Após 34 anos, um dos episódios mais intrigantes e misteriosos da Ufologia voltou a ser notícia em todo o mundo. As causas do desaparecimento do jovem piloto australiano Frederick Valentich, em um fatídico voo em 1978, tornaram a ser o alvo de uma grande interrogação com a recente liberação de documentos antes secretos relacionados às investigações do caso, realizadas pelo Departamento de Transportes, Departamento de Aviação, pela Marinha e até mesmo pelo Serviço Secreto da Austrália. A Comunidade Ufológica Mundial espera agora encontrar as respostas para esse impressionante caso de sequestro aeronáutico no ato que revela a transparência das autoridades australianas quanto à questão.
Mas as perguntas sem respostas ainda são muitas. O avião pilotado por Valentich caiu no mar? Se sim, qual é o local da queda e o que a causou? Onde estão os destroços do Cessna 182-L, que aparentemente nunca foram encontrados? E se estas questões são suficientemente impactantes para qualquer pesquisador, mais ainda é tentar saber o que era o objeto voador não identificado com fortes luzes verdes que Valentich relatou à torre de controle estar seguindo sua aeronave, pouco antes de seu desaparecimento? Entretanto, ao contrário do que se supunha, a liberação do calhamaço de 315 páginas da investigação da tragédia parece trazer mais dúvidas do que certezas [Veja como baixar o documento nas páginas a seguir].
Frederick Valentich tinha 21 anos na época de seu desaparecimento e era piloto classe 4, já tendo mais de 150 horas de voo. No sábado, 21 de outubro de 1978, ele decolou do Aeroporto de Moorabbin, em Victoria, sul da Austrália, com destino à Ilha King, passando sobre o Estreito de Bass — o percurso levaria no máximo 70 minutos. A visibilidade era boa e os ventos estavam fracos. Ele estava sozinho em um Cessna 182-L, monomotor com capacidade para quatro pessoas, e sua velocidade de cruzeiro era de 256 km/h. Por volta das 18h19 ele fez contato com o Centro de Controle de Tráfego Aéreo de Melbourne para informar sua posição e, às 19h00, relatou ter passado por Cabo Otway, no trajeto.
Pouco depois disso, ainda em voo, Valentich notou um suposto avião se aproximando de onde estava. Tal “aeronave” passou perigosamente ao seu lado e o Cessna começou a ter inexplicáveis problemas mecânicos. Às 19h06, ele entrou em contato por rádio com o Aeroporto Internacional de Tullmarine, em Melbourne, e falou com o controlador de voo Steve Robey, afirmando que estava vendo um objeto voador não identificado que girava sobre seu avião. Por várias vezes ele repetiu o questionamento ao centro de controle sobre se havia alguma outra aeronave na área. Sua última frase foi: “Bem, Melbourne, eu vou para Ilha King e a aeronave está novamente sobre mim. Ela está me sobrevoando e não é um avião”. Setenta segundos foi o tempo que o microfone ficou em silêncio após essas últimas palavras, e nenhuma outra comunicação do piloto foi ouvida novamente — somente um barulho metálico e estranho.
Tragado por uma nave?
Valentich e seu Cessna 182-L haviam desaparecido sem deixar traço. Sua última posição era 70 km de seu destino, a Ilha King, aonde nunca chegou — apesar de o avião ter um transmissor de localização via rádio, nenhum sinal dele foi captado. Quando o aparelho não pousou no horário previsto, por volta das 19h28, equipes de busca partiram à sua procura. As condições do tempo permaneciam boas, o céu estava limpo e com visibilidade ilimitada. A busca por Frederick Valentich foi iniciada com a ajuda de um avião de reconhecimento marítimo P-3 Orion, da Real Força Aérea Australiana (RAAF), que saiu de Edinburgh e iniciou uma varredura do oceano fazendo o mesmo percurso de Valentich. O pesquisador australiano Paul Norman afirmou anos mais tarde que “os pilotos foram orientados a relatar qualquer tipo de avistamento incomum que tivessem, e os que voassem naquela hora e utilizando a mesma frequência de rádio não deveriam divulgar o teor de suas comunicações”.
A única coisa encontrada durante as buscas foi uma pequena mancha de óleo a cerca de 30 km ao norte da Ilha King — no dia seguinte, a investigação se concentrou naquele local, com barcos e aviões vasculhando a área freneticamente. Uma amostra da mancha foi recolhida, mas análises determinaram que era apenas óleo diesel de navio. Foram realizadas muitas outras operações de busca e resgate, até que em 25 de outubro daquele ano todas elas foram suspensas oficialmente sem que qualquer vestígio de Valentich ou de seu avião fossem encontrados. O incidente logo chamou a atenção de todo o mundo e várias especulações sobre o que tinha acontecido começaram a surgir — a que ganhou mais força logo de início foi de que um UFO havia sequestrado o piloto e sua aeronave. Outra especulação, estapafúrdia e baseada em um simples rumor sem qualquer coerência, dizia que Frederick Valentich havia simulado o próprio desaparecimento, que ele estaria bem vivo e trabalhando em um posto de gasolina na Tasmânia.
Manobras e contradições
Em 09 de dezembro de 1980, o jornal australiano Melbourne Herald entrevistou a mais importante testemunha do caso, o controlador de voo Steve Robey — e o que ele disse enterrou muitas teorias sobre o estado emocional de Valentich no momento do avistamento. Robey afirmou que o piloto em momento algum se mostrou psicologicamente abalado. Ele contou que o que mais lhe marcou em toda a conversa foi que o microfone de Valentich estava aberto por mais de um minuto, com aquele som metálico, como se alguém estivesse apertando o botão para se comunicar.
Por muito tempo se pensou que não existia nenhuma gravação da conversa entre Robey e Valentich, apenas transcrições do diálogo entre os dois. Entretanto, foi o próprio senhor Guido Valentich, pai de Valentich, quem desmentiu essa afirmação. Segundo ele, semanas depois do desaparecimento do seu filho, recebera uma cópia da fita das mãos de representantes do Departamento de Transportes da Austrália, como uma forma de amenizar sua perda — mas ele foi orientado a não divulgar o diálogo contido na gravação. Entretanto, estranhamente, as falas de Robey tinham sido apagadas da fita. Na época, o porta-voz do Bureau de Investigação de Segurança Aérea da Austrália disse que a fita original havia sido reutilizada como procedimento padrão, e que só havia a cópia dada ao pai do piloto. “É estranho que algo tão importante, até mesmo como evidência de u
m suposto acidente aéreo, possa ser descartado assim tão simplesmente”, declarou o senhor Guido na ocasião.
No início de 1980, o ex-cientista da NASA e ufólogo Richard Haines teve acesso ao áudio e se concentrou nos ruídos ouvidos no final da gravação [Veja entrevista com ele na edição UFO 168, agora disponível na íntegra em ufo.com.br]. Ele concluiu que os 70 segundos do som metálico que se seguiu após a última transmissão de Valentich continha 36 segundos de cliques metálicos sem um padrão de tempo e frequência definido. “O efeito é como se alguém tivesse apertando e soltando o botão de comunicação para abrir o microfone e se comunicar. Tentamos reproduzir o mesmo som em laboratório, mas não tivemos êxito”, relatou Haines. Em maio de 1982, o Bureau de Investigação de Segurança Aérea, juntamente com o Departamento de Aviação australiano, divulgou um relatório oficial sobre o incidente.
O documento — distribuído apenas para as partes envolvidas e interessadas no caso — concluiu que a localização e a hora do desaparecimento eram desconhecidas, mas que o resultado teria sido a morte de Frederick Valentich. Ou seja, a razão para o desaparecimento da aeronave não foi determinada, mas sua morte sim. Diferentemente da tentativa de explicação inicial, que sugeria que o piloto estaria voando de cabeça para baixo, totalmente desorientado e com as luzes do avião produzindo a ilusão de uma “aeronave não identificada”, como ele relatou, o Departamento de Aviação nunca levou em consideração o que ele de fato havia visto antes de seu desaparecimento.
Quando o ufólogo australiano Bill Chalker pressionou o assistente do Bureau de Investigação de Segurança Aérea G. V. Hughes, perguntando por que havia “esquecido” dos detalhes anteriores ao desaparecimento, ele disse não entender a crítica recebida do pesquisador. Para Hughes, seu departamento deu sim grande atenção para todos os detalhes do incidente. “Foram sugeridas inúmeras possibilidades por pessoas de dentro e de fora do Bureau, e todas foram examinadas”, escreveu em resposta a Chalker. Curiosamente, Hughes ainda completou que a Força Aérea seria a responsável por investigações de avistamentos de UFOs no país. “Um trabalho em conjunto com os militares foi feito para analisar a possibilidade de o piloto ter visto ou não um UFO, e a resposta dada quanto a isso é de responsabilidade deles, não desse departamento”. O assistente simplesmente tentou se livrar das críticas por seu Bureau não declarar o caso como algo ufológico.
Acesso aos arquivos
Em 1982, o incansável Chalker teve acesso a arquivos ufológicos que a Real Força Aérea Australiana (RAAF) mantinha em segredo. Ele examinou todos os documentos que a Diretoria de Inteligência da Força Aérea (DAFI) possuía até aquele momento, mas não encontrou nada relacionado ao Caso Frederick Valentich. Contraditoriamente ao que afirmara Hughes, o representante da DAFI que atendeu Chalker afirmou que a RAAF não havia investigado o incidente porque não fora solicitada sua ajuda — a Força Aérea alegava ver o caso como um acidente aéreo e acreditava que Valentich havia caído no mar com seu avião depois de ter ficado desorientado. Com essa informação ficou claro que alguém estava mentindo, mas seria a DAFI ou o Bureau de Investigação de Segurança Aérea? E se Valentich caiu mesmo, onde foram parar os destroços do avião?
Ainda naquele ano, Bill Chalker conseguiu permissão especial para examinar os arquivos ufológicos do Departamento de Aviação australiano, mas foi proibido de acessar os documentos relacionados ao Caso Frederick Valentich, alegadamente por se tratar de um arquivo de investigação de acidentes aéreos e não um evento ufológico. No entanto, um fato interessante ocorreu quando Chalker estava examinando os documentos, na sede do Departamento, em Melbourne. Ele conversou com Allan Woodward, que assinou o Relatório de Conclusão de Acidentes Aéreos sobre o episódio de Valentich, e este, ao reiterar suas conclusões, mostrou-se irritado ao falar que todos achavam que as investigações foram feitas baseadas apenas na tese de que fosse um acidente aéreo.
Woodward disse a Chalker que foi feita uma longa lista de explicações possíveis para o desaparecimento de Frederick Valentich, desde a desorientação do piloto até tentativa de suicídio, passando pelas mais banais, como colisão com um meteorito — mas, ao final, o funcionário confessou que não tinha certeza do que havia ocorrido. Ou seja, mais uma contradição surge no caso, uma vez que a conclusão oficial de queda não era compartilhada por Allan Woodward, que teve a importante função de assinar o documento que a continha.
Balões e raios imaginários
Com o passar dos anos, a cada dia surgiam novas “explicações” para tentar desvendar o mistério que comoveu a Austrália. Um dos mais absurdos e criticados foi o emitido por um reconhecido ativista do movimento cético quanto aos UFO naquele país, o engenheiro de rádio aposentado Harley Klauer. Em entrevista à revista australiana People, de setembro de 1983, Klauer sugeriu não apenas uma, mas duas explicações esdrúxulas. A primeira seria a de que o avião de Valentich havia sido derrubado por traficantes de drogas — que, segundo Klauer, usavam o Estreito de Bass para suas operações. Eles colocariam o produto dentro de balões cheios de hélio, que flutuariam puxados por um barco a dois ou três metros sobre o oceano — se fossem flagrados, bastava cortar as linhas de nylon e os balões voariam.
Klauer sugeriu que as linhas teriam se enroscado nas asas do Cessna 182-L de Valentich e que os balões teriam sido confundidos com UFOs pelo piloto. Assim, argumentou desastrosamente, o avião teria caído e os traficantes, que tinham observado tudo, foram até o local da queda, pegaram sua mercadoria e deram fim ao corpo do piloto e ao seu avião, sem deixar pistas. A segunda possibilidade levantada por Klauer é a de que uma descarga elétrica vinda de uma nuvem lenticular com formato discoide teria derrubado o avião — ele disse ter visto diversas nuvens assim na noite em que Valentich sumiu. Para Klauer, quando o piloto se aproximou das nuvens, teria recebido uma descarga elétrica que o matou. Embora engenhosas, nenhuma das teorias sequer foi levada a sério pelos pesquisadores.
Entre o final de 1982 e início de 1983, o Caso Frederick Valentich pareceu que teria uma resposta quan
do a imprensa australiana divulgou que destroços de seu avião haviam sido encontrados. Não seria a primeira vez, mas agora a fonte era Ron Cameron, produtor de cinema independente que trabalhava em um documentário sobre o episódio. Cameron disse que dois mergulhadores lhe contaram ter descoberto o monomotor sob o oceano. Segundo afirmou o produtor, eles estavam buscando um barco que havia naufragado naquela área e encontraram por acaso dois aviões no fundo do mar — um deles seria o Cessna 182-L. Mas as duas aeronaves haviam caído por outras razões e nada tinham a ver com a de Valentich, embora Cameron insistisse na hipótese. Duas semanas depois, os mergulhadores já afirmavam ter encontrado, na verdade, três aviões debaixo d’água…
Enfim, a abertura ufológica
De acordo com os rapazes, eles teriam feito 16 fotos dos destroços e as ofereceram a Cameron, juntamente com a localização exata da aeronave que julgaram ser a de Frederick Valentich, mas cobraram 10 mil dólares pelo “favor”. Cameron disse que não tinha como aceitar a oferta sem ter a certeza de que era o Cessna 182-L desaparecido, mas manteve as negociações. Para comprovar a veracidade da informação, os mergulhadores mostraram ao produtor cinco fotos onde aparecia o avião, com as identificações supostamente corretas, mas nenhum corpo. Ron Cameron ficou empolgado. Mas, enquanto organizava uma operação de buscas dos destroços, foi lhe informado pelo Departamento de Aviação que uma equipe do órgão teria que participar dos procedimentos, pois o caso ainda estava aberto e sendo investigado.
Uma entrevista coletiva de imprensa foi marcada para informar sobre as buscas, mas devido ao grande interesse gerado pela mídia, o Departamento de Aviação achou melhor retirar-se dos trabalhos. Estranhamente, os mergulhadores — os únicos que teoricamente saberiam da localização do Cessna 182-L — também romperam contatos com Cameron, alegando que em uma entrevista de rádio ele teria levantado dúvidas quanto à honestidade de ambos. A partir daí, tanto Cameron quanto os mergulhadores, que nunca tiveram suas identidades relevadas, se afastaram dos holofotes e tudo caiu no esquecimento. Nunca se provou que as fotos ou as informações reveladas eram mesmo do avião de Frederick Valentich — e nenhum ufólogo sério acreditou na hipótese.
“Os véus estão caindo”
Agora, 34 anos depois do desaparecimento do piloto, graças aos esforços do pesquisador australiano Keith Basterfield, os documentos do Caso Frederick Valentich vêm à tona. Por anos usando a Lei de Liberdade de Informação australiana — similar à norte-americana — para obter arquivos ufológicos antes secretos, Basterfield conseguiu fazer com que fosse disponibilizado para o mundo o calhamaço de 315 páginas contendo as investigações do caso realizadas pelo Departamento de Transportes, Departamento de Aviação, pela Marinha e até mesmo pelo Serviço Secreto da Austrália. A papelada repousa hoje no Arquivo Nacional da Austrália, incluindo informações sigilosas da época, dados sobre as buscas e os interrogatórios de pessoas ligadas ao incidente.
“É inacreditável, mas totalmente verídico: a Austrália liberou a documentação secreta que tinha sobre o Caso Frederick Valentich. Os véus estão caindo cada vez mais rápido. Todos agora podem ter uma ideia das razões disso e de onde essa abertura vai nos levar”, disse um excitado A. J. Gevaerd, editor da Revista UFO, em resposta à informação dada por Basterfield sobre a decisão transparente das autoridades australianas. De fato, com a liberação dos documentos pelo Arquivo Nacional daquele país, se constata que a RAAF realizou uma profunda investigação sobre o incidente — seus investigadores interrogaram, além de seu pai, até amigos de infância de Frederick. Mas o sigilo nos procedimentos sempre prevaleceu.
Foram realizadas muitas operações de busca e resgate, por mar e ar, até que todas foram suspensas oficialmente sem que qualquer vestígio de Frederick Valentich ou de seu avião fossem encontrados
Os arquivos, abertos mais de três décadas depois do sumiço do piloto, dissecam passo a passo tudo o que foi feito pelos investigadores oficiais para localizar Frederick Valentich, em vão [Veja como baixar o documento em box nestas páginas]. E demonstra que houve uma grande movimentação para se tentar descobrir a verdade sobre o incidente, seja ela qual fosse — e mesmo até hoje não se sabe qual é ela.
A Revista UFO ouviu a opinião de alguns pesquisadores envolvidos com a divulgação da liberação dos documentos, incluindo Giuliano Marinkovic, correspondente internacional da publicação na Croácia, e o próprio Keith Basterfield. Ambos afirmam que ainda não se pode concluir o que realmente ocorreu na noite de 21 de outubro de 1978, mas que é algo extraordinário. “Como não temos evidências físicas e os destroços do avião de Valentich nunca foram encontrados, é muito difícil especular algo. Nós ficamos com o relato dele, quando fala que foi seguido por uma aeronave muito veloz, com luz verde e superfície metálica”, disse Marinkovic.
Já Basterfield, depois de tantos anos pesquisando e lendo os arquivos — e agora examinando os documentos que conseguiu fazer o governo de seu país liberar —, diz se sentir frustrado por ainda não ter a resposta sobre o que pode ter acontecido ao avião ou ao seu piloto. “Eu acho que havia um UFO envolvido, mas somente uma testemunha poderia afirmar isso, e ela seria o próprio Valentich. Infelizmente, não houve confirmação do UFO nos radares, nenhum outro piloto relatou tê-lo avistado e Valentich está morto. Posso dizer que esse é um caso verdadeiro e inexplicável. Simplesmente não sei o que ocorreu naquela noite”.
Mesmo antes da liberação dos documentos sobre o Caso Frederick Valentich, muitas especulações surgiram para tentar desvendar o mistério, como já citado no texto — baseados nelas, investigadores do governo australiano tentaram saber quem era o jovem piloto que desapareceu com seu Cessna 182-L naquela fatídica noite. E mais uma vez o caso surpreendeu a todos. Paul Graham, um dos peritos do Departamento de Transportes do país, interrogou dezenas de pessoas que conheciam Valentich, mas o depoimento do senhor Guido, seu pai, foi o mais fascinante. As novas informações obtidas consistem no histórico pessoal de Frederick Valentich, com detalhes nunca antes sabidos.
Segundo Guido Valentich, seu filho era uma pessoa responsável, embora tenha sido reprovado para tirar brevê de piloto comercial e ter mentido sobre isso. O que mais surpreendeu em seu depoimento foi ele relatar que o filho acreditava em UFOs desde os seis anos de idade, e que já tinha lido muitos artigos a respeito do assunto, assim como o livro Eram os Deuses Astronautas [Melhoramentos, 1968]. Em seu depoimento às autoridades, surpreendentemente, o pai afirmou que, oito semanas antes do desaparecimento, Frederick Valentich tinha visto um UFO juntamente com sua mãe. O objeto, incrivelmente brilhante e de grandes proporções, era cerca de 10 vezes maior do que as estrelas no céu e fazia movimentos com grande velocidade.
Guido Valentich também revelou que, quando criança, seu filho tinha receio do que aconteceria ao mundo se alienígenas atacassem o planeta — para tentar confortá-lo, ele dizia que nada se podia fazer a respeito e que, portanto, era melhor não pensar nisso. Mas o menino não parava de pensar e questionar. Guido também foi muito citado pela imprensa de seu país quando, alguns meses após o desaparecimento do filho, já conformado, afirmava saber que Frederick Valentich estava vivo em algum lugar. Em outra ocasião, chegou a afirmar com todas as letras que seu filho havia mesmo sido raptado por extraterrestres e que estaria vivo. “Um dia vamos nos reencontrar”. O velhinho gozava de boa saúde mental e era respeitado pela mídia australiana.
Acesso a documentos ufológicos
Porém, a declaração de Guido Valentich que mais chamou a atenção foi a de que o interesse do filho pela Ufologia tinha aumentado bastante após ele ter sido autorizado a consultar arquivos ufológicos da Real Força Aérea Australiana (RAAF) nas bases de East Sale e Laverton. Entretanto, segundo o pai, ele não teria entrado em detalhes sobre a visita àquelas instalações e nem sobre os arquivos que leu, pois eram confidenciais. Isso jamais havia vindo à tona em mais de três décadas do acontecimento — nem mesmo a Comunidade Ufológica Australiana tinha conhecimento de tais fatos.
O pai de Frederick Valentich, Guido, meses após o desaparecimento do filho, já conformado, afirmava saber que ele estava vivo em algum lugar. Ele garantia que um dia se reencontrariam
Outras novas informações sobre o episódio surgidas após a liberação dos documentos são hipóteses para o desaparecimento de Valentich levantadas pelo doutor B. J. Mahony, perito do Departamento de Medicina Aérea do governo australiano e especialista em fatores humanos. Para Mahony, somente poucas teorias se aplicariam ao caso, sendo que a primeira descartada por ele seria a de uma intervenção ufológica. Ele comentou no relatório que emitiu que “não há relatos de avistamento de qualquer tipo de luz grande o suficiente para engolir um Cessna 182-L”. Outras hipóteses também levantadas por Mahony se referem à hipótese da desorientação do piloto, a um pouso controlado com sucesso em algum lugar e até mesmo a um acidente aéreo. O curioso em tudo isso é um especialista do Departamento de Medicina Aérea australiano se manifestar a respeito!
Os arquivos recém-liberados também tratam da descoberta da tênue mancha de óleo ao norte da Ilha King, que a princípio se pensou ser do avião de Valentich, mas que depois se concluiu ser apenas de óleo diesel de navio. E tratam ainda do relato de testemunhas sobre avistamentos de um objeto brilhante na mesma noite e na direção onde desapareceu o Cessna 182-L. “O caso todo é extremamente intrigante”, disse à Revista UFO o pesquisador Giuliano Marinkovic. “Eu sempre fui fascinado com a transcrição da comunicação de rádio entre Valentich e a torre de controle, já divulgada [Veja box], e imaginei como seria interessante escutar a gravação da conversa. Mas apenas algumas pessoas no mundo tiveram a oportunidade de ouvi-la”.
Casos no dia do incidente
Em 2000, o citado Richard Haines, já diretor da National Aviation Reporting Center on Anomalous Phenomena [Centro Aeronáutico Nacional de Registros de Fenômenos Anômalos, Narcap], e o ufólogo australiano Paul Norman, presidente da Victorian UFO Research Society (Sociedade Victoriana de Pesquisas Ufológicas, VUFOS), publicaram um relatório no Jornal de Exploração Científica em que concluíram, baseados em informações da época, que o avião de Frederick Valentich havia provavelmente caído no mar próximo ao Cabo Marengo. Mas a dupla também disse que a natureza de uma enorme luz verde que acompanhava o avião em seus últimos momentos permanecia não identificada.
A tal luz teve muitos observadores. Aliás, na verdade, muitas pessoas relataram ter visto UFOs naquele mesmo dia e durante a noite do desaparecimento de Valentich, e pelo menos 15 desses relatos foram alvos de investigações mais profundas pelas autoridades — em sigilo. Todos os avistamentos ocorreram entre as 12h00 e 21h00, tendo seis deles acontecido em Victoria e um na Ilha King. Uma das testemunhas foi o encanador Roy Manifold, que se encontrava de férias na Baía de Crayfish, no Cabo Otway. Manifold teria fotografado por acaso estranhos objetos 12 minutos antes de Valentich relatar seu avistamento ao centro de controle de tráfego aéreo. Das seis fotos que fez do pôr do Sol, a quarta revelou um objeto negro em forma de lâmpada sobre o oceano, enquanto a sexta mostrou uma densa massa no céu, como se um artefato estivesse sendo acompanhado por outros com luzes azuis.
“A luz montava sobre o avião”
As imagens foram analisadas pela Kodak, que descartou defeito no filme ou na câmera. Mas a Real Força Aérea Australiana (RAAF), por sua vez, rejeitou a sexta foto, afirmando que se tratava apenas de uma nuvem cumulus nimbus [Formação densa e instável de ar na baixa troposfera, que provoca trovoadas e tempestades]. Porém, Bill Chalker rebateu a informação dizendo que “a nuvem teria que ter se movido a mais de 320 km/h, já que não aparece em nenhuma das outras fotografias, tiradas em sequência”. Seja como for, infelizmente, em nenhuma parte dos documentos liberados existem detalhes específicos de qualquer testemunho dos
acontecimentos.
Entretanto, Norman continuou sua cruzada em busca de mais evidências, provas testemunhais e de pessoas que teriam visto fenômenos não identificados — e localizou pelo menos 20 novos observadores que observaram o Cessna 182-L e a tal grande luz verde sobre ele. De todos os relatos colhidos por Norman, o que mais chamou a atenção foi do senhor Ken Hansen, que, junto com três familiares, estava voltando de uma caçada quando uma de suas sobrinhas, que estava sentada ao seu lado no carro, apontou para luzes que via no céu. Hansen deu uma rápida olhada naquilo e disse que eram luzes de um avião, mas a menina exclamou: “Não, não essas luzes, mas aquela outra luz ali, que é verde, enorme e está em cima delas”.
Ken Hansen andou por mais 15 segundos e virou-se novamente, e dessa vez viu claramente uma grande luz verde circular “como se ela estivesse montando sobre o avião”. É interessante perguntar por que os investigadores oficiais do caso não procuraram essas testemunhas? A pergunta permanece sem resposta…
O que dizem os documentos
Mas o que de tão bombástico os documentos liberados pela Lei de Liberdade de Informação australiana oferece sobre o Caso Frederick Valentich? O calhamaço é contraditório e parece que não foi liberado em sua totalidade. Essa é uma tática à qual recorrem as autoridades pressionadas por ufólogos, sendo forçadas a liberar documentos antes secretos. “Elas retiram o que não pode ser informado à sociedade, em sua visão, e liberam apenas aquilo que é mais ameno. Isso ocorreu à exaustão quando da abertura ufológica brasileira promovida pela Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU). Uns documentos vinham à tona e outros, não”, declarou o editor Gevaerd, um dos idealizadores da campanha UFOs: Liberdade de Informação Já, que levou à liberação de documentos no país.
A se confirmar essa assertiva, ainda estaríamos longe de conhecer toda a verdade sobre o Caso Frederick Valentich, mas algumas coisas no calhamaço chamam a atenção. “Eu não sabia que o Departamento de Transportes havia encontrado, em 1983, na Praia de Flinders, um pedaço de avião e afirmou ter a numeração da aeronave de Valentich, como está nos documentos liberados”, declarou Keith Basterfield, especialista no caso — pessoa a quem tal informação jamais passaria despercebida. Nem ele nem ninguém tinha este dado, e se o objetivo das autoridades era esclarecer o caso de uma vez por toda, estava aí a melhor chance de fazê-lo. Aliás, nem mesmo Guido Valentich sabia de tal detalhe. “Na verdade foram encontrados destroços em duas oportunidades. Em 1978, mas logo descartados pelas autoridades, e em 1983, na costa da Ilha Flinders, e também nesta ocasião nunca se falou que eram do Cessna 182-L”, relatou Giuliano Marinkovic.
Em meio a vasto material ufológico liberado e hoje disponível no Arquivo Nacional da Austrália está o documento V116/783/1047, até então sigiloso e desconhecido. Ele é assinado por J. O. Sandercock, superintendente do Laboratório de Pesquisas da Real Marinha Australiana, e declara que um pedaço de uma aeronave foi encontrado na costa da Ilha Flinders, em 15 de maio de 1983. O encarregado das análises da amostra, um tal doutor I. S. F. Jones, afirmou que era mesmo do Cessna 182-L de Frederick Valentich, devido ao número de série da parte encontrada — um pedaço do flap que recobre o motor, com 30 mm de espessura e 21 cm de largura, com a cor já estava desgastada.
A razão para o silêncio
Aqui está outra incongruência de todo o episódio: se algum dia houve uma evidência física que pudesse levar à tese da queda do avião, por que ela foi mantida secreta no calhamaço agora liberado? Não seria muito mais lógico liberar a informação e encerrar de uma vez por todas os rumores? Sim, a menos que a suposta queda não tenha sido causada por algo natural ou falha mecânica, como sustentam os céticos. E nem o piloto e sua aeronave tenham sido sequestrados por um UFO, como advogam os ufólogos. A razão seria outra: o UFO teria causado a queda do avião e a morte de Frederick Valentich, e isso poderia ser constatado no material encontrado — se de fato foi mesmo. Seria isso o que temem as autoridades australianas?
Mesmo com a afirmação da descoberta do flap do Cessna, o citado ufólogo croata Marinkovic é enfático: “Não existe nenhuma evidência conclusiva e definitiva que possa confirmar que os destroços encontrados sejam do avião de Valentich. Acho que deveria haver uma análise mais profunda desses materiais para termos certeza, e isso não pode estar envolto em mistério algum. Mas, infelizmente não se sabe onde está essa peça atualmente”. Com ele concordam muitos outros estudiosos, que se perguntam por que, afinal, manter sob segredo algo que poderia esclarecer o mistério?
Mas, enfim, o que temos agora com a divulgação desses arquivos? Se nos basearmos nas investigações do doutor Haines e de Norman, publicada em ser artigo no Jornal de Exploração Científica, o avião de Frederick Valentich realmente fora visto caindo, mas acompanhado de um objeto discoide com luzes verdes. Os pesquisadores também concluíram que a aeronave sucumbiu no Cabo Marengo, cerca de 20 km dentro do oceano — a profundidade daquelas águas é de mais de 70 m e sua temperatura não ultrapassa 4º C. Haines e Norman fundamentaram sua conclusão nos testemunhos de mais de 20 observadores, incluindo os da família Hansen.
Uma terceira via
Com quem está a verdade? Em documentos do Departamento de Transportes australiano, responsável pelas pesquisas do caso, investigadores afirmam que foram encontrados os destroços do avião de Valentich em uma praia da Ilha Flinders, mas trataram o assunto como secreto. Enquanto isso, ufólogos australianos liderados pelo experiente Keith Basterfield discordam da tese da queda e argumentam que ainda falta o governo australiano revelar mais do que sabe. E há agora uma terceira via: a de que o sigilo imposto ao caso esteja preso ao fato de que um UFO teria derrubado o Cessna 182-L — e isso, definitivamente, não é algo que as autoridades aeronáuticas da Austrália queiram ver revelado.
Assim, apesar do esforço e da transparência daqueles que liberaram o documento, muitas perguntas continuam sem respostas — na verdade, praticamente tudo ainda carece de explicação. Se o avião caiu mesmo, onde foram parar seus destroços? Se o que surgiu na praia da Ilha Flinders era parte da aeronave de Valentich, p
or que não se divulgou isso na época — cinco anos após o acidente — para se encerrar o assunto e confortar o pai do piloto? E o objeto com luzes verdes visto por Valentich e dezenas de testemunhas, o que era? Ele teve algo a ver com a queda, se ela é fato? Mas de maneira proposital ou acidental?
Parece que os novos documentos só vieram levantar mais dúvidas do que dar certezas. Talvez nunca saibamos o que realmente aconteceu com Frederick Valentich, mas as evidências sugerem que ele teve um encontro dramático e fatal com um objeto voador não identificado, que é o responsável pelo seu desaparecimento. Para finalizar, fico com as palavras do senhor Guido Valentich, proferidas em uma entrevista histórica que ele concedeu em 1978: “Sei que meu filho está vivo e que foi levado por extraterrestres”. Caso encerrado?
O diálogo que revela a aflição do piloto diante de um UFO gigantesco
Exatamente quando passava sobre o Cabo Otway, a caminho da Ilha King, por volta das 19h00, Frederick Valentich comunicou-se com o Centro de Controle de Tráfego Aéreo de Melbourne para informar sua posição e dar mais dados sobre seu voo. Ele então confirmou que se encontrava a cerca de 1.500 m de altura sobre o mar. Nesta ocasião, as condições de tempo estavam perfeitas, com ventos bem suaves, ar morno e céu sem qualquer nuvem. Veja a seguir a transcrição da conversa entre o jovem piloto Valentich e o controlador de voo Steve Robey, afirmando que estava vendo um objeto voador não identificado que girava sobre seu avião e o apavorou. A transcrição foi ligeiramente editada para melhor compreensão.
19:06:44
Valentich — Melbourne, aqui é Delta Sierra Juliet. Há algum tráfego abaixo de mim a 5 mil [Pés ou cerca de 1.650 m]?
Torre — Delta Sierra Juliet, não há nenhum tráfego conhecido em sua área.
Valentich — Parece ser uma grande aeronave que está abaixo de mim 5 mil.
Torre — Que tipo de aeronave é essa que você vê?
Valentich — Eu não posso precisar. Apresenta quatro luzes, como as luzes de pouso de uma aeronave.
19:07:31
Valentich — Melbourne, aqui é Delta Sierra Juliet. A aeronave acaba de passar sobre mim a pelo menos mil pés.
Torre — Delta Sierra Juliet, roger [Compreendido]. E é uma grande aeronave? Confirme?
Valentich — Desconheço devido à sua velocidade. Existe alguma aeronave da Força Aérea nas vizinhanças?
Torre — Não há nenhum tráfego nas vizinhanças.
19:08:18
Valentich — Controle de Melbourne, aqui é Delta Sierra Juliet. Confirmo que aquilo está se aproximando agora, vindo do leste na minha direção.
19:08:41
[Microfone aberto por dois segundos. Foi a primeira vez que isso ocorreu, mas voltaria a se repetir, alertando os ufólogos.]
19:08:48
Valentich — Aqui é Delta Sierra Juliet. Parece que a coisa está jogando algum tipo de jogo. Está voando duas ou três vezes a minha velocidade. Eu não posso identificar…
19:09:00
Torre — Delta Sierra Juliet, roger. Qual é o seu nível atual?
Valentich — Meu nível atual é de 4,5 mil pés. Repito: quatro, cinco, zero, zero.
Torre — E você confirma que não pode identificar a aeronave que está perto?
Valentich — Afirmativo.
Torre — Delta Sierra Juliet, roger. Aguarde…
19:09:27
Valentich — Melbourne, aqui é novamente Delta Sierra Juliet. Aquilo não é uma aeronave. Aquilo está [Microfone aberto por mais dois segundos].
19:09:42
Torre — Delta Sierra Juliet, você pode descrever a aeronave?
Valentich — Sim, quando passa, parece ser enorme, comprido [Microfone aberto por mais 3 segundos]. Eu não posso identificar, mas aquilo é muito rápido [Microfone aberto por mais 3 segundos]. E está bem na minha frente agora, Melbourne.
19:10:00
Torre — Delta Sierra Juliet, roger. Por favor, informe agora qual é o tamanho estimado que o objeto pode ter.
19:10:19
Valentich — Melbourne, aquilo parece que está estacionário. O que eu estou fazendo agora é orbitar, e a coisa está orbitando sobre mim também. A coisa tem luzes verdes e algum tipo de superfície metálica, pois toda ela brilha por fora.
Torre — Delta Sierra Juliet, roger.
19:19:46
Valentich — Delta Sierra Juliet [Microfone aberto por 5 segundos]. Agora a coisa simplesmente desapareceu.
19:10:46
Valentich — Melbourne, vocês saberiam informar que tipo de aeronave é aquela? Seria uma nave militar?
Torre — Confirme que desapareceu.
Valentich — Repita, por favor.
Torre — Delta Sierra Juliet, a aeronave ainda está aí com você?
Valentich — Está! Ah, não [Microfone aberto por mais dois segundos]. Ela está agora se aproximando, vindo de sudoeste.
Torre — Delta Sierra Juliet…
19:11:50
Valentich — O aparelho que estou vendo é muito estranho. Agora eu o tenho a 23 ou 24 [Graus]. E a coisa está…
Torre — Delta Sierra Juliet, roger. Qual é a sua direção neste instante?
Valentich — Minha direção é para a Ilha King, Melbourne. Mas, aguarde… A estranha aeronave está me sobrevoando agora. Está bem acima de mim novamente [Microfone aberto por mais dois segundos]. Está acima de mim e não é uma aeronave…
Torre — Delta Sierra Juliet…
19:12:28
Valentich — Melbourne [Microfone aberto por mais dois segundos].
Precisamente às 19:12:55 ocorreu o fim das comunicações entre Frederick Valentich e Steve Robey, do Centro de Controle de Tráfego Aéreo de Melbourne, após 70 segundos de ruídos metálicos de origem desconhecida. Ele manteve a conversa para informar sua posição e dar mais dados sobre seu voo. O piloto, que mantinha seu Cessna 182-L a cerca de 1.500 m de altura sobre o mar, relatou o aparecimento de um estranho objeto voador não identificado com luzes verdes e nunca mais foi visto.