Uma pequena sonda a caminho de Plutão passou na quarta-feira por Júpiter, aproveitando a gravidade do planeta gigante para acelerar sua trajetória e economizar três anos numa viagem que duraria 12. Além disso, a New Horizons está dando uma atenta e aguardada olhada sobre Júpiter, que era o foco da missão Galileo, já encerrada após oito anos de funcionamento. Um alvo especialmente interessante é Europa, uma grande lua jupiteriana, onde há fortes evidências da existência de um oceano salgado subterrâneo.
Problemas com a antena da Galileo impediram os cientistas de obterem muitas imagens em alta resolução de Europa, que tem uma superfície lisa e gelada. Os cientistas esperam que sensores de infravermelho a bordo da New Horizons revelem afloramentos superficiais do mar escondido no subsolo. “Estou otimista de que recebamos algumas pistas verdadeiras sobre a superfície daquele oceano”, disse Bill McKinnon, cientista da Universidade Washington, em Saint Louis, antes da passagem da sonda. A possível existência de um oceano líquido aumenta a chance de que haja vida naquela lua. Ambientes similares na Terra, como sob as calotas polares, estão cheias de vida, segundo Jere Lipps, biólogo marinho da Universidade da Califórnia, em Berkeley.
A New Horizons fez sua máxima aproximação de Júpiter às 2h43 (horário de Brasília), quando estava a 2,3 milhões de quilômetros do planeta. Os estudos de Júpiter e de suas quatro maiores luas começaram há algumas semanas e devem prosseguir até junho. Além de Europa, a New Horizons deve observar as outras três luas, inclusive Io, que tem vulcões ativos, além de percorrer toda a extensão da cauda magnética de Júpiter, que ocupa milhões de quilômetros além do planeta. Essa cauda é resultado do vasto e dinâmico campo magnético jupiteriano, que é comprimido e moldado pelo velocíssimo e constante fluxo de partículas carregadas oriundas do Sol.
“Essa é uma oportunidade sem precedentes”, disse o chefe de pesquisas da New Horizons, Alan Stern, do Instituto de Pesquisas do Sudoeste, com sede em Boulder, no Colorado. “Nunca antes foi feito em um planeta gigante”. A sonda também vai observar de perto pela primeira vez uma tempestade chamada “Little Red Spot” (“pontinho vermelho”), surgida depois da quebra da Galileo, em 1995.
Após transmitir à Terra seus dados sobre Júpiter, a New Horizons será posta para “hibernar” durante oito anos, tempo necessário para chegar a Plutão. A sonda, alimentada pela lenta decomposição de cápsulas de plutônio radiativo, foi lançada em janeiro de 2006.O encontro com Júpiter aumentou a velocidade da sonda em 14 mil km/h, o que significa que agora ela ruma para Plutão a 84 mil km/h. Com essa velocidade, ela não tem como parar e mergulhar na órbita de Plutão. em 2015. O que ela fará será estudar Plutão e sua principal lua, Caronte, em pleno vôo, antes de rumar em direção a outros corpos gelados na região do Cinturão de Kuiper.