Paulo Santos é analista de sistemas, moderador da lista da Revista UFO na internet (Revista UFO Online, acesse aqui) e consultor da publicação. A fenomenologia que justifica a existência da pesquisa ufológica sempre foi objeto de todo o tipo de críticas. Se por um lado, faltam meios para se poder definir clara e cientificamente (comprovar) que os objetos fotografados, vestígios encontrados ou as fortes impressões deixadas nos abduzidos, realmente representam algo pertence ao nosso “mundo trivial”, por outro lado, a mente humana, facilmente influenciável, está sempre criando significados para tudo o que vemos e vivemos, adaptando os estímulos captados a partir dos sentidos físicos às expectativas e desejos que temos para com a vida que nos cerca. Por um lado, aquilo que compreendemos como mundo, e por outro, aquilo que desejamos ver e viver neste mesmo mundo…
Por isso, quase sempre, a grande dificuldade em se conseguir discernir algo em ufologia está totalmente relacionada com a enorme dificuldade que nós temos em perceber (e viver) a nossa própria vida de maneira equilibrada e sensata. E assim poder separar com clareza na nossa mente o que estamos vivendo. O cidadão moderno, escravo do consumismo e com os seus sentidos embotados pelo ruído das propagandas e pela ambição social e financeira, está constantemente “fabricando” novos desejos para tentar satisfazer a sua ânsia de “ser”, traduzida na conjugação do verbo ter. Assim, por mais “espiritualizada” que seja uma pessoa, se ela está inserida na sociedade moderna, não tem jeito: necessariamente viverá este processo em maior ou menor grau… E a grande conseqüência deste desequilíbrio crônico para a ufologia é que raramente somos bem sucedidos nestes dois pontos que são fundamentais para uma compreensão mais ampla do fenômeno: (1) O que cada um de nós entende como “mundo trivial” (e conseqüentemente o que entendemos aceitável e verossímil). (2) A capacidade de discernir entre o que a gente vê e o que gente quer ver.Tanto no aspecto físico – a pesquisa ufológica tradicional – quanto no aspecto espiritual – um tipo de pesquisa ufológica mais recente –, estes dois pontos demarcam a capacidade (ou não) que temos de fazer progressos na compreensão da fenomenologia. E com muito mais intensidade ainda nesta última facção do estudo, aonde a projeção das nossas expectativas sobre uma realidade transcendente não encontra as limitações do mundo físico, e muda de forma livremente, colocando-nos (sem que sequer consigamos perceber) à serviço de forças, egrégoras, perniciosas ao crescimento harmônico do ser.
Portanto, uma primeira conseqüência deste pensamento que eu apresento seria o fato de que a ufologia não começa no céu ou nas “histórias de ETs”, mas sim dentro de nós mesmos, na maneira como vemos o mundo e nos relacionamos com ele.Fabricando ETsMuitos detratores da ufologia e céticos em geral acusam os ufólogos de “fabricarem ETs”, de verem discos voadores e extraterrestres aonde só existem manifestações físicas perfeitamente explicáveis. Já os ufólogos acusam os céticos de não “quererem” olhar as evidências, acusam-nos de serem incapazes de aceitar algo que esteja fora do sistema de crenças deles… Muitas vezes, para um observador mais neutro, ambos os lados representam pontos extremos da discussão, e muitas vezes também (por mais paradoxal que possa parecer) ambos os lados estão certos ao mesmo tempo!
Isto acontece porque estamos aplicando constantemente o item 1 (definição prévia do verossímil) e o item 2 (“ver o que se quer ver”) a tudo o que vivemos. E esta tendência se torna ainda mais forte (inevitável mesmo) quando o componente emocional se mistura à afirmação apresentada. Aí chega-se ao momento em que não mais se está discutindo idéias ou evidências, mas somente tentando impor o desejo de cada um. Uma situação deveras comum em ufologia… Então, como sair desta armadilha ? Como superar estas nossas limitações e conseguir avançar na pesquisa ufológica?
Fantasmas de nós mesmos. Não quero desanima-lo caro amigo leitor, mas creio que a resposta no momento é: Não temos como sair desta armadilha ! Na realidade, e no meu entender, esta armadilha É o próprio processo que precisamos viver para chegarmos num outro ponto mais profícuo algum dia mais à frente. É muito sábio o ditado que diz que podemos fugir de quase tudo, menos de nós mesmos… O contexto cultural em que fomos criados, e o inevitável desejo de nos realizarmos como seres sociais e inteligentes que somos, cria definições de mundo e de interesses, e cria, principalmente, desejos que perseguimos sem cessar, na tentativa constante de nos sentirmos realizados.
E estes pensamentos são como fantasmas de nós mesmos. Eles nos acompanham a todo momento, durante a vigília ou o sono, e assumem FORMAS bem definidas no mundo espiritual, transcendendo os limites físicos da matéria. Pesquisa ufológica. Neste momento, já dá para o leitor imaginar aonde eu quero chegar… Muita gente, levada facilmente pelos próprios desejos, vê, ouve e vive o que quer nas manifestações espirituais (independente delas serem legítimas ou não) e, pela intensidade da sintonia, dá a estas vivências o nome de “verdades definitivas”. Apresentando-as desta maneira às pessoas que se encontram na mesma faixa de influência.
Trazendo esta realidade para a ufologia, temos aí bem definida uma tendência por parte das ditas “canalizações” e “pesquisas” dos ufólogos espiritualistas. Enquanto na pesquisa tradicional nos vemos às voltas com elementos físicos, que possuem uma relação tangível com a nossa realidade e por isso não podem ser modificados com facilidade, na ufologia dita “espiritual”, a coisa se agrava muitíssimo, porque não existem limites para o quê se encontra dentro da cabeça das pessoas… Colocando de uma maneira mais explícita, poderíamos dizer que tanto na ufologia tradicional quanto na “espiritualista” (sendo a situação MUITO agravada nesta última), as pessoas se apegam ao item 2 (ver o que se quer ver) para tentarem chegar ao item 1 (expansão do que se pode considerar verossímil), partindo sempre de bases frágeis e instáveis.
Na realidade, a impressão que dá é que os “pesquisadores” de ambos os lados têm medo da única coisa que poderia liberta-los deste ciclo vicioso: O uso da lógica racional aliada à experiência pessoal. Digo isto porque não podemos esquecer que, ao mesmo em que muitos insistem em situar a ufologia alhures (“a verdade está lá fora”), ela na realidade começa e termina bem perto nós, mais especificamente, DENTRO de nós mesmos!