Transcorridos oito anos dos principais episódios do Caso Varginha, confirma-se a previsão de que o volume de informações que surgiriam com o passar do tempo aumentaria substancialmente. No entanto, como é característica de todo episódio desse tipo, por sua vez, essas informações dificultam o estabelecimento de certezas. Se por um lado sabe-se que fatos são provados com testemunhas, os fatores complicadores do depoimento humano tornam qualquer investigação um verdadeiro desafio de apuração da realidade. Inúmeros aspectos contribuem para isto, principalmente a questão emocional, que pode produzir uma série de afirmações não comprometidas com a objetividade que se exige para o encontro da verdade.
Ao se considerar que uma ocorrência incomum traz consigo o poder de fazer com que as pessoas manifestem suas próprias interpretações, influenciadas por crenças pessoais e tendências do próprio grupo social, somente a pesquisa empreendida diretamente em locais e situações citadas permitirá termos algumas confirmações. Dentre os depoimentos de valor, mesmo assim dependentes de análise fundamentada num conjunto maior de dados ou de raras evidências, destacam-se os dos indivíduos pertencentes aos meios em que teoricamente os fatos se passaram.
Testemunhas militares
No início de 2003 esteve em Varginha o ufólogo norte-americano Roger Leir, médico ortopedista respeitado, cuja experiência de mais de 50 anos como pesquisador em Ufologia garantiu-lhe o contato com ocorrências de diversos tipos – dentre elas os controvertidos casos de implantes, supostamente atribuídos a uma espécie de atuação cirúrgica alienígena. A visita do estudioso foi uma oportunidade de se comprovar a efetiva existência de algumas testemunhas sigilosas do Caso Varginha, afirmação sempre feita pelos pesquisadores desde 1996. Esta demonstração já havia ocorrido em 1997, quando representantes da imprensa local e nacional foram escolhidos e, mediante compromisso ético de absoluta discrição e sigilo, puderam assistir a duas entrevistas gravadas em vídeo com testemunhas militares que participaram dos eventos.
Ao mesmo tempo em que não se podem considerar como provas reais depoimentos não dados a público – e, portanto, de valor restrito ou praticamente nenhum –, seria imprescindível comprovar a representantes de setores sociais e a alguns estudiosos do tema que realmente esses depoimentos existem. Com essa finalidade, Roger Leir foi levado ao consultório de um colega seu, reconhecido médico de Varginha com mais de 30 anos de clínica, que pertence a um família tradicional na região. Como preferiu chamar o próprio ufólogo norte-americano o “Doutor”, após natural hesitação, concordou em recebê-lo para confirmar o que havia presenciado em janeiro de 1996, numa sala apropriada do Hospital Regional do Sul de Minas. Durante mais de três horas de conversa, Roger Leir ouviu de seu colega brasileiro a confirmação da captura da segunda criatura de compleição incomum e atípica, narrando um novo detalhe, até então desconhecido pelos investigadores.
Criatura lesionada
Segundo o “Doutor”, que recusa terminantemente ser identificado, o corpo possuía lesões de diversos tipos e graus. Ele teria sido chamado às pressas, por decisão de militares e responsáveis pela guarda do ser, e declarou seu indescritível espanto diante de algo jamais avistado por ele, pessoalmente ou em registros médicos. Ainda que seu depoimento a respeito da aparência da criatura coincida com todos os outros, das mais variadas testemunhas deste fantástico caso, o médico está certo de que no momento de sua chegada ela se encontrava indubitavelmente viva.
Esse depoimento faz parte de um acervo que aumenta com o passar dos anos e se acha em meio às declarações de dezenas de militares, policiais, funcionários de hospitais e médicos, testemunhas civis etc. Não se despreze, portanto, a necessidade de uma difícil filtragem das informações passadas, o que, por vezes, pode receber a direta influência do próprio investigador. Vai aqui um exemplo, propositalmente escolhido para enfatizar a isenção de argumentos, tão importante na discussão de casos ufológicos e similares. Um dos procedimentos preferidos pelos ufólogos ditos de linha objetiva – não mística – é dirigir maior atenção e dar mais valor a depoimentos isentos de impressões excessivamente pessoais das testemunhas, principalmente quando estas falam de sua própria alteração emocional no momento de sua experiência.
O “Doutor”, antes insistindo que se tratava de um colega seu do referido hospital que havia sido chamado pelos militares, com nossa persistência acabou por confirmar que se tratava dele próprio, e a partir daí resolveu depositar total confiança em seu colega norte-americano, abrindo-se mais. Então, oferecendo-nos um detalhe inédito do caso, o “Doutor” afirmou emocionado, mas com expressão séria e fisionomia fechada, que ao tentar examinar as lesões do ser sentiu-se subitamente “como se suas mãos fossem conduzidas automaticamente”, acreditando ainda que “era como se a iluminação do ambiente se modificasse de repente, tornando-se amarelada”, parecendo que “a percepção aumentava de alguma forma”. Essas são transcrições que ele próprio nos deu.
Falou ainda o médico que, mesmo assim, não pôde entender muito bem a constituição fisiológica do corpo que examinava, apesar de se tratar de algo antropomórfico – com cabeça, tronco e membros. O “Doutor” não ouviu qualquer ruído ou som eventualmente emitido pela criatura, nem tampouco falou de uma comentada “língua fina e bifurcada”, sobre a qual outras testemunhas médicas e militares comentaram. Mas confirmou ter visto lentos movimentos dela, ao apresentar sinais de vida, recusando-se terminantemente a afirmar se esta parecia respirar.
Eis o exemplo das comentadas dificuldades diante de um depoimento assim. Não se sabe até que ponto o impacto psicológico e as alterações emocionais de um profissional, diante de algo aparentemente estranho, o teriam influenciado a ponto de provocar as incomuns sensações. Alterações desse cunho podem ocorrer muito mais em pessoas com esclarecimentos técnicos e cultura aprimorada, por razões óbvias. A constatação de uma suposta situação que foge a todas as admissões acadêmicas significa maior sensibilidade ao choque. Daí, as impressões narradas poderem ser mero resultado disto. De qualquer forma, absurdo seria tomar o detalhe de uma insinuada interação psíquica entre a criatura e o médico como efetivo sinal de inteligência daquela ou, ainda mais inatingível, que este último estivesse às voltas com um ser dotado de poder telepático ou algo similar. Aliás, esse tipo de alegação parece não ser in&eacut
e;dito.
Complicações na pesquisa
Com o passar do tempo, as esperanças de novas informações e de outras confirmações sobre o Caso Varginha são parcialmente satisfeitas. Mas corre-se o risco de virem cada vez mais caracterizadas por complicações. Enquanto isto, a maior delas é a negação sistemática dos meios envolvidos, tais como as Forças Armadas, hospitais e outras instituições, desde o início. Mesmo que fosse possível ter acesso a um relatório circunstanciado, composto por exames, análises e dados completos sobre o material resultante do episódio, a efetiva existência das comentadas criaturas de Varginha somente poderia ser inquestionável se reconhecida oficialmente. Não ocorrendo isto, resta aos ufólogos, aficionados, pesquisadores, céticos e interessados, manterem-se na discussão aprofundada do caso.
Há dois anos está em andamento um trabalho analítico a respeito dos aspectos aceitáveis, fatos duvidosos, informações confirmadas, dados contraditórios, detalhes esclarecedores, algumas conclusões válidas e outras equivocadas etc a respeito do Caso Varginha. Trabalham em conjunto um ufólogo e um cético, segundo um projeto idealizado por este último. Gradativa e paciente, a análise crítica certamente resultará em conquistas importantes, que virão da filtragem de ordem metodológica e comparativa. As discussões dialéticas e frutos que dele surgirão serão, certamente, salutares para a Ufologia, como deve ocorrer em todo estudo de caso. É disso que o Caso Varginha precisa, é disso que a Ufologia necessita, urgentemente.