Pesquisadores podem ter descoberto por que algumas galáxias pequenas em torno da Via Láctea e da galáxia de Andrômeda são tão ricas em matéria escura, o material invisível que forma a maior parte do Universo. A resposta está nas galáxias maiores e mais luminosas em suas proximidades. Simulações indicam que as coronas de milhões de graus em torno dessas galáxias maiores podem ter arrancado boa parte do gás visível em suas vizinhas mais jovens, enquanto deixavam matéria escura para trás.
Cientistas acreditam que todas as galáxias, grandes e pequenas, devem ter começado da mesma forma – como uma concentração de matéria escura com um disco de matéria visível no centro. No entanto, certas galáxias pequenas, chamadas esferoidais anãs, são escuras demais para seu tamanho; algumas contêm cerca de 100 vezes mais matéria escura por estrela que a Via Láctea e são milhões de vezes menos luminosas. Elas também tendem a se agrupar em torno de galáxias maiores, como a nossa. A grande questão é por quê isso acontece.
Em novas simulações computadorizadas da formação de galáxias, Lucio Mayer e seus colegas da Universidade de Zurique descobriram que há 10 bilhões de anos, as mais escuras entre as esferoidais atuais (como a Draco, Ursa Menor e Andrômeda IX) estavam se formando em torno de galáxias grandes envoltas no mesmo meio, contendo gás visível e matéria escura – de forma muito parecida com a que os planetas se formam ao redor de uma estrela. Mas elas foram puxadas para órbitas ao redor da galáxia central antes de suas semelhantes.
Uma vez ali, de acordo com as simulações do grupo, a gravidade da galáxia central e a pressão da coroa quente ao redor dela se combinaram e acabaram expulsando a maior parte do gás tremeluzente das galáxias menores. Apenas algumas estrelas remanescentes restaram em cada concentração de matéria escura correspondente às galáxias menores. A radiação ultravioleta, que permeava o Universo naquela época, teria aquecido o gás visível das esferoidais, diminuindo sua atração pelas galáxias pequenas e portanto facilitando seu escape, relata o grupo na revista Nature de 16 de fevereiro. Este é o primeiro modelo a explicar por que as esferoidais são ao mesmo tempo escuras e próximas a galáxias maiores, diz o co-autor do estudo Stelios Kazantzidis, da Universidade de Stanford.
Os pesquisadores “fizeram um bom trabalho de simulação da física relevante a esse problema e reprodução das órbitas” das anãs, diz o astrofísico James Bullock, da Universidade da Califórnia em Irvine. “Eles mostraram que a Via Láctea muito provavelmente retirou o gás (e a \’vida própria\’) de muitas galáxias anãs que vemos ao nosso redor”.
Kazantzidis diz que o resultado também pode explicar por que galáxias maiores têm muito menos anãs ao seu redor do que o modelo principal sobre a matéria escura “fria” ou lenta sugere. Outras esferoidais podem ter sofrido esse processo de retirada de gás com mais intensidade, ficando ainda menos visíveis e difíceis de detectar.