Astrônomos usaram um par de pulsares, em órbita um do outro, para mostrar que a Teoria da Relatividade Geral de Albert Einstein está correta, dentro de uma margem de 0,05% – o limite mais estrito, até o momento, para campos gravitacionais extremamente intensos. Os resultados serão publicados na revista científica americana Science, e já estão disponíveis online no serviço Science Express.
Uma equipe internacional, liderada pelo britânico Michael Kramer, vem observando o pulsar duplo desde 2003. O sistema, conhecido como PSR J0737-3039A e B, é o único pulsar duplo de rádio conhecido. Fica a 2.000 anos-luz, na direção da constelação Puppis, ou a Popa. O sistema é composto de duas estrelas de nêutrons. Cada uma delas pesa mais que o Sol, mas tem diâmetro de cerca de 20 km.
Completam uma órbita em torno uma da outra a cada 2,4 horas, a uma velocidade de 1 milhão de km/h. As duas estrelas emitem ondas de rádio, que são detectadas como “pulsos” cada vez que o raio aponta na direção da Terra. Ao medir com precisão as variações no tempo que os pulsos levam para chegar à Terra, os pesquisadores comprovaram que o movimento das estrelas obedece rigorosamente as previsões deduzidas a partir ad Relatividade Geral (RG), a teoria pela qual Einstein se propôs a explicar a gravidade, o espaço e o tempo.
“Este é o teste mais duro já feito da RG na presença de campos gravitacionais muito fortes. Só buracos negros têm efeitos gravitacionais mais fortes, mas eles são, obviamente, muito mais difíceis de observar”, disse Kramer. A co-autora Ingrid Stairs explica que é possível medir a distância dos pulsares em relação ao centro de massa comum – o ponto em torno do qual ambos giram.
“O pulsar maior está mais perto do centro de massa, que o menor, e isso nos permite calcular a razão entre as massas”, explica ela. Essa razão é independente da teoria usada para explicar a gravidade, e portanto define limites para testar a precisão da RG ou de qualquer teoria alternativa. Outros efeitos previstos por Einstein também foram observados: o espaço-tempo ao redor do pulsar B é curvo, e o tempo passa mais devagar para o pulsar A quando ele mergulha mais profundamente no campo gravitacional do companheiro.
Cada um desses efeitos representa um teste para a Relatividade Geral. Além disso, a distância entre os pulsares está caindo a uma taxa de 7 mm ao dia. A RG prevê que o sistema duplo deve perder energia por meio da emissão de ondas gravitacionais. Embora essas ondas não tenham sido detectadas diretamente, a aproximação das duas estrelas confirma a perda de energia no ritmo previsto pela teoria, diz o cientista australiano Dick Manchester, referindo-se ao efeito observado como “prova indireta da existência de ondas gravitacionais”.