disse que estava sempre com ela e que a livraria das aflições do dia a dia assim que estivesse pronta a seguir a luz: “Cuidarei dos detalhes. Acredite em nós. Seja paciente e aprenda, porque estamos preparando o caminho para você como canal”.
A senhora Keech passou a alimentar a certeza de que havia estabelecido um contato genuíno com entidades superiores e começou a divulgar isso publicamente, anunciando a chegada de um novo conhecimento. Logo, uma pequena seita se formou em torno dela. Um dos líderes era um tal de doutor Armstrong, um homem que se envolveria mais tarde com o paranormal israelense Uri Geller. Os Guardiões transmitiram conselhos e ensinamentos ao grupo. Predisseram eventos futuros, aterrissagens de UFOs e visitas de ETs. Uma dessas predições foi a descida de uma nave perto de um campo de aviação militar próximo. O pequeno grupo se dirigiu até lá e de um ponto privilegiado ficou a observar as pistas e o céu, até que, de repente, um homem se aproximou. Ante sua aparição, não houve quem não experimentasse uma sensação sinistra. Ninguém viu de onde ele surgira. Ofereceram-lhe algo para beber e ele não quis. Andava com um jeito curiosamente duro. E um momento após ele desapareceu, sem que ninguém o tenha visto afastar-se.
A repercussão de tais histórias incrementou sobremaneira o sistema de crenças da pequena seita e lhe permitiu criar seu próprio folclore e jargão — palavras especiais com significados particulares. À essa altura, a senhora Keech chegava a escrever 14 horas por dia. Os ensinamentos se tornaram cada vez mais concernentes a assuntos religiosos, cosmológicos e ufológicos. Finalmente, um dia, veio a grande mensagem. Previa catástrofes como terremotos e inundações, aos quais sobreviria a salvação dos crentes da seita pelos irmãos do espaço: “O Canadá, a região dos Grandes Lagos e o estado do Mississipi, até o Golfo do México e América Central, sofrerão uma tremenda transformação. A grande dobra de terra dos Estados Unidos para o leste jogará as montanhas sobre os estados centrais”.
Profecias catastróficas
O grupo se sentiu então no dever e na responsabilidade de avisar o mundo a respeito daqueles eventos iminentes. Emitiram notas à imprensa, algumas das quais foram publicadas pelos jornais locais. Isso, por sua vez, atraiu a atenção de vários sociólogos, entre eles Leon Festinger, Henry Riecken e Stanley Schachter, que integravam uma equipe da Universidade de Minnesota que estava investigando o comportamento de movimentos sociais de cunhos proféticos, milenaristas e apocalípticos. Obtiveram patrocínio da Fundação Ford e apoio logístico do Laboratório para Pesquisas de Relações Sociais da referida universidade para estudar o grupo da senhora Keech. Infiltraram-se na seita, fingindo serem convertidos sinceros, e passaram a comparecer aos encontros para monitorarem a evolução das crenças do grupo enquanto aguardavam a chegada da data predita para o cumprimento das profecias.
Embora a recorrência a tais métodos sorrateiros por parte de cientistas sociais seja hoje bastante questionada, o livro When Prophecy Fails [Quando a Profecia Falha, Harper and Row, 1956], escrito pelos sociólogos com base em suas investigações, é essencial para qualquer um que busca entender a natureza complexa da crença em UFOs. A obra detalha os esforços feitos pelos membros da seita para alertar a humanidade da destruição iminente, bem como as crenças de que os discos voadores desceriam do céu a tempo de salvar os crentes — da seita — da inundação, e que aqueles que morreriam
afogados renasceriam espiritualmente em outros planetas apropriados para seu desenvolvimento espiritual.
Ordem superior dos UFOs
Os eventos preditos, obviamente, não vieram a acontecer. O Meio-Oeste dos Estados Unidos não foi engolfado pelo oceano e os países que deveriam desaparecer ainda se encontram acima do nível no mar. Contudo, esses malogros, em vez de servirem de desalento para os membros da seita, reforçaram ainda mais sua convicção, pois tomaram para si o crédito de terem evitado a destruição. Alguns terremotos realmente ocorreram em áreas desertas mais ou menos na data aprazada. Se tivessem atingido áreas populosas, o dano teria sido grande. Deduziram assim que, não fossem seus avisos, o país não teria sido poupado da catástrofe. Alguns membros da seita também interpretaram aquilo como se fosse um teste quanto às suas capacidades de aceitarem e seguirem cegamente — sem discussão e sem medo — as ordens recebidas dos Guardiões.
Por que trazer a história da senhora Keech à baila em um estudo científico de UFOs? Muitos sociólogos argumentariam que o caso dela é típico de muitas seitas e cultos, e que já se propuseram teorias adequadas para explicar seu comportamento e motivação. Em grande parte isso é verdade, mas não estou inteiramente convencido de que o mecanismo que deu origem a tais movimentos está esclarecido, tampouco acredito que seu impacto potencial na sociedade tenha sido completamente assimilado. O caso da senhora Keech é importante para todos os cientistas que se interessam pelo Fenômeno UFO porque fornece um protótipo para um crescente número de grupos que se estabelecem em torno de sistemas de crenças semelhantes. Um dos mais famosos deles é a rede de devotos de Uri Geller, que teve êxito em despertar o interesse de vários físicos renomados.
Tanto no caso de Geller como no da senhora Keech, vários fenômenos inexplicáveis serviram para sedimentar a base de crenças do grupo. Em ambos os casos somos igualmente aconselhados a esperar por uma “ordem superior” dos UFOs. Neles há um impacto na consciência coletiva. E o que dizer do elemento profético? A senhora Keech predisse uma inundação e salvação vindas do céu. Geller e Andrija Puharich, seu seguidor e biógrafo, autor de Geller: Um Fenômeno da Parapsicologia [Record, 1989], predisseram aterrissagens em massa de discos voadores. Inúmeras pessoas espalhadas pelo mundo — apropriadamente denominadas de “contatados silenciosos” pelo ufólogo John Keel — guardam para si o que consideram revelações feitas a elas por entidades alienígenas. Em tempos passados talvez permanecessem no âmbito puramente religioso, consequentemente particulares, mas a relativa aceitação dos avistamentos modernos de UFOs por certos segmentos da mídia e cientistas curiosos os encorajaram a alardear seus contatos.
Qualquer que seja o caso, tendemos a descontar o fato de que os fenômenos contêm elementos absurdos. Esta é uma forma de ocultação. É tranquilizador colocar a senhora Keech e todas as pessoas como ela dentro de uma categoria inequivocamente sociológica, de preferência com os termos “dissonância cognitiva” e “comportamento estranho” pregados nelas. No caso da senhora Keech, há, por exemplo, a situação do estranho homem que ela encontrou na sua primeira instância profética. Os sociólogos, aferrados a seus estritos conceitos teóricos, negligenciaram a aparição do misterioso “cara de pernas duras”, sequer verificando sua veracidade junto aos demais membros do grupo — essa é uma falha metodológica que deve ser explorada.
“Não é hora ainda”
Em duas outras ocasiões a senhora Keech foi visitada por indivíduos estranhos. O primeiro incidente se seguiu ao anúncio de inundação pelos jornais locais. Dois homens bateram à sua porta e pediram para falar com ela. Um deles era perfeitamente comum, mas o outro era muito estranho e não disse uma só palavra durante a visita. Ela perguntou quem eram e o primeiro homem respondeu: “Eu sou deste planeta, mas ele não”. O assunto principal da discussão, que durou mais de meia hora, foi que ela não deveria divulgar sua informação além do que já havia feito. “Não é hora ainda”, disse o homem antes de ir embora com seu companheiro. Esse encontro foi muito sério. Como resultado, a senhora Keech desistiu de seus planos de publicar um livro relatando suas experiências. Meses depois, cinco jovens visitantes passaram duas horas tentando convencê-la e a um cientista, membro de seu grupo, de que suas informações estavam incorretas e que tudo o que previam estava errado.
Os sociólogos infiltrados na seita, mais uma vez, não fizeram nenhum esforço para identificar os visitantes, o que se afigura como uma grave omissão. A senhora Keech jamais soube quem eram esses rapazes, como chegaram à sua casa e quais eram seus propósitos. Podiam ser gozadores ou talvez estivessem imbuídos de intenções obscuras. Sobre esses últimos visitantes, a mulher disse, chocada e chorando, que “ficaram me forçando a desmentir as coisas. Um deles ficou me pressionando a dizer que elas não eram verdadeiras. Permaneceram me falando que tudo que eu dissera era falso e confuso. E me disseram que estavam em contato com o espaço exterior e que todos os meus escritos e previsões estavam errados”. O anel de absurdos em torno da senhora Keech agora estava fechado. Ela vivenciava o que se convencionou chamar de “a terceira ocultação”. A inundação não aconteceria.
Os crentes que haviam confiado em todos os sinais e na sinceridade da médium ou canalizadora, a deixariam completamente isolada depois de terem perdido ou se demitido de seus empregos. Alguns tinham até vendido os seus bens, comprometendo-se com uma realidade que só eles podiam acreditar. O membro mais culto do grupo, um professor universitário local, comentou: “Desisti de tudo e cortei todos os laços. Queimei todas as pontes e dei minhas costas ao mundo. Eu tenho de acreditar nisso, pois não há nenhuma outra verdade. Vocês estão tendo seu período de dúvida agora, mas fiquem firmes. Este é um tempo duro, mas sabemos que os ‘caras’ lá em cima estão cuidando de nós”. Cada um que tire suas conclusões…
Ao longo de todos esses anos de investigações de fenômenos ufológicos paranormais, já escutei muitas histórias, mas só publiquei aquelas que pudesse autenticar, ou que sentisse que preenchiam os requisitos básicos de legitimidade. Deparei-me ainda com rumores consistentes que desempenhavam um papel ativo no desdobramento total do mito. Tratavam-se de histórias de contatos entre seres humanos e supostos visitantes que viviam na Terra. Certas descrições eram extremamente detalhadas e envolviam cientistas como testemunhas, ao contrário do caso acima. Algumas delas, eventualmente, desapareceram. Há um espectro de experiências que vai do contato ao
sequestro alienígena — consciente ou não —, passando por encontros próximos e casuais, exposição a humanoides e, finalmente, presença de alienígenas entre nós. Passei muitas horas com o casal Betty e Barney Hill [Abduzidos na noite de 19 de setembro de 1961] e tive oportunidade de discutir o caso com o médico Benjamin Simon, que tratou da saúde do casal e o submeteu à hipnose. Habituei-me também com histórias de pessoas que manifestavam faculdades paranormais atribuindo-as a uma fonte do espaço exterior.
Novo movimento espiritual
O que me interessa não é propriamente a veracidade deste ou daquele contato — como às vezes nos é dado provar —, mas o fato de que em praticamente todos os países viceja uma subcultura baseada na ideia de que a humanidade tem um destino mais elevado. Em cidades remotas da Califórnia encontramos pessoas que abandonaram completamente a vida na metrópole — onde tinham bons cargos e salários — porque receberam supostas mensagens do espaço instruindo-as a fazer isso. Tais pessoas não são hippies, embora experiências similares sejam frequentes entre os membros mais jovens dessas comunidades. As pessoas às quais me refiro seriam considerados “quadradas” se não fosse o fato de que suas vidas foram mudadas por aquilo que elas encaram como genuínas comunicações extraterrestres. Elas esperam por algo do céu. E, fato curioso, apesar do estado em que o mundo se encontra na atualidade, parecem perfeitamente felizes.
Poderíamos categorizá-los entre as vítimas da violência e do caos urbano, que procuraram sossego e tranquilidade em cidades do interior. Mas igualmente poderíamos refletir se eles não são os precursores de um novo movimento espiritual. Um desses homens deixou Los Angeles com sua família depois de receber uma mensagem que ele acredita ter vindo de Júpiter. A entidade o instruiu a refugiar-se em um local isolado e a viver em retiro “provendo um centro de paz” para que se protegesse do “tumulto intenso que estava para vir”. Hoje ele vive com sua mulher em um pequeno vilarejo nas montanhas e permanece no aguardo de novas instruções. É uma das pessoas idosas mais felizes que já encontrei. Não estamos aqui lidando com escapismo, e sim com a próxima forma de religião.
Mas por que trazer tudo isso à tona? Porque os discos voadores, sendo eles reais ou não em termos físicos, configuram um elemento central em uma paisagem futura já bastante problemática. Seria otimismo demais predizer que vão abrandar ou eliminar tais perigos. No entanto, não deixa de ser interessante perguntar o que acontecerá com nossa civilização se o próximo passo para a evolução do fenômeno for uma radical mudança das atitudes humanas em direção a poderes paranormais e vida extraterrestre. Enquanto muitos cientistas conservadores ainda se recusam a considerar tais dados, e enquanto muitos crentes já mergulharam em seitas místicas supersticiosas e ocultistas, parece importante para mim que um número crescente de cientistas continue a promover a exploração de novos conceitos estudando seriamente os fenômenos.