Os residentes em El Paso e outros leitores no resto do mundo riram recentemente de uma estória sobre um suposto círculo em uma plantação em Upper Valley que, no fim, era trabalho de Michael Alford, um artista de El Paso.
O enorme interesse na estória publicada on-line pelo El Paso Times serviu para demonstrar a ânsia com a qual as pessoas perseguem as teorias de conspiração. Embora o artista alegasse que ele tinha criado o círculo, o jornal recebeu numerosos e-mails insistindo que a origem daquele não era natural. Muita gente ainda continua acreditando que houve fatos que foram escondidos do público a respeito do suposto incidente com UFO de Roswell, do assassinato de John F. Kennedy, da queda do vôo 800 da TWA em 1996, e da proposta de símbolos monetários como o olho-que-tudo-ve usado pela Reserva Federal.
Mutilações de gados relatadas nos anos 70 e 90, no sul do Novo México provocaram suspeitas. Por causa de pressões de um público cético, uma investigação especial sobre a morte da Princesa Diana está em processo na Grã-Bretanha. E muito provável que a morte da celebridade Anna Nicole Smith, em 8 de fevereiro, levara a mais um local de teorias não-provadas, segundo Rick Shimitz, 41, um ex-reservista do Exército que é entusiasta de teorias da conspiração. “Haverá definitivamente teorias da conspiração a respeito dela, da forma como morreu, e tudo o mais,” diz ele. “Já estão começando”.
Shimitz diz que as mais conhecidas teorias da conspiração tentam explicar os UFOs e o assassinato de JFK. “No caso de JFK, eu acho que é difícil acreditar que uma só pessoa fez aquilo,” diz ele. “As teorias continuam porque as pessoas ainda querem saber quem realmente poderia estar por trás daquilo. Para me decidir, leio jornais, livros, vejo programas de TV e a Internet. Gosto de olhar as diferentes opções antes de me decidir”.
Por que as pessoas persistem em promover teorias da conspiração através de programas de rádio, web sites, livros e filmes? Michael Shermer, doutor em História da Ciência, fundador e diretor da Sociedade de Céticos em Altadena, Califórnia, enumerou várias razões para a popularidade de teorias da conspiração. “Uma é nossa psicologia de procura por padrões, que é construída dentro do cérebro”, diz ele. “As pessoas procuram padrões e tentam conectar as coisas. O problema é que encontramos falsos padrões que são como ruídos ao acaso dentro da mente”.
“Também há uma tendência em simplificar ao máximo as explicações”, diz Shermer. Num mundo complexo, seria reconfortante acreditar numa simples teoria a respeito de quem está realmente controlando tudo. Somando-se a isso, presumir “informação secreta ou de pessoa bem-informada e cognitivamente titilante. E a maioria de nós tem uma baixa tolerância pela ambigüidade”, diz ele.
Shermer diz que as teorias sobre a morte da Princesa Diana mostram um bom exemplo. Oficiais dizem que a morte dela foi causada pelos fatos de que o motorista estava bêbado, o carro estava em alta velocidade e ela não estava usando cinto de segurança. Mas algumas pessoas não querem aceitar que uma princesa possa ter morrido em circunstâncias tão mundanas. Elas querem atribuir uma morte como esta, a algo maior.
Essas mesmas pessoas também têm problemas em acreditar que um homem da estatura do presidente Kennedy pudesse ser morto por “um louco solitário e não por um grande evento”, diz Shermer. A Sociedade de Céticos descreve a si própria como uma “organização científica e educacional”, que serve como uma ferramenta para pessoas que buscam o esclarecimento e pontos de vista a respeito de idéias controversas e afirmações. O tema atual da revista da Sociedade aborda as teorias do “11 de Setembro”. “Nós as refutamos uma a uma”, diz Shermer.
O professor Tom Ruggiero, da University of Texas at El Paso (UTEP), e outros acadêmicos, apresentaram uma pesquisa acadêmica em 2004, sobre o resultado da promoção de uma teoria da conspiração a respeito da queda do vôo 800 da TWA, em 1996, do falecido Pierre Salinger. Dizem que Salinger, um ex-jornalista que foi assistente do presidente Kennedy, baseou sua hipótese num documento de interesses em teorias da conspiração e outros colocaram na Internet.
“Acredito que Salinger foi enganado por algo forjado na Internet”, diz Ruggiero, que leciona jornalismo investigativo na UTEP. “Nós vivemos num mundo onde algumas pessoas ainda duvidam que estivemos na lua. A verificação dos fatos devia ajudar a evitar o tipo de arapuca que tem pego Salinger e outros”, diz ele. A pesquisa de Ruggiero e do professor Samuel P. Winch – “O envolvimento de Pierre Salinger pela mídia: O Descrédito Jornalístico da Internet como Fonte de Informações” – explora o papel da web na contribuição com informação não-confiável, e o aumento no uso destas formas de informação.
“Eu nunca concluo nada até depois de conduzir uma pesquisa de campo”, diz Yolica Stone, uma investigadora de campo em UFOs e antigo membro da Rede Mutua de UFOs – Capítulo de El Paso. O capítulo local debandou por vários motivos, incluindo uma mudança na liderança e de membros para outras áreas. “Algumas pessoas relutam em relatar avistamentos não usuais, porque é algo desconhecido e elas têm medo de serem ridicularizadas. Mas e mais aceitável hoje em dia do que antigamente, falarem mais abertamente sobre essas coisas”, diz ela.
Stone se recorda dos relatos de animais mutilados em ranchos e fazendas em El Paso e no sul do Novo México nos anos 70 e 90. Ela não esteve envolvida nas investigações a respeito destas mutilações, mas disse que agências legais tiveram reclamações de residentes de Lower Valley, em El Paso, no Novo México, Colorado e Wyoming. Hollywood tem lucrado com a popularidade das teorias da conspiração com programas de TV e filmes, que incluíram “Arquivos X”, “O Código Da Vinci” e “Roswell”. No filme “Teoria da Conspiração”, o ator Mel Gibson interpretou um taxista paranóico que tinha obsessão com supostas armações do governo contra um público que não suspeitava de nada.
O radialista sindicalizado Art Bell produz um programa que vai ao ar tarde da noite, “Costa a Costa pela Madrugada com George Noory”, que se dedica totalmente a explorar assuntos como paranormalidade, UFOs e conspirações. Vai ao ar às 23h00, na KTSM-AM (690). Durante a semana, o programa dura cinco horas; no sábado, quando Bells lidera o show, dura uma hora. “Eu ouço o Art Bell Show há mais ou menos 3 anos”, diz Juan Rubalcava, 31, guarda de segurança. “Trabalho tarde da noite, e é interessante ouvi-lo. Uma das teorias mais populares é sobre como o governo usa o Ato Patriota para nos espionar”. Rubalcava também concorda que a Internet tornou mais fácil espalhar
informações corretas e incorretas. “Foi onde eu vi algo que dizia que o enorme blackout no Canadá e no Nordeste dos EUA, em 2003, foi causado pelo governo, que estaria testando uma nova arma em forma de satélite”. O governo norte-americano nega essa alegação.