O que representa um UFO no céu? Além do fato de ser um fenômeno fantástico, um verdadeiro disco voador pode constituir-se em muitas coisas – dependendo de quem o esteja vendo. Para alguns seria a mais sensacional experiência de suas vidas, outros considerariam uma esperança de salvação espiritual ou mesmo de ajuda material, e ainda há os que poderiam tê-lo como uma ameaça. Um UFO, entretanto, tem um significado muito peculiar para quem se utiliza do espaço aéreo como meio de vida. Pilotos civis e militares, bem como os técnicos responsáveis pela manutenção da segurança, vigilância e defesa do céu de todo o planeta, o vêem de outra maneira, diferente das já mencionadas. Dependendo da situação, um objeto voador não identificado pode ser realmente uma grande ameaça à segurança de vôo ou um enorme estorvo – o que geralmente acontece – para o sistema aeronáutico. No entanto, independentemente de quem seja a testemunha, um UFO sempre será um acontecimento inusitado, imprevisível, enigmático e, acima de tudo, interessante e problemático.
Esta tem sido uma década de grande desenvolvimento para a aviação civil. As demandas de passageiros e cargas têm aumentado significativamente, exigindo a utilização de aeronaves maiores e velozes. Assim, os critérios de segurança de vôo se tornam cada vez mais rigorosos, e a expectativa manifestada pelo público e pela mídia impõe considerável pressão sobre a indústria aeronáutica, sobre a qualificação técnica e operacional de pilotos e controladores de vôo e, sobretudo, aos órgãos responsáveis pela normas e regulamentos para a utilização e o controle do espaço aéreo. Em se tratando de Brasil, toda essa normatização fica a cargo do Comando da Aeronáutica, na figura de duas diretorias principais: o Departamento de Aviação Civil (DAC) e a Diretoria de Eletrônica e Proteção ao Vôo (DEPV).
O DAC tem por missão estudar, planejar, orientar, controlar, incentivar e apoiar as atividades da aviação civil pública e privada, além de manter o relacionamento com outros departamentos no trato dos assuntos de sua competência. Já a DEPV constitui-se no órgão central do complexo Sistema de Controle do Espaço Aéreo Brasileiro, que tem por finalidade prover os meios de apoio necessários à circulação segura e eficiente do tráfego aéreo civil e militar sob jurisdição do país. Na égide da diretoria estão também o Sistema de Proteção ao Vôo (SPV), o Sistema de Telecomunicações do Comando da Aeronáutica, o Sistema de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo e o Sistema de Busca e Salvamento.
A DEPV atua ainda como elo de ligação entre outros departamentos, como por exemplo o Sistema de Aviação Civil (SAC), o Sistema de Defesa Aérea Brasileiro e o Sistema de Controle Aerostático. Os rigorosos critérios estabelecidos pela DEPV e pelo DAC visam primeiramente a completa segurança das aeronaves, passageiros e tripulantes que circulam dentro do espaço brasileiro. A interferência dos UFOs na Circulação Aérea Geral (CAG), por ser um dos aspectos de maior importância que envolve esse misterioso fenômeno, fez com que as autoridades competentes de vários países planejassem diretrizes específicas para esses casos. Tais procedimentos visam o recolhimento de dados para que estudos possam ser realizados no sentido de entender ou pelo menos desmistificar essas fantásticas máquinas voadoras. Foi pensando dessa maneira que a DEPV não pôde deixar de lado o fator UFO, no que concerne às suas diretrizes. Como uma vez já foi dito, a presença de um objeto voador não identificado no céu pode tumultuar por completo todo o sistema de controle de vôo, causando atrasos nas manobras de pouso e decolagem e obrigando as aeronaves a fazerem imensos desvios, além de um enorme estresse, tanto nos controladores quanto nas tripulações das aeronaves envolvidas. Os riscos de tais situações são incalculáveis se for levado em consideração que qualquer erro de pilotos ou técnicos da base pode vitimar dezenas, talvez centenas de pessoas.
Diante da possibilidade de acontecimentos deste tipo, a DEPV se viu “obrigada” a redigir um documento chamado de Diretriz Específica 04/89, que determina a todas unidades responsáveis pelo controle do tráfego aéreo, sejam elas os Serviços Regionais de Proteção ao Vôo ou os Centros Integrados de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (Cindactas), o estabelecimento de normas específicas e procedimentos padrões a serem adotados no caso de avistamento ou reporte de UFOs – os mesmos objetos voadores não identificados que os governos tanto escondem através de políticas de acobertamento. O surgimento dessa Diretriz deu origem a outros documentos de caráter regional, como por exemplo a NPA 09-C, redigida pelo Serviço Regional de Proteção ao Vôo do Rio de Janeiro, que determina quais procedimentos devem ser tomados diante de alguma forma da presença alienígena. Esta norma é bastante conhecida pela maioria dos ufólogos.
A Diretriz Específica 04/89 constitui-se num documento orientador de abrangência nacional, assinado pelo então major brigadeiro-do-ar Ivan Moacyr da Frota e dirigido às unidades envolvidas no serviço de controle do tráfego aéreo. O brigadeiro Frota, naquela época, ocupava o cargo de diretor da DEPV e resolveu determinar a confecção dessa regra devido a crescente onda de avistamentos que ocorria em todo mundo, especialmente no Brasil, desde a segunda metade da década de 80. A interferência de UFOs que provocava diversos incidentes com as aeronaves civis e militares dentro do espaço aéreo brasileiro, os constantes relatos de pilotos e o surgimento de alvos desconhecidos nas telas de radar também contribuíram para que uma atitude urgente fosse tomada pela DEPV. O documento traça uma série de procedimentos para que dados sejam coletados com a maior eficiência possível para que análises posteriores possam ser feitas. Apesar de tudo isso, a Aeronáutica insiste em negar que realiza estudos sistemáticos sobre os UFOs. É interessante notar, todavia, que esse negação recai numa gigantesca contradição, pois não há lógica em proceder uma coleta de informações, como afirma a Diretriz,
e não utilizá-la de alguma forma.
Informação Inacessível – Por outro lado, sabe-se que a maioria dos relatórios e informes são repassados ao Centro de Operações de Defesa Aérea (CODA), onde são armazenados. Desse modo, não é possível negar que ao longo dos anos a Força Aérea Brasileira (FAB) vem acumulando uma enorme quantidade de dados a respeito dos UFOs, devido a inúmeras diretrizes e normas regionais. Extensos e secretos projetos realizados no passado contribuíram enormemente para aumentar a quantidade de informações relativas aos discos voadores, como por exemplo o Sistema de Investigação de Objetos Aéreos Não Identificados (Sioani), criado pela 4ª Zona Aérea, o chamado Comando Regional IV. Também é prova disso a Operação Prato, levada a cabo pelo Comando Regional I por determinação do Governo Federal na Amazônia. Identicamente, a averiguação do caso do UFO fotografado na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro (RJ), e o incidente ocorrido em 1986 em São José dos Campos (SP), também foram objetos de estudos oficiais. Não se sabe ao certo qual foi o resultado de todos esses projetos, somente que vários estudos realizados pela FAB foram taxados como inconclusivos, de acordo com boletins oficiais repassados à população.
Não resta dúvida que a Força Aérea conta com pessoal especializado em diversas áreas para a realização dessas investigações. Além da formação técnico-militar de seus membros, vários militares possuem curso universitário em diferentes campos, o que faz da FAB uma organização totalmente auto-suficiente para realizar esse tipo de estudo. Além disso, a Aeronáutica Brasileira possui um dos mais sofisticados locais de pesquisa do mundo, o Centro Tecnológico Aeroespacial (CTA), onde funcionam dezenas de órgãos independentes como o Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA) e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Embora estas afirmativas sejam verdadeiras, em se tratando de UFOs as coisas nem sempre funcionam como deveriam. As informações referentes a objetos voadores são todas detalhadamente classificadas e pouquíssimas pessoas conseguem ter acesso a elas. Um fato interessante desses projetos é que, devido ao alto grau de sigilo que lhe é imposto, muitos dos investigadores recrutados para elucidar o fenômeno tinham pouca ou nenhuma experiência com o assunto. Talvez esse tenha sido um dos motivos para que tantos casos ficassem sem uma explicação adequada – pelo menos segundo a versão oficial.
Em uma análise sumária da Operação Prato, comandada pelo coronel Uyrangê Hollanda, pode-se facilmente verificar o que foi dito acima. Hollanda já tinha ouvido falar em UFOs, mas era um cético sem nenhuma experiência anterior com o tema, tendo sido escolhido por seu conhecimento em selvas e por ser membro do serviço de informações da Aeronáutica, conhecido como A2. O coronel era ainda oficial da Infantaria da Aeronáutica, ou seja, com pouco conhecimento no que se refere a aviação, sistemas de controle de vôo, radares, Meteorologia, Astronomia, Engenharia Aeronáutica, etc. Em entrevistas posteriores à conclusão do projeto, Hollanda falou de sua surpresa diante do Fenômeno UFO, ao passo que para alguns militares de outras especialidades os objetos voadores se constituíam em “fatos normais.” Mesmo sem entender do assunto, a princípio, não existe dúvidas de que o coronel Hollanda conseguiu cumprir sua principal missão, que era restabelecer a ordem nos municípios atingidos pela aparição de objetos voadores não identificados [Veja entrevista completa com Uyrangê Hollanda em UFO 54 e 55].
Todavia, uma outra situação teria uma abordagem diferente, apesar do desfecho ter sido um tanto quanto inusitado. Em 19 de maio de 1986, aeronaves de interceptação foram acionadas nas Bases Aéreas de Anápolis e Santa Cruz para uma missão um pouco curiosa: fazer o reconhecimento e se necessário abater objetos desconhecidos que estavam sobrevoando a cidade de São José dos Campos (SP). Autênticos UFOs haviam sido detectados pelos centros de vôo e visualizados pela torre de controle daquele município, e posteriormente pelos diversos pilotos dos caças F-5E e Mirage III, envolvidos na operação. Segundo o ex-ministro da Aeronáutica tenente brigadeiro-do-ar Octávio Moreira Lima – que naquela época estava a frente do órgão –, as investigações da FAB sobre esse incidente “foram totalmente inconclusivas,” o que fez com que a instituição não divulgasse nada a respeito [Veja entrevista com Moreira Lima em UFO 49].
À guisa desses fatos, conclui-se que a desculpa fornecida pela Aeronáutica a respeito desse assunto é totalmente contraditória. Se a FAB não teve a competência de chegar a uma resposta definitiva para o caso – mesmo com todas as regras criadas para tal ação – e se, por outro lado, resolveu divulgar o acontecimento junto à Imprensa, por que os dados não foram repassados para alguma instituição científica ou investigadores particulares, para que estes pudessem ajudar nas análises? Diante desse quadro, chega-se a mais uma conclusão: a Aeronáutica considerou que os objetos detectados pelo radar realmente se tratavam de autênticas naves extraterrestres, mas não quis passar este “detalhe” ao público no intuito de evitar maiores polêmicas e embaraços das autoridades. Talvez a Força Aérea, por motivos que a sociedade desconhece, tenha sido obrigada a acobertar o caso, mudando radicalmente a sua posição que antes demonstrava uma atitude favorável a revelação de todas as nuanças que cercavam o incidente.
Acidentes Envolvendo UFOs – Dez anos depois, o Bra
sil se viu abalado diante de mais um acontecimento com UFOs – desta vez grave porque causou a morte de uma pessoa e ferimentos em outras quatro. O fato envolveu uma aeronave T-27 Tucano, da Esquadrilha da Fumaça, e ocorreu em Santos (SP), no dia 16 de novembro de 1996. Uma das asas do avião se desprendeu da fuselagem, caindo na praia. A FAB apressou-se em divulgar uma nota concluindo que aquela parte da aeronave havia se partido devido a “fadiga da longarina de sustentação.” Entretanto, pesquisadores descobriram através de análises da filmagem do fato que um objeto desconhecido esteve envolvido no incidente – provavelmente uma sonda ufológica. Ainda assim, a Aeronáutica não divulgou nada oficialmente que reconsiderasse a informação de fadiga estrutural, não se importando em comprometer o nome da instituição e sobretudo da Empresa Brasileira de Aeronáutica (Embraer), fabricante do avião. O item intrigante advém do fato de que o Tucano utilizado naquela demonstração aérea era relativamente novo, possuindo estrutura reforçada para realização de acrobacias e nunca poderia apresentar esse tipo de falha com tão poucas horas de vôo [Veja matéria em UFO 50].
Existem inúmeros incidentes envolvendo aviões civis e militares e UFOs que foram analisados pela Força Aérea. E mesmo assim não é possível entender o porquê de uma instituição pública negar seu envolvimento em questões desse tipo, quando abordada pela Imprensa ou por pesquisadores particulares. A resposta dada através de uma carta enviada pelo Centro de Comunicação Social da Aeronáutica ao ufólogo Rafael Cury demonstra claramente esta afirmação. O órgão declarou que não se envolve com questões “que não tenham respaldo científico.” Por outro lado, se preocupa em traçar normas e procedimentos padrões para pilotos e controladores de vôos que venham a ter qualquer experiência com UFOs – o que deixa mais do que claro que seus comandantes acreditam na existência de civilizações extraterrestres.
Sendo assim, fica impossível entender o motivo de tanta restrição às informações. Se a Aeronáutica não está interessada em estudar o fenômeno mais profundamente, por que não repassa os seus dados para as instituições científicas do país ou à pessoas que estejam interessadas em desvendar todo mistério? O ex-diretor da DEPV, agora na reserva, se candidatou à Presidência da República. Não há dúvida que o brigadeiro Frota seria um excelente dirigente da Nação Brasileira, considerando-se todo o seu preparo civil e militar, sua educação e caráter e sobretudo seu tino administrativo, adquirido ao longo dos anos em que ocupou diversos cargos de importância dentro da Força Aérea. A dúvida recai no fato de não sabermos qual seria a sua atitude, caso viesse a assumir a Presidência, no que diz respeito à questão ufológica e ao sistemático acobertamento que se faz sobre o assunto em todo o mundo, salvo raríssimas exceções.
Soberania – O “problema” representado pelo Fenômeno UFO ainda demanda enormes preocupações por parte dos governantes das diversas nações do planeta. No Brasil, se a Aeronáutica decidisse repassar todas as informações relativas aos UFOs haveria necessidade de uma triagem dentre as pessoas que teriam acesso aos dados, mas isso é outra questão. O importante agora seria promover a cooperação entre civis e militares para a resolução de um tema relativamente comum. Não adianta querer e tentar negar a realidade diante de tantas evidências. O documento que nesse momento é apresentado ao público é apenas mais uma prova que se junta às milhares de outras existentes. É impossível tapar o Sol com a peneira! Insistir nessa política mesquinha e ultrapassada é demonstrar um total desrespeito para com a sociedade que paga seus impostos, garantido a sobrevivência de suas instituições e de um Brasil soberano.
Transcrição do documento da Aeronáutica
Ministério da Aeronáutica – Comando Geral de Apoio
Diretoria de Eletrônica e Proteção ao Vôo
Diretriz Específica 04/89
Finalidade – Estabelecer os procedimentos dos Órgãos de Controle do Espaço Aéreo quando forem relatados casos de avistamentos de Objetos Voadores Não Identificados.
Disposições Gerais – Considerando que todos os objetos voadores penetrando ou evoluindo no espaço aéreo brasileiro deverão ser identificados e classificados; que os objetos em que não for possível completar a fase de identificação serão tratados como Objetos Voadores Não Identificados (Ovni), determino que sejam adotados os seguintes procedimentos:
A) Caso o fato esteja ocorrendo dentro da área de cobertura de radar: 1. Solicitar a gravação de vídeo. 2. Informar ao COpM mais próximo. 3. Observar no PPI as cadeias possíveis de serem relacionadas com o Ovni. Inicializá-las e vigiá-las, se existentes. 4. O COpM envolvido informará ao CODA a ocorrência. 5. Levantar todas as informações meteorológicas disponíveis da área. 6. Obter, através da visualização, o maior número possível de dados. 7. Anotar os horários de acionamento e do final da atividade. 8. Para as conversações TF procure usar somente uma console. 9. Anotar as aeronaves envolvidas, no caso de reporte sobre avistamento, bem como a freqüência utilizada para o reporte. 10. Determinar que os operadores dos sítios verifiquem a presença de plotes no pé da antena. 11. Solicitar aos comandantes das aeronaves o maior número possível de dados. 12. Preencher o questionário Anexo 1, caso esteja em comunicação terra-terra com o observador. Caso esteja em comunicação terra-ar, obter as informações necessárias para a localização do fato, solicitando ao observador que entre em contato com o COpM para fornecer dados complementares.
B) Caso o fato esteja ocorrendo fora da área de cobertura radar: 1. Informar ao COpM mais próximo. 2. O COpM envolvido informará ao CODA a ocorrência. 3. Levantar todas as informações meteorológicas di
sponíveis da área. 4. Anotar os horários do início e do final da atividade. 5. Anotar as aeronaves envolvidas, no caso de reporte sobre avistamento, bem como a freqüência utilizada para o reporte. 6. Solicitar aos comandantes das aeronaves o maior número possível de dados. 7. Preencher o questionário do Anexo 1, caso esteja em comunicação terra-terra com o observador. Caso esteja em comunicação terra-ar, obter as informações necessárias para a localização do fato, solicitando ao observador que entre em contato com o COpM envolvido para fornecer dados complementares.
C) Caso o fato reportado seja confirmado pela observação do radar ou por várias informações diferentes de pessoas diferentes: 1. Acionar o chefe controlador ou o oficial de sobreaviso do COpM mais próximo. 2. Acionar o oficial de sobreaviso ao CODA.
D) Caso o fato já tenha ocorrido, aplicar o questionário anexo e informar ao CODA.
E) Comunicar, de imediato, à direção da DEPV as ocorrências que provoquem ou possam provocar alterações significativas na circulação aérea e outras que devam ser do conhecimento urgente dos escalões superiores.
Disposições Finais – Determino que os Cindacta e SRPV estabeleçam documentação interna própria referente ao cumprimento desta Diretriz.
Rio de Janeiro, 31 de agosto de 1989.
Major Brigadeiro-do-Ar Ivan Moacyr Frota, Diretor da DEPV