“Elimine o impossível. O que sobrar, será a verdade”
Passavam das 03h00 e Dona Celi perdeu o sono. Levantou para tomar um copo de água e, pela janela, viu luzes fortes movimentando-se de forma irregular pelo céu. Ela permaneceu firme, sem medo, pois não era a primeira vez que o sítio onde mora se iluminava com objetos voadores não identificados.
Em outra oportunidade que o fenômeno aconteceu, ruídos estranhos acordaram a aposentada na madrugada quieta do interior. Convidou então oito estudiosos da Ufologia para uma vigília.
O relógio marcava 02h40 da manhã e o grupo foi surpreendido por uma seqüência de nove aparições. Rafael Amorim, que também participava do encontro, afirmou que não se tratavam de satélites ou aviões, muitas vezes confundidos com UFOs. “Os satélites podem ser vistos até as 22h30 em virtude da curvatura da Terra e aviões possuem outra característica de luminosidade”, explanou.
Amorim fala com a propriedade de quem estuda o Fenômeno UFO há mais de 20 anos. É consultor da Revista UFO, presidente do Núcleo de Estudos Ufológicos de Santa Cruz do Sul (NEUS), diretor do Movimento Gaúcho de Ufologia (MGU) e membro da Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU).
O publicitário era criança quando saiu da cidade de General Câmara (RS) e foi morar em São Paulo. Num final de tarde, viu algo “grande, bonito e quadrado” passar sobre sua casa, no bairro Pinheiros. Muitas pessoas, na época, acreditavam que o objeto fosse fruto da imaginação. “Saí do interior do Rio Grande do Sul para um grande centro e poderia ter me vislumbrado com um balão, por exemplo”.
Mas a notícia de um UFO nos céus da cidade estava estampada nos principais jornais do dia seguinte. “Várias pessoas também viram o que eu vi”. O menino cresceu, mudou-se de São Paulo, mas continuou avistando coisas no céu. Sua inquietude o motivou a criar um grupo de estudos, o NEUS, que já acumula mais de 1.000 documentos sobre aparições nos céus da região do vale do Rio Pardo, do Brasil e do mundo.
Diferentemente da dona Celi, que acredita que as aparições sejam de seres extraterrestres tentando uma comunicação com os seres humanos, Amorim sabe que nem tudo que aparece no céu é, necessariamente, uma nave pilotada por alienígenas. “Pode ser, mas é preciso primeiro analisar o fenômeno. Bandos de aves, aviões clandestinos e até balões podem ser facilmente confundidos com UFOs e são, inclusive, assim classificados nos radares da Força Aérea”, disse.
Calota de Volkswagen
Para o ufólogo, uma dose de ceticismo é necessária, quando se trabalha com Ufologia. “Recebemos uma foto de um objeto cilíndrico no céu, aqui em Santa Cruz. A nitidez impressionava. Quem nos enviou o material dizia que o diâmetro do disco chegava a cinco metros. Quando analisamos, percebemos que se tratava de uma calota de um automóvel, jogado para cima e fotografada antes de atingir o solo”, contou sorrindo.
Ele defende a investigação séria dos fenômenos, com embasamento científico. Em poder do NEUS há documentos de todo o tipo, inclusive secretos, liberados recentemente pela Força Aérea Brasileira (FAB), datados de 1969, que acredita servirem para o começo de um estudo mais aprofundado. “Temos que entender que 80% do meio ufológico é composto de gente problemática”, alertou.
O pesquisador disse que a grande maioria da população não possui conhecimentos básicos de astronomia, o que prejudica a compreensão dos fenômenos. “Podemos ver, a olho nu, vários planetas e muitas pessoas confundem o brilho desses planetas com atividade aeroespacial”.
Enquanto os fenômenos continuam aparecendo na região, pesquisadores vão seguindo a máxima de Scherlock Holmes. Eliminando o que é impossível. O que sobrar – por mais improvável – será a verdade sobre esses objetos que insistem em brilhar no céu do Vale do Rio Pardo.
O dono da chave do cofre da Força Aérea
“Nenhum governo sério divulgará conhecimento que gere ameaça externa à segurança da nação, seja militar, política, econômica ou social; violação da privacidade dos cidadãos; violência interna de qualquer natureza; pânico na população.” (José Carlos Pereira)
Ele é o brigadeiro José Carlos Pereira, ex-presidente da Infraero, responsável por todas as atividades da Força Aérea – inclusive do sistema de Defesa Aeroespacial – e já viu fenômenos para os quais não encontrou explicação. Ufólogos afirmam que o órgão ainda mantém arquivados documentos ultrassecretos. O oficial conversou com o Unicom sobre a polêmica que envolve a existência ou não de vida inteligente fora da Terra e sobre uma ameaça que está vindo do espaço.
Existem arquivos secretos sobre UFOs em poder da Força Aérea? Existiram arquivos secretos sobre UFOs, no entanto, foram integralmente desclassificados como sigilosos e encaminhados ao Arquivo Nacional, onde estão disponíveis para consulta pública. Posso assegurar que os documentos sob sigilo foram liberados. Quanto a relatos futuros, as ordens existentes são de divulgação rápida para o Arquivo Nacional. No entanto, ainda não apareceu um legislador capaz de prever o futuro além de projeções estatísticas ou teses abstratas.
Entre esses materiais, alguma prova material ou somente testemunhal? Não existe qualquer prova material, nem aqui nem em qualquer parte do mundo, a não ser que se considere fotos e filmagens como prova material, o que é algo altamente discutível. Recentemente alguns dos relatórios da Força Aérea foram liberados.
Qual a razão da demora dessa liberação? Durante décadas, no âmbito da Guerra Fria, qualquer acontecimento ligeiramente fora da normalidade era visto como provável atividade ou arma secreta dos soviéticos ou dos norte-americanos. Um simples vírus mutante de gripe era visto como possível arma biológica
. Até furacões e terremotos foram estudados como possível manipulação de forças naturais. Com os casos UFO, as prioridades de sigilo eram maiores, por razões óbvias. Daí a necessidade do sigilo, que perdurou por simples inércia.
No comando da Força Aérea, alguma experiência ufológica marcante? Soube de inúmeros relatos.De fato, algo em torno de 3% de ocorrências ficaram sem explicação. Pessoalmente, em 45 anos de vôo nunca presenciei algo sem explicação. Ironicamente, minha única experiência foi uma observação do solo, em Fortaleza (CE), para a qual não encontrei qualquer possibilidade de entendimento.
De que forma é possível avançar nos estudos sobre esses fenômenos? Acredito ser possível avançar na pesquisa desde que com exclusiva visão científica, eliminando-se hipóteses e explicações de natureza esotérica. Mais importante e talvez mais difícil seja eliminar interesses comerciais e publicitários.
Com tudo que você sabe, viu e ouviu: devemos nos preocupar com a segurança e paz mundial? Talvez devêssemos nos preocupar com a segurança planetária – dentro de 20 anos um asteróide perigoso estará se aproximando da Terra e ameaçando todos os povos, independente de etnia ou crença. Talvez, quem sabe, uma ameaça externa possa ajudar na união e na paz entre nós. Os UFOs podem ter importante participação nisto, quer eles existam ou não.
A sociedade está preparada para saber o que há nos documentos secretos da Força Aérea? A questão do preparo da sociedade para absorver determinada informação passa necessariamente pela responsabilidade dos governos e nenhum governo sério divulgará conhecimento que gere ameaça externa à segurança da nação, seja militar, política, econômica ou social; violação da privacidade dos cidadãos; violência interna de qualquer natureza; pânico na população. No que concerne à questão UFO, não vislumbro qualquer dessas hipóteses na divulgação dos relatos.
[Para saber mais sobre as opiniões e informações de Pereira sobre UFOs, acesse entrevista exclusiva nas edições UFO 141 e 142.]