Em alguma noite perdida da minha infância, quando tinha seis ou sete anos, aconteceu algo que seria uma espécie de balizamento para toda a minha vida. Ao olhar o céu noturno da cidade de Petrópolis, onde residia com meus pais, pela primeira vez tive a percepção de que em volta de alguns daqueles pontos luminosos, as estrelas que observava, deveriam existir planetas, e muitos daqueles mundos seriam habitados. Este despertar para a noção da pluralidade da vida no universo, em tão tenra idade, ainda hoje leva este autor a muitos questionamentos, principalmente quanto à origem de tal certeza. Mas, se esta minha precoce percepção da realidade pode gerar perplexidade nos leitores da Revista UFO, mas difícil de entender ainda é o fato de que, séculos atrás, esta mesma idéia foi uma das páginas mais negras da Santa Inquisição.
Em 17 de fevereiro do ano 1600, no Campo de Fiori, falecia o frade dominicano Giordano Bruno, teólogo e filósofo romano, condenado por heresia pela chamada Congregação da Sacra, Romana e Universal Inquisição do Santo Ofício. Morreu queimado em uma fogueira inquisitória e com uma tábua cravejada de pregos na língua, para parar de blasfemar. Mais de 400 anos atrás ele já defendia e levou às últimas conseqüências a idéia de outros mundos habitados. Mas para que o leitor tenha noção exata da grandeza desse ícone da verdade, basta dizer que, ao ser lida sua sentença de morte, ele não se intimidou e ainda declarou aos seus algozes que tinham mais medo de suas idéias do que ele, Bruno, em ver cumprida sua sentença de morte.
O importante agora é analisar profundamente os documentos
Pois bem, mais de quatro séculos se passaram e ainda hoje a luta de Bruno continua viva – e o movimento ufológico mundial personifica esta realidade como nenhum outro, levando também às últimas conseqüências o estabelecimento definitivo da existência de vida inteligente em outros mundos. Mais do que isto, o estabelecimento também definitivo de que seres mais evoluídos do que nós estão em contato direto com nosso planeta, há séculos ou milênio. Hoje estamos vendo, em escala global, manifestações sucessivas e cada vez mais freqüentes de personalidades, celebridades e autoridades afirmando terem tido experiências pessoais com os UFOs e ETs, ou simplesmente reconhecendo não só a realidade da presença extraterrena, mas também a existência de um gigantesco – felizmente agonizante – processo de acobertamento de informações. São pessoas cuja responsabilidade, qualificação e credibilidade estão acima de qualquer suspeita.
Ignorância ou desconhecimento
No entanto, por trás da maioria das manifestações contrárias à esta realidade, que também ocorrem com freqüência, encontramos as mais diferentes inspirações. Elas vão desde uma total ignorância ou desconhecimento das evidências existentes até interesses escusos relacionados à manutenção de privilégios ligados ao poder. Isto para não falarmos de manifestações de pessoas que, simplesmente, apesar de uma eloqüente retórica e um preciosismo de linguagem – que visam apenas mascarar uma total falta de compromisso com a realidade –, atacam a certeza da presença extraterrena para justificarem escolhas pessoais, cujas motivações estão muita longe de algo que poderia dignificar suas atitudes.
O presente processo mundial de abertura dos arquivos ufológicos governamentais, antes de ser o resultado das campanhas deflagradas em vários países contra o acobertamento – tal como o movimento UFOs: Liberdade de Informação Já, aqui no Brasil –, é uma resposta de nosso tempo a tudo o que já foi e continua a ser feito contra a credibilidade e o estabelecimento da verdade sobre a presença de naves alienígenas e seus tripulantes em nosso meio. Essa luta está longe de seu fim, mas não devemos nos surpreender com nada o que vier pela frente, pois existem interesses muito fortes para a manutenção da noção de mundo que a maior parte da humanidade conhece.
E também não podemos negar que todo este processo de abertura ufológica deve muito aos pioneiros da Ufologia, que enfrentaram todas as manobras dos arquitetos do acobertamento. E assim, neste momento em que a Força Aérea Brasileira (FAB) acaba de liberar o primeiro lote realmente significativo de documentos e registros da presença extraterrestre em Território Nacional, como fruto da campanha acima mencionada, todos os ufólogos do país, membros ou não da Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU) – que implementou e mantém o movimento –, têm que reconhecer e homenagear tais pioneiros, inclusive os militares, que em meio às suas responsabilidades constitucionais levaram à frente as primeiras iniciativas para investigar e buscar as devidas explicações para o mistério dos discos voadores.
No meio ufológico civil, a figura de nossa “matriarca”, a professora Irene Granchi, está hoje ainda viva, embora ela esteja afastada de nosso convívio por questões de saúde, e assim não sabe ou pode avaliar onde seu legado nos levou. Irene Granchi merece especial citação por sua dedicação extrema e obstinada à causa da verdade. Sou testemunha direta não só de seu elevado senso de honestidade, como de sua capacidade de analisar fatos pertinentes à presença alienígena na Terra. Desde o momento em que ficou frente a frente com um disco, no município de Vassouras (RJ), no hoje distante ano de 1947, buscou não apenas investigar o assunto, como também levar informações de qualidade sobre ele ao maior número de pessoas possível. Também não podemos deixar de citar outros igualmente valorosos pioneiros da Ufologia Brasileira, como o estimado e saudoso general Alfredo Moacyr de Mendonça Uchôa, Húlvio Brant Aleixo e Fernando Cleto Nunes Pereira, este que acompanhou, como convidado, o I Inquérito Confidencial sobre Objetos Aéreos Não Identificados, dentro do Estado-Maior da Aeronáutica, em 1954. E muitos outros.
No meio militar destacaríamos a figura ímpar do coronel João Adil de Oliveira, que, como chefe do serviço de informações do Estado-Maior da Aeronáutica, comandou a primeira investigação em larga escala da manifestação ufológica em Território Naciona
l. Mais do que isto, este oficial foi o direto responsável por uma das páginas mais memoráveis da história da Ufologia Brasileira, ao proferir palestra sobre o assunto na Escola Técnica do Exército, também em 1954, que teve a cobertura massiva da imprensa, nela fazendo ecoar nacionalmente a seriedade e respeito que o assunto merecia.
Outra personalidade militar que não poderíamos deixar de citar é o major-brigadeiro José Vaz da Silva, que foi responsável, em 1968, pela criação do Sistema de Investigação de Objetos Aéreos Não Identificados (Sioani), dentro da IV Zona Aérea, em São Paulo, hoje IV Comando Aéreo Regional (COMAR). Por vários anos Vaz da Silva investigou e procurou dar tratamento adequado às informações ufológicas que recebia. E, claro, em mesma situação destacamos também a figura do brigadeiro Protásio Lopes de Oliveira, que, em 1977, num atino extraordinário para o significado da presença alienígena na Terra, criou a Operação Prato para investigar a atividade de objetos voadores não identificados no Pará. Mais de três décadas depois, são justamente os documentos desta missão militar que forma, agora, o principal grupo de documentos ufológicos liberados pelo Governo.
Uma reunião inédita em Brasília
Seria uma incoerência e injustiça se, no momento em que a campanha UFOs: Liberdade de Informação Já mostra sua força, propiciando a liberação para a população de mais de 600 páginas de documentos e fotos de discos voadores em nosso país, não fizéssemos referência aos militares que receberam os membros da Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU) nas instalações do Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (Cindacta), do Comando de Defesa Aeroespacial Brasileiro (Comdabra) e do Ministério da Defesa, em Brasília, em maio de 2005, quando tivemos oportunidade inédita de examinar documentos confidenciais sobre a presença dos UFOs, muitos dos quais agora liberados [Veja cobertura deste encontro na edição UFO 111].
Assim, fazemos questão de destacar os nomes do major Antônio Lorenzo, primeiro militar a contatar os ufólogos da CBU, e dos brigadeiros Telles Ribeiro, Ateneu Azambuja, e José Carlos Pereira, que nos receberam em Brasília. Pereira, inclusive, durante o II Fórum Mundial de Ufologia, em Curitiba, assumiu o compromisso de ajudar nosso movimento, e o fez. Devemos a ele um agradecimento especial, não só por seus pronunciamentos públicos a favor do fim do sigilo ufológico, como por todo o seu trabalho desenvolvido dentro da FAB, cujos resultados agora começam a aparecer. E existe mais sendo planejado. Tanto o brigadeiro Pereira, como o coronel Antônio Celente Videira, também da Aeronáutica, estão propondo a criação de um grupo misto de civis e militares para investigar o Fenômeno UFO e tratar de uma responsável campanha de divulgação nacional do assunto. Celente, outro grande parceiro da Ufologia Brasileira, hoje consultor da Revista UFO, também esteve nos últimos meses visitando instalações militares buscando sensibilizar seus colegas de farda quanto ao movimento.
Mas, certamente, nenhuma comemoração deste momento especial da Ufologia Brasileira estaria completa sem falarmos do coronel Uyrangê Hollanda, o comandante da Operação Prato que, em 1977, chefiou de maneira exemplar as atividades de pesquisa que a FAB desenvolveu na Amazônia, sendo, junto de vários de seus comandados, testemunha direta da manifestação de discos voadores no Pará, obtendo mais de 500 fotos e vários filmes deles – alguns dos quais agora são finalmente liberados. Como já é amplamente conhecido, 20 anos depois do encerramento da sigilosa missão militar na selva, Hollanda concedeu ao editor da Revista UFO e a este autor uma eloqüente e inesquecível entrevista, na qual revelou todos os detalhes da operação que comandou. Não há dúvida que seu legado foi nossa principal inspiração para a campanha UFOs: Liberdade de Informação Já, e seu nome merece indiscutivelmente um profundo reconhecimento.
O que todos têm o direito de saber
Inquestionavelmente, estamos vivendo um momento muito especial para a Ufologia Brasileira, quando vemos farta documentação antes sigilosa sobre UFOs ser disponibilizada em nosso país, a exemplo de como vem ocorrendo em outros. O Brasil passa finalmente a figurar entre as nações que admitem oficialmente aquilo que todos têm o direito de saber: o Fenômeno UFO é real, concreto e iminente, e tem sido alvo de grande interesse por parte de nossas forças militares. O lote de documentos agora liberados para a Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU) no último dia 04 de maio, colocado nas mãos dos investigadores Fernando Aragão Ramalho e Roberto Beck, conselheiros especiais da Revista UFO, chega em um momento bem oportuno e causa forte entusiasmo em todos os ufólogos brasileiros.
Apesar de tudo isso, nossa luta pelo estabelecimento da verdade sobre a presença alienígena na Terra está longe do fim. Não obstante a importância dos documentos liberados, muita informação ainda permanece escondida em arquivos sigilosos, não só em nosso país, mas em todo o mundo – o que esperamos ver mudado, por exemplo, com a abertura dos arquivos do Caso Varginha. A CBU já fez uma solicitação formal à Casa Civil da Presidência da República pedindo o rebaixamento da classificação dos documentos relativos ao caso mineiro, que, segundo fontes militares, tem a mais alta classificação de sigilo – ultra-secreto – a emperrar sua liberação e impedir sua obtenção. Ao contrário do que aparentemente alguns pretendem agora, não podemos permitir que o Caso Varginha seja esquecido, ou que sua credibilidade e importância sejam minimizadas. Há ainda muita coisa a ser falada e declarada sobre esta história.
A Ufologia Brasileira, enfim, está de parabéns e pode comemorar mais uma conquista. A Força Aérea, o Ministério da Defesa e o Governo Federal estão começando a cumprir a atual Legislação, que demanda que reconheceram a validade de nosso pleito, representado pelo Dossiê UFO Brasil, protocolado pela CBU na Casa Civil, no final do ano de 2007. Assim, todas as críticas ao movimento e todos os questionamentos sobre seus métodos deixaram de fazer sentido. Como não faz mais qualquer sentido a retórica daqueles que, de maneira surpreendente, fazem questão de se posicionarem na contra-mão da história, alheios à evolução de nossas percepções da realidade e da presença de UFOs e seus tripulantes em nosso planeta.
Convido os leitores a baixarem os documentos liberados no Portal UFO e a avaliarem em profundidade todo o significado deste vasto material. Cada um de nós, que já percebeu a importância deste momento, da realidade e das implicações da presen&cc
edil;a extraterrestre em nosso planeta, também tem a responsabilidade de fazer chegar a outras pessoas esta nova visão de mundo, o que será capaz de modificar amplamente nossos destinos, tanto individual como coletivamente.