Lamentavelmente, não são poucos os ufólogos brasileiros a afirmar que, já que os alienígenas estão chegando aqui em suas fabulosas naves, algumas vezes até caindo sobre nosso pequeno planeta – como acreditamos que aconteceu em Roswell e Varginha –, é completamente inútil o estudo da astronomia. Alguns vão ainda além, dizendo que a ciência tem se mostrado incapaz de explicar os UFOs, que este é um tipo de pesquisa além do alcance da ciência etc. Pura bobagem. Podem parecer palavras fortes, mas são necessárias no momento crucial que a Ufologia Brasileira está vivendo.
Afirmar que a ciência não explica tudo, nem propicia respostas completas para determinado fenômeno, seja ele ufológico ou não, é cair no mesmo terreno de fanáticos que renegam a Teoria da Evolução e até a própria Ufologia. Crer em verdades prontas, estabelecidas e imutáveis é aproximar-se do extremismo, obscurantismo e ignorância, que já levaram e continuam levando milhões a tragédias e a muita cegueira. Justamente por estar permanentemente em construção, evoluindo conforme aumenta nossa compreensão dos fenômenos analisados, a ciência é a melhor ferramenta para entendermos a Terra, o universo, e nosso lugar nele. Foi a análise científica de casos ufológicos, testemunhos, fotografias e outras evidências que nos permitiu construir as fundações da Ufologia nas últimas décadas, e, portanto, não se pode prescindir da ciência no estudo da presença alienígena na Terra.
Obviamente, quando nos referimos à astronomia, vemos que ela pode auxiliar e muito a pesquisa ufológica. Os avanços nesta área do conhecimento têm sido assombrosos, e no último quarto de século fizemos descobertas absolutamente extraordinárias, que mudaram a compreensão que temos do cosmos – além de sinalizar para um aumento considerável no número de cientistas e pessoas comuns que aceitam a existência de vida extraterrestre. A busca da civilização terrestre por seus vizinhos espaciais começou quase ao mesmo tempo em que foi inventada a escrita. Em sua obra prima Cosmos [Editora Francisco Alves, 1980], o saudoso Carl Sagan, de cuja vida e contribuição inestimáveis falamos em artigo publicado na edição UFO 130 [O Legado do Cientista Serve de Inspiração para os Ufólogos], comenta a respeito da fabulosa Biblioteca de Alexandria. Fundada no século III a.C., ela era um arquivo com todo o conhecimento das civilizações clássicas, saber que infelizmente foi quase todo perdido em sucessivas destruições.
Biblioteca perdida para sempre
Em 415, a Biblioteca de Alexandria era liderada por Hipácia, astrônoma, matemática e física, uma mulher extraordinária que questionava o machismo da época, e que foi atacada e assassinada por uma turba seguidora do patriarca Cirilo, que via na instituição um exemplo do paganismo que a Igreja queria extinguir. Cirilo foi canonizado, e a biblioteca perdida para sempre. Entre seus volumes, estava um livro do astrônomo Aristarco de Samos, que apontava a Terra como um dos planetas a orbitar o Sol, e que as estrelas estavam a imensas distâncias. Ainda assim, infelizmente, o sistema geocêntrico de Ptolomeu permaneceu sob chancela oficial por 1.500 anos. Havia ainda, na biblioteca, três volumes sobre a história do mundo assinados por um babilônio chamado Berossus. O primeiro falava da Criação até o Dilúvio, com um intervalo entre eles de 432.000 anos. Muitíssimo maior do que o que aparece na Bíblia, e ainda hoje sabemos que existem fanáticos que crêem que a Terra tem apenas pouco mais de 10.000 anos!
Os que destruíram a Biblioteca de Alexandria também “sabiam” que suas “verdades” eram prontas, acabadas e imutáveis, e que absolutamente nada poderia modificar isso. Queremos mesmo repetir tal erro, continuando ridiculamente a criticar o “excessivo cientificismo” dentro da Ufologia? As mesmas verdades prontas e acabadas levaram Giordano Bruno à fogueira da Inquisição em 1600, por entre outros crimes afirmar que existiam infinitos mundos habitados. Galileu Galilei, reabilitado pelo Papa João Paulo II nos anos 80, escapou por pouco do mesmo destino, sendo obrigado a renegar suas convicções de que a Terra girava ao redor do Sol como os demais planetas, além de ter de ouvir das autoridades da época que os quatro grandes satélites de Júpiter que ele descobrira – Io, Europa, Ganimedes e Calisto – eram invisíveis a olho nu, logo não teriam qualquer influência sobre a Terra, logo não existiam.
Descobertas na corrida espacial
Como representantes de Deus na Terra, tais autoridades ficaram aterrorizadas com a descoberta de corpos celestes que não orbitavam o centro da Criação, como consideravam nosso planeta. Se os satélites de Júpiter fossem reais, isso poderia significar que suas fantasias, resumidas no modelo geocêntrico, também não eram, o que minaria sua autoridade. Naturalmente, a força dos fatos jogou por terra essas idéias pré-concebidas e equivocadas, e a astronomia foi se impondo. Foram descobertos os planetas Urano e Netuno e as órbitas dos cometas, que mais tarde provariam possuir água e elementos orgânicos, podendo ser os responsáveis pela introdução desses elementos na Terra e o subseqüente surgimento da vida. Chegamos ao século XX, quando a astronomia, tanto em termos do conhecimento sobre nosso Sistema Solar quanto mais além, evoluiu de forma assombrosa.
Isso se deu tanto com o avanço dos sistemas em terra, quanto nas naves não tripuladas que foram enviadas aos planetas de nossa vizinhança. Especialmente a partir dos anos 70, tivemos descobertas assombrosas. Com a missão Mariner 9, em órbita de Marte, por exemplo, descobriu-se as magníficas formações geológicas, como o Vallis Marineris, que só podem ter sido esculpidas por água corrente. As naves Viking 1 e 2, compostas por módulos orbitais e de pouso, confirmaram que o Planeta Vermelho possuía características muito mais benignas em seu passado, que podem ter dado origem à vida marciana. Os resultados de busca dessa vida, pelos módulos de pouso das Viking, são ainda hoje motivo de controvérsia na comunidade científica.
Em 1996, era lançada pela NASA a Mars Global Surveyor, que desde a órbita marciana mapeou o planeta com tecnologia muito superior a da Mariner 9, e atualmente permanecem ao redor de Marte a Mars Odissey, norte-americana, e a Mars Express, da Agência Espacial Européia (ESA). Esta última, lançada em 2003, levou o mód
ulo de pouso Beagle 2, que lamentavelmente falhou em sua aterrissagem. Mas a Mars Express compensou a falha descobrindo que existe metano na atmosfera de Marte. Como este elemento é leve demais para a fraca gravidade do planeta, escapando para o espaço, tem que ser reposto de alguma forma. Aqui na Terra o metano tem duas fontes, a geológica e a biológica. Qual será a fonte em Marte?
Mas as missões mais incríveis ao Planeta Vermelho, sem dúvida, foram cumpridas pelos dois robôs Mars Exploration Rovers, o MER-A e o MER-B, respectivamente batizados de Spirit e Opportunity. São veículos robotizados que possuem seis rodas e podem se orientar independemente da Terra. Lançados em 2003, com previsão de funcionar por apenas 90 dias, até os dias de hoje os dois robôs seguem percorrendo e recolhendo informações valiosíssimas na superfície de Marte. Já comprovaram, além de qualquer dúvida, que existiu água corrente no planeta, formando rios, lagos e até mesmo oceanos, mantendo grandes as chances de ter existido vida lá, possivelmente até nossos dias. Recentemente, graças a um incidente com o Spirit – uma de suas rodas ficou presa –, descobriu-se um material brilhante, revelado como sendo sílica quase pura. O mais provável é que a mesma foi produzida quando rochas vulcânicas entraram em contato com água quente ou vapores ácidos. A grande questão é que, na Terra, locais assim são extremamente prolíficos em formas de vida, como bactérias.
Mas existem outros candidatos a abrigar vida em nossa vizinhança. O favorito segue sendo Europa, satélite de Júpiter visto em close pela primeira vez com as missões Voyager 1 e 2, entre 1979 e 1980. A missão Galileo, lançada em 1989, confirmou as descobertas da Voyager, de que Europa é coberto com uma capa de gelo, havendo grande possibilidade de existir, por baixo deste revestimento, um vasto oceano de água líquida. Bastaria apenas uma fonte de nutrientes, como as chaminés vulcânicas nas profundezas de nossos oceanos, para a existência de organismos no satélite. Espera-se que, até 2020, uma missão de pouso, capaz de perfurar o gelo e ali mergulhar como um submarino, explore o oceano de Europa e encontre esses pequenos alienígenas. Alguns cientistas falam até mesmo que as compridas fendas vistas na superfície daquela lua podem se abrir periodicamente e permitir a subida da água líquida, trazendo seus possíveis habitantes até a superfície.
Não estamos sozinhos
A preocupação com a vida em Europa é tamanha que a Galileo, encerrada sua missão, foi enviada em um mergulho suicida para a atmosfera de Júpiter, em setembro de 2003, a fim de não arriscar qualquer contaminação, caso a queda ocorresse sobre Europa. Já Titã, satélite de Saturno, foi a primeira lua visitada por um engenho terrestre, especificamente a sonda Huygens, lançada pela nave Cassini, que atualmente permanece em órbita do grande planeta. A Huygens pousou no satélite, o único em nosso Sistema Solar com uma atmosfera densa, comprovando que sua superfície é coberta com lagos de hidrocarbonetos. Nos mesmos, a vida pode prosperar. Uma linha costeira é claramente visível em suas fotos aéreas, e aguardam-se mais missões a Titã no futuro. Já a busca por planetas ao redor de outras estrelas, os chamados exoplanetas ou planetas extrassolares, se intensificou a partir de meados dos anos 30, embora a vasta maioria dos cientistas ainda duvidasse de sua existência. Desde aquela época, o cientista Van de Kamp vinha pesquisando a estrela de Barnard, situada a 6 anos-luz da Terra, e os dados que obteve o levaram a afirmar que existiriam dois planetas gigantes em órbita do astro. Infelizmente, dados obtidos a partir dos anos 60 eram absolutamente incompatíveis com as descobertas de Van de Kamp, e hoje é considerado que Barnard, uma pequena anã vermelha pouco maior do que Júpiter, não deve possuir gigantes gasosos, havendo dúvidas em torno de pequenos planetas rochosos.
O citado Sagan sempre defendeu a existência de exoplanetas, até mesmo publicando em Cosmos desenhos de sistemas estelares hipotéticos e enfatizando os movimentos de determinadas estrelas, resultantes de possíveis mundos gigantes em órbita. Mas a primeira grande prova de sua existência, um dos momentos mais marcantes da exploração espacial, chegou em 1983, quando o extraordinário telescópio infravermelho IRAS descobriu um sistema estelar em formação ao redor da estrela Vega, distante 27 anos-luz da Terra. Vários outros sistemas similares foram descobertos a partir de então. Finalmente, em 1995, os astrônomos Michael Mayor e Didier Queloz, do Observatório de Genebra, anunciaram a descoberta do primeiro planeta extrassolar, um mundo de tamanho similar a Júpiter orbitando a estrela 51 Pegasi, que se assemelha ao Sol. Nos meses seguintes, eram descobertos outros mundos ao redor das estrelas 47 Ursae Majoris e 70 de Virgem.
Tais descobertas tornaram-se possíveis graças aos mais modernos telescópios, capazes de fazer medições mínimas em alterações na luz das estrelas, além de sofisticados computadores, capazes de realizar complexos cálculos para determinar as múltiplas variantes responsáveis pelo movimento dos astros, a fim de determinar quantos são os possíveis planetas ao seu redor, bem como suas órbitas. Em tempo, estes computadores, aptos a fazer sofisticadíssimas simulações, de criar modelos tanto de padrões climáticos quanto de explosões nucleares, só se tornaram realmente práticos dos anos 80 em diante. Eles são utilizados inclusive para pesquisar novas leis da física e a formação do universo, além de atuarem em incontáveis outros campos do saber.
Tais computadores também podem ser utilizados na pesquisa de novos ramos da ciência, testando teorias que poderiam advir, por exemplo, do estudo de naves alienígenas acidentadas. Logo, toda e qualquer idéia de aproveitamento de tecnologia alienígena em artefatos terrestres – como os aviões supersônicos F-117, B-2 ou F-22 – é, se não absurda, ao menos extremamente exagerada. Podem estar sendo pesquisadas estas naves, desde Roswell até a de Varginha. Mas daí a que os especialistas envolvidos já conheçam seu funcionamento e possam aplicar sua tecnologia, vai um grande passo.
Continuando, as descobertas nesta última extraordinária década foram se sucedendo, até que chegamos a uma lista compreendendo, até o momento da elaboração deste artigo, bem mais de 220 exo
planetas confirmados. Alguns, como os das estrelas Gliese 876, HD 134987, HD 177830, Iota Horologii, HD 168443 e 47 Ursae Majoris são gigantes gasosos, mas a distâncias tais de suas estrelas que suas órbitas caem dentro da chamada “zona habitável”, distância a partir da estrela que permite a existência de água líquida na superfície planetária. Se possuírem luas, as mesmas têm alta probabilidade de serem mundos azuis, com água líquida e possivelmente formas de vida. O último mundo, por exemplo, é descrito freqüentemente como um possível alvo para a escuta SETI [Projeto de Busca por Inteligências Extraterrestres]. Em abril de 2007, tivemos mais um desses fabulosos momentos, que se tornam marcos fundamentais na busca pelo conhecimento. Foi confirmada, naquele dia 24, a descoberta do primeiro planeta extrassolar habitável.
Quebrando paradigmas astronômicos
Tal mundo, com um raio equivalente a 1,5 vezes o da Terra e massa cinco vezes maior, orbita a estrela Gliese 581, uma anã vermelha situada a 20,5 anos-luz de nós, na Constelação de Libra. Já haviam sido encontrados dois outros mundos neste sistema, um orbitando a uma distância maior do que a do planeta habitável, outro situado bem próximo do astro, uma espécie de “Júpiter quente”. Gliese 581c, o nome do novo planeta, percorre uma órbita de 13 dias ao redor de sua estrela, a uma distância 14 vezes menor do que a que nos separa do Sol. Os cientistas afirmam que os modelos elaborados com base nas observações permitem supor que a superfície desse mundo deve ser rochosa e coberta por oceanos. Gliese 581c quebrou vários paradigmas astronômicos. Os cientistas julgavam que a presença de um “Júpiter quente” impediria a presença de planetas e órbitas dentro da zona habitável. E também que estrelas anãs vermelhas, por sua fraca luminosidade, dificilmente teriam zonas habitáveis.
As anãs vermelhas, por sinal, estavam até mesmo ausentes das listas de busca por inteligência extraterrestre do SETI, conceito que agora terá que ser revisto, pois elas podem permanecer estáveis por períodos superiores a 10 bilhões de anos, mais que suficiente para o surgimento até mesmo de avançadas civilizações tecnológicas.
Já passam de 20 as estrelas com mais de um planeta confirmado girando ao seu redor, comprovando que as técnicas de rastreio desses mundos estão se tornando mais sofisticadas e precisas a cada ano. E com o lançamento de uma nova geração de telescópios orbitais, sendo o primeiro o Corot, lançado em dezembro de 2006 e que já descobriu dois exoplanetas pelo método do trânsito, as descobertas passarão a se suceder com rapidez cada vez maior.
Novos telescópios, novas descobertas
O primeiro destes novos instrumentos deverá ser o norte-americano Kepler, a ser lançado em 2009, em data ainda incerta, devido a atrasos causados pelos lamentáveis cortes de verba na NASA. Entretanto, mesmo com missão similar a do Corot, será mais poderoso e ficará em uma órbita distante da Terra, a fim de que nosso planeta se interponha entre o telescópio e o Sol. Assim, o Kepler sofrerá menos interferência, tornando mais fácil a busca por exoplanetas, utilizando o método do trânsito, como o Corot. O objetivo maior da missão é localizar planetas terrestres dentro da zona habitável de muitos tipos de estrelas. Também deverá ser lançado em 2013, o telescópio espacial James Webb, destinado a substituir o Hubble, e que, além das capacidades deste, poderá também operar na região infravermelha do espectro.
O SIM Planet Quest [SIM é a sigla em inglês para Missão de Interferometria Espacial] é um ambicioso projeto que compreende um sofisticado telescópio espacial duplo, a ser colocado em órbita ao redor do Sol paralela a da Terra. A interferometria é uma técnica que envolve o uso de dois ou mais telescópios paralelos, que funcionam como um único instrumento, muito maior, podendo detectar variações mínimas no movimento estelar. O objetivo também é examinar planetas similares a Terra, usando a técnica do bamboleio já utilizada pelos instrumentos baseados no solo, além de elaborar um mapa de nossa galáxia, a Via Láctea. Lamentavelmente, o projeto foi grandemente atrasado pelos injustificáveis cortes de orçamento na agência espacial dos Estados Unidos, e o lançamento, se ocorrer, se dará apenas em 2015 ou 2016.
Uma das missões mais ansiosamente aguardadas era a do Terrestrial Planet Finder [Localizador de Planetas Terrestres, TPF]. Era um ambiciosíssimo projeto, destinado a buscar planetas extrassolares com instrumentos capazes de bloquear a luz da estrela alvo, tornando visíveis os planetas ao redor. Ou seja, poderíamos ver diretamente exoplanetas distantes vários ano-luz daqui. Isso seria conseguido com uma frota de telescópios, dispostos no espaço a certa distância da Terra, comandados por uma nave de controle não tripulada. Infelizmente, os mesmos cortes no orçamento levaram ao seu adiamento por tempo indeterminado, da mesma forma que a ambiciosa missão ao satélite Europa, de Júpiter. A NASA e o atual governo norte-americano preferiram investir milhões nos já cansados ônibus espaciais e no Programa Constellation, que está desenvolvendo naves tripuladas baseadas na tecnologia das Apollo, para o retorno dos astronautas a Lua e servir a Estação Espacial Internacional.
Não vamos aqui questionar a necessidade da presença humana no espaço, mas fazer isso a custa dos projetos de exploração não tripulada no Sistema Solar e além é injustificável, especialmente quando analisamos os extraordinários resultados das missões mencionadas neste artigo. É óbvio que a relação entre o custo e o benefício destas missões é imensamente superior a das visitas a Estação Internacional. Infelizmente, a exploração espacial permanece dependente do humor das autoridades ocupando o comando do momento. De forma geral, a cultura e o conhecim
ento não costumam ser prioridade da classe política, como lamentavelmente temos o exemplo de nosso próprio país, vendo o estado falimentar do Programa Espacial Brasileiro. Sem dúvida, o vôo do astronauta Marcos Pontes foi importante, mas não teria sido melhor investir aqueles 10 milhões de dólares no desenvolvimento das peças que prometemos entregar para a Estação Internacional? Como as peças não foram entregues, o Brasil foi excluído de participação no projeto. Cortes de verbas chegaram a ameaçar inclusive o Programa Antártico, um esforço de 25 anos. Quanto ao Programa Espacial, China e Índia começaram seus esforços ao mesmo tempo que nós, e ambos os países acabam de enviar sondas para a Lua, e a China já leva seus astronautas ao espaço. Enquanto isso, o Brasil…
Mas nem tudo são trevas. Segue o planejamento da missão Darwin, da Agência Espacial Européia (ESA). De concepção e objetivos similares ao TPF, deverá ser lançado em 2015, composto por três telescópios de 3 m de diâmetro cada – maiores do que o Hubble, portanto –, comandados por uma nave central que fará a comunicação entre eles e a Terra. O objetivo é detectar planetas similares a Terra ao redor de estrelas distantes até 80 anos-luz. Poderá investigar a atmosfera desses mundos, determinando sua composição atrás de compostos produzidos por seres vivos, e até mesmo fotografá-los diretamente. Instrumentos baseados em terra também fazem parte da busca. Valem ser destacados alguns. O W. M. Keck Observatory, em Mauna Kea, no Havaí, é o maior telescópio do mundo, com duas unidades de 10 m de diâmetro cada.
E temos no Chile, em Cerro Paranal, o Paranal Observatory, cuja vedete é o Very Large Telescope [Telescópio Muito Grande, VLT], composto por quatro telescópios, cada um com um espelho de 8,2 m. Esses impressionantes instrumentos operam tanto na luz visível quanto no infravermelho, e utilizam a técnica da interferometria, já descrita, para obter uma precisão extraordinária. São essas máquinas fabulosas que permitem que façamos nossas explorações. Mesmo ainda sem tecnologia para viagens além de nosso Sistema Solar, tivemos sucessos estrondosos, realizando descobertas que mudaram nossa visão sobre o universo e nosso lugar no mesmo. A maioria dos cientistas já admite tranquilamente a existência de extraterrestres, mesmo que se limitem a teorizar sobre criaturas simples em planetas próximos, como Marte, ou luas, como Europa e Titã. Os esforços do SETI continuam em busca de transmissões de civilizações alienígenas, e a recente concentração em determinados alvos de uma lista selecionada parece comprovar que algum indício já pode haver sido detectado.
As investidas do Brasil no espaço
Quanto à busca por exoplanetas e vida nos mesmos, as mais recentes descobertas das últimas décadas comprovaram que não há nada de especial no Sistema Solar, informação fundamentada na confirmação da existência de planetas ao redor de estrelas distantes. Já a vida, descobrimos aqui na Terra esse extraordinário fenômeno em locais antes considerados impossíveis, como as “chaminés” vulcânicas no fundo do Oceano Pacífico, ambientes extremamente ácidos ou alcalinos, e mesmo sob o solo de desertos.
Todas descobertas comprovaram que, havendo condições mínimas, a vida surge e prospera. Ela é um fenômeno persistente, e quase impossível de erradicar. Seguramente, será surpresa se não existir vida nos mundos que começam a ser examinados atentamente pelos mais avançados telescópios, em terra ou no espaço. Esta busca, que já dura milhares de anos, está mais intensa e surpreendente a cada dia, com as magníficas descobertas de planetas extrassolares favoráveis a vida. E chegará, com essa nova geração de instrumentos, muito em breve, a uma resposta afirmativa. Quem sabe será quando descobriremos os mundos de onde provêm nossos ainda tão arredios visitantes.