Geoff Marcy observou 85 estrelas diferentes na noite passada, mas ele realmente não viu nenhuma delas. O gigantesco telescópio Keck que ele usou, instalado no cume do vulcão havaiano Mauna Kea, manda imagens diretamente para uma câmera digital para serem analisadas por um computador.”
Não há locais para observação direta. De fato, nós não temos nenhum no telescópio Keck”, disse Marcy, um professor de astronomia da Universidade da Califórnia em entrevista por telefone após uma noite de caçada de planetas. “Uma parte do romantismo da astronomia acabou”, complementa ele.
Séculos atrás, Galileu Galilei fez desenhos de quatro das luas de Júpiter – Io, Calisto, Europa e Ganimedes – armado apenas com um pequeno e simples telescópio, assim como fez Giovanni Schiaparelli, que descobriu “canais” em Marte.
Marcy não precisa ficar com olho grudado na lente do telescópio e nem por isso seus métodos deixam de ser muito mais eficientes que os usados por seus predecessores.”
Nós varremos 85 estrelas em uma noite”, disse Marcy. “Começamos às seis da tarde e terminamos às 4h30. Nunca paramos e nunca tiramos qualquer folga. O maior telescópio do mundo é tão precioso que você não vai querer desperdiçar um segundo (de observação)”.
Ele, de fato, não está nem sentado perto do telescópio. O equipamento de oito andares de altura está a 45 minutos de carro longe do cientista, no cume de uma montanha de 4 mil metros de altitude. Tudo funciona graças a uma conexão de vídeo e áudio entre os dois.
O telescópio de 100 milhões de dólares coleta luz de estrelas e a envia direto para um espectrômetro que, como um prisma, separa a luz em suas ondas coloridas componentes.”
Elas vão para uma câmera digital, o espectro é gravado e eu volto para a universidade para obter todos os dados”, disse Marcy.
Com esse método, Marcy e sua equipe descobriram 28 planetas orbitando outras estrelas no ano passado. Eles são responsáveis por dois terços dos 236 exoplanetas (situados fora do Sistema Solar) conhecidos.
Mas, apesar de toda a precisão, às vezes o trabalho indireto pode ser frustrante. Uma nuvem pode destruir uma noite de observação marcada com meses de antecedência em meio à disputa pelo Keck por parte de outros cientistas ansiosos por utilizá-lo.”
Hoje à noite por exemplo, havia 15 a 20 estrelas que eu queria muito observar. O céu é um lugar bem grande e por isso eu tenho que ter certeza que o telescópio não vai perder tempo se movendo para muito longe”.
A maior parte dos planejas descobertos até agora são gigantes gasosos como Júpiter, com condições difíceis de abrigar vida. Mas astrônomos esperam refinar seus métodos para que possam achar pequenos planetas rochosos cobertos de água líquida, como o nosso.”
A verdadeira questão que está na cabeça de todo mundo, seja alguém com seis anos ou com 96, é se há vida inteligente no Universo”, disse Marcy. “Vamos apontar nosso telescópio para essas Terras esperando captar transmissões de espécies inteligentes que possam estar vivendo nelas”.