O entrevistado desta edição destaca-se por seu grande conhecimento sobre a relação da psicologia com a presença alienígena na Terra. Nascido em City Bell, na província de Buenos Aires, Argentina, Roberto Enrique Banchs apresenta notável carreira acadêmica. Graduou-se arquiteto e especializou-se em urbanismo e planejamento em 1979 pela Universidade de Belgrano, e, em 1981, cursou o mestrado em metodologia da pesquisa científica, licenciando-se depois em psicologia e doutorando-se summa cum laude em psicologia social, em 1986, pela Universidade Argentina J. F. Kennedy. Finalmente pós-graduado em psicoterapia sistêmica em 1992 e em mediação em 1997 pela Universidade de Buenos Aires, exerceu durante anos a docência acadêmica em área voltada à antropologia. Trabalhou ainda na iniciativa privada, dando assistência e desenvolvendo pesquisas com instituições psicoambientais.
Desde a década de 60, Banchs dedica-se ao estudo do âmbito psíquico dos UFOs, definindo sua linha de investigação como uma “psicologia imbuída pelo social”. Por meio de uma perspectiva racional, seus interesses são centrados no psiquismo e na conduta humana, mediante o estudo analítico e contextual de experiências insólitas. Sua pesquisa abrange desde o exame de informações globais sobre UFOs até a análise específica de casos clássicos — a começar pelo primeiro catálogo argentino de avistamentos ufológicos, ensaios sobre o desenvolvimento histórico-cultural do fenômeno e estudos sobre a influência jornalística e a valorização psicológica das testemunhas.
Ceticismo reflexivo
Para Banchs, os UFOs podem ser analisados como “objeto cultural”, produto da confusão popular estimulado tanto por fenômenos da natureza como pela ação de ficções cinematográficas. Ainda assim, apesar de seu rigor científico, ele vê com bons olhos a possibilidade de que poderiam se tratar de naves extraterrestres — embora considere que até hoje não haja evidências incontestáveis que respaldem tal hipótese, daí a importância de se pesquisar e desclassificar documentos oficiais. Contudo, consciente e aberto a princípios inovadores, naturalmente, não descarta de modo algum essa possível realidade. Para ele, há nesse conjunto de indícios uma realidade original. É com tal posição que ele mantém o que chama de “ceticismo reflexivo”, que propicia a formação e a investigação científica a partir das múltiplas disciplinas que envolvem a pesquisa ufológica.
São de sua autoria várias obras, como OVNIs: Peregrinos del Silencio [OVNIs: Peregrinos do Silêncio, Edad, 1991], em que estuda as condutas e experiências dos estímulos perceptivos na teoria geral dos sistemas, e Fenómenos Aéreos Inusuales [Fenômenos Aéreos Inusitados, Leuka, 1994], sendo este o primeiro livro de uma editora universitária argentina dedicada ao assunto. Além deles, Guía Biográfica de la Ufología Argentina [Guia Biográfico da Ufologia Argentina, Cefai, 2000] apresenta um registro biográfico de ufólogos que se dedicaram ao tema nos primeiros 25 anos, junto de uma análise do contexto social e da repercussão pública e jornalística do Fenômeno UFO na América do Sul.
Como se vê, Roberto Enrique Banchs é um dos mais competentes estudiosos da Ufologia de seu país, e mesmo que seu “ceticismo reflexivo” não seja muito tolerado por alguns de seus colegas, é amplamente respeitado por outros. Isso faz do entrevistado desta edição um exemplo raro de homem de ciência que lida de maneira objetiva com o lado mais intrincado da fenomenologia ufológica, as abduções. Fundador do Centro de Estudios de Fenómenos Aéreos Inusuales (CEFAI), em 1971, até hoje ele defende um posicionamento de reflexão permanente quanto à maioria dos acontecimentos da Ufologia. Representante na Argentina do Centro Brasileiro de Pesquisas de Discos Voadores (CBPDV), desde 1983, e consultor da Revista UFO desde a década de 90, seu trabalho faz uma análise do aspecto comportamental gerado a partir da incidência ufológica sobre culturas específicas.
Como um estudioso crítico, o que seria um UFO? Tecnicamente, defino um UFO como o estímulo que uma informação origina sobre a observação de um fenômeno — objeto ou luzes — no âmbito terrestre, e que, por seu aspecto ou comportamento dinâmico, não pode ser identificado pelo observador em termos convencionais ou conhecidos. Trata-se de uma rotulação operacional em que não se introduzem elementos especulativos ou conceituais, e que não se subscreve a nenhuma hipótese interpretativa pré-definida. Entretanto, popularmente há o hábito de lhe atribuir um significado sinônimo: o de uma nave extraterrestre.
Da mesma forma, o que não seria um UFO? Obviamente, o que pode ser identificado. Um fenômeno de qualquer natureza, que em algumas ocasiões se apresente para as testemunhas — principalmente se leigas — de maneira incomum, mas que acaba sendo identificado ou reconhecido em seguida.
A ciência não nega que os UFOs possam ser naves alienígenas, que viajem no tempo ou que venham de universos paralelos. Mas quem defende essas possibilidades ou suposições são exatamente aqueles que deveriam oferecer provas a seu favor.
Dentro deste contexto, então, qual a verdadeira natureza dos UFOs? Eu, pelo menos, não sei, mas muitos colegas acreditam ter certeza de que sabem. Para mim, esse é o motivo de eu investigar o fenômeno, pois, se soubéssemos sua natureza, essa busca perderia o sentido e o mistério teria sido revelado. Entretanto, poderíamos tentar uma aproximação — o nó do problema está nessa porcentagem irredutível de casos e relatórios para os quais não se encontram explicações. A primeira dificuldade é que as condições de observação não costumam estar experimentalmente controladas, já que as aparições de UFOs são repentinas e breves. Outra dificuldade está no fato de que esse resíduo, embora significativo, é heterogêneo e variado. Vale dizer que os relatórios admitem diversas explicações, como a chamada “ilusão do resto” ou, mais propriamente, “falácia do resíduo”, que atribui ao conjunto de relatórios uma só natureza, supondo um único fenômeno. Aqui se insere uma questão semântica, de como os fenômenos catalogados como UFOs se definem pelo que não são — ou seja, não identificados — ao invés de serem vistos pelo que são ou poderiam ser em realidade.
Interessante esse detalhe. Poderia estar aí uma das chaves para a tentativa de compreensão do Fenômeno UFO? Eu acho que sim. Esta é a essência ou núcleo da questão: elucidar as informações e definir a raiz do assunto, e não confundi-las ainda mais em um grande aglomerado de coisas simplesmente não identificadas.
Para você, a Ufologia é uma ciência? Ela pode ser vista e entendida como de fato é: uma disciplina científica. Mas não se trata propriamente de uma ciência, porque não está construída sobre um saber, um conhecimento epistêmico, ainda que se possa empregar os procedimentos e ferramentas científicas. Assim, é necessário instruir-se sem temor sobre métodos e técnicas. Não se pode invocar a ciência sem se valer de suas leis e instrumentos. De qualquer forma, essa pode não ser a única via. Por exemplo, a fé mantém seu saber baseada na revelação, combinando distintas fontes, ao mesmo em que certas culturas antigas construíram conhecimentos com base em outros paradigmas, outros modelos explicativos acerca do mundo, da realidade e dos fenômenos da natureza. No entanto, para nossa cultura tecnológica, a hipótese extraterrestre é a mais inconsistente quanto às evidências.
Como assim, a Ufologia é matéria de fé ou de fato? Veja, a ciência não nega que os UFOs possam ser naves alienígenas, que viajem no tempo ou que venham de universos paralelos. Em todo caso, quem defende essas possibilidades ou suposições são exatamente os que deveriam oferecer provas a seu favor. O que vemos aqui é que o papel se inverte. Ainda assim, tais presunções se chocam com a circunstância de que nenhuma dessas ideias está demonstrada no marco da ciência, por mais atraente que sejam. Ingressam no campo da fantasia ou da especulação científica. Talvez, em um futuro, o avanço do conhecimento — sempre dinâmico — nos permita ponderá-las seriamente. Quem sabe, nessas percepções, possamos observar uma realidade que hoje escapa à nossa compreensão e para qual ainda não temos resposta. Essa ideia é fascinante e nos permite observar um cosmos palpitante de vida. Dessa forma, a Ufologia poderia orientar-se até os confins do conhecimento, mas por enquanto está situada no dilema entre ampliar os limites da ciência ou prescindí-la.
Há anos você decidiu reinvestigar antigos casos ufológicos, agora com uma nova ótica, desagradando alguns colegas. Que tipo de objeções recebeu deles? Ocorreu algo paradoxal. Muitas vezes, as manifestações vinham daqueles que sustentavam febrilmente que qualquer narração insondável, qualquer avistamento inusitado ou qualquer objeto com milhares de anos seja uma marca deixada por extraterrestres. E se incomodaram quando decidi reinvestigar certas ocorrências ufológicas, que já eram dadas como provas incontestáveis da presença extraterrestre. Quer dizer, eles querem mesmo é que certas ocorrências fiquem fora de discussão, intocáveis e imaculadas, para que continuem respaldando determinada teoria ou crença. Naturalmente, as objeções revelam certa ingenuidade, pois não advertem que há componentes técnicos e científicos invariáveis através dos tempos — como exames químicos, informações meteorológicas, eventos históricos que foram documentados etc.
É nessa área que entra a análise das testemunhas com essa nova ótica que você vem usando? Sim. O valor da testemunha também tem sido muito reestudado. A psicologia experimental esclarece como a memória se modifica com o passar do tempo e afirma que as maiores variações são justamente as produzidas em curto prazo, assim que o evento foi produzido. Em outras palavras, as impressões mais significativas não se alteram substancialmente no transcorrer do tempo. Inclusive, superado o transe inicial e afastadas da exposição à mídia, muitas testemunhas se permitem refletir sobre os fatos protagonizados, indagá-los por seus próprios meios e oferecer um relato mais realista. Em suma, percebe-se que as críticas que recebi se relacionam mais com as conclusões a que cheguei em alguns casos, quando eram desconfortáveis para aqueles que defendiam sua estranheza com uma análise muito superficial, sem método nem perícia.
Qual testemunho de ocorrência ufológica é o mais válido, aquele que se obtém imediatamente após o fato ou o de décadas depois? Antes é preciso ressaltar que não é o mesmo que se lembrar de um fato trivial ou insignificante, como seria a percepção de uma luz no céu, em comparação com o encontro com um ocupante de uma nave. E me refiro a este segmento de casos em minhas análises. Mas, para responder sua pergunta, digo que a força de um testemunho não tem a ver com o tempo transcorrido, e sim com a solidez, consistência e estabilidade das manifestações — somadas, claro, aos elementos que creditem ou abonam o relato. Exemplificando, se a testemunha se recorda do estado do céu no instante da observação e podemos verificar isso em cartas astronômicas ou previsões meteorológicas, é um bom indício. Ou ainda, se é possível comparar de maneira minuciosa duas ou mais versões emitidas do mesmo caso, e até de outros, podemos valorizá-los bem melhor.
Mas o passar dos anos não pode diluir o fato na memória da testemunha? Seguramente, o que se perde com o tempo é um fragmento importante da cena, como por exemplo, a eventual manifestação de efeitos físicos, que depois desaparecem, como rastros e marcas. Porém, em episódios de encontros ou contatos com seres extraterrestres, o sujeito — que chamamos de “perceptivo humano” —, mais do que testemunha, geralmente tende a obter e a desempenhar um papel de protagonista. É aí que as formas de exploração psicológica, por meio do psicodiagnóstico e das entrevistas clínicas, adquirem importância fundamental. De modo ilustrativo, a testemunha pode ser comparada a um instrumento de medição, no qual é preciso estabelecer a fidelidade da transmissão em função das circunstâncias da observação, de suas capacidades intelectuais, disposição anímica e emocional, além da cultura e do meio social em que está imersa.
Qual é sua opinião sobre três grandes clássicos argentinos, o Caso Peccinetti Villegas e o Caso Vidal, ocorridos em 1968, e Caso Villa Bordeu, de 1973? Estes são casos paradigmáticos, com os quais se pode aprender muito. Na oportunidade, publiquei informes sobre eles no texto Los Identificados [Os Identificados], que está no site Marcianitos Verdes [Endereço: http://marcianitosverdes.haaan.com]. Sobre o Caso Peccinetti Villegas, pude entrevistar testemunhas no mesmo ano, em 1968, quando supostamente ocorrera o encontro com uma nave e vários seres, em plena cidade de Mendoza. Entretanto, foi somente após vários anos que consegui reunir elementos suficientes para esclarecer o polêmico incidente, que ficou no ar para toda a população argentina. Em síntese, consegui comprovar a fragilidade dos relatos e concluir que os testemunhos não tinham credibilidade.
E o Caso Vidal? Ah, o Caso Vidal, um dos primeiros relatos argentinos de teletransporte, supostamente ocorrido na Rota 2, em Mar Del Plata, é resultado apenas de um esquema publicitário do filme Che, OVNI [1968]. Foi idealizado por um jornalista amigo dos cineastas, segundo me explicou o próprio diretor Aníbal Uset muito depois daqueles rumores impossíveis de se revelar em 1968, quando se formou o famoso episódio. O suposto caso envolveria um casal de sobrenome Vidal, nome inspirado em Coronel Vidal, localidade próxima aos acontecimentos. Enfim, uma fraude total muito bem explicada [Veja detalhes no box desta entrevista].
E o Caso Villa Bordeu? Bem, ele seria a suposta abdução de um caminhoneiro chamado Dionisio Llanca, ocorrida em 1978, em Villa Bordeu, nas imediações de Baía Blanca, que também teve aspectos espetaculares. Logo que ocorreu apontei indícios de uma provável mistificação e tracei várias hipóteses convergentes, que dei a conhecer imediatamente aos colegas pesquisadores argentinos — dos quais recebi comentários grosseiros e até absurdos, que não respondi. Com os anos, até os profissionais médicos e psicólogos que participaram inicialmente da investigação ficaram em silêncio — mesmo os que haviam difundido e defendido as supostas informações terminaram rejeitando o valor do testemunho de Llanca, reconhecendo a fragilidade do caso e admitindo erros primários na administração das “provas”.
Um de seus críticos foi Oscar Galíndez, que começou a publicar uma série de artigos para contradizer sua investigação sobre outro episódio, o Caso Trancas, de 1963, em Tucumán. Acha mesmo que este acontecimento foi uma manobra militar, como você disse na época? Com certeza. Meu informativo Caso Trancas: Un Clásico Ha Caído, publicado no boletim Investigando, de 1992, explica detalhadamente todas as alternativas do caso. Considero ter chegado a um ponto final sobre o episódio, a polêmica acabou. Os argumentos de Galíndez deveriam enriquecer esses detalhes, sendo um motor de ideias, mas chegaram tarde e parciais. No meu ponto de vista, ele faz uma extensa, confusa e debilitada defesa do caso, dando-me a impressão de estar fundada em motivos afetivos. Por mais que renegue, seus artigos são baseados somente em um testemunho, justamente o que produz a mais bela narração dos fatos.
O valor da testemunha também tem sido muito reestudado. A psicologia experimental esclarece como a memória se modifica com o passar do tempo e afirma que as maiores variações são justamente as produzidas em curto prazo, assim que o evento foi produzido.
Como você concluiu que era farsa? Qualquer ufólogo que atuasse com imparcialidade, observaria uma discrepância nos relatos — o que é comum quando se trata de testemunhos múltiplos — e não deixaria passar despercebido o movimento de tropas militares naquela mesma noite pela região. É positivo que a publicação de meu artigo tenha impulsionado Galíndez a fazer novas entrevistas com os supostos protagonistas, ainda que sem êxito. Mas o ponto negativo foi ele não ter escutado as gravações completas de minhas entrevistas com as testemunhas, e não vacilar em pré-julgar como foram realizadas. Ele evitou as provas que apresentei porque a verdade muitas vezes desagrada…
Como você aconselharia um jovem apaixonado por Ufologia, mas que já está convencido de que todos os UFOs são extraterrestres? “Não se pode ensinar nada a uma pessoa, somente ajudá-la a encontrar uma resposta dentro de si mesma”, dizia Galileu Galilei. Em todo caso, proporia que questionasse as ditas certezas da Ufologia, o que já seria um bom começo, um excelente exercício da razão. Ter a mente aberta não quer dizer que se deva ir cegamente por ela. Há várias décadas, eu mesmo comecei buscando provas de naves extraterrestres, e com os anos isso se transformou na busca pela verdade, qualquer que fosse ela. Nesse sentido, a realidade é mais interessante do que a fantasia, ainda que nem sempre acompanhe o desejo e nem cause o mesmo fascínio. Em meu caso, a relação com a realidade se manteve bem definida e meu primeiro trabalho de investigação, em 1966, consistiu em reunir informações sobre falsas interpretações do Fenômeno UFO. E o segundo, sobre uma onda de avistamentos do ano de 1967, produzida em grande parte da Argentina por uma chuva de meteoros.
De todos os casos que investigou, qual é o que mais lhe fez duvidar da natureza extraterrestre dos UFOs e por quê? Cada informação cria interrogações que, como tais, precisam de respostas. Às vezes as dúvidas persistem porque não há dados ou parâmetros para determinar a natureza do fenômeno, seja pelas condições da observação, como tempo e distância, ou por ser a testemunha ocasional, que não sabe ou não pode transmitir com precisão as características do objeto observado. São limitações que mantêm as circunstâncias nessa margem de incertezas que guarda o mistério.
Atualmente, o que você destacaria na pesquisa ufológica de seu país? Hoje destacaria o trabalho de todos aqueles que são mais tolerantes com os fatos, que não levantaram barreiras para os que não pensam da mesma forma. Aqueles que entendem que a pesquisa está tentando deixar claro o que não se sabe, em vez de que um UFO seja algo conhecido. Aqueles que entendem que a Ufologia não deve ser transformada em um dogma. Mas, em um desafio para a nossa ignorância.
Nesse cenário, qual é o futuro da Ufologia Argentina? Atualmente, observo uma grande difusão do tema na Argentina e em todo o mundo por meio da internet. Entretanto, devemos notar que a quantidade de informação parece estar substituindo as ideias, como qualificou recentemente o biógrafo, professor e jornalista Neal Gabler ao jornal The New York Times. Essas mesmas ideias seriam capazes de mudar a forma de pensar e ver o mundo. Também está no auge uma cultura cada vez mais visual na internet, que inclui uma subcultura ufológica — há circulando uma infinidade de imagens de supostos UFOs, que na verdade são erros de interpretação, que acabam sendo motivo de piada e ficam sem investigação. Contudo, esses períodos acabarão se esgotando por si mesmos. Acredito que jovens entusiastas estarão preparados para produzir no futuro uma mudança nas investigações da presença alienígena na Terra.
Poderia nos dizer quais ufólogos de seu país merecem seu destaque? Todos aqueles que atuam com honestidade e cultivam sua mente. Contudo, desejaria mencionar os que merecem, em meu ponto de vista, uma especial referência, como Pablo Michalowski, Arial C. Rietti, Eduardo Azcuy, Enrique Ferráz, Jorge Milberg, Omar Pagani, Guillermo Roncoroni e Miguel Gauto. E também outros que, mesmo não compartilhando de todas as suas ideias, estimularam a evolução do espírito, como Manuel Valverde e Agapito Millán. Eles deixaram sua marca.
Quem são suas principais referências na Ufologia Mundial? São os inovadores na área, mas também tenho admiração por nomes alheios à pesquisa ufológica, como Carl Jung, Thomas Kuhn, Paul Feyerabend, Konrad Lorenz e muitos outros que moram em minha biblioteca e marcaram minha pesquisa. Na área ufológica citaria Aimée Michel, Jacques Vallée e Hilary Evans, que estão entre as minhas mais principais preferências.
Você já viu algum UFO? Sim, tive várias oportunidades, em Buenos Aires e em Córdoba. Mas somente duas ou três delas resultaram em experiências que eu chamaria (de) extraordinárias — foram observações de objetos e luzes com aspecto e comportamento incomum. Mesmo que não saiba a natureza desses fenômenos, o interessante é que me levaram a reformular muitas hipóteses. Pude compreender melhor as mudanças emocionais, cognitivas e, ainda, espirituais que permeiam os testemunhos de UFOs.
Com o passar do tempo, parece que uma maior quantidade de céticos passa a acreditar na pesquisa ufológica. Pode explicar esse fato? Não sei se isso ainda se dá na atualidade, mas ocorreu realmente há algum tempo com toda uma geração de ufólogos, muito deles notáveis e ligados aos métodos e ao saber da ciência em um contexto tecnológico e astronáutico. Mas o assunto ainda é muito comentado em jornais e revistas sensacionalistas, com opiniões emanadas de tolos das mais variadas matizes, oscilando entre mercantilistas e falsos místicos, além de livros carentes de sensatez. Não é difícil induzir nas pessoas crenças em torno dos UFOs com a avalanche de notícias, filmes e personagens que afirmam sua própria existência ET. Todavia, muitos desses jovens tiveram uma instrução formal, amadureceram suas ideias e julgaram os fatos por si mesmos de modo mais rigoroso.
Seguindo o mesmo raciocínio, autores como o francês Michel Monnerie, que preparou o terreno para a introdução de um modelo psicossocial para os UFOs, contribuem para tentar estudar cientificamente a Ufologia. Monnerie estudou relatos de observações ufológicas e concluiu que há muitas distorções neles. Para ele, como a testemunha não entende o que se passava diante de seus olhos, a hipótese daquilo ser um UFO é a mais provável. O que você pensa disso? Não é por acaso que os franceses propuseram um modelo psicossocial para enquadrar o Fenômeno UFO, já que eles sempre tiveram uma visão humanista da ciência. Os trabalhos de Monnerie são posteriores a vários ensaios que fiz na mesma direção, ainda que não tivessem a mesma difusão. São dele, por exemplo, Et Si Les OVNIs n’Existaient Pas? [E se os UFOs não existirem?, Humanoides Associés, 1972] e o epitáfio da Ufologia Le Naufrage des Extraterrestres [O Naufrágio dos Extraterrestres, Editions Rationalistes,1979]. Lembro-me de uma vez que me chamaram de “psicologista”. Mas não se tratava de reduzir o pensamento a uma só disciplina, pois a testemunha — protagonista dessas histórias — intervém poderosamente nos relatos.
Como assim? É que por meio de sua psique a testemunha percebe, interpreta e transmite os fatos. “O testemunho é o instrumento de precisão”, dizia J. Allen Hynek, que também deve ser estudado. Assim, é fundamental estabelecer a qualidade do observador. O chamado modelo psicossocial se adequa melhor aos padrões da ciência, porque pode ser examinado e posto à prova. Em vez disso, a Hipótese Extraterrestre (HET), mencionando a mais popular, é inacessível, baseada em suposições e crenças não verificáveis.
Você quer dizer que o observador ajustaria automaticamente sua visão em concordância com o que sabe ou conhece do fenômeno? Sim, isso é fato. A investigação psicológica, e ainda fisiológica, assim o demonstra. A percepção é um ato psíquico, no qual intervém a memória, a associação, o conhecimento prévio e a cultura. Trata-se de um processo imediato em que o estímulo registrado pelos sentidos se adequa conforme nossa experiência — e sabemos que existe um saber popular sobre o fenômeno, principalmente fundado na difusão alcançada na era tecnológica.
Defina a frase de Monnerie: “Não é um avião, não é um balão, será um UFO”? Essa frase parece um processo de eliminação: tenta-se educar a visão para algum objeto conhecido e, quando não se consegue, o UFO resolve a incerteza. Existe alguma ansiedade por uma explicação — e assim se construíram os grandes mitos da humanidade.
Tratar desta vertente da pesquisa ufológica é impossível sem falar de Carl Jung. Para Jung um arquétipo é algo que a psique reproduz de forma inconsciente na vida, ou seja, que o mito se apodera do homem e não o contrário. Está de acordo com esta concepção? As teorias de Jung apresentam muitas arestas do que se pensa. Ele vai além da ciência para cair em cheio no campo do ocultismo, da mitologia, entre outros. Nessa descrição, vê-se expressada uma intuição, uma percepção coletiva com suas raízes obviamente arquetípicas. Pode-se aderir ou não à formulação junguiana sem reservas. Ele apresenta um modo de ver e interpretar a realidade que nos convida a aprofundar seriamente áreas que muitos relegam ao imaginário.
Até onde você acha que os meios de imprensa, especialmente rádio e televisão, utilizam o tema UFO pensando em suas necessidades próprias, com o objetivo de ter audiência ou ganhar dinheiro? A mídia utiliza o tema ufológico com fins ilegítimos com frequência. São pouquíssimos os veículos que o fazem sem fins lucrativos. Lembro-me de uma ocasião em que Eliseo Castiñeira de Dios, um dos mestres do jornalismo argentino, disse: “Em muitos casos sabemos que a informação não é séria, não é genuína, mas é uma informação de que o leitor necessita. E como a ciência sempre atrai por algum motivo, discos voadores sempre serão notícia. Se o fato narrado ocorreu ou não, não importa, pois nos possibilita sair um pouco da rotina informativa e entrar em outros assuntos, que façam com que as pessoas pensem, sonhem ou se comovam. Este é o motivo fundamental de nossa profissão, comover os outros com algo para que sua passagem por este mundo seja mais interessante”. Em suma, é perfeitamente aceitável que os veículos de comunicação utilizem o tema — eles fazem o mesmo com o futebol ou qualquer outro assunto.
Cada informação cria interrogações que, como tais, precisam de respostas. Às vezes as dúvidas persistem porque não há dados ou parâmetros para determinar a natureza do fenômeno, como pelas condições da observação, tempo e distância.
Você considera possível que a mídia tenha criado artificialmente os UFOs desde sua origem? A resposta não é muito simples, ainda que convenha destacar que a fenomenologia ufológica subsista independente da ação dos meios jornalísticos. Em rigor, sempre aconteceram casos estranhos nos céus, mas, a partir de determinado momento, em junho de 1947, a história dos UFOs começou a se espalhar mais. O fato é que um episódio permite dar um nome a algo que até então era anônimo, de aparências inomináveis, e que por si mesmo parecia não existir. Ou seja, não existiam porque ainda não tinham um nome. A partir de um nome, como o termo disco voador, estas coisas adquiriram identidade. Isso aconteceu quando um jornalista interpretou a descrição do piloto civil Kenneth Arnold, de nove objetos brilhantes sobre o Mount Rainier, em Washington, e os batizou de pratos voadores [Flying saucers], de onde vem a expressão discos voadores. Desde então, qualquer objeto incomum visto nos céus dos Estados Unidos e do mundo todo vem sendo assim designado. É plausível aceitar que os meios tenham influenciado e continuem criando artificialmente, entre as ocorrências reais, muitas ondas de avistamentos — mas não inventaram a questão ufológica em sua gênese.
Em que medida ocorre a influência da imprensa em temas como abduções, visitas de dormitório, agroglifos e contatos diretos com ETs? Ocorre de forma decisiva, sem dúvida. De um modo muito geral, pode-se afirmar que os meios jornalísticos, longe de informar, moldam opiniões, estimulam a imaginação e interferem na percepção. Todos os temas citados encontram conexão em suas naturezas extraordinárias. Logo, é a única explicação que resta e interessa para prolongar o suspense. Como qualquer notícia, a publicação de um caso ufológico na mídia gera a produção de fatos similares, como uma propagação às vezes natural e espontânea. Isso é estudado pelo que conhecemos como “psicologia do rumor”.
Mas essa influência explica suficientemente o Fenômeno UFO? De maneira alguma. Ela faz parte inevitável do Fenômeno UFO, mas não forçosamente de sua essência, do núcleo do assunto — é o “ruído” que acompanha as verdadeiras observações. Mas negar ou minimizar o papel dos meios no desenvolvimento desse fenômeno incomum é perder de vista a magnitude e complexidade do problema.
Fale um pouco sobre seu modo de interpretação das abduções. Os casos de abdução, ou sequestro, constituem os mais interessantes registros dentro dos encontros com UFOs e entidades pela abundância de dados testemunhais altamente estranhos que podem ser recolhidos. Foi este tipo de informações que durante muito tempo permitiu supor que chegaríamos à confirmação da procedência extraterrestre do fenômeno. Mas a complexidade aumenta na medida em que nos aprofundamos no mistério. Mostrando inocultável interesse pela espécie humana, os seres descritos pelas testemunhas de abduções alienígenas se apoderam impunemente delas para conduzi-las a outro local, onde são retidas e submetidas a vários exames físicos. Curiosamente, os ufólogos adotaram o termo “síndrome de abdução pós-traumática” para se referir a um conjunto de sintomas de causa desconhecida ou indeterminada que costumam se observar nas pessoas que asseguram ter sido vítimas de um sequestro. Ou seja, como consequência de tais experiências, é produzida uma situação traumática que pode estar acompanhada de manifestações somáticas nas testemunhas.
Você crê que a própria vítima possa ser parte de uma fantasia de natureza inconsciente que desencadeie relatos de abdução? Em síntese, o episódio traumático se situaria em uma instância prévia no inconsciente da vítima, muitas vezes arcaica, sendo seu relato uma tentativa do inconsciente como via de representação e resolução do trauma.
Como então investigar casos de abduções alienígenas que possam ser reais? Um dos recursos dos ufólogos, mediante o qual se pretende dar status de realidade aos relatos, é o emprego da hipnose regressiva, sob o pressuposto de que os testemunhos guardem recordações que foram ocultadas da sua memória consciente. Não vamos nos estender sobre o assunto, mas é preciso fornecer alguns detalhes. As declarações dadas pelos experienciadores neste estado podem revelar a verdade concebida por eles, o que nem sempre coincide com os acontecimentos. Não é por acaso que confissões ou declarações realizadas sob hipnose não sejam tomadas como válidas em tribunais, como tampouco as que se produzem com o estímulo de qualquer tipo de droga. O valor desses procedimentos tem sido muito questionado, pois comumente se admite que em estado de sono, inconsciência ou semi-inconsciência não há garantias de que o exposto pelo sujeito seja real.
Não se pode ensinar nada a uma pessoa, somente ajudá-la a encontrar uma resposta dentro de si mesma’, dizia Galileu. Ou seja, questionar as ditas certezas da Ufologia já seria um bom começo.
No histórico de casos de encontros e sequestros por alienígenas, podemos observar percepções interiores de coisas projetadas ao exterior. Como se dá isso? Ocorre quando pessoas fazem narrações como algo extraterrestre daquilo que na realidade é intra-humano. E como é sabido que os UFOs, além de serem vistos, são sonhados, eles irrompem como parte de algo fora do fenômeno e até da estrutura do tema. Esses relatos são de singular importância, já que, pela estranheza do conteúdo, há episódios com alto conteúdo simbólico que guardam uma estreita relação com a vida das testemunhas e o seu redor. Não obstante, sabemos que muitos dos abduzidos agem de boa-fé e que viveram realmente suas experiências de forma aterradora. Seus relatos não tratam de simples avistamentos anacrônicos, há neles um forte compromisso afetivo e um notório protagonismo.
Muitas vezes as abduções alienígenas se assemelham a outros tipos de experiências místicas. O que nos diz a respeito? As semelhanças entre as abduções e outras experiências extraordinárias, como as de quase morte, viagens extracorpóreas, transes psicodélicos ou ritos xamânicos, estão na psiquê humana. De fato, existe nas abduções uma dimensão psíquica marcante que é vivida, em muitos casos, como essencial — os experienciadores sentem que suas vidas mudaram profundamente e que nada voltará a ser como antes. Apesar das diferenças formais, essas experiências têm em comum o fato de consistirem no que chamamos de “viagens de iniciação”, fazendo-nos suspeitar que sejam manifestações distintas do mesmo universo e, portanto, alternativas ao mesmo tipo de transformação psicoespiritual. É revelador considerar as abduções de um ponto de vista simbólico. Examinando esses relatos, é possível achar uma estrutura seguida de uma transfiguração na vida de seu protagonista, adotando a representação de morte e ressurreição sucessivamente.
Inevitavelmente uma abdução pode gerar uma transformação na vida das testemunhas? Praticamente, os símbolos da abdução aludem a uma transformação, como energias criativas capazes de mudar a realidade. A viagem mítica tende à restauração de uma ordem, é circular, volta ao começo. Quando analisamos os relatos de abduções alienígenas, podemos encontrar figuras de transformação, de grandes mudanças, correspondente à passagem de um estado para outro. Como sabemos, o homem não nasce realizado — ele deve cumprir um esforço que o leve à sua evolução pessoal. Por isso, os ritos de iniciação se referem sempre a mudanças de consciência. São ritos de passagem que adotam, em consequência, a representação da morte e o novo nascimento.
As abduções são um exemplo de “ritual de passagem”, como se diz na psicologia contemporânea? O conteúdo dos relatos de abdução gira em torno do que chamamos de “aventura do herói” ou do tema da iniciação — há nestes casos um cativeiro, um sofrimento e o triunfo. É sempre a saída do tempo e do espaço, a estada em um lugar que pode ser entendido como maravilhoso e, por sua vez, também um lugar de perigo — o contato com o além, com o proibido. Cumpre-se o cruzamento de um limite com suas instâncias de separação, iniciação e retorno. A aventura do herói adquire um significado psicológico individual como uma tentativa de descobrir e afirmar a personalidade, para buscar a autonomia relativa às condições originárias da totalidade.
As semelhanças entre as abduções e outras experiências extraordinárias, como as de quase morte, viagens extracorpóreas, transes psicodélicos ou ritos xamânicos, estão na psiquê humana. De fato, existe nas abduções uma dimensão psíquica.
Também há referências nos cenários de abdução a situações que lembram o nascimento de uma pessoa, não é verdade? Em 1975, ao adentrar na investigação dos objetos não identificados, elaborei uma hipótese referente à natureza psicológica da abdução. O estudo de numerosas informações corroborariam interessantes descobertas, como o fato de que grande número de relatos nos remetem a cenários perinatais [De pré a pós-natais]. Isso é, em torno do momento do nascimento ou do desprendimento da criança do corpo materno. Recorrendo à análise do sujeito, de seu histórico e do relato ufológico que produz, achamos entre ambos os aspectos um estreito vínculo. Em suas narrativas encontramos elementos que correspondem à representação do útero materno, onde se aloja o novo ser que está para nascer. Isso pode inferir que se trata de um modo de dar cena à angústia que emerge daqueles testemunhos, o eixo central dos relatos. Numerosas histórias de abdução contêm essa problemática, encoberta e camuflada em um relato ufológico que parece fazer “reviver” essa experiência natal. É o dualismo abdução-adução, ou união-desunião.
Então o nascimento constitui um modelo universal nos seres humanos? Parece que sim, como um protótipo da angústia primogênita na separação do corpo materno, como efeito do complexo de castração ou ruptura de um laço imaginário. Esse estado de angústia remete a uma falta, a uma interrupção, e provém de uma situação traumática cuja exteriorização podem ser relatos do gênero ufológico. Tais fantasias são estruturas universais que a psicanálise reconhece como “organizadoras do psiquismo”. Consistem em dar forma sensível ou reproduzir com imagens as coisas passadas — são, antes de tudo, os sonhos diurnos, cenários, episódios, novelas, ficções que o sujeito forja inconscientemente e narra a si mesmo. Assim como os mitos coletivos que remetem às origens, são uma tentativa de representação e uma solução dramatizada. Para o sujeito, aparecem como um grande enigma, como princípio de uma história, que se apresenta a ele enquanto uma realidade exigente de explicação.
No entanto, não há dúvidas de que o relato de uma abdução revela uma experiência traumática. Correto. Como toda recordação, o trauma é sempre encobridor e se configura deste modo: angústia, perigo e desamparo. É assim que os experienciadores se sentem. Além disso, existem outras características comuns, como a impossibilidade de se esquecer do fato, estresse físico, sonhos e outras fantasias que repetem o ocorrido — às vezes se refletem no corpo como sintomas somáticos. No final das contas, as narrações de abdução não se distinguem de outros episódios menos fantásticos — e não menos interessantes — vistos em clínicas. Inclusive, com bastante frequência, acontecem perto de seu habitat, e muito especialmente no dormitório da pessoa.
E o que nos diz sobre as chamadas visitas de dormitório, segundo as quais entidades extraterrestres estariam fazendo incursões nos ambientes em que vivem as vítimas, e não apenas em supostas naves? Não é estranho que tais fatos ocorram ali, pois é no quarto onde se efetua a atividade de dormir, onde se sonha e onde ocorre a enigmática e obscura relação do homem com seu inconsciente.
A natureza desse fenômeno permite formular algum modelo que ofereça descrição única sobre as causas e motivações que se ocultam atrás de relatos de abdução? É necessário um estudo específico de tais experiências, caso a caso e de maneira muito meticulosa. Não obstante, é plausível admitir a existência de um importante conjunto de informações a respeito das abduções alienígenas, cujo exame empreende certa e significativa adequação do modelo proposto.
Mas isso não significa negar a realidade das abduções alienígenas, não é? É importante sublinharmos isso para que nossos leitores compreendam. Sim, claro. Longe de minimizar os casos do gênero, buscamos, a partir de uma visão humanista, a continuidade de seu estudo, da pesquisa ininterrupta de tais possíveis acontecimentos. Esses relatos fabulosos, sobreimpressos à existência real e concreta, são uma oportunidade excepcional para compreendermos a vasta realidade humana. Tomados como símbolos, falam-nos da interioridade do homem, de sua capacidade criadora, de seu nascimento e renascimento, de seu sentido de fundo religioso, permitindo intuir algo superior que toque o mistério cósmico. Verdade ou fantasia, a polêmica continua, e talvez isso nem seja importante diante do significado que as abduções encerram. O valor é adquirido conforme se conduz o homem a voltar a olhar para si mesmo e, como mito vivo que é, a propor um caminho de transformação psicoespiritual.
Os UFOs não existiam porque ainda não tinham nome. A partir de um nome, como o termo disco voador, estas coisas adquiriram identidade. Isso aconteceu quando um jornalista interpretou a descrição de Kenneth Arnold, de nove objetos sobre o Mount Rainier.
Ou seja, o estudo das questões mais profundas da Ufologia, como as abduções, pode ser algo da natureza humana? Sim, há aí algo que nos está avisando a respeito desse maravilhoso universo que é a mente humana: a imperiosa necessidade por transcender, por achar uma resposta sobre nossas origens. Estão aqui as perguntas fundamentais da filosofia. A manifestação de fenômenos ufológicos, cuja referência comum é o céu e a luz, fiéis a uma intencionalidade de inocultável sentido sagrado e cósmico, suscita no homem uma série de questões. A resposta a essa interrogativa é conhecer, e em todo novo conhecimento o homem nasce e renasce.