A história da Ufologia é pontilhada por pesquisadores que se destacam entre seus pares por suas abordagens pioneiras, pela seriedade de suas pesquisas e porque dão um norte para investigadores menos experientes. Embora nem todos os nomes que se destacam dentro deste estudo contribuam positivamente para alavancá-lo, alguns até mesmo seguindo o caminho contrário, a grande maioria tem ajudado a tirar a Ufologia do demérito que a imprensa e as autoridades lhe impuseram.
Nosso entrevistado desta edição ocupa um lugar fundamental na história da pesquisa ufológica e é, desde a década de 50, um dos estudiosos mais coerentes, prolíficos e inovadores. Suas particulares linhas de pensamento muitas vezes não são bem compreendidas e os ufólogos mais conservadores o acusaram de propagar ideias fantasiosas, enquanto outros o chamam simplesmente de cético. Isso porque o astrofísico Jacques Vallée, depois de ver de dentro as manipulações militares para ocultar o fenômeno, desconfia, com motivos de sobra, das campanhas de desinformação norte-americanas sobre os grays [Cinzas] e sua relação com os serviços de inteligência.
Mas o pesquisador jamais disse ser cético, muito pelo contrário. Vallée parece apostar que o Fenômeno UFO é algo muito mais transcendental do que a maioria dos investigadores comumente acredita. Por isso, chega a ser considerado o maior pensador da Ufologia Mundial, e não sem razão. A história do envolvimento do pesquisador com o tema começou em 1955, quando teve o avistamento de “um disco com uma cúpula transparente em cima, que permaneceu parado no céu durante vários minutos”, segundo suas próprias palavras.
Pesquisa independente
Embora aparentemente tenha esquecido do assunto por acreditar que aquilo devia ser algum protótipo militar, internamente Vallée não conseguia realmente crer em sua própria explicação. Em 1961, quando começou a trabalhar com dois outros colegas astrônomos no Observatório de Paris, teve a oportunidade de registrar uma grande quantidade de objetos anômalos adentrando a atmosfera, sem que conseguisse encontrar para eles alguma explicação conhecida. Ele e seus colegas, então, fizeram um relatório sobre o assunto, mas, ao apresentá-lo ao seu superior, o homem o jogou no lixo, dizendo: “Não seja ridículo. Os americanos vão rir de nós”.
Diante disso, Vallée passou a entrar em contato, por conta própria, com cientistas de outras instituições e países, e em todos os lugares ele encontrou a mesma atitude de censura — mas também encontrou um pequeno número de colegas que não concordavam com o posicionamento oficial e acreditavam que as coisas precisavam mudar, pois não se podia negar a verdade para sempre. Em 1962, quando se mudou para os Estados Unidos e foi trabalhar no departamento de astronomia da Universidade do Texas, entrou em contato com o professor J. Allen Hynek, com quem se encontrou no ano seguinte. Na época, Hynek era conselheiro da Força Aérea Norte-Americana (USAF) no âmbito do Projeto Livro Azul. Anos mais tarde, o programa foi substituído por outra iniciativa e no desenrolar dos acontecimentos ficou claro para Vallée que não havia um interesse real em se esclarecer a questão ufológica.
Diante desse panorama, o pesquisador se retirou do ambiente militar e passou a estudar o assunto particularmente, mais tarde reunindo de maneira informal um grupo de cientistas interessados no tema, formando aquilo que ficou conhecido como o “Colégio Invisível”. Alguns anos depois, Vallée lançou um livro baseado nos estudos e discussões que o grupo realizou.
Sempre um passo à frente de seus pares, o cientista tem uma visão única e abrangente sobre o Fenômeno UFO, entendendo-o como algo muito mais complexo do que naves e alienígenas. Vallée acredita que o que hoje chamamos de UFOs e discos voadores são apenas manifestações de origem desconhecida que se travestem com as formas culturais da época em que se manifestam, variando suas aparências, mas não seu misterioso propósito. Seu livro Passaporte para Magonia [Henry Regnery, 1969] se tornou um clássico entre os estudiosos de Ufologia interessados em expandir seu olhar sobre o assunto.
Jacques Vallée não é um pesquisador do tipo midiático e raramente aparece em programas de rádio e TV ou mesmo congressos de Ufologia, mas isso não o torna menos respeitado ou querido. Ao contrário, o fato de fazer suas pesquisas em silêncio e de forma tão séria faz dele uma referência quando o assunto é Ufologia. Grande incentivador das pesquisas de campo, o cientista vê nelas o caminho para que se possa angariar evidências da realidade dos UFOs e com isso impulsionar a pesquisa científica sobre o fenômeno. Nesta entrevista, mais uma de várias que a Revista UFO publicou com ele, conheceremos mais sobre este que é um dos maiores nomes da Ufologia atual.
O que o levou a se interessar pelo fenômeno dos UFOs?
Bem, inicialmente não me interessei pelos UFOs em si, mas sim pelo comportamento dos cientistas que rechaçavam ou destruíam os dados que indicavam que tais objetos efetivamente existiam. O que havia sobre os UFOs que representava tamanha ameaça ao establishment, algo que também os levavam a violar os princípios fundamentais da ciência? Eu queria saber. Na verdade, isso começou em 1961, quando estava trabalhando no Observatório de Paris como parte de uma rede de vigilância do espaço por satélite, afiliada ao Observatório Astronômico Smithsonian. Durante o transcurso do rastreio rotineiro depois do firmamento, também detectávamos alguns objetos cujos comportamentos se mostravam anormais. Em resumo, não eram nem aviões nem balões e não pareciam ser os discos voadores de sempre. Na verdade, nem eram discos, mas somente pontos luminosos infrequentes.
Bem, inicialmente não me interessei pelos UFOs em si, mas sim pelo comportamento dos cientistas que destruíam os dados que indicavam que tais objetos efetivamente existiam. Os UFOs representavam uma ameaça ao establishment.
E o que aconteceu?
Nós todos ficamos intrigados, claro. Afinal, aqueles pontos podiam ser fruto de uma nova tecnologia ou podiam ser os próprios UFOs em si. Nossa estação não era a única recebendo dados deste tipo e sabíamos disso porque estávamos igualmente integrados a uma rede de telescópios por meio da qual recebíamos relatos de observações parecidas de outras estações na França. Assim, decidimos passar uma noite inteira com a equipe e registrar a maior quantidade possível destes pontos no céu para computar sua órbita e, se se tratasse de um satélite, tentar vê-lo de novo. Naquela noite obtivemos registro de 11 desses objetos, porém, antes que pudéssemos transferi-los para o computador, a fita foi confiscada e apagada.
Quem destruiu os dados?
Não quero dar nomes, porque sentia grande admiração pelo homem como astrônomo. Estou certo de que ele pensava seriamente que existia uma explicação perfeitamente natural para os objetos estranhos que havíamos presenciado. Por outro lado, a destruição de dados não faz parte do método científico — e aquilo me pareceu uma reação psicológica extremamente rara. O astrônomo em questão era da velha escola da ciência, que considera os dados como algo sagrado, o que torna seu comportamento ainda mais incomum. Por que o fez? Mantive vários diálogos com ele sobre a destruição da fita, porém, sua afirmação era a seguinte: “Não queria que os norte-americanos zombassem de nós”.
Ele tinha medo do que os dados continham?
Sim, e os dados lhe davam vergonha. Não queria admitir aos seus colegas que havia algo no céu que ele não conseguia entender. Esta era a forma com a qual a maioria dos cientistas encarava a questão ufológica. Posteriormente, descobri que nos Estados Unidos existiam casos da mesma época nos arquivos do Smithsonian, de maneira que o fenômeno havia sido visto por franceses e por norte-americanos. E os dados receberam exatamente o mesmo tratamento — foram rechaçados e destruídos. Depois desse incidente, um pequeno grupo em Paris decidiu chegar ao fundo do assunto, centralizando as informações ainda não explicadas.
Esse grupo era formado apenas por astrônomos e cientistas?
Não, era uma equipe informal composta por um biólogo, um escritor, um engenheiro eletrônico e dois astrônomos. Trabalhávamos em diferentes assuntos e nos interessávamos pelos UFOs. O grupo ainda existe e não tem nome. Tivemos cuidado nisso, para que nada pudesse nos identificar. Não havia organização, nem mensalidades, matrícula ou estrutura. Tínhamos acesso às observações não explicadas realizadas pelos astrônomos por meio de telescópios e aos arquivos dos principais jornais de Paris, assim como às cartas dos leitores sobre os UFOs, que já eram volumosas em 1961. Também dispúnhamos de acesso aos arquivos da Força Aérea Francesa (FAF).
O Governo Francês reconheceu oficialmente a questão dos UFOs?
Em 1974, Robert Galley, o então ministro da Defesa dos país, foi entrevistado por Jean Claude-Bourret, um destacado jornalista francês, durante uma série de transmissões sobre o tema ufológico. Na ocasião Galley declarou que o problema devia ser levado a sério e que a Força Aérea Francesa e a polícia vinham compilando dados desde 1954 — isso é quase um reconhecimento oficial do problema. O ministro disse que: “Entre os fenômenos aéreos que têm sido compilados sob o conceito de UFOs, resulta inegável que há fatos inexplicáveis”. Ele citou a grande quantidade de casos bem documentados disponibilizados por agentes da ordem pública e pelos militares franceses.
O senhor declarou certa vez que “as provas físicas, tangíveis e definitivas do controle inteligente dos misteriosos objetos brilham por sua ausência”. Entretanto, há inúmeros avistamentos por pilotos e tripulantes, com manobras de voo controlado. Por acaso isso não constitui controle inteligente por alienígenas?
É necessária uma distinção entre os avistamentos por pilotos e as observações de tripulantes. Existem numerosos relatos de pilotos franceses, pessoal aeronáutico de terra e agentes militares. Eles descrevem frequentemente manobras e outras ações dos UFOs, como respostas à luz, por exemplo, que certamente são indicativas de ação deliberada por parte dos objetos. Mas isso não constitui “evidência física, tangível e definitiva”. Acredito que a teoria mais atraente que existe hoje em dia para explicar o fenômeno é a que diz que os UFOs são manifestações de uma tecnologia sob controle inteligente, mas isso não passa de uma hipótese.
O que falta para que seja uma tese concreta, então?
Muito. Sequer os encontros próximos com tripulantes constituem prova de controle inteligente dos UFOs. Muitos desses avistamentos acarretam complexos efeitos psíquicos, que podem ser o resultado de um nível de ação sobre a mente das testemunhas que nada tem a ver com visitantes do espaço. Busquei demonstrar isso no livro The Invisible College [O Colégio Invisível, Dotton Press, 1975]. Uma vez que começamos a estudar esses aspectos psíquicos, que estão estreitamente relacionados com a realidade física dos UFOs, podemos ver que é necessário reconsiderar todo o conceito da realidade.
Podemos falar um pouco sobre o que contém seu livro?
Claro. Nele declaro pela primeira vez minha conclusão de que a hipótese extraterrestre, segundo formulada atualmente, simplesmente não funciona. Entre todas as teses que temos, ela é superficialmente a mais atraente, mas não explica todos os fatos e isso é um problema grave para qualquer teoria, se quisermos considerá-la cientificamente. Tenho tentado afastar-me da busca por hipóteses, porque sobram teorias nesse campo. Ao agir assim, tenho que enfrentar algo que não havia encarado em minhas investigações anteriores, que é o aspecto psíquico dos avistamentos de UFOs. Em meu entender, não há forma de dividir os UFOs em um aspecto de ciências físicas e outro de ciência psíquica. Ambas estão presentes e inter-relacionadas.
O ministro da Defesa da França, Robert Galley, disse: ‘Entre os fenômenos aéreos que têm sido compilados sob o conceito de UFOs, resulta inegável que há fatos inexplicáveis ou incorretamente explicados’. Ele citou uma grande quantidade de casos.
O senhor mencionou que o conceito da realidade deve ser reconsiderado no Fenômeno UFO, mas como se consegue isso?
Suponhamos que seus olhos sejam substituídos pelos de uma abelha. Sua visão da realidade seria totalmente distinta, porque agora você seria capaz de ver partes do espectro da luz que não podia ver com seus olhos humanos. Você veria algumas coisas melhor e outras pior. Seu cérebro teria que reconstruir a realidade com base nesse novo contexto. De tal modo que nossa realidade é uma construção — algo que nossos cérebros edificam com base em nossas percepções. Se mudamos nossa percepção, mudamos nosso conceito da realidade.
O senhor está dizendo que nossos sentidos limitam nossa percepção?
Não só eles. Além das limitações de nossos sentidos, também temos as limitações de percepções impostas por nossa cultura. Os padrões que vemos ao nosso redor durante os primeiros dias ou semanas de vida parecem determinar o que reconhecemos como adultos. Também temos que dar à criança as palavras que deverá utilizar para classificar as realidades físicas, de maneira que vivemos parte desta realidade por meio da linguagem, enquanto que outra parte nos é dada por meio dos padrões que nos rodeiam e um pouco disso é o que resulta socialmente aceitável.
Poderia explicar melhor, por favor?
Sim. Por exemplo, a forma em que percebemos nossas próprias ações e decidimos o que tem sentido para nós pode ser totalmente absurda para outros seres, como os animais de estimação que compartilham nossas vidas. Vivemos no mesmo tempo e espaço, mas nossos conceitos da realidade são totalmente distintos. Quando volto para a casa do trabalho e meu cachorro me vê, ele me reconhece. Mas se me sento em frente ao meu computador e o utilizo para conversar com alguém em Londres sobre algo que talvez não venha a ocorrer nos próximos 10 anos, como a fusão controlada, por exemplo, que sentido teria isso para o cachorro? Para ele, isso seria simplesmente irreal, mas para nós é algo muito real.
Interessante. Por favor, continue…
Fundamentamos nossas ações sobre tais coisas, mas os cachorros não, seguindo por este exemplo. Por outro lado, o cão pode captar sons do computador que eu não escuto, como os que estão além da minha capacidade auditiva — talvez ele pense que meu computador emite um som amigável, enquanto que a mim isso interessa pouco. Sobre os UFOs, pode ser que nosso conceito da realidade necessite ser expandido antes de sermos capazes de reconhecer o que verdadeiramente são.
O senhor declarou que nada pode ser mais fantástico do que um fenômeno natural ainda não reconhecido nem classificado pela mente humana. Se os UFOs não são naves alienígenas, qual fenômeno natural estaríamos enfrentando aqui?
Ainda sabemos muito pouco sobre a forma como o cérebro constrói a realidade a partir das percepções de nossos sentidos. A neurociência e outros ramos do conhecimento têm aumentado diariamente nosso aprendizado sobre o cérebro, mas ainda há um longo caminho a percorrer. Posto que estamos apenas especulando, vou lhe apresentar uma teoria inovadora que, por sua vez, saliento que não o é. É uma hipótese muito antiga que remonta ao conceito de Platão sobre as ideias e também a certas apreciações orientais. Podemos teorizar que os UFOs se originam no mesmo nível em que observamos a substância de nossa própria imaginação. O livro Um Mito Moderno sobre Coisas Vistas no Céu [Vozes, 1988] de Carl Jung, o grande psiquiatra contemporâneo, sugere que ele pensava algo parecido, mas ainda não era suficientemente fantástico para explicar os UFOs, uma vez que estes não nos deixam restos físicos e tangíveis.
Compreendo. Mudando um pouco de assunto, qual é a sua opinião sobre a Teoria dos Antigos Astronautas, proposta por Erich von Däniken?
Bem, ele não foi o primeiro a propô-la. Von Däniken tocou o coração do público norte-americano e o fez apresentando evidências que outros — aqueles que efetivamente investigaram tudo, principalmente PaulMisraki, na França, AleksandrKazantsev, na extinta URSS, e Donald Alan Thomas, na Austrália — haviam acumulado e publicado antes dele. Mas von Däniken alcançou grande destreza. Não me impressionam seus argumentos sobre os alinhamentos sul-americanos em Nazca, cuja finalidade seria servir de pistas de aterrissagem para antigos astronautas.
Seu contemporâneo, Aimé Michel, também tratou do tema.
Sim, Michel publicou dados sobre as pinturas paleolíticas das cavernas francesas que são muito mais interessantes. Espero que surja melhor evidência quando os historiadores clássicos decidirem examinar a época na qual a civilização terrestre parece ter experimentado uma transformação parecida com a que estamos atravessando. Também me intrigam os amuletos fenícios que representam discos alados dos quais parecem surgir deuses. Se buscamos indícios do paleocontato, temos que começar por Assíria, Egito, Grécia. Não obstante, há de se ter muito cuidado com o que um helenista denominou de “a projeção inconsciente de certas ansiedades religiosas sobre a tela da Antiguidade”.
O senhor escreveu que o conceito da inteligência extraterrestre provocou reações violentas no início. Qual seria o resultado se um confronto com estes supostos visitantes chegasse a ocorrer?
A questão dos confrontos é uma das quais estou estudando atualmente. Proponho a percepção do Fenômeno UFO como um “sistema de controle”, um condicionamento por meio do qual passamos por uma curva de aprendizagem de maneira coletiva.
Uma vez que começamos a estudar esses aspectos psíquicos, que estão estreitamente relacionados com a realidade física dos UFOs, podemos ver que é necessário reconsiderar todo o conceito da realidade. Isso é uma mudança radical de paradigmas.
Por favor, explique melhor o que quis dizer com esta afirmação.
Será difícil condensar a ideia em poucas palavras, uma vez que explorar o conceito levou-me a escrever um livro inteiro. Mas vamos usar um termostato como analogia, certo? Digamos que há algo que você quer controlar, para mantê-lo em certo nível. Para conseguir isto, desenvolve algo que tem uma ação sobre o sistema que você quer controlar, de tal forma que certa quantidade permaneça igual, ou que varie segundo aquilo que quer fazer. Agora, o que sugiro é que as manifestações ufológicas representam uma espécie de “sistema de controle”. Veja, até onde sabemos, eles não nos invadiram, nem interferiram em nossos governos, nem atingiram nossa economia. Aparentemente, o único efeito sobre nós é uma mudança em nossas crenças. Posto que eles se têm manifestado em quantidades significativas, nossas crenças sofreram uma sensível mudança. Em menos de uma geração, nossa atitude sobre a vida e sobre vida inteligente no universo têm dado uma volta de 180°. O conceito de inteligência superior tem se desenvolvido dramaticamente na última década, e creio que isso se deve, em grande parte, aos avistamentos de UFO.
E esse seria o propósito dos UFOs?
Digamos que pode ser uma das sequelas do fenômeno, do condicionamento. Não estou certo de que seja possível estudá-los sob essa ótica — pode haver toda uma série de explicações que estão além de nossa capacidade de julgá-las.
Mas como eles estariam usando este sistema de controle?
Não quero utilizar muito o pronome “eles”, porque não sabemos o que, e nem quem, está por trás de tudo isto. O que estou dizendo é que o fenômeno pode servir como um condicionador, um sistema de controle. O que está sendo controlado são nossas crenças e se você parar para pensar, essa crença é a mais poderosa que temos. É mais poderosa do que a ciência, mais poderosa do que qualquer outra coisa. Afeta nossas percepções, configura nosso governo, nossa política, nossa teologia. Agora, se alguém dispõe de uma tecnologia por meio da qual pode fazer com que as pessoas acreditem estar vendo algo no céu além da realidade normal, esse alguém tem controle total sobre os sistemas de crença dessa civilização — não tem que fazer nada mais e não há necessidade de se invadir ou de se fazer contato direto. Em grande parte, isso tem controle sobre as percepções das pessoas e, portanto, sobre a sociedade. O que estou dizendo é que podemos ser controlados dessa forma muito sutil, mas poderosa.
Então, se o sistema de controle é deles, dos extraterrestres, caso possamos entendê-lo, poderemos conhecer mais sobre eles?
Sim, a menos que eles sejamos nós mesmos. Também cabe essa possibilidade. Não há nada que comprove que a dita inteligência não seja humana. Podem existir níveis de consciência humana que desconhecemos…
Quer dizer que é algo que fazemos a nós mesmos? Como assim?
Bem, eu só quero deixar abertas todas as possibilidades. Alguns mecanismos podem desempenhar um papel nisso.
E o que me diz dos relatos sobre curas milagrosas após um encontro com UFOs, assim como certos contatados que recebem poderes novos e estranhos?
Não existe nenhum predomínio de dons especiais, mas muitas vezes contatados mencionam poder efetuar curas. Edgar Cayce obteve suas habilidades de cura durante sua infância, após o encontro com um ser que estava dentro de uma esfera radiante. Naturalmente, uma gama inteira de milagres religiosos pode ser revista a partir dessa perspectiva. Também devemos ter cuidado com os relatos sobre a telepatia com alienígenas, porque isto abre a porta para uma grande quantidade de alucinações causadas pelos efeitos secundários do fenômeno em si. Penso que muitos contatados sinceros têm sido induzidos a erro ou usados por esses seres nestas supostas comunicações.
Nos casos que o senhor documentou, os contatados dizem se suas mensagens são provenientes de forças com intenções malignas para o nosso mundo ou se são todas mensagens referentes à nossa salvação?
J. A. Hynek e eu abordamos essa questão no livro The Edge of Reality [O Limite da Realidade, Henry Regnery, 1975]. Os UFOs e suas ações em certos casos podem ser descritos como hostis, da mesma forma que podem ser descritos como amistosos. Agora, outra interpretação seria a de que eles simplesmente são indiferentes e só se envolvem com seus próprios assuntos, seja o que for. Podemos descrever a eletricidade como um fenômeno amigável ou hostil, segundo o efeito que tenha em uma dada situação. Nos casos dos contatos, a maioria deles geralmente mostra-se consistente em seus relatos. Os que possuem o dom da palavra afirmam ter se encontrado com uma força muito poderosa que transcende os conceitos humanos ordinários.
O efeito do encontro com extraterrestres é uma espécie de revelação?
Sim, alguns dos experienciadores geralmente dizem que esta força está aqui para nos ajudar, mas com a maioria dos contatados temos a impressão de que titubeiam, buscando as palavras possíveis porque não existem palavras apropriadas — estão tentando descrever algo que os deixa com uma sensação de assombro total. Até o momento, não conheço nenhum experienciador que tenha estado em contato com uma força maligna, embora, de fato, há casos em que isso ocorreu. O Caso Betty e Barney Hill, por exemplo.
Mas se acredita que Betty Hill tivesse considerado seus abdutores bons…
Sim, mas durante a experiência, Barney sentiu um medo terrível, assim como Betty. A sensação de “considerá-los bons” pode ter sido uma sugestão hipnótica. Certamente os sujeitos que foram abduzidos em Pascagoula, no Mississipi, em 1973, reagiram com terror e tiveram a sensação de ser tratados como ratos de laboratório. Como você se sentiria caso se tornasse uma cobaia em um experimento? Suponho que para muitos a sensação é de terror absoluto. Esse é o campo que mais me interessa neste momento, mas é o mais difícil de investigar, porque não existem bases seguras a partir das quais podemos partir.
Além das limitações de nossos sentidos, também temos as limitações de percepções impostas por nossa cultura. Os padrões que vemos ao nosso redor durante os primeiros dias ou semanas de vida parecem determinar o que reconhecemos como adultos.
O que deu origem ao seu festejado livro The Edge of Reality?
Eu fiquei muito emocionado com este livro, devido à forma incomum com que foi escrito. The Edge of Reality [O Limite da Realidade, CreateSpace, 1975] certamente não se parece com nenhum outro livro que eu tenha escrito anteriormente. Um amigo em comum nos sugeriu a ideia de produzirmos um livro juntos, para dissipar os mitos que se formaram em torno da questão ufológica, e dar ao público uma declaração que seria compreensível a todos, manifestando exatamente o que sabemos e desconhecemos sobre os UFOs.
E o que sabemos sobre os UFOs?
Bem, sabemos que a maior parte dos avistamentos se produz a noite. Também conhecemos os tipos de tripulantes que têm sido avistados. Mas quais são as áreas desconhecidas do fenômeno? Quais são as especulações mais realistas? Existem muitas outras coisas sobre as quais não temos dados e o público deveria estar consciente de nosso grau de ignorância. Por exemplo, não sabemos as perguntas corretas que devemos formular às testemunhas sobre seus respectivos sentidos da realidade no momento do avistamento. Não dispomos da metodologia para investigar um caso, como o sequestro dos dois pescadores em Pascagoula. E ainda há a questão sobre o que realmente podemos averiguar com as hipnoses. E mesmo que você tenha uma quantidade infinita de recursos para investigar um caso ufológico, o que acontece depois? Nós não sabemos quais são as perguntas corretas…
E como o senhor propõe, em seu livro, resolver isso?
Bem, tratei de determinar quais métodos temos à nossa disposição para estudar o problema. Reuni-me com outros estudiosos durante vários fins de semana e registramos tudo, tentando separar aquilo que conhecemos com certeza das coisas sobre as quais podemos apenas especular. O resultado é diferente de outros livros sobre UFOs, nos quais os autores ficam pulando de um caso para outro, sem aprofundamento. Eu só utilizei certos casos para ilustrar pontos específicos, enquanto que as discussões oscilam entre os eventos e as teorias. Creio que cheguei a uma forte recomendação sobre o que deve ser feito quando a ciência se interessar pelo assunto, sobre as técnicas disponíveis e sobre como fazer uso delas.
Qual é o formato da obra?
Na verdade, consegui convencer a editora a manter o livro em forma de diálogo para agilizar a leitura e poder me aventurar em temas que simplesmente não podem ser explorados por uma narrativa. Não é uma declaração científica, é algo mais ágil e com boa dose de humor. A gama de assuntos que exploro na obra vai do sublime ao ridículo, porque também abordo as fraudes e as falsificações. Um dos capítulos tem o título “Os Discos Voadores que Você Engoliu”.
Qual é sua opinião sobre os chamados homens de preto?
Existe uma enormidade de relatos documentados sobre este assunto para ignorarmos sua existência. Acredito que verdadeiramente fazem parte do Fenômeno UFO. Eu me mantive cético sobre eles até que vi alguns casos nos quais não restava dúvida de que alguém havia interferido na evidência e que estes sujeitos se fizeram presentes para levar material e assustar investigadores — e tinham conhecimentos sobre casos ufológicos que não podiam ter obtido por via normal. As testemunhas pensavam que estavam lidando com agentes do governo. Os homens de preto parecem interpretar esse papel, parecem gente de aspecto oficial envolvida em um assunto específico e que interfere na investigação de ocorrências ufológicas, ora ameaçando testemunhas, ora intimidando pesquisadores.
O que me diz do Triângulo das Bermudas? Há algum mistério ali?
Existem numerosos relatos de UFOs que emergem ou mergulham no mar em todas as partes do mundo, e também há muitos relatos de objetos avistados sobre lagos e rios. Seria necessário dispor de mais evidências para concluir que os UFOs se utilizam de bases submarinas, como se afirma comumente na Ufologia. O Triângulo das Bermudas é tão somente uma de muitas regiões nas quais os barcos têm sofrido avarias ou acidentes inexplicáveis, mas não vejo nenhuma conexão direta com os UFOs. Barcos e aviões desaparecem todo o tempo e em todas as partes do globo em consequência de causas naturais.
Tem sido postulado o conceito de que alguns UFOs podem ser “animais do espaço” ou uma forma de energia que reside nas camadas superiores da atmosfera. Suas descobertas conferem alguma validade a esta teoria?
Se o Fenômeno UFO se vale de um processo de manifestações psíquicas, pode não estar limitado à configuração discoidal mais geralmente observada pelas testemunhas e é concebível que possa aparecer sobre outras formas, mas não estou ciente de casos sérios em que tenham sido descritos de tal maneira. Assim, esta via de especulação pode ser prematura.
Existe alguma forma de se prever um lugar ou tempo determinados para a próxima aterrissagem de um UFO ou talvez até mesmo de uma onda ufológica?
Se assumirmos que a fenomenologia ufológica obedece a leis e padrões racionais, então podemos arriscar semelhante previsão, do mesmo modo que a polícia de Los Angeles ou São Paulo pode especular sobre a probabilidade de que se cometa certo tipo de crime segundo as condições de tempo e hora no mapa da cidade — o problema é que os UFOs também são conhecidos por sua imprevisibilidade e pelo absurdo em suas manifestações.
Se não podemos prever uma onda ufológica, podemos atribuir as ondas anteriores, como as que experimentou a França em 1954 e 1957, a situações que ocorriam na Europa naquele momento?
Não creio. Parece não haver relação aparente entre as ondas ufológicas e os eventos sociológicos ou políticos da Terra. As grandes ondas se produzem simultaneamente e em distintas partes do globo, como França, Chile e Nova Guiné, e isso parece excluir a possibilidade de causas localizadas para os avistamentos. Entendo que estamos diante de um fenômeno mundial, que obedece suas próprias regras.
Suas investigações indicam que o Fenômeno UFO é presenciado com maior frequência à curta distância e entre 17h00 e 21h00. Por que de noite? Seria para evitarem ser vistos?
A noite pode representar condições ótimas para o que está se manifestando. Se quiser especular sobre isso, quando aterrissamos na Lua, não queríamos fazê-lo durante o meio-dia lunar, porque existe muita radiação solar. Preferimos condições nas quais o ângulo do Sol seja oblíquo — ótimas para nossas observações, sem representar um risco aos astronautas. Você também pode imaginar que quem quer que esteja por trás de tudo isso tenta impactar as testemunhas. Os seres humanos e suas percepções são mais fáceis de serem influenciados durante a noite. Pode-se construir uma enormidade de cenários sobre isso, mas não creio que tenha a ver com as condições do dia ou da noite. Simplesmente desconhecemos o significado.
Também me intrigam os amuletos fenícios que representam discos alados dos quais parecem surgir deuses. Se buscamos indícios do paleocontato, temos que começar por Assíria, Egito e Grécia. Mas há que se ter cuidado com estas buscas e com suas conclusões.
Como a França lida com as notícias cada dia mais crescentes sobre UFOs?
Na França, a cobertura das notícias sobre UFOs não difere muito daquela praticada nos Estados Unidos, Inglaterra ou Brasil, embora o rádio e os meios televisivos se mostrem mais abertos ao tema agora. Os principais jornais geralmente ignoram os relatos, a menos que se produza um fato sensacional. A diferença mais significativa consiste no volume de informação publicado por grupos civis, como o Lumières dans la Nuit [Luzes na Noite], que dedica sua atenção à verdadeira investigação e não à socialização e defesa da teoria extraterrestre para os UFOs, como a maioria dos grupos norte-americanos.
Como funciona o Lumières dans la Nuit?
Na realidade, não se trata de uma organização — seus membros pensam que uma organização simplesmente destruiria a espontaneidade de suas investigações, de modo que se trata de um grupo informal. Não se pagam mensalidades nem taxas de matrícula, muito menos há de se seguir certa linha partidária ou respaldar determinadas crenças. Funciona independentemente. A única coisa que se tem que fazer é investigar os casos locais. Os integrantes esperam receber de você os resultados de suas investigações e os publicam, tornando-os disponíveis aos demais grupos, e a investigadores e cientistas como eu, em todas as partes do mundo.
O sistema é eficiente?
Sim, muito. Talvez haja alguns cientistas trabalhando como consultores, mas não tentam impressionar as pessoas com a quantidade de doutores que abrilhantam seus quadros. Os membros típicos são aposentados ou professores que realizam suas investigações com uma bicicleta e uma câmera fotográfica. Um cientista norte-americano que visitou a França recentemente e que tem interesse nos UFOs teve uma conversa com o pessoal do Lumières e tomou conhecimento do que faziam. Então, comentou que “nos Estados Unidos seriam necessários milhões de dólares para constituir uma organização que faça o que vocês fazem. Como conseguem? Qual é o segredo?” A resposta foi: “Nosso segredo é que fazemos tudo isso sem dinheiro!”
Existe algo em seu passado, talvez um interesse pelo esotérico ou místico, responsável por lhe dar uma perspectiva desta nova realidade que lhe permite perceber o Fenômeno UFO de forma tão distinta?
O primeiro requisito para ser cientista é ser curioso. Acredito que para minha geração, os UFOs e os fenômenos psíquicos são provavelmente as avenidas mais válidas para a curiosidade científica e, nesses termos, sim, sempre tive interesse pelo esotérico e místico.
Você serviu de inspiração para o personagem Lacombe, do filme Contatos Imediatos de Terceiro Grau [1977], de Steven Spielberg. O que pode nos contar sobre isso?
Bem, o já várias vezes citado, meu amigo J. Allen Hynek era um dos consultores do filme e ele me disse que Spielberg queria criar um personagem que seria um astrônomo francês, com uma visão mais ampla em relação aos UFOs, mais ou menos baseado em mim, e me perguntou o que eu achava. Eu concordei, mas quis conhecer o personagem antes. E ele me agradou mesmo, mas eu gostaria que tudo aquilo fosse verdade e de estar lá para ver acontecer, ver uma nave-mãe chegar…
Você é uma inspiração para muitos pesquisadores. Mas quem foi a sua inspiração?
Encontrei uma grande fonte de inspiração em Aimé Michel, um espírito notável pela força de sua visão e pela profunda humanidade de seu intelecto. O fato de que tal pensador tenha sido ignorado, e até mesmo desprezado, pela elite intelectual na França não é um elogio para meu país. No entanto, o número limitado de pessoas que o conheceu teve um grande privilégio. Segundo Michel, os UFOs eram apenas um mistério entre outros. Ele era um pensador universal.
Baseado em sua experiência, os governos, e especialmente o dos Estados Unidos, escondem informações sobre os UFOs?
Há dois níveis de entendimento em sua pergunta. Primeiro, os governos, e não apenas os Estados Unidos, retêm informações que consideram mais sensíveis- especialmente relatórios sobre avistamentos ufológicos que vêm dos militares. Parece que desde 1947 essa política tem sido vista como legítima, no suposto interesse das populações e na esperança de se descobrir avanços tecnológicos. Em segundo lugar, a questão mais difícil é saber se os avanços realmente ocorreram. Para mim, o Fenômeno UFO provavelmente resistiu a todas as análises, secretas ou não. A questão de abrir os arquivos vai surgir novamente, mas não é tão simples de entender o Fenômeno UFO. Não é algo fácil como se copiar secretamente as plantas do ônibus espacial, por exemplo.
Publicações feitas por pessoas que pertencem ao movimento esotérico, como Aleister Crowley, Facius Cardan, John Dee e outros, influenciaram de alguma forma a sua pesquisa?
Definitivamente. Antes do desenvolvimento da ciência como a conhecemos, muitos pesquisadores solitários ou membros de pequenos grupos fizeram as mesmas perguntas que fazemos. O pai de Facius Cardan era um grande matemático e John Dee era um acadêmico que foi fundamental para a ciência da navegação. Outros eram químicos, alquimistas ou astrônomos — eles se perguntavam se haveria um equilíbrio geral do mundo que daria sentido à vida humana e aos fenômenos que nos rodeiam.
O senhor investigou um aumento de relatos sobre criptozoologia nos Estados Unidos há poucos anos. Você poderia nos contar sobre isso?
Este é um assunto que eu tinha posto de lado há muito tempo, primeiro porque não tenho habilidades em biologia ou zoologia, e especialmente porque me pareceu independente das principais observações que eu estava estudando. Mas fui forçado a voltar a ele depois de uma série de relatos de fenômenos criptozoológicos que coincidiram com observações bem documentadas de UFOs.
Por favor, fale mais.
Em 2012 e 2013, eu viajei várias vezes pelo estado de Utah com o professor Frank Salisbury, um renomado biólogo que já havia trabalhado na NASA, na área de botânica em microgravidade. Percorremos toda a extensão das montanhas Uintah e mais tarde cruzamos toda a bacia semideserta que se expande de Vernal até Fort Duchesne para encontrar as testemunhas desses eventos. Eles eram pecuaristas, trabalhadores e policiais, incluindo policiais tribais. Em geral, esses relatos não são publicados, o que torna o trabalho de investigação de campo essencial para encontrar pessoas e escutá-las. Essas viagens me ensinaram que a observação dessas estranhas criaturas deve ser levada a sério. Como você deve saber, observações semelhantes foram relatadas na França.
Para encerrarmos, há algum conselho que o senhor gostaria de dar aos pesquisadores que estão na área ou entrando nela agora?
Eu não acho que tenha conselhos pessoais para dar. Mas é óbvio que não faremos progresso real em um ambiente de disputas mesquinhas. Seria melhor evitar acusações que desestimulam os pesquisadores a trabalharem juntos. O fenômeno é acessível em nível global, o que deixa a porta da possibilidade de estudo e da rápida troca de dados muito aberta. Isso seria mais útil a troca de experiências entre os estudiosos do que especular sobre segredos inacessíveis e hipotéticos.
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