Apesar desse caso ser muito famoso, a maioria dos pesquisadores não vê com bons olhos as informações divulgadas. Para certos ufólogos o incidente em Roswell envolveu duas naves, e não uma. A segunda teria caído nas planícies de San Agustín, no Novo México, a alguns quilômetros do local da queda do objeto em Roswell. Barney Barnett, um engenheiro de solo baseado em Socorro, desenhou a conexão entre os eventos em Roswell e um possível segundo acidente na referida planície, distante mais de 240 km. O que todos contam é que corpos de alienígenas foram encontrados nas planícies, em algum lugar próximo a pequena cidade de Magdalena.
Segundo a história contada por L. W. Vern Maltais, amigo íntimo de Barnett, enquanto este se dirigia a Magdalena, viu um flash de luz branca muito brilhante no deserto. A princípio, pensou que um avião tivesse caído e foi em direção ao local para ajudar. Lá encontrou um disco voador acidentado e corpos de alienígenas, sendo que quatro deles estavam deitados ao lado do UFO. Maltais não se lembra de Barnett ter dado uma descrição mais detalhada da nave, mas ouviu dizer que ela era metálica e gigantesca e que tinha um rombo na sua lateral, causado possivelmente no momento em que fora arremessada contra o solo. As criaturas eram pequenas, com cabeças em forma de pêra, braços e pernas frágeis, sem cabelos e com minúsculos e estranhos olhos. Todos vestiam roupas de aspecto metálico, sem botões ou zíperes.
Enquanto Barnett observava a cena, um grupo de pessoas se aproximou. Eles não tiveram tempo de examinar nada, pois o exército apareceu em seguida. Os soldados isolaram a área e disseram a todos para nunca comentarem uma só palavra sobre aquilo. J. F. “Fleck” Danley, que era o chefe de Barnett, informou que tinha ouvido a história do disco voador e acreditava que o local da queda era a oeste de Magdalena, mas não tinha certeza. Quando Barnett tentou contar-lhe o que tinha visto, não deu muita importância. Jean Maltais, esposa de Vern, envolveu a Universidade da Pensilvânia no caso. Ela teve a impressão de que Barnett comentara que os arqueólogos eram dessa universidade. O problema com relação à história é a falta de confirmações. Barnett relatou que um disco havia se acidentado no Novo México, e Danley, no entanto, disse que a localização era a oeste da cidade de Magdalena. As datas, porém, coincidiam: início de julho de 1947. Outras pessoas que puderam ter acesso ao episódio de Barnett, incluindo Knight e seu vizinho Harold Baca, não forneceram muitos detalhes.
Uma aparente confirmação de parte do relato de Barnett apareceu no início dos anos 80, quando Robert Drake, um estudante de antropologia, relatou ter ouvido uma narrativa sobre um UFO enquanto trabalhava com Wesley Hurt e Dan McKnight numa expedição arqueológica. Segundo Drake, ele viu várias trilhas de equipamentos pesados em uma gruta chamada “Bat-Caverna”, localizada ao sul das planícies de San Agustín. Durante aquela viagem, em outubro de 1947, ele, juntamente com Hurt e McKnight, tinham parado num rancho, a caminho de Albuquerque. Naquela época, Drake era interessado em pesquisas de caracóis e conversou com um cowboy. Ele lhe disse que no início daquele verão uma estranha nave tinha se acidentado em San Agustín. Os rancheiros comentaram isso entre si. Drake não sabia se o cowboy tinha visto algo ou apenas estava relatando o que havia ouvido.
Eventos desencontrados — Drake falou que Roscoe Wilmeth, um arquivista que trabalhou no Laboratório Nacional de Los Alamos, no Novo México, apareceu com alguns documentos que descreviam um acidente com um UFO, a descoberta dos corpos da tripulação e o resgate de dois deles. Wilmeth queria ver o local onde os corpos tinham sido encontrados, mas morreu antes que alguém pudesse entrevistá-lo. Outros decidiram que tal localidade se referia às planícies de San Agustín, baseado não no testemunho de Wilmeth e sim no de outras pessoas. Drake ainda foi um pouco mais longe. Em 1991, disse que conversou com estudantes que estavam em Chaco Canyon, no nordeste do Novo México, num campo de pesquisas organizado pela universidade. Drake afirmou que vários deles tinham voltado de um passeio de final de semana falando sobre uma aeronave acidentada. Foi a única coisa que os estudantes comentaram. Todas essas informações são muito interessantes, mas não vieram de uma fonte que esteve no local. Todos que contaram a história de Barnett não estavam lá no momento do acidente. A única coisa que Drake testemunhou pessoalmente foram as marcas de máquinas pesadas na areia. Wilmeth nunca teve a chance de contar a sua história e os estudantes de Chaco Canyon nunca foram identificados.
Sem uma fonte ligada diretamente ao caso, a história do acidente em San Agustín era interessante, mas inconclusiva. Se alguma coisa aconteceu naquele local, então deveria existir uma testemunha relacionada ao episódio. Se as informações que temos vêm de pessoas que escutam de outras, as chances de enganos aumentam. Acima de tudo, a localização do acidente foi originalmente determinada não por Barnett, mas por seu chefe, que acreditava que ele tivesse dito San Agustín. Mas tudo mudou no início de 1990. Gerald Anderson viu o programa Mistérios Sem Solução, transmitido pela tevê local, que mostrava os eventos acontecidos em Roswell, e ligou para lá. Anderson disse à telefonista que esteve no local e que havia presenciado tudo. Em poucas semanas estava contando sua história para vários ufólogos. Anderson tinha 5 anos em julho de 1947, mas relatou com riqueza de detalhes o episódio e disse que estava surpreso pelo fato de alguém saber sobre o acidente. Ele acreditava que os militares tinham encontrado e silenciado todas as testemunhas, incluindo membros de sua família. Vejamos seu relato:
“Nós vimos aquela coisa encravada na areia. Claro, eu era uma criança e isso não significava nada para mim, com exceção do fato de me lembrar de meu pai dizendo para sairmos dali. Mas meu primo Victor queria ver mais. Então meu pai pediu para ficarmos parados, pois aquilo poderia ser uma bomba. Havia quatro ocupantes. Três estavam embaixo da nave e um estava sentado próximo a ela, como se estivesse tomando Sol. Não estavam espalhados. O veículo tinha uma rachadura na lateral e vários fios saíam dela. Estava muito quente. Eram provavelmente 11h00. E aquela criatura estava viva…”
“Estávamos lá há apenas dois minutos e vimos um grupo de pessoas escavando ruínas… Eles eram da Universidade da Pensilvânia. Um tipo de grupo arqueológico… De qualquer forma, tinham visto uma luz na noite
anterior e pensaram que fosse outra coisa qualquer. Andaram umas três horas até chegarem ao local. Pouco tempo depois, chegaram uns militares. Havia um capitão de cabelo vermelho. Ele ameaçou todo mundo com as coisas mais incríveis que você puder imaginar. Ninguém poderia jamais abrir a boca. Disse ao meu pai que se contasse algo passaria o resto da vida numa prisão militar e nunca mais veria os filhos. Ele também me ameaçou. Disse que se eu falasse algo nunca mais veria meus pais. Fiquei muito preocupado, pois todos estavam armados e eram muito rudes. Para encurtar a história, eles fizeram todos sair do local. Algumas pessoas da universidade tinham colocado pedaços da nave nos bolsos. Durante muitos anos a minha família falou sobre isso, principalmente comigo e meu irmão”.
Delicadeza das criaturas — Desse ponto em diante, Anderson descreveu outros aspectos do caso, começando com os seres alienígenas: “Eles tinham nariz quase imperceptível. Eu não vi boca, nem sei se tinham. Acho que o que mais me impressionou foram os olhos. O tamanho e a delicadeza dos olhos. A cor era azulada. Não como os olhos dos humanos, mas parecidos com um azul leitoso. Sua cabeça era como de uma criança, mas muito maior do que o normal. Deveria haver algum problema no encéfalo. Sua pele era muito pálida e não vi nenhum cabelo pelo corpo. Eles vestiam – todos os quatro – o que pareciam ser uniformes de cor cinza, como em dois tons. Eram pequenos e as suas mãos eram finas.”
Quando perguntado se havia observado algum sinal de sangue, Anderson respondeu que a criatura, que estava viva, parecia ferida: “Ela tinha um ferimento na cabeça, como se tivesse sido arremessada contra alguma coisa na hora do impacto. Não se mexia muito, mas aparentava estar em pânico. As outras três se encontravam deitadas no chão… Parecia que a outra criatura tinha tentado ajudá-las. Estavam viradas de lado. Possuíam bandanas nos ferimentos, eu não me lembro… Sim, sim, talvez tivesse sangue”.
Anderson também deu uma descrição detalhada de onde os eventos aconteceram e onde a nave caiu. Ele disse que não foi muito distante da cidade de Socorro, próximo ao Observatório Nacional de Radioastronomia. Depois tentou ser mais preciso na localização, dizendo que eles tinham seguido de Albuquerque pela antiga Rodovia 85 [Atual Interestadual 25] e entrado numa estrada de terra antes de chegarem a Socorro. Finalmente, encontraram o ponto por onde voltariam para Magdalena, e lá viram a nave. Estava claro que Anderson estabeleceu o local do acidente como sendo ao norte da Rodovia 60 e perto da cidade de Magdalena. Existem aqui, é claro, alguns problemas. Um deles diz respeito a Barnett, que havia dito a vários amigos e à sua família que eles haviam estado no local do acidente, mas nunca mencionou que um dos seres ainda encontrava-se vivo. E embora Barnett tivesse falado sobre os arqueólogos, nunca mencionou sobre uma família com dois garotos [Veja o documentário em DVD Acidente em Roswell, código DVD-006 da coleção Videoteca UFO, no Portal UFO: ufo.com.br].
Em dezembro de 1990, Anderson deu entrevista para a revista norte-americana Springfield News Leader. Dessa vez, afirmava ter um diário escrito na época dos acontecimentos, isto é, em 1947. Ele disse ao repórter que o havia recebido no dia do funeral de seu pai, vários anos antes. Segundo o que estava escrito no diário, a família de Anderson chegou ao Novo México no dia 04 de julho de 1947 e viveu temporariamente com um tio, Ted Anderson. No dia seguinte, Gerald, seu pai, irmão, tio e primo foram para Albuquerque, no caminho das Planícies de San Agustín, a fim de procurar ágata musgo. Ted sabia que lá havia muitas dessas plantas. Apesar do diário apontar que o evento ocorreu próximo a Magdalena, Anderson afirmou posteriormente que o local estava a cerca de 1,5 km ou mais de Horse Springs, a oeste de San Agustín. Horse Springs está localizado à 100 km de Magdalena e possui 20 mil habitantes.
Estrada bloqueada — Durante a viagem, descobriram a nave e os corpos. Conforme contou Anderson, três estavam deitados na sombra, sob a nave. Dois não se moviam e o terceiro tinha problemas para respirar. O quarto encontrava-se sentado no chão e não estava ferido. Parecia que tinha tentado ajudar seus colegas. Poucos minutos depois, seis pessoas chegaram. Eram cinco estudantes e seu professor, doutor Buskirk. Eles estavam trabalhando em escavações um pouco longe dali. Como tinham visto um meteoro cair na noite anterior, resolveram seguir à sua procura. Anderson, que não se sentia muito bem, foi buscar abrigo debaixo da nave e percebeu que ela não era só fria por dentro, mas por baixo também. Era como se estivesse próximo a um freezer. Foi nessa hora que Barnett chegou. E junto com ele, uma invasão de militares.
O exército, usando jipes e caminhões, também apareceu na área do acidente. Eles já haviam, inclusive, bloqueado uma parte da estrada para que aviões pudessem pousar. No dia 21 de março de 1991, Anderson apareceu em um programa de rádio. Entrevistado por Bob Oechsler para a 21st Century Radio’s Hieronimus and Company [Companhia e Rádio Hieronima Século 21], Anderson reforçou a data de 05 de julho e falou sobre os alienígenas e a investida dos militares. Mas houve algumas mudanças no que tinha afirmado em fevereiro de 1990, e no que havia contado um ano depois. Agora, descrevendo os olhos dos alienígenas, por exemplo, ele falou que “eles eram enormes… muito pretos e grandes. Quase ovais”. E que também levou 45 minutos para que alguém chegasse ao local do acidente. Tratava-se dos arqueólogos que, segundo Anderson, vieram da Universidade da Pensilvânia. E, mais uma vez, mencionou que o líder da equipe era o doutor Buskirk. Acrescentou que havia quatro alienígenas, sendo que dois deles estavam visivelmente mortos, um muito machucado e o último aparentemente sem ferimentos.
Os dados sobre o caso parecem ser o resultado de uma série de deduções errôneas e algumas mentiras. Não existem informações sólidas de que algo aconteceu naquela área, e a única testemunha diretamente ligada ao caso admitiu ter mentido
— Stanton Friedman,físico e escritor
Todas essas entrevistas, juntamente com as informações adicionais prestadas por outros pesquisadores, apresentam detalhes suficientes para que uma investigação legítima sobre o caso pudesse ter sido feita. Anderson, por exemplo, em princípio disse que os olhos dos seres eram “azuis leitosos”. Depois, aparentemente tendo mais informações sobre o fato, especialmente reveladas por abduzidos, ele mudou para “grandes olhos ovais negros”. John Carpe
nter, então diretor da Mutual UFO Network (MUFON), um pesquisador de abduções que abandonou a área, numa tentativa de salvar a história de Anderson, colocou a controvérsia em torno da cor dos olhos dos seres num artigo do jornal da MUFON, de 1991. Carpenter escreveu que os pesquisadores Kevin Randle e Don Schmitt afirmavam que ele havia dito que os olhos eram grandes e azulados, mas, no relato, Gerald diz que não são azuis como os olhos humanos. Carpenter acrescentou que Anderson não quis falar “azul leitoso”, e sim “azul escuro”.
Cor dos olhos — Essa foi uma tentativa clara de encobrir o fato de que o rapaz tinha alterado a cor dos olhos dos seres. O problema referente à coloração dos olhos pode não parecer muito importante, mas começa a demonstrar as discrepâncias da história. É claro que do ponto de vista de criminalistas, uma mudança na descrição física, como a descrita, é um grande problema. Isso já é o suficiente para que o testemunho da pessoa seja posto em dúvida. Devemos também indicar que a descrição de Anderson dos olhos de cor “azul leitoso” pode ser uma interpretação da capa do livro do escritor Whitley Strieber, Transformation [Transformação, Avon Books, 1997], em que o autor conta a história da sua abdução. Esta é a referência bibliográfica na qual os alienígenas possuíam olhos de cor azul.
Em setembro de 1990, Alice Knight descobriu que sua tia, Ruth Barnett, havia guardado um diário do ano de 1947. Aparentemente, esse foi o único diário em que o episódio é relatado. Revelava que na data que Anderson tinha afirmado ter estado nas Planícies de San Agustín, 05 de julho, Barnett encontrava-se trabalhando em sua nova casa, na cidade de Socorro. Num parágrafo está escrito: “Barney e Lopez estão muito ocupados na casa nova… Barney trouxe o vidro para nós hoje”. Não existe a mínima chance de Barnett ter ido até o outro lado das planícies naquela data e ter descoberto o disco voador acidentado. Foi então que alguns pesquisadores descobriram que o acidente não aconteceu no dia 05 de julho, como estava escrito no diário que Anderson mostrou, mas sim no dia 03. A senhora Barnett escreveu que Barney esteve o dia todo no escritório. Para alguns investigadores isso mostra que ele encontrava-se em Magdalena, ainda assim muito distante do local do acidente, mas próximo o bastante para ir até o lugar dar uma olhada e voltar.
Filamentos no disco voador — Mas Knight discordou. Conhecendo bem Barney e Ruth, ela acreditava que ele estava em Socorro. Novamente, não houve tempo para que Barney estivesse na área onde o disco voador tinha caído, especialmente porque Anderson contou que tudo aconteceu ao meio-dia. Barnett realmente relatou a muitas pessoas que tinha visto o disco próximo a Magdalena. E Knight pensou que o local fosse entre Magdalena e Datil. No entanto, “Fleck” Danley disse que tinha sido ao nordeste de Magdalena. Harold Baca, por sua vez, falou à leste de Magdalena, e Maltais comentou ser em San Agustín. Por fim, Anderson, em sua primeira entrevista, informou que fora ao norte de Magdalena, próximo à Rodovia 60. Enfim, nenhum deles, inclusive Anderson, mencionou ser a sudeste de Magdalena, perto de Horse Springs.
Na primeira vez em que foi entrevistado, Anderson afirmou que não foi possível adentrar na nave. Apenas informou que viu um buraco na lateral da máquina, com materiais que se pareciam com fios saindo do UFO. Dessa vez, no entanto, disse que havia um corte na lateral da nave, como se outra aeronave tivesse colidido com o objeto. Esse teria sido, segundo alegou, o motivo da queda. E mais, para Oechsler, Anderson comentou que tinha visto algo dentro do objeto. Havia dois anteparos dispostos paralelamente, onde se podia enxergar alguns símbolos.
As quedas de UFOs em nosso planeta, e seu resgate pelos militares, têm servido para que uma indústria se beneficie de tecnologia até então apenas sonhada por nossos cientistas mais audaciosos
— Philip J. Corso, coronel e escritor [Já falecido]
Quando foi-lhe perguntado se os ditos símbolos estavam embutidos ou gravados, ele simplesmente respondeu que eles apenas pareciam ter sido pintados. Depois, falou sobre um ser que estaria machucado. Na primeira vez, disse que a criatura parecia ter sido jogada contra alguma coisa no interior da nave. “Ele não se movia muito, mas quando o fazia, parecia estar com muita dor. Os outros três estavam deitados no chão. Pareciam bem feridos. Vi sangue num corte. Era vermelho”. Anderson estava se complicando. Sob hipnose, foi capaz de lembrar de mais detalhes. Contou que tinha conhecimento de que os soldados – agora havia se lembrado de que os militares estavam usando uniformes de policiais militares – eram da Base da Sandia, Novo México, porque seu tio Ted tinha reconhecido o oficial de cabelos ruivos. Anteriormente, numa entrevista para o físico nuclear Stanton Friedman [Consultor da Revista UFO], Anderson tinha dito que seu pai havia lhe contado que aqueles homens eram de White Sands, por causa de suas braçadeiras, um símbolo oval com asas brancas, um pouco avermelhados e com alguns círculos.
Friedman é considerado um dos maiores ufólogos do mundo. É membro da MUFON, pesquisou os documentos Majestic 12 (MJ-12) e o Caso Roswell. Estudando a história da Base de Sandia e a de Kirtland, no Novo México, essa que hoje controla àquela, revelou que em 1947 Sandia estava sob as ordens do Laboratório Nacional de Los Alamos. As braçadeiras de Los Alamos tinham um símbolo oval, mas não possuíam asas ou círculos e havia um raio até o centro. Naquele tempo, a Base Aérea de Kirtland estava sob controle do Comando de Material Aéreo. A braçadeira dele era redonda e não tinha asas brancas.
Credencial em antropologia — Don Berliner, co-autor do livro Crash At Corona [Queda em Corona, Paragon House, 1992], de autoria de Friedman, achou que tinha identificado as braçadeiras como sendo do Exército dos Estados Unidos. A braçadeira do exército é circular e Anderson tinha dito que era oval. Esse é apenas um dos aspectos da história que não puderam ser confirmados. E demonstrou a mudança da natureza do testemunho de Anderson. Mas a evidência mais prejudicial à história contada por ele é sobre o doutor Buskirk. Anderson afirmou que seu nome era Adrian [Pelo menos era isso que estava escrito no diário] e ele teria sido o líder da expedição arqueológica. Não satisfeito em dar somente o nome, Anderson criou um kit de identificação para Buskirk. Em junho de 1991, com a ajuda de Tom Carey, então diretor da MUFON, o único doutor Buskirk existente na antropologia ou arqueologia foi encontrado. Seu nome real era Winfred e não Adrian, mas ele fora o único Buskirk que tinha alguma credencial antropológica.
Carey, no final de sua investigação, descobriu que Buskirk tinha escrito um livro sobre os Apaches, no ano de 1986. Então escreveu para o editor da obra, solicitando uma cópia da foto da jaqueta. Comparando-a com o kit de identificação, Carey convenceu-se de que Winfred Buskirk era o homem do qual Anderson tinha fal
ado. Quando Buskirk foi contatado, em 1991, negou ter estado nas Planícies de San Agustín durante o verão de 1947. Na verdade, ele estava na Reserva Apache, no Arizona, de junho até setembro daquele ano. Uma foto de 04 de julho de 1947 aparecia no seu livro mostrando que realmente ele se encontrava na reserva indígena naquela data [Veja edições UFO Especial 47 e 48].
Em carta, Buskirk escreveu: “As pinturas cerimoniais no The Western Apache, jornal do Arizona, e no sítio arqueológico foram copiadas entre os dias 03 e 07 de julho. Estava com certeza muito ocupado nisso para ter tempo de realizar outra expedição”. Quando essa informação foi passada para o pesquisador Stanton Friedman, sua reação foi dizer que aquele era o Buskirk errado. Quando viu o kit de identificação, e depois as fotos de Buskirk, Friedman concordou que eram a mesma pessoa. Numa carta escrita no dia 20 de junho de 1991, Friedman comentou: “É provavelmente correto que Winfred Buskirk seja o mesmo homem, conforme a descrição de Anderson, que apareceria depois mentindo onde ele estava em 1947. Coincidência?”. Embora Anderson dissesse que os arqueólogos eram da Universidade da Pensilvânia e que Buskirk fosse o líder, Buskirk tinha, na verdade, trabalhado pela Universidade do Novo México. Outra enorme discrepância.
Tentando apagar a versão anterior — Carpenter enviou uma correspondência para a edição de setembro de 1991 do periódico Mufon UFO Journal e sugeriu que Anderson não sabia com certeza se os arqueólogos eram ou não da Universidade da Pensilvânia. Na tentativa de apagar essa versão, Carpenter escreveu que Anderson tinha dito “… eu não me lembro bem… Eles eram de alguma universidade. Eu achava que eram da Pensilvânia”. Carpenter não estava jogando limpo com seus leitores, pois possuía na íntegra os transcritos, mas os editou e colocou impressões próprias no meio deles: “Bem, eu acho, mas isso foi há muito tempo. De qualquer forma, tenho certeza de que está certo. Eles trabalhavam numa universidade”. Pesquisas na Universidade da Pensilvânia, realizadas por Carey, não confirmaram as afirmações de Anderson. Segundo os arquivos encontrados por lá, nenhum grupo de pesquisa esteve trabalhando no oeste dos Estados Unidos no verão de 1947.
Em outras palavras, não havia nenhum grupo de arqueólogos daquela universidade no Novo México. Uma simples pequena investigação no Museu do Novo México mostrou que não foram autorizados grupos de pesquisas da Pensilvânia naquela região. Os únicos grupos arqueológicos nas planícies eram do Novo México, Harvard e da Universidade de Chicago. Havia também de 50 a 70 estudantes graduados ou graduando-se da Universidade do Novo México, em Chaco Canyon, distante 165 km das Planícies de San Agustín, naquele verão. Estudantes de outras escolas eram bem poucos, mas nenhum da Pensilvânia.
Não existe simplesmente uma corroboração de alguma queda nas planícies, com ou sem arqueólogos. Na verdade, arqueólogos que trabalhavam na planície contradizem a história de Anderson. Um deles é o doutor Herbert Dick, que fez uma pesquisa na região naquela época. Dick foi entrevistado em 1989, mas com as novas informações era preciso verificar tudo novamente. A primeira coisa que Dick comentou foi: “Se eu soubesse de algo, teria dito”. E foi logo afirmando que não morria de amores pela CIA ou FBI e que por isso ameaças não o incomodariam. Disse também que nunca tinha ouvido falar de acidente com UFOs nas Planícies de San Agustín. Seus vizinhos de lá, outros arqueólogos e rancheiros, que conhecia muito bem, nunca mencionaram nada a respeito [Veja o documentário em DVD Segredos Governamentais, código DVD-005 da coleção Videoteca UFO, no Portal UFO: ufo.com.br].
O único problema com a afirmação de Dick era que ele aparentemente não tinha estado na Bat-Caverna até a metade de julho, poucos dias depois do início do suposto resgate do disco e dos corpos, conforme contou Anderson. Entretanto, no diário de Anderson está escrito que equipamentos pesados – caminhões – ainda foram utilizados no dia 22 de julho, depois que Dick partiu. E que todo aquele equipamento, dado o terreno, teria sido visto por algumas poucas pessoas, mas nenhuma delas jamais veio a público falar sobre o assunto. Dick deu os nomes de outras pessoas que estavam lá. Frances Martin era dona de um bar em Datil chamado Navajo Lodge, e todos iam de tempos em tempos até a sua taverna. Em 1989, quando foi entrevistada, afirmou que nunca tinha ouvido falar sobre qualquer acidente aéreo. Friedman desqualificou seu testemunho, chamando-a de “uma velhinha qualquer”. Entretanto, Francis é importante por outra razão.
Nem notícias da queda do UFO — Embora ela tenha vivido em Datil, 40 km ao norte do Novo México, a Rodovia de Horse Springs leva até essa cidade. Anderson falou sobre uma enorme operação, e que aviões utilizaram a estrada para pouso e decolagem. Em julho de 1991, afirmou que aparecera um avião de carga C-47. Se isso realmente fosse verdade, com certeza muita gente se lembraria de tal fato. Dave Farr, que possui um rancho no local em que Anderson afirmava ter visto o UFO cair, viveu naquela área por toda a vida. Em 1947, residia à 18 km de onde encontra-se atualmente, mas nunca tinha ouvido nada sobre a queda de um disco voador até 1991, quando duas equipes de tevê apareceram no local. Ele disse ter entrevistado quase 30 moradores antigos da cidade e nenhum deles sabia sobre o ocorrido. A única exceção foi um homem chamado John Foard, que até 1999 vivia em Magdalena, mas tinha informação de terceiros. Em verdade, Foard disse veementemente que não tinha visto nada, que nem sabia ao certo quando tinha ouvido a história e quem a havia contado. Farr não encontrou testemunhas oculares. Will Hubbell também estava nas planícies no verão de 1947. Ele era dono do rancho onde fic
ava a Bat-Caverna. Hubbell nunca ouviu uma palavra sobre o incidente, muito menos sua esposa, Charlotte. Seu filho, Frank Hubbell, confirmou isso. Podemos ver aqui uma grande diferença com o que ocorreu com os vizinhos de MacBrazel no episódio em Roswell, onde eles se lembravam da história que Brazel contou sobre o disco encontrado na região de Corona, como também os outros vizinhos do fazendeiro, que avistaram pedaços do objeto.
John Brew e Ed Danson, da Universidade de Harvard, estavam trabalhando nas planícies naquele verão [Parte do tempo em Datil e outra parte em Magdalena], e como todos os outros arqueólogos que trabalharam na área, também não ouviram comentários sobre a queda do objeto. Danson apenas afirmou que esteve na área no dia do suposto evento, escrevendo: “Haviam dois grupos de antropólogos na região em 1947. Eu e meu amigo, doutor Herbert Dick, nem sequer ouvimos qualquer tipo de explosão”. Dan McKnight, que juntamente com outras pessoas passou os anos de 1946, 47 e 48 pesquisando nas planícies crateras ou sinais de colisões no solo, também nada encontrou no local.
Nave extraterrestre despenca — Robert J. Drake, entretanto, foi a exceção. Ele, que afirmava ter estado nas planícies em outubro de 1947, disse ter visto equipamentos pesados próximos a Bat-Caverna. Também mencionou algo sobre um cowboy que havia lhe contado sobre um UFO caído lá havia cerca de dois meses. Posteriormente, Drake afirmou que, juntamente com vários cientistas, incluindo os doutores McKnight e Wesley Hurt, tinha discutido a possibilidade de uma nave extraterrestre ter despencado na região. Por um momento, pareceu-nos que havíamos encontrado uma correlação entre os testemunhos de Barnett e Anderson. Mas a documentação, e a própria declaração de Drake, acabaram com essa possibilidade. Drake tinha afirmado que estivera na Bat-Caverna antes de Dick, o que significava um período anterior a outubro de 1946, e não em 1947, como afirmou. Carey perguntou a Drake por três vezes durante a entrevista se ele havia estado na Bat-Caverna, e Drake respondeu, sem pestanejar: “Somente uma vez”.
Artigo publicado na revista norte-americana American Antiquity, localizado por Carey, ruiu com isso tudo. Segundo o texto, escrito em 1948, Hurt, McKnight e Drake tinham estado na Bat-Caverna em outubro de 1946, oito meses antes da queda do objeto. Em outro texto, encontrado por Carey e publicado no El Palacio, em julho de 1948, John Otis Brew e E. B. Danson confirmaram que Dick esteve na Bat-Caverna no verão de 1947. Juntamente com a matéria da American Antiquity, parece que podemos provar que Drake não está correto em relação às datas. O doutor Wesley Hurt confirmou isso pessoalmente ao pesquisador norte-americano Kevin Randle. Segundo Hurt, eles estiveram na Bat-Caverna em 1946 para identificar os sítios arqueológicos. Disse que estavam lá antes de Dick e que não retornaram no ano posterior. Hurt nunca ouviu falar de queda de discos voadores até dez anos depois da suposta data, quando pessoas começaram a procurá-lo. Ele não se recorda de nada sobre os caminhões na Bat-Caverna, e, principalmente, que o local ficava distante 33 km de onde Anderson afirmara.
Em 1991, Drake disse que Hurt e McKnight eram militares da Inteligência, ou da Contra-Inteligência, e iriam negar a história, e que no verão de 1947 os estudantes de Chaco Canyon retornaram de uma viagem no final de semana falando sobre a queda de uma nave alienígena. Carey entrevistou seis estudantes e nenhum deles recordou-se do fato. Em fevereiro de 1992, uma reunião patrocinada pelo Fund for UFO Research [Fundo para Pesquisa Ufológica, FUFOR] e pelo Center for UFO Studies [Centro para Pesquisa dos UFOs, CUFOS]) foi realizada em Chicago para examinar as evidências da suposta queda de uma nave alienígena nas Planícies de San Agustín e o testemunho de Gerald Anderson, em particular. Por dois dias, os proponentes e os oponentes debateram a validade do testemunho de Anderson e a falta de testemunhas substanciais e oculares. No final do evento, ambos os lados produziram um relatório contendo suas conclusões, chamado The Plains of San Agustín Controversy [As Controvérsias da Planície de San Agustín, CUFOS Proceedings, 1992].
Carpenter não pôde comparecer ao evento, mas enviou uma carta, que foi incluída no relatório. Nela dizia: “Ele [Anderson] parece conhecer muito pouco sobre o fenômeno ufológico. Ele nunca mudou ou aumentou a sua história.” O problema aqui é que embora Carpenter afirmasse que “ele parece conhecer muito pouco sobre o fenômeno ufológico”, Anderson sabia muito bem sobre o Caso Roswell e tinha lido o livro The Roswell Incident [O Incidente em Roswell, Bantam Books, 1989] antes de falar com qualquer pessoa. Essa é uma das grandes discrepâncias na história de Anderson. Nenhuma das informações que ele deu coincidem. Existem várias datas. Embora ele tenha feito uma interessante pesquisa, não há evidências. Barnett disse ter sido o primeiro a chegar ao local. Anderson contou que Barnett foi o último. Barnett nunca falou que havia encontrado duas crianças na região. Anderson, originalmente, disse que o local da queda era próximo a Magdalena, mas agora dizia que era em Horse Springs. O penhasco não existe lá. Os arqueólogos que estavam trabalhando nas planícies negaram que isso tenha ocorrido. A maioria dos moradores de Horse Springs nunca tinha ouvido falar da queda de um disco voador. Além disso, Buskirk era da Universidade do Novo México e não da Pensilvânia.
Fraude memorável — Toda a teoria do segundo local da queda de uma nave alienígena nas Planícies de San Agustín foi construída numa frágil e quase inexistente fundamentação. O maior problema com a história de Barnett é que não há vínculos que possam ligar as suas afirmações com os fatos ocorridos. Sem uma informação e uma corroboração de primeira-mão sobre o exato local, podemos descartar essa idéia. Por outro lado, Anderson, que pareceu ser a salvação da história, mostrou-se ser apenas mais um aproveitador. Infelizmente, mesmo com a afirmação de que havia inventado parte da informação, a falta de evidências, provas e testemunhas com credibilidade ainda faz algumas pessoas acreditarem e sustentarem a história. O que parecia ser um outro evento memorável para a Ufologia está cada vez mais se revelando uma fraude.