A dinâmica do mundo atual é motivo para as mais profundas reflexões. A conformação do relacionamento entre sociedades e raças retrata ilimitado sinergismo, produtor de vasto conhecimento, fruto de experiências individuais que se finalizam em um bojo de saberes profícuos ao despertar da humanidade. O alvorecer do terceiro milênio, com o espetacular arroubo da ciência e tecnologia, é motivo para deixar os que estão acordados em estado de vigília ainda mais intenso.
Em 1996, ao elaborar o prefácio à edição brasileira de A Teia da Vida [Editora Cultrix, 1998], de Fritjof Capra, Oscar Montomura enfatizou que a equação que tínhamos que resolver, não só nas empresas, mas também na sociedade como um todo, parece simples. E questionava: “Como podemos atualizar nossa forma de pensar e enxergar o mundo em que vivemos com base em novos arcabouços, em linha com o que a ciência – no sentido lato – do limiar do século XXI está trazendo à tona?” Em outras palavras, para Montomura, se quisermos considerar a administração como ciência e buscarmos praticar a chamada ‘administração científica’, “não deveríamos pelo menos atualizar nossos referenciais quanto às descobertas da ciência deste final de século, em vez de continuarmos presos aos princípios científicos do começo do século?”
Essa é a questão a ser considerada. O mundo mudou e a forma de pensar das elites, também. A engenharia genética, a telemática, a conquista espacial, a mudança atômica de determinados materiais – acrescentando-lhes novas funções –, o risco ambiental, o compartilhamento das atitudes sociais, enfim, são áreas que formam um novo mosaico dinâmico que se reconfigura a todo instante, não podendo mais ser desprezado por quem está em posição de decidir.
Das embarcações do passado às sondas espaciais atuais
Marco Polo desbravou o caminho para Oriente, alcançando a China através das rotas terrestres. Em 1324, as atividades intelectuais dos templários já produziam influências para a criação, décadas mais tarde, em Portugal, da legendária Escola de Sagres, que deu início à era das grandes navegações que mudou a face do mundo. No momento em que Cristóvão Colombo navegava para a América e, depois, Pedro Álvaro Cabral seguia rumo à terra de Santa Cruz – o Brasil que temos hoje –, quantos galeões singraram os mares abertos e se estabeleceram no Oriente, circunavegando a África para
alcançar a Índia, a China e o Japão?
Toda uma seqüência de conquistas no campo do desbravamento estabeleceu as bases da compreensão do mundo atual. Mas, muito mais do que isso, construiu também o domínio do conhecimento em todo matiz da capacidade intelectiva do homem. Da mesma forma, após a ida do homem à Lua, através do Projeto Apollo, quantas espaçonaves terrestres estão hoje vasculhando o espaço sideral? As embarcações Santa Maria, Pinta e Nina, bem como as 13 caravelas de Cabral, têm hoje seus nomes substituídos por Voyager, Gemini e Cassini, e tantos outros atribuídos às sondas espaciais modernas que hoje exploram o Sistema Solar.
O antigo Continente Europeu foi ponto de partida das expedições de desbravadores e mercadores, assim como várias nações da Terra são hoje pontos de partida de foguetes, estações orbitais, telescópios astronômicos e ônibus espaciais – tudo criado para a decifração do enigmático universo que nos rodeia. O explorador da Renascença e o astronauta da Atualidade guardam características semelhantes. A Igreja e as companhias das Índias do século XVI são substituídas pela indústria armamentista atual e agências espaciais do final do século passado e início deste. A busca hoje não é mais por seda, madeira ou especiarias, mas por outros orbes, por minerais estratégicos e pelo alargamento do entendimento da vida, em franca consideração da hipótese de contato com civilizações extraterrestres.
Mas, mesmo diante disso tudo, o Fenômeno UFO é ainda ridicularizado. O atual jogo da estratégia tem regras diferentes daquelas dos anos 50. Atores, fatores e meios diferenciam-se enfaticamente dos adotados na Segunda Guerra Mundial e no cenário empresarial do mesmo período. O Brasil, no processo prospectivo dos cenários, não pode fincar suas estacas em teorias retrógradas, quando ainda não se pensava e muito menos se explorava o espaço fora da Terra. A probabilidade de comunicação com outras inteligências cósmicas hoje é considerada pela propedêutica, que nos prepara para um entendimento mais completo de tal possibilidade e suas conseqüências. E muitos países na vanguarda econômica já estão levando a hipótese a sério, mesmo que ainda em círculos restritos de cientistas, militares e empresários.
Apesar de possuirmos analistas em geopolítica e inteligência estratégica de grande nível de especialização, o tema UFO ainda é tratado como tabu e motivo de chacota. A elevada capacidade profissional desses estudiosos não leva em conta a hipótese do contato extraterrestre no futuro por questão de visão fragmentada, desconexa de eixos dos conhecimentos primordiais no contexto de novos fatores da atualidade. O desconforto e a evasão nos argumentos são nítidos nas abordagens que fazem, procurando colocar um ponto final no tema, mesmo diante da ampla corrida espacial dos tempos modernos, a copiar a ciclópica escalada humana por regiões e civilizações do passado.
A aplicação do veículo aéreo não tripulado
Atualmente, quando se comenta a fenomenologia ufológica, não se pode desconsiderar algo que muito está em evidência: os chamados veículos aéreos não tripulados ou VANTs, do inglês unmanned aerial vehicle ou UAV. Tais aparelhos seriam inspirados nas bombas voadoras alemãs do tipo V-1 e nos inofensivos aeromodelos radiocontrolados mais recentes. Estas máquinas voadoras de última geração foram concebidas, projetadas e construídas para serem usadas em missões muito perigosas, que colocavam em risco seres humanos que as operavam, tanto nas áreas de inteligência militar, como de apoio e controle de tiro de artilharia. Elas também proporcionavam mais segurança às operações de apoio aéreo, às tropas de infantaria e de cavalaria no campo de batalha, além de controle de mísseis de cruzeiro, atividade de patrulhamento urbano, costeiro ambiental e de fronteiras, operações de busca, salvamento e resgate, entre outras.
É bem verdade que os VANTs, embora possam explicar muitas manifestações ufológicas, certamente não justificam todos os registros de discos voadores que têm sido feitos em todo o mundo. Até porque, sua tecnolo
gia surgiu no final dos anos 70, consagrando-se como um ramo da engenharia aeronáutica, enquanto UFOs são observados há séculos. Costumo dizer que a NASA e as agências espaciais européia, japonesa e chinesa usam exaustivamente os VANTs em suas operações, na forma de espaçonaves não tripuladas que exploram o espaço ao nosso redor e colocam satélites de telecomunicações e outros em órbita.
Em suas estratégias de guerra no Iraque e no Afeganistão, os Estados Unidos também têm utilizado VANTs regularmente em missões de combate, reconhecimento e de espionagem. São aqueles pequenos aviões que mais lembram aeromodelos, capazes de voar a diversas altitudes sem serem detectados, devido ao seu tamanho, enquanto monitoram e fotografam ambientes para ação militar posterior – isso quando os mesmos não fazem seus disparos. Devido à sua tradição aeronáutica, o Brasil também vem desenvolvendo tecnologias para o domínio desses engenhos, envolvendo tanto as Forças Singulares, através do Ministério da Defesa, como a Avibras Aeroespacial e o próprio Comando Geral de Tecnologia Aeroespacial (CTA).
Militares e civis podem pesquisar juntos a ação dos UFO na Terra
No país existem ainda outros centros de pesquisas dedicando-se ao domínio desses veículos, entre os quais se destacam a Instituição Renato Archer, de Campinas (SP), e a Universidade de São Paulo (USP), em São Carlos, em parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Todo o esforço dessas instituições civis se dá para empregar os VANTs na vigilância policial de áreas urbanas, inspeções de linhas de transmissão de energia, monitoramento de dutos de petróleo, levantamento aéreos fotográficos e de áreas agrícolas, além de acompanhamento de safra e controle de pragas e queimadas.
Tudo isso é dito para que se entenda que o amplo leque de utilização dos VANTs deve ser levado em consideração também na pesquisa ufológica, para não se confundir fenômenos extraterrestres legítimos com tais aparelhos. Além disso, a tecnologia de controle remoto de engenhos espaciais torna-se oitiva para investigação de avistamentos implacáveis, definindo a ordem em que devem ser interrogadas as pessoas envolvidas em tais casos.
Para que se tenha dimensão da vasta rastreabilidade desses artefatos aéreos, seu mercado em todo o mundo chegou a oito bilhões de dólares em 2008. Após os atentados de 11 de setembro de 2001, a aplicabilidade militar dos VANTs cresceu exponencialmente, e somente o Departamento de Defesa (DoD) norte-americano prevê um gasto de 3,2 bilhões de dólares, em 2009, no desenvolvimento de novos projetos e no incremento de aquisições de modelos já existentes, visando a sua operação em diversas regiões do planeta. Este alerta é indispensável ao leitor também para que perceba que o uso de VANTs pode ser útil tanto para acobertamento como para despistamento de ocorrências ufológicas.
O ufólogo franco-americano Jacques Vallée, por exemplo, teve a coragem e a honestidade de informar que um tal James Oberg, cético quanto ao Fenômeno UFO e especialista no programa espacial russo, lhe dissera que alguns dos relatos que publicou sobre avistamentos nos céus da antiga União Soviética eram originados, na verdade, de testes com foguetes que não podiam ser usados senão clandestinamente, devido ao Acordo de Limitação de Armas Estratégicas vigente na época. Como o governo de Moscou não podia esconder os foguetes lançados nem suas trajetórias, plantou a história de que as observações se deviam a discos voadores, notícia amplamente divulgada às populações das localidades envolvidas.
É por isso que Vallée diz em seus trabalhos que “há mais do que um tipo de caça Stealth voando por aí”, numa referência ao chamado avião invisível – como o jato F-117 Nighthawk e o bombardeiro B-2 – e alusão clara ao intenso emprego dos VANTs. Esse seu chamado em relação a tais veículos pode evitar uma conclusão incauta e fora de propósito, danificando ainda mais o estudo sério da Ufologia.
VANTs presentes durante a Operação Prato
Como toda a Comunidade Ufológica Brasileira sabe, em meados de dezembro de 1977 o tenente-brigadeiro-do-ar Protásio Lopes de Oliveira, então comandante do I Comando Aéreo Regional (COMAR I), de Belém (PA), suspendeu de forma inesperada a investigação oficial da Força Aérea Brasileira (FAB) denominada Operação Prato, que vinha sendo conduzida no litoral fluvial do Pará desde setembro daquele ano [Veja edições UFO 114 a 117]. As razões disso sempre foram um enigma. Mas, pelo que se conhece da vida profissional deste oficial, e levando-se em consideração o avanço tecnológico atual – principalmente relativo a vetores remotamente controlados –, estima-se que certamente ele manteria a operação em atividade, visando elucidar a origem dos objetos voadores não identificados que eram comumente observados nas ilhas de Colares e Mosqueiro, na Baía do Sol e demais áreas de manifestação, quando eram chamados de “chupa-chupa”.
Oliveira não descartaria a possibilidade de tais objetos serem plataformas de espionagem de potências estrangeiras, já que o serviço de inteligência da época acenava para a improvável ação de uma guerrilha no Alto Araguaia. Se os VANTs tivessem então o emprego que têm hoje, muito provavelmente teria sido elucidada a origem dos fenômenos observados e registrados pela Operação Prato no Pará, que constituíram uma das maiores ondas de ocorrências ufológicas no Brasil. Infelizmente, o dia 04 de junho de 2003 encerrou a possibilidade de se desvendar a razão da misteriosa decisão de suspender aquela missão militar, com a morte do brigadeiro Oliveira.
O falecimento deste grande homem entristeceu caboclos, índios e irmãs de caridade da Amazônia, abalou toda a Força Aérea – onde era tido como líder integrador da Região Norte –, e desesperançou a Comunidade Ufológica Brasileira, que permanece sem entender por que uma investigação ufológica oficial que ficaria para sempre registrada nos anais da elucidação da vida extraterrestre foi cancelada, j
ustamente quando, segundo seu comandante, o coronel Uyrangê Hollanda, estava dando impressionantes resultados. Percebe-se, assim, que os tais veículos aéreos não tripulados são um assunto controvertido mas importante, podendo se tornar retórica para mascarar ocorrências insólitas.
O Fenômeno UFO e as forças armadas de vários países
Como já é amplamente sabido, diversos governos, através de suas forças armadas, vêm sistematizando a investigação da presença alienígena na Terra, em alguns até admitindo publicamente que o fazem, como a França, o Chile e o Uruguai [Veja matéria nesta edição]. A existência de outras espécies cósmicas e sua visita à Terra não é assunto novo para as autoridades destas nações, que iniciaram seus estudos a fim de coordenarem o uso de tecnologias e recursos humanos com o objetivo de chegarem à compreensão do que se passa em nossos céus.
A França talvez seja a nação que vem dando maior atenção aos UFOs, envolvendo seus mais elevados quadros científicos e militares. Entre os órgãos envolvidos neste processo está o Instituto de Altos Estudos da Defesa Nacional (IHEDN), entidade pública ligada diretamente ao primeiro ministro francês, e não simplesmente uma escola militar, como o nome pode sugerir. Sua principal atribuição é instruir os líderes da mais alta hierarquia do país – de oficiais superiores a empreendedores exercendo funções chaves na economia e na administração pública –, sobre questões relacionadas com a defesa e a segurança nacional. Também elabora pareceres e sugestões para o governo sobre assuntos de interesse social, conforme descrito no livro Dossiê Cometa.
O IHEDN francês é o congênere da Escola Superior de Guerra (ESG) brasileira, sendo suas missões e fins bastante similares. Aliás, as instituições são parceiras para estudos de estratégia, geopolítica e defesa. Todavia, o IHEDN dispõe de uma associação de auditores, cujo objetivo é elaborar trabalhos sobre os mais variados temas de interesse para a vida econômica e de segurança da França. Dentro dela, coube ao Serviço de Investigação dos Fenômenos de Reentrada Atmosférica (SEPRA) – que reúne os maiores especialistas na área e em outras disciplinas – elaborar o Dossiê Cometa, retratado no livro homônimo. Tal documento descreve a fenomenologia ufológica francesa e seu estudo, de forma explícita e metodológica, qualificando-a e colocando-a em molduras científicas. Sua realização foi uma maneira sábia de o governo olhar a presença alienígena na Terra de frente, procurando elucidar aquilo que tinha explicação e examinando o que não tinha, mas tornando o país apto a identificar ameaças em seu espaço aéreo através de possíveis incursões e missão de espionagem.
Outros países também já dispõem de setores ou departamentos destinados à análise do Fenômeno UFO na estrutura organizacional de suas forças armadas – em especial de suas forças aéreas –, levando em consideração a possibilidade de espionagem de seus territórios com o uso de VANTs. Vê-se aqui que a questão da segurança nacional é encarada com ineditismo, podendo assumir características surpreendentes e inusitadas, devendo as forças armadas de muitas nações estarem prontas para surpresas – principalmente após os atentados de 11 de setembro de 2001.
Entre os países que possuem organismos dedicados à análise da manifestação ufológica em seus territórios destacam-se ainda, além dos citados acima, Peru, Itália, Equador, México, Portugal e Espanha. A América do Sul parece ter o maior número de nações conscientes da questão ufológica. Por exemplo, a Força Aérea Peruana mantém, desde 2001, o Escritório de Investigação de Fenômenos Aéreos Anômalos (OIFAA), a Chilena, desde 1997, tem o similar Centro de Estudos de Fenômenos Aéreos Anômalos (CEFAA), e a Uruguaia, desde 1977, a Comissão Receptadora e Investigadora de Denúncias de Objetos Voadores Não Identificados (Cridovni) – a mais antiga do continente. No Equador, recentemente o Ministério da Defesa criou a Comissão Equatoriana de Investigação Ufológica (CEIU). Entre os integrantes destes órgãos estão vários ufólogos civis e militares, alguns dos quais consultores da Revista UFO.
Devemos nos inspirar nos oficiais da Aeronáutica Brasileira que, no passado, conduziram investigações perfeitas da manifestação ufológica
Nos Estados Unidos, maior potência do planeta, a questão ufológica é tratada de forma difusa pelo governo, diante da elevada gama de informações registradas por equipamentos de alta sensibilidade, em terra, no ar e no espaço. Em meu artigo A Hora da Verdade, publicado na edição UFO 144, já me referi à desativação do Projeto Blue Book, em 1969, pois tornara-se extemporâneo diante de outras formas de se obter dados mais precisos sobre discos voadores. Lá, deixou de haver a necessidade de fontes humanas para esta tarefa, método considerado ultrapassado pelos norte-americanos – além de comprometedor da renitente negativa de interesse do governo pelo tema. Ou seja, é conveniente para os EUA não caracterizarem um departamento específico para a pesquisa ufológica, mas, em vez disso, ter elevada capacidade para mobilizar informações estratégicas através de redes compartilhadas de produção de dados. Já um trabalho sistemático de registro de casos ufológicos tem a Inglaterra, através do chamado UFO Desk, uma espécie de “Gabinete Ufológico” de seu Ministério da Defesa.
Uma visão estratégica do passado
A ausência do Brasil na lista de nações que investigam o fenômeno ufológico, e em especial a de nossas Forças Armadas, não quer dizer que elas estejam alheias ao tema, hoje ou no passado. Pelo contrário, a Força Aérea Brasileira (FAB) foi exemplar nesse tipo de diligência nas décadas anteriores, e pelo menos dois oficiais devem ter seus nomes aqui mencionados por demonstrarem visão estratégica quanto à presença
alienígena na Terra e sua implicação para assuntos de defesa e segurança nacional: João Adil de Oliveira e José Vaz da Silva. Ambos alcançaram posto máximo de major-brigadeiro-do-ar na hierarquia militar brasileira, mas é interessante, para não dizer triste, constatar a total alienação da oficialidade da Aeronáutica atual, principalmente a que é composta por gerações mais recentes, sobre os feitos destes homens. Eles desenvolveram visões prospectivas quanto à segurança do nosso espaço aéreo, a partir de medidas de esclarecimento e de conectividade, diante das ocorrências insólitas nos céus do Brasil.
Mais interessante ainda é perceber que suas atividades têm lastro na atual Estratégia Nacional de Defesa, no Sistema Nacional de Mobilização e no Plano de Obtenção de Conhecimentos Estratégicos, importantes iniciativas governamentais. O brigadeiro Adil de Oliveira, por exemplo, a partir de 1954, quando ainda era coronel, notabilizou-se como chefe da primeira comissão oficial de investigação ufológica criada no Brasil, estabelecida por ato do então ministro da Aeronáutica tenente-brigadeiro-do-ar Eduardo Gomes. Naquele período, a Aeronáutica era o epicentro de uma crise nacional, e da mesma forma que o então coronel Adil de Oliveira fora indicado para investigar oficialmente UFOs no país, também foi para presidir um inquérito instaurado para apurar os responsáveis pela morte do major Rubens Vaz.
Prestação de contas da Força Aérea
O prestígio do oficial perante seus superiores era produto de seu elevado nível profissional como militar. Adil de Oliveira era oriundo da Cavalaria do Exército, depois passando para aviação militar. Ainda no Exército, ao ver a criação do Ministério da Aeronáutica, em 1941, alistou-se em suas fileiras. O então coronel tinha larga experiência na área de informação e foi promovido a brigadeiro em 1961, passando a comandar a antiga 2ª Zona Aérea, em Recife, e depois a 3ª Zona Aérea, no Rio de Janeiro. Antes, porém, em 1948, comandou a Base Aérea de Salvador, Bahia. A este homem foi entregue a criação, pioneira no país, de uma entidade dedicada aos discos voadores. Em novembro de 1954, já afirmava que o assunto deveria ser tratado com seriedade, uma vez que quase todos os governos das grandes potências se interessavam por ele de forma circunspeta e reservada, dado o seu interesse militar.
Para que se conheça mais sobre este homem e sobre o interesse da Aeronáutica pela fenomenologia ufológica, é importante que se diga que Adil de Oliveira cursou a Escola Superior de Guerra (ESG) em 1952 – instituição da qual este autor tem a honra de servir, em seu Corpo Permanente. Como a ESG tem em sua missão estudar os destinos do Brasil, especialmente no contexto internacional, o coronel foi convidado pelo seu subcomandante na época, o contra-almirante Benjamin Sodré, a proferir palestra sobre UFOs a seus colegas do Corpo de Estagiários e aos professores e instrutores do Corpo Permanente. Em novembro de 1954, o major-brigadeiro-do-ar Antonio Guedes Muniz, então presidente da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG), convidou Adil de Oliveira a proferir outra apresentação sobre o tema, agora com uma análise da questão da defesa nacional, para uma platéia constituída de autoridades de altas patentes, como o tenente-brigadeiro-do-ar Gervásio Duncan de Lima Rodrigues, então chefe do Estado-Maior da Aeronáutica, além de membros da mídia, como os repórteres João Martins e Ed Keffel, de O Cruzeiro, e o ufólogo Fernando Cleto Nunes Pereira [Veja entrevista com ele na edição UFO 132].
Esta conferência, amplamente divulgada na mídia, foi uma espécie de prestação de contas da Força Aérea à sociedade brasileira, já que, além da elitizada assistência, estavam presentes pilotos, comandantes e jornalistas que viveram experiências com o Fenômeno UFO. Foi uma importante ação militar, mas, muito mais do que isso, algo que denotou a coragem das lideranças da época, na pessoa do coronel Adil de Oliveira, em um momento crucial para o Brasil. Naquele período vivia-se forte estado de tensão política, após o suicídio do presidente Getúlio Vargas, e também efervescentes ondas ufológicas, como as da Base Aérea de Canoas (RS), o Caso Barra da Tijuca e a perseguição por um UFO de um vôo da Varig pilotado pelo comandante Nagib Ayub, em rota entre Porto Alegre e Rio de Janeiro – tudo isso nos anos 50.
Além de seu talento como estrategista, o coronel interessava-se pelo estudo da parapsicologia, em especial da materialização e da projeciologia, tendo inclusive produzido trabalhos sobre o assunto. O atual presidente do Instituto Internacional de Projeciologia, o professor e médico Waldo Vieira, tinha elevado apreço por aquele oficial, classificando-o como “um homem ímpar em tempos de escuridão comportamental do ser humano”. O renomado pesquisador Nunes Pereira, já citado, também teceu elogios ao seu caráter e à maneira como conduzia a investigação de casos ufológicos envolvendo civis e militares. Ufólogos do passado e do presente têm Adil de Oliveira como uma engrenagem importante na aproximação entre os militares da Aeronáutica e a Ufologia Brasileira, mas enxergam também que isso não se concretizaria se ele não recebesse apoio de seus chefes, os tenentes-brigadeiros Eduardo Gomes e Gervásio Duncan de Lima Rodrigues, que também tinham visão futurista quanto às novas possibilidades da Força Aérea diante de tecnologias que eclodiam naquela época.
Para finalizar, o coronel Adil de Oliveira, pertencendo à comunidade de informações, destacava-se por não adotar uma postura pragmática e mecanicista, que infelizmente muitos demonstram, relutantes em interagir conhecimentos. Ao analisar os fatos da época, quer políticos, quer ufológicos, considerava os aspectos conjunturais do mundo multifacetado pelas possibilidades do homem no cerne de suas vivências espiritual, social, cultural e econômica. Em suas reflexões, deveria sentir o que Isaac Newton professava a respeito de seus antecessores: “Se subi tão alto, é porque estava sobre ombros de gigantes”.