Estreitamente relacionadas com os deuses de nossos antepassados, as serpentes têm ocupado lugar de destaque em diversos mitos e lendas como símbolos cósmicos. Porém, além do esperado e compreensível, elas nunca foram veneradas precisamente por se arrastarem no solo ou por suas características répteis — mas sim por voar pelos céus. Como símbolos da imortalidade, da sabedoria e do universo, essas divindades aparecem como denominador comum em diferentes e distantes culturas, que as representavam persistentemente sulcando o espaço aéreo com extraordinário resplendor. Mas o que seriam, na verdade, as serpentes voadoras da Antiguidade? Vamos conhecer algumas lendas e compreender o mistério.
Comecemos pelas histórias dos aborígenes da Terra de Arnhem, na Austrália, que cantam em seus rituais: “É a idade da serpente / Da serpente que foi antes do homem / Da serpente que foi homem / Da serpente que voa no céu”. Que tipo de serpente era essa que podia voar e converter-se em homem? Talvez a mesma que, em 1.200 a.C., o historiador fenício Sanchoniaton descreveu como “uma coisa luminosa que vaga nas nuvens, retumbante e rápida como o relâmpago”. Ele agregou à sua descrição, sobre a força de impulso e movimento no ar dessa rara espécie, que “os fenícios e os egípcios já divinizaram os dragões e as serpentes como animais cuja respiração é mais forte do que de todos os outros, dizendo que ela pertence à matéria ígnea e que tem uma velocidade que não pode ser superada por nada”. Custa imaginar que os herpetólogos [Que estudam os répteis] possam responder a que gênero, família, ordem etc corresponderia essa espécie de serpente, que voava e pertencia à matéria ígnea. Ou não era uma serpente.
Alguns arqueólogos contemporâneos tentaram explicar a razão de as serpentes serem vistas como objetos de profunda veneração alegando que as antigas lendas apenas refletiam o temor que nossos antepassados sentiam de serem atacados pelas espécies venenosas — e que, além disso, simbolizavam a imortalidade com cada mudança de pele, representando um renascimento com vigor cada vez mais renovado. Todavia, essa resposta está longe de explicar certas questões simples e notórias a seu respeito, como o fato de que as serpentes descritas nas lendas não rastejavam, mas voavam. A isso os arqueólogos não fazem menção. E, com mudança de pele ou não, as serpentes também morriam — o que não se vê nos registros históricos considerados, nos quais elas são eternas.
Cobras ou artefatos voadores?
Disso se conclui, naturalmente, que qualquer que seja a explicação que se pretenda dar sobre o destacado lugar que as serpentes tinham no mundo antigo, essa deveria considerar que nossos antepassados não estavam falando de qualquer espécie de répteis, mas de algo diferente, algo que voava e lhes causava perplexidade. Porém, o que impulsionou as antigas civilizações a verem serpentes no firmamento? E como se encaixam essas descrições com outras, igualmente históricas, em que tais alegados seres são vistos como entidades civilizadoras, benfeitoras, que vinham de fora da Terra, ou seja, do cosmos? Essas lendas também são numerosas e significativas na Antiguidade.
Certamente, não estamos falando de qualquer animal. Especulando que a Terra tenha sido visitada no passado remoto por exploradores de outros mundos, tese hoje inquestionável, a verdadeira identidade de tais astronautas pode muito bem ter sido confundida por nossos antepassados com a de poderosos deuses, tal como aconteceu na Nova Guiné durante a Segunda Guerra Mundial, quando soldados norte-americanos que lá chegaram foram entronizados como mensageiros do céu. Outra hipótese viável é a de que tais misteriosas serpentes voadoras que abundam nos antigos mitos não eram outra coisa senão artefatos de avançada tecnologia que cortavam os céus de antigamente, mostrando uma peculiar forma aerodinâmica que o homem pré-histórico ou medieval só podia interpretar fazendo analogia com algo que conhecessem, do mesmo modo que os índios dos Estados Unidos chamaram de “cavalos de ferro” as primeiras locomotivas que viram.
Vendo por esse ângulo, fazem sentido as palavras do sacerdote egípcio Epeis: “A primeira e a mais eminente divindade é a serpente com cabeça de falcão, que, quando abre os olhos, completa de luz toda a face da Terra”. Não estaria Epeis aludindo às potentes luzes de uma nave alienígena? Ainda que essa seja apenas uma hipótese difícil de ser confirmada, os indícios que outras espécies cósmicas deixam em nosso passado permitem suspeitar que uma tecnologia avançada esteve presente entre nossos ancestrais, e tais indícios estão por toda parte. No Livro dos Mortos do Antigo Egito, por exemplo, podemos ler: “A montanha de Baju, que repousa no céu, está formada por muralhas que medem codos de sete palmos e meio [Cerca de 50 cm], conforme a medida da Balança das Duas Terras. Tem trezentos codos [Cerca de 150 m] de longitude e cento e cinquenta codos de largura [Cerca de 75 m]”. Sem dúvidas, um colosso voador.
Herpetologia cósmica?
Mas o Livro dos Mortos egípcio vai mais além: “O deus crocodilo Sobek, Senhor de Baju, reside sobre a montanha. Seu templo foi construído com pedra herset [Cornalina]. E há uma serpente em cima dessa montanha com trinta codos de largura [Cerca de 15 m], sendo os primeiros oito codos de seu corpo de sílex. Sobre a serpente que mora sobre sua montanha, dizemos dela que é ‘a que está em sua chama’”. De novo, certamente será impossível encontrar nos registros da herpetologia serpentes que são feitas de sílex e que vivam entre as chamas. Ou seja, podemos perceber que a constante menção sobre a natureza ígnea desses supostos répteis é mais do que suficiente para duvidar das interpretações ortodoxas.
Da mesma forma, a menção feita por Peter Kolosimo em sua obra Não é Terrestre [Melhoramentos, 1972] tem chamado a atenção sobre uma interessante lenda amazônica: “Um tal Elipas, estabelecido em uma colina em companhia de uma serpente, foi de um lugar a outro curando os indígenas e manipulando estranhas magias de fogo e água. Os feiticeiros das tribos locais, prejudicados pela concorrência, trataram de amedrontar Elipas e sua serpente e enviaram guerreiros contra ele”. Kolosimo continua relatando o que ocorreu no encontro: “Resultou em um tremendo fracasso, já que a serpente de Elipas pôs-se a cuspir chamas, incendiando o bosque, calcinando o terreno e pondo em ebulição as águas do rio. Depois disso, Elipas fez um severo discurso aos sobreviventes, anunciando-lhes que, daquele dia em diante, teriam de passar sem seus milagres. E seguiu pelos ares cavalgando a serpente em meio a um vórtice de fogo”.
Até hoje a ciência nada descobriu sobre Nam Madol, nem quem fez o monumento ou como foram levantados cerca de 400 mil pesados blocos de basalto em meio a uma geografia formada por umas cem ilhotas artificiais rodeadas por canais
Entre os fatos mais curiosos dessa lenda está a descrição da serpente, que cospe chamas e voa, como tantas outras que vemos descritas em incontáveis lendas e mitos antigos. Outro exemplo está na cultura de um povo que vive nos Estados Federados de Micronésia, na Oceania, em uma diminuta ilha de apenas 0,44 km2 chamada Temuen, onde se encontram as enigmáticas ruínas de Nan Madol. Até hoje a ciência nada descobriu s
obre sua construção, nem quem a fez ou como foram levantados cerca de 400 mil pesados blocos de basalto — entre duas e dez toneladas cada — em meio a uma geografia formada por umas cem ilhotas artificiais rodeadas por canais. Não obstante, uma lenda parece poder explicar o que os arqueólogos não conseguiram, e nela está descrito que a magnífica obra de arquitetura megalítica se deveu a um “dragão que cospe fogo”, auxiliado por sua “mãe”, que seria outro “dragão”, porém maior. Assim contam os micronésios de Temuen há centenas de gerações.
Bloco de basalto pelos ares
Ao que parece, a “mãe” do “dragão” menor abriu os canais com seu poderoso sopro, dando lugar à formação das ilhotas. Logo, o filho, o “dragão que cospe fogo”, teria feito os blocos de basalto voar pelos ares desde uma ilha vizinha para depositá-los, de forma ordenada, em Nan Madol. Isso, segundo as lendas, sem qualquer intervenção humana. Ainda que esse tipo de relato contenha impensadas manifestações de alta tecnologia — cuja consideração daria uma nova dimensão ao conhecimento do nosso passado —, os arqueólogos tradicionais preferem uma explicação bem mais prosaica para o enigma de Nan Madol. Eles afirmam que o suposto dragão, na realidade, fora apenas um crocodilo perdido que uma vez chegou à ilha causando grandes problemas aos ilhéus, razão pela qual se incorporou à memória dos aldeões em forma de lenda.
Crocodilo extraviado ou apenas um preconceito científico? Não deveriam nos surpreender tais propostas dos arqueólogos para o “dragão que cospe fogo” da Micronésia, como para tantos outros cujas histórias abundam em registros ancestrais. Outro bom exemplo desse comportamento já havia sido dado pelos comentaristas bíblicos, para quem o Leviatã — suposto monstro primitivo do caos —, nada mais era do que um crocodilo. Vale a pena recordar como a Bíblia o descreve, no Livro de Jó: “Seu corpo é como os escudos de bronze fundidos, apinhado de escamas apertadas entre si. Seus espirros relampagueiam luz e seus olhos são como os brilhos vermelhos da aurora. De sua boca saem chamas como de sujeiras incendiadas”.
crédito: LUCAS GRIMBAUTH
Ainda vivemos atolados na ignorância quanto ao passado de nosso planeta, com nossas ciências, a exemplo da arqueologia, sustentando ideias alienadas
O que vemos aqui é mais uma descrição de algo bem diferente de um animal, serpente rastejante ou crocodilo, algo de características mecânicas e tecnológicas. Continua o Livro de Jó: “Seus narizes lançam fumaça como um pote fervente entre chamas, sua respiração acende o carvão e sua boca descarrega labaredas. Os membros de seu corpo estão perfeitamente unidos entre si. Podem cair raios sobre eles, mas eles não se moverão. Se alguém quiser investir contra ele, de nada serve a espada, nem a lança e nem couraças, pois o ferro é para ele como palha e, o bronze, como lenha apodrecida. A flecha não o fará fugir, e para ele as pedras da funda são pétalas”.
Conforme se aprofunda a descrição, mais vemos Leviatã como um artefato de grande potência, mas de onde viria? “Debaixo dele permanecem os raios do Sol e ele andará por cima do ouro como o faz sobre lodo. Fará ferver o mar profundo como uma panela e fará que se pareça como um caldeirão de unguento quando ferve a borbotões. Deixa atrás de si um caminho reluzente, fazendo com que o mar se torne a cor grisalha da velhice. Não há poder sobre a Terra que possa com o dele ser comparado, pois foi criado para nada temer”. Vamos poupar o leitor de descrever em linguagem moderna o que poderia ter sido esse invencível encouraçado a que chamavam Leviatã. Mas se crocodilos fossem mesmo como esse, assim descrito, nenhum homem da Terra teria ousado deles se aproximar — e muito menos de seu couro fazer sapatos, cintas e carteiras…
“Quando respira, levanta vento”
Como se vê, e esses são apenas alguns exemplos, os dragões e as serpentes voadoras são parentes muito próximos e recorrentes na literatura. Mas se não são espécies terrestres, como querem os arqueólogos ainda cegos, então temos que buscar sua origem em outros pontos do universo. Sustentaremos essa ideia com a mesma insistência com que as lendas abundam em todas as épocas, com descrições de artefatos celestes que remetem às maravilhas de uma avançada tecnologia. Tal como aqueles aparelhos que sulcavam o ar do milenário Império do Meio chinês, levando os Filhos do Céu — título que recebiam os soberanos na China — entre as nuvens e além delas: “Como os deuses, os homens santos e os soberanos também montavam em dragões”.
E nossa insistência se justifica porque nos mitos e lendas a que tivemos acesso há artefatos que têm muito mais a ver com superfícies polidas e capacidades antigravitacionais do que com seres de carne e osso, como também é o caso do Dragão Tocha, elemento do folclore chinês que tinha a cara de homem e o corpo vermelho como sangue, “que não bebe e não come, e quando respira, levanta vento”, segundo os registros. Vários autores fazem menção a essa última característica de tais aparelhos, como o estudioso austríaco Peter Krassa, a quem se pode identificar o suposto animal com algum tipo de veículo aéreo similar a nossos modernos helicópteros.
A apoiar a teoria de Krassa temos entre as lendas da antiga Germânia, atual Alemanha, o conhecido Mito de Sigfrido e o Dragão, que parece coincidente com tal interpretação. A história se resume em que o dragão, negro como a noite, porém de asas azuis, se acercava de Sigfrido voando muito lentamente, “traçando com sua cauda amplos círculos”. Depois de um desigual combate, Sigfrido venceu o terrível monstro, “que vomitava chamas azuis”. Ao final da batalha, o bicho “pereceu em seu próprio fogo”, ficando o herói germano “ensurdecido pelo enorme estalido por ele produzido nesse momento”.
Entre as brumas do tempo
Naturalmente, se o “dragão” de Sigfrido se parecia com um helicóptero ou teria qualquer outro aspecto, isso não faz muita diferença. O que de verdade importa é como interpretar algo que acaba destruído “em seu próprio fogo”, produzindo nesse instante um “enorme estalido”. Não nos parece óbvio, hoje, que qualquer veículo aéreo derrubado em combate estala ruidosamente e se consome ao se incendiar? E quando existiu no mundo um animal do qual poderia se dizer algo parecido?
Enfim, nesse trabalho expressamos apenas uma ideia inspirada à luz difusa e cintilante dos mitos e lendas. Não é simples ver nesse cenário a verdadeira face dos protagonistas que andam embaçados e entre as brumas do tempo. Como também não podemos deixar de considerar as palavras do imperador Juliano sobre a questão: “O que nos mitos se apresenta como inverossímil, é precisamente aquilo que nos abre o caminho à verdade. Efetivamente, quando mais paradoxal e extraordinário é um enigma, tanto mais ele parece nos advertir para não confiarmos na palavra nua, mas padecer em torno da verdade oculta”.